«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

As pedras no caminho da Rio+20

Celso Dobes Bacarji
Mercado Ético
16.02.2012

"Um bilhão de pessoas estão na miséria plena. É a tragédia da civilização". A frase é do professor e economista Ladislau Dowbor [foto ao lado], dita nesta terça-feira (14/02/2012) em palestra na reunião do Comitê Paulista para a Rio+20. Segundo ele, o grau de desigualdade no mundo está atingindo limites insuportáveis. "É o saco cheio planetário".


Mas, para o professor Dowbor, a extrema desigualdade não está acontecendo por falta de recursos do Planeta. A produção atual de grãos, diz ele, abasteceria com 800 gramas diárias cada habitante da Terra. Apesar disso, morrem de fome 10 a 11 milhões de crianças por ano.


"Se a gente dividir o PIB mundial, que contabiliza US$ 60 trilhões, pelas 7 bilhões de pessoas teríamos uma renda per capita de mais de US$ 8 mil". Com tanto esfomeado no mundo, esse dinheiro está na mão de quem? Para o professor Dowbor, está nas mãos das organizações econômicas globais.


O gráfico do desempenho da economia nos últimos trinta anos, segundo o professor Dowbor, tem quatro grandes linhas: a dos salários, que permaneceu estável, a da produtividade, que cresceu a 30 graus, mais ou menos, a dos lucros, que empinou pelo menos 60 graus e a dos lucros financeiros, que disparou na vertical.


O professor Dowbor cita um exemplo de lucro do mercado financeiro: "Vocês viram o lucro do [banco] Itaú em 2011? Superou o orçamento do programa bolsa família". Em seguida, dá uma aula de como o dinheiro se multiplica na ciranda financeira internacional com um exemplo cristalino: o Lehman Brothers tinha uma alavancagem de 36 para 1, Isto é, para cada dólar que ele tinha, ele emprestou 36.


O pior é que os governos são os intermediários dessa tragédia. "Vou explicar para vocês rapidamente o que está acontecendo na Europa, agora. O Banco Central Europeu [foto da sede na Alemanha - abaixo] repassou dinheiro para os bancos a 1% de juros, para que eles não quebrassem, e agora os bancos estão emprestando esse dinheiro para a Espanha a 6%. Grande negócio", observa Dowbor.


Citando dados do estudo "Rede do poder das corporações mundiais", realizado pelo Instituto ETH, da Suíça, o professor alerta para a questão da governança mundial:

  • Atualmente 737 grupos econômicos controlam 80% do PIB global
  • O núcleo desse poder está nas mãos de 147 grupos, com 40% de toda riqueza produzida
  • E um agravante, 75% desses 147 concentram seus recursos no mercado financeiro.

Outro ponto de estrangulamento para a sustentabilidade do Planeta, de acordo com o economista da PUC, é a questão da democratização do conhecimento. Para dar uma idéia do peso da tecnologia na economia atual, ele estima que pelo menos 95% do preço de um celular de última geração correspondem ao valor do conhecimento. A mão de obra e o material empregado ficam com os 5% restantes. Para a sustentabilidade, essa é uma questão vital, diz ele. 


Em sua opinião, é preciso que as tecnologias limpas sejam livres de patentes, ou não será possível chegar a uma economia verde, como querem os organizadores da Rio+20.


Por fim, as crises econômica e ambiental globais, na opinião de Ladislau Dowbor, exigirão o fortalecimento do poder local. Uma coisa que já vem acontecendo em muitas cidades do mundo. Na Espanha, algumas já voltaram a utilizar as pesetas, o antigo dinheiro nacional, no comércio local, como forma de fugir da crise do Euro. A prática tende a expandir e já se calcula que pelo menos 1,7 bilhão de euros pode voltar a circular em pesetas, no país.


Para o professor, há fortes bases políticas para o fortalecimento dos governos locais, abrindo um espaço colaborativo na sociedade. Ele acredita que cada vez mais será necessário que as comunidades decidam sobre a forma como serão geridos os recursos naturais locais. Passa por aí a solução de dilemas como o de Belo Monte, ou como o desmatamento da Amazônia, que é provocado pelo tripé da exploração madeireira, agrícola e pecuária, controlada por grandes grupos econômicos mundiais.


Para a perspectiva da Rio+20, uma Conferência que estabelece como foco a sustentabilidade ambiental e a inclusão social, a palestra de Dowbor representa o caminho das pedras. 
Seu raciocínio leva a conclusão de que será preciso: 
(1) promover a distribuição de riquezas, 
(2) estabelecer uma nova governança global, 
(3) regular o mercado financeiro, 
(4) democratizar o conhecimento e 
(5) fortalecer do poder local, para que a nossa civilização se salve de uma catástrofe.


Um detalhe: o professor Dowbor não é um grande otimista quando fala das perspectivas dos acordos globais capitaneados pela ONU. Para ele, a partir do fortalecimento do poder local, é mais fácil chegar a um acordo direto entre nações, ou grupos de nações, do que esperar um consenso global. A partir dessa ótica, o que esperar da Rio+20?


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Sábado, 18 de fevereiro de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506688-aspedrasnocaminhodario20

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