«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Vazamento de notícias do Vaticano: identificada a origem

Marco Ansaldo
La Repubblica
15.02.2012

A investigação da Gendarmeria: descobertos os escritórios de onde vazaram as cartas secretas. 
Sanções à vista para os responsáveis
A primeira carta, em que Dom Viganò pedia para ficar em seu posto para combater a "corrupção e a prevaricação" saiu da II Seção da Secretaria de Estado do Vaticano. Escritório responsável pelas Relações com os Estados Estrangeiros.


A segunda, ao contrário, o memorando "muito confidencial" sobre o IOR [o chamado Banco do Vaticano], na realidade, uma nota de discussão sobre os pedidos provenientes da magistratura italiana, foi extraída dos arquivos da I Seção. Escritório para os Assuntos Gerais Internos.


Também foi apurado quem teria divulgado a terceira carta, que partira de um amigo alemão do cardeal Castrillón, e que foi enviada por Sua Eminência ao secretário de Estado, Tarcisio Bertone, relatando a viagem do colega purpurado Romeo à China. E cujos conteúdos sobre um fantasmagórico atentado contra Ratzinger já é motivo de deboche nas Salas Secretas.


O cerco se apertou no Vaticano em torno de quem passou as cartas para a imprensa. Primeiro, foram controlados os originais dos documentos e depois se remontou a quem os tratou. Nestes dias, o comandante Domenico Giani, diretor dos Serviços de Segurança e do corpo da Gendarmeria Vaticana, está no México e em Cuba para as inspeções em vista da viagem do papa no fim de março. Mas seus homens vasculharam as cartas, puseram os olhos sobre os suspeitos e, finalmente, identificaram os eclesiásticos responsáveis por ter divulgado os documentos.


Assim aconteceu no ano passado, quando se descobriu que uma carta de um misterioso "corvo" endereçada ao cardeal Bertone foi enviada por um idoso monsenhor da Campania. "Não é uma operação muito difícil – explica uma fonte interna –, porque não há muitas pessoas que têm acesso a esse tipo de arquivos. Agora, eu não gostaria de estar na pele deles".


Sanções administrativas, denúncias penais (pela revelação de segredos oficiais e difamação) e a possibilidade de que alguém, de repente, desapareça e seja transferido para outro lugar pelas duas seções centrais da Secretaria de Estado, localizadas na 1ª e na 2ª Loggia do Palácio Apostólico, protegido pelos Guardas Suíços. Esse é o cenário que está sendo preparado.


A caça aos "furões" do Vatileaks, o caso que nasceu com a divulgação das cartas vaticanas na imprensa, está em pleno desenvolvimento. Por trás dos Muros Leoninos, os venenos continuam florescendo, enquanto se prevê uma semana densa de reuniões importantes, entre política e espiritualidade. Nesta quinta-feira, para o aniversário dos Pactos Lateranenses, os cardeais se reunirão na Embaixada da Itália junto à Santa Sé, pela primeira vez, com os ministros do governo Monti. No sábado, será realizado o consistório, a reunião do Sacro Colégio, com a criação, por parte de Bento XVI, de 22 novos cardeais.


Mas o cheiro dos venenos ainda pairava no ar na noite desta quarta-feira, no Conselho dos Cardeais, reunidos sobre o estado das finanças: Bertone, Vallini, Bertello, Calcagno, Versaldi. À margem da mesa convocada para analisar a saúde financeira da Santa Sé, vozes críticas contra as últimas quedas de imagem da Igreja diante da opinião pública.


Uma trama insistente afirma que, por trás do motim de monsenhores que divulgam as cartas secretas, não há apenas uma questão de carreirismo interno ou de disputas anti-Bertone. Mas sim que está consumindo, anos depois, a sutil vingança do ex-secretário de Estado, Angelo Sodano. Bertone, que uma vez assumiu o seu lugar como braço direito do papa, teria mandado para longe alguns homens de confiança do cardeal-decano. E agora que ele está para chegar ao fim dos 78 anos (idade em que Sodano renunciou do seu cargo), a operação teria começado.


Venenos que custam a diluir, e, ao contrário, até se espalham ainda mais. Como no caso do contra-ataque do porta-voz da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi [foto ao lado]. Autor de uma nota impecável em vários aspectos ("o governo norte-americano teve o Wikileaks, o Vaticano tem agora os seus leaks, os seus vazamentos de documentos que tendem a criar confusão"). Mas de tons insolitamente duros, bem captados por alguns observadores, que ficaram perplexos quando o porta-voz do papa disse que a "leitura em chave de lutas de poder internas depende em grande parte da rudeza moral de quem a provoca e de quem a faz".


Porém, a circulação de documentos secretos expôs com clareza (veja-se o contraste Castrillón-Romeo) como, justamente entre os purpurados, circulam venenos e atuam lobbies. Com o olhar de alguns dirigido para um futuro conclave. "Este manso pastor [Bento XVI] – advertia nesta quarta-feira o editorial do L'Osservatore Romano não recua diante dos lobos", enquanto, "noite adentro, o inimigo semeia cizânia no campo". Uma batalha que ainda deve ser observada, e escrita, entre o pastor e os lobos.

Tradução de Moisés Sbardelotto.
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Os ''lobos'' ao redor do papa 

Marco Politi
Il Fatto Quotidiano
15.02.2012

Um papa cercado por lobos, que não recua e não renunciará por medo. A uma curta distância um do outro, o diretor do L'Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian [foto ao lado], e o porta-voz papal, Lombardi, traçam o clima dramático que caracteriza a fase atual do pontificado de Bento XVI: enquanto o seu reinado entra no oitavo ano e se comemora o 30º aniversário da chegada de Joseph Ratzinger ao Vaticano.

O L'Osservatore Romano desta quarta-feira, 15 de fevereiro, descreve um pontífice agredido "por lobos", uma Cúria em que se manifestam "comportamentos irresponsáveis e indignos", uma estrutura eclesial que, diante dos clamores midiáticos, deve saber "aproveitar a ocasião de uma purificação da Igreja".

O editorial de tons tão dramáticos e solenes do diretor do L'Osservatore Romano testemunha o impacto da publicação no Il Fatto Quotidiano da nota sobre os complôs antipapais, repassados pelo cardeal Castrillón Hoyos a Bento XVI em pessoa. Nota que se entrelaça com a avalanche de cartas internas ao Vaticano enviadas ao exterior para assinalar a insustentabilidade de uma situação de não governo e (no caso Viganò) de mal governo da máquina curial.

Truculenta nos tons, a nota tinha o objetivo, no momento em que foi posta preto sobre branco, de descobrir uma colônia de vermes. E assim foi. Malgrado seu, a Santa Sé foi obrigada a se confrontar com uma situação caótica e venenosa em que todo o pessoal curial dispara contra todos. Não adianta que os ambientes oficiais do outro lado do Tibre se lancem contra os jornalistas ou se afanem por usar a sua influência sobre os canais de televisão públicos e privados a fim de abafar a notícia.

O artigo alarmado do L'Osservatore revela a intenção de restaurar a ordem, a tranquilidade e a confiança em um contexto intratável. No entanto, a inquietação e o mal humor, que serpenteiam nos corredores do palácio apostólico, não parecem destinados a cessar.

No Vaticano, nestas horas, estão aterrorizados com a ideia de que possam sair novos documentos comprometedores da Secretaria de Estado ou de algum outro dicastério. Mas irão sair. Um desvio está em andamento. Muitos sinais indicam que se rompeu a tradicional "solidariedade palaciana" e que mais de um monsenhor está convencido de que as batalhas internas não devem ser mais combatidas como no passado através de "sussurros" de sala em sala, mas sim levadas para o lado de fora, na cena midiática.

O aspecto inédito dessa fase é caracterizado pelo fato de que personalidades muito católicas, conhecidas por serem totalmente fiéis ao Papa Ratzinger, se prestam, nestes dias, a lançar alertas e denunciar os efeitos negativos de uma evidente ausência de governo. O ex-vice-diretor do L'Osservatore Romano, Gianfranco Svidercoschi [foto ao lado], fala abertamente de uma "crise de liderança". Certamente, explica, há comportamentos individuais de monsenhores infiéis, mas existe um problema de fundo: "A um papa teólogo, talvez devesse corresponder uma maior atenção por parte de uma estrutura fundamental da Igreja, como a Secretaria de Estado, para contrabalançar a atitude de um papa que não está tão presente na realidade eclesial".

Vittorio Messori [foto abaixo] – o escritor católico amigo de João Paulo II e do próprio Bento XVI – denuncia as falhas que ocorrem com "inquietante frequência" na máquina vaticana, em um redemoinho de "equívocos, distrações, gafes diplomáticas". A expansão burocrática no Vaticano e a vontade de manter um aparato barroco, defende Messori, leva inevitavelmente a "desvios e aos erros que são constatados na gestão eclesial".

Até a historiadora Lucetta Scaraffia [foto abaixo], colunista do L'Osservatore Romano, sempre voltada a elevar lamentos contra jornalistas malvados que estariam intencionados a profanar a Sé Apostólica, foi obrigada a afirmar que, na Igreja, há "pesadas hipotecas de um passado e de um presente muito frequentemente opacos".

A linha oficial – para lançar uma palavra de ordem tranquilizante, enquanto cardeais de todo o mundo chegam a Roma para o consistório, inquietos pelo emaranhado de rixas internas – é que a confusão e os ataques de hoje são, indiretamente, o efeito do caminho certo tomado pelo Papa Ratzinger para renovar a Igreja, combatendo o fenômeno dos padres pedófilos e garantindo também uma "verdadeira transparência do funcionamento das instituições vaticanas do ponto de vista econômico".

O porta-voz papal, Lombardi, se encarrega de desmentir, na Rádio do Vaticano, todas as hipóteses de renúncia de Bento XVI. O papa, na realidade, está decepcionado e desencantado com o que está acontecendo ao seu redor. Mas, como a sua mentalidade, impregnada com o pessimismo de Santo Agostinho, já o levou no passado a condenar carreirismos e manobras curiais, no fundo, ele nem se admira muito. Ao invés disso, cresce a sua irritação contra a incapacidade do cardeal Bertone de manter a Cúria sob controle. Esse é um dado novo. Que abre novos cenários. A poltrona do secretário de Estado range.

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