Crivella diz que será canal entre governo e evangélicos [Vale tudo para ganhar!]

Luciana Marques

Senador do PRB tomará posse como ministro da Pesca na próxima sexta-feira. 
Ele diz que sua chegada à Esplanada dos Ministérios não está condicionada à retirada da candidatura de Celso Russomano em São Paulo

No mesmo mês em que o Planalto enfrentou uma crise com a bancada evangélica do Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff decidiu indicar o senador Marcelo Crivella (PRB) para o comando do Ministério da Pesca. Em entrevista ao site de VEJA, o senador disse que estreitará a relação entre o governo e a igreja evangélica – à qual se converteu aos 7 anos. Crivella, agora, será o braço da Igreja Universal do Reino de Deus no governo. Ele tem forte relação com a igreja, da qual já foi bispo.


Discreto e governista de carteirinha, Crivella [foto ao lado] não entrou na briga entre parlamentares evangélicos e o governo. A bancada evangélica reagiu negativamente diante da nomeação de Eleonora Menicucci na Secretaria de Políticas para as Mulheres por causa de seu posicionamento a favor do aborto. Eleonora tomou posse no último dia 10. Cinco dias depois, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, pediu desculpas à bancada evangélica, mas por outro motivo: suas declarações no Fórum Social Mundial, em que pregou o confronto com evangélicos. O episódio causou tanto desconforto que Carvalho se retratou depois.


É exatamente esse tipo de discussão pública que Crivella, ligado à Igreja Universal, tentará evitar. À parte dos debates religiosos, o futuro ministro promete organizar a indústria da pesca. Mas admite que terá de estudar bastante, já que não entende do assunto.


Sobre as eleições de 2012, Crivella garante: apesar de ter sido contemplado com um ministério, o PRB não vai retirar candidaturas da legenda em municípios. Celso Russomano, por exemplo, continuará pré-candidato da legenda rumo à prefeitura de São Paulo. Na capital do Rio de Janeiro, Crivella - que se candidatou à prefeitura nas duas últimas eleições - apoiará Eduardo Paes (PMDB). O prefeito tentará reeleição.


Leia abaixo a entrevista que o novo ministro concedeu ao site de VEJA:


De que forma o senhor pode colaborar para estreitar os laços entre governo e evangélicos? 
Sempre contribuí, independentemente de estar no governo eu nunca regateei o meu apoio à presidente, porque acredito nas suas intenções, na sua capacidade. E participei de sua campanha ativamente. De tal maneira que estarei disposto a conversar com todos os pastores que conheço há anos e todos movimentos evangélicos. Me converti com 7 anos de idade e tenho 54, portanto, conheço praticamente todas as igrejas do Brasil e todos os líderes. E o que puder fazer para dirimir as controvérsias, farei. A presidente pode contar com o apoio dos evangélicos na implementação das boas políticas públicas. Sendo integrante da bancada evangélica e fazendo parte do grupo dos assessores diretos da Presidência, acho que poderei ser, sim, um canal para estreitar os laços.  


Inclusive em temas controversos, como o aborto? 
A presidente já conhece a posição dos evangélicos sobre essas questões, somos pró-vida. Mas a minha missão é a pesca, melhorar o setor pesqueiro no Brasil, organizar o setor, a área industrial e cuidar dos pescadores. 


Agora que o PRB foi contemplado com um ministério, como ficam as alianças nas eleições municipais de 2012? 
Nós temos caminhado com o PT em vários locais, mas quero afirmar categoricamente que em nenhum momento nós do partido recebemos qualquer proposta política, de apoio ou de contrapartida para assumir o ministério.


Nem em São Paulo, onde Celso Russomano (PRB) deverá disputar contra o petista Fernando Haddad? 
Em São Paulo temos um excelente candidato, é o primeiro nas pesquisas. Jamais assumiria esse ministério se fosse condicionado a retirar a candidatura de um companheiro por quem tenho o maior apreço e respeito.


Quando recebeu o convite para assumir o cargo? 
Hoje foi a confirmação, mas recebi o convite no final de semana. Tratamos exatamente da entrada do PRB no governo e da pesca. Passei a ler sobre o assunto e conversar com amigos, tenho muito o que aprender.


A presidente fez alguma recomendação para o senhor? 
Tivemos uma conversa muito amena, muito agradável. Ela me pediu que tivesse um cuidado todo especial com os pescadores do Brasil. Ela acha que devemos organizar o setor da pesca. O Brasil está produzindo muito pouco, em torno de 1 milhão de toneladas e isso é menos do que o Peru produz. A presidente tem uma preocupação social muito grande, a mesma preocupação que me levou a passar dez anos na África. Espero estar à altura do que recebi. 


Fonte: VEJA - Brasil - 29/02/2012 - 16h35 - Internet: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/crivella-diz-que-sera-canal-entre-governo-e-evangelicos
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Troca revela declínio da influência católica 

Roldão Arruda

A indicação do senador evangélico Marcelo Crivella (PRB) para o Ministério da Pesca e Aquicultura confirma, entre outras coisas, o enfraquecimento da influência dos setores progressistas da Igreja Católica no governo.


Uma das intenções do presidente Luiz Lula Inácio da Silva (PT), ao criar a pasta, em 2003, era acolher na sua equipe o pensamento das pastorais sociais da Igreja, que sempre estiveram na base do seu partido. Uma dessas pastorais, a dos pescadores, foi um dos fatores que inspiraram a criação do ministério.


A pastoral existe desde 1970, tendo se fortalecido em Pernambuco, Paraíba, São Paulo e Santa Catarina. Seus agentes defendem os direitos sociais de pequenos pescadores e estimulam a criação de novos meios de geração de renda entre eles.
Foram esses princípios que o primeiro titular da pasta, o catarinense José Fritsch [foto acima - ele em primeiro plano], defendeu em sua gestão, entre 2003 e 2006. Petista histórico, ele iniciou a carreira política numa dessas pastorais sociais, a Comissão Pastoral da Terra, e manteve-se fiel a elas durante todo o tempo de governo. Na opinião de bispos ligados à área social, foi o melhor ministro até agora.


O segundo titular, Altemir Gregolin, também era petista e catarinense. Embora não tão próximo da Igreja, manteve os rumos do antecessor.


O quadro mudou de maneira brusca com a posse de Dilma Rousseff. Ela ofereceu o ministério como prêmio de consolação a Ideli Salvatti, após a senadora ter sido derrotada nas eleições para o governo de Santa Catarina. 


Ideli permaneceu no cargo cinco meses. Foi substituída por Luiz Sérgio Nóbrega de Oliveira, que acaba de ser trocado por Crivella.


Outro fator que confirma o declínio dos católicos progressistas é a decisão de afastar Gilberto Carvalho da interlocução com os evangélicos. Para quem não se lembra, a formação política do titular da Secretaria-Geral da Presidência também se deu nas pastorais sociais da Igreja.


Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Política - 01 de março de 2012 - 03h06 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,troca-revela-declinio-da-influencia-catolica-,842451,0.htm

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