Povo sem esperança!
Estudo aponta para o Brasil como a pior
democracia da América Latina
Clóvis Rossi
O descontentamento, que é geral na região, é, portanto,
com o
funcionamento do modelo, não com ele propriamente dito
A
democracia brasileira é a que tem o pior funcionamento entre os 18 países
pesquisados para a edição 2017 do
"Latinobarómetro", uma ONG
chilena que faz, desde 1995, uma consistente avaliação dos humores dos
latino-americanos.
Os dados, divulgados nesta
sexta-feira (27 de outubro), são de impressionante contundência em relação ao
Brasil, a
ponto de apenas 13% dos brasileiros
consultados se declararem satisfeitos com o funcionamento da democracia,
último posto no ranking. Atrás até dos 22% de satisfação na Venezuela, que a
maior parte dos governos e da mídia ocidental classifica como ditadura.
O
relatório deixa claro que a insatisfação
não é com a democracia como modelo de organização política. No Brasil, por
exemplo, 62% consideram a democracia
como o melhor sistema de governo, porcentagem que, no conjunto da América Latina, sobe para 70%.
O apoio
à democracia, aliás, vem subindo sistematicamente, desde o piso mais baixo
encontrado (30% em 2001, penúltimo ano do governo Fernando Henrique Cardoso).
Agora é de 43%, 11 pontos acima de 2016.
O descontentamento, que é geral na região, é, portanto, com o funcionamento do modelo,
não com ele propriamente dito.
BEM
DE TODOS
No Brasil, os números são alarmantes. Quando a pergunta é se o governo age para o
bem de todos, apenas 3% dos brasileiros concordam, de novo no último lugar
da tabela. Na média da América Latina, 21% dizem que sim.
Corolário
inevitável: 97% dos brasileiros acham
que se governa só para "grupos poderosos", porcentagem bem
superior aos 75% da média latino-americana.
Entende-se,
por essa resposta, que apenas 1% dos
brasileiros considera que o país vive em uma "democracia plena".
De novo, é o último lugar no ranking.
Natural
também que, quando se pede uma nota de 0
(não é democrático) a 10 (totalmente
democrático), a do Brasil foi de 4,4
(a da América Latina, de 5,5).
Quando,
em vez da democracia, se mede o apoio ao governo, o resultado é idêntico ao de
todas as demais pesquisas: só 6% apoiam
o governo Michel Temer, um sexto da média latino-americana de 36%, bem
abaixo da primeira colocada, a Nicarágua (67%) e abaixo até da Venezuela em
grave crise (32%).
Brasil em último lugar na satisfação com a democracia |
APOIO
AO GOVERNO
Nesse
quesito, a queda no apoio ao governo começou em 2013, o ano das grandes
mobilizações populares : de 2012 para 2013, o apoio ao governo (então de Dilma
Rousseff) caiu 11 pontos, para 56%. Depois foi caindo para 29%, 22%, até chegar
aos 6% de 2017.
A pesquisa também ajuda a
entender por que Luiz Inácio Lula da Silva lidera a corrida eleitoral para 2018: o pico de prestígio do
governo foi exatamente em 2010 (86%), seu último ano na Presidência, o que lhe
permitiu eleger Dilma.
Se
não confia no governo atual, o brasileiro
tampouco confia nos seus conterrâneos: só
7% dizem ter confiança na maioria dos demais brasileiros, de novo o último
lugar na tabela, a metade do resultado médio da América Latina, e longe dos 23%
do Chile, primeiro colocado nesse quesito.
Das instituições, a mais
confiável para os brasileiros é a IGREJA: 69%
confiam nela.
Para as demais, as porcentagens são as seguintes:
* Forças Armadas (50%);
* polícia (34%);
* Justiça Eleitoral (25%);
* Judiciário (27%);
* governo, como instituição,
não personalizada (8%, último lugar no ranking);
* Parlamento (11%, penúltimo
lugar, superando apenas o Paraguai, com 10%);
* partidos políticos (7%,
também no último lugar).
PARTIDOS
POLÍTICOS
Os
resultados para partidos políticos, Executivo e Parlamento explicam bem porque
a satisfação com a democracia é tão baixa.
Ajuda
também a entender a classificação o fato de que a corrupção é considerada o maior problema do país para 31% dos
brasileiros, a mais alta porcentagem entre os 18 países, três vezes
superior à média latino-americana de 10%.
Mais
ainda: 80% dos brasileiros acham que o
governo atua "mal" ou "muito mal" no combate à corrupção,
muito mais do que a média da região (53%).
No
território da economia, os dados do Brasil são
contraditórios: 68% dizem que o seu
salário alcança bem para os gastos, primeiro lugar entre os 18 países da
pesquisa. Mas apenas 5% acham que a
situação econômica atual é "boa" ou "muito boa", no
último lugar da tabela, junto com os venezuelanos.
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