24º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Homilia
Evangelho: Mateus 18,21-35
Assista à narração do Evangelho deste
domingo, clicando sobre a imagem abaixo:
José Antonio Pagola
Biblista espanhol
VIVER PERDOANDO
Os discípulos ouviram Jesus dizer
coisas incríveis sobre o amor aos inimigos, a oração ao Pai pelos que os
perseguem, o perdão a quem lhes prejudica. Seguramente, parece-lhes uma mensagem
extraordinária, porém pouco realista e muito problemática.
Pedro aproxima-se, agora, de Jesus
com uma colocação mais prática e concreta que lhes permita, ao menos, resolver
os problemas que surgem entre eles: dúvidas, invejas, enfrentamentos e
conflitos. Como devem atuar naquela família de seguidores que caminham atrás
de seus passos? Concretamente: «Quantas vezes devo perdoar ao meu irmão que
me ofende?».
Antes que Jesus lhe responda, o
impetuoso Pedro adianta-se a fazer-lhe sua própria proposta: «Até sete vezes?».
Sua proposta é de uma generosidade muito superior ao clima justiceiro que se
respira na sociedade judaica. Vai além daquilo que se pratica entre os
rabinos e os grupos essênios, que falam em perdoar, no máximo, quatro vezes.
No entanto, Pedro segue
movendo-se no plano da casuística judaica, onde se prescreve o perdão como um
arranjo amigável e regulamentado para garantir o funcionamento ordenado da convivência
entre aqueles que pertencem ao mesmo grupo.
A resposta de Jesus exige
colocar-nos em um outro patamar. No perdão não há limites: «Não te digo
até sete vezes, mas até setenta vezes sete». Não tem sentido fazer contas do
perdão. Quem se põe a contar quantas vezes está perdoando o irmão, adentra-se
por um caminho absurdo que arruína o espírito que há de reinar entre seus
seguidores.
Entre os judeus, era conhecido o «Cântico
de Vingança» de Lameque, um legendário herói do deserto, que dizia assim: «Caim
será vingado sete vezes, porém Lameque será vingado setenta vezes sete» [Gn
4,24]. Frente a esta cultura da vingança sem limites, Jesus propõe o perdão
sem limites entre seus seguidores.
As diferentes posições diante do
Concílio Vaticano II [1962-1965] foram provocando, no interior da Igreja,
conflitos e enfrentamentos às vezes muito dolorosos. A falta de respeito mútuo,
os insultos e as calúnias são frequentes. Sem que ninguém os desautorize,
setores que se dizem cristãos se servem da Internet para semear agressividade e
ódio, destruindo sem piedade o nome e a trajetória de outros que creem.
Necessitamos, urgentemente, testemunhas
de Jesus que anunciem com palavra firme seu Evangelho e que contagiem
com coração humilde a paz dele. Cristãos que vivam perdoando e curando esta
obstinação doentia que penetrou em sua Igreja.

José María
Castillo
Teólogo espanhol
DEUS SERÁ CONOSCO COMO SOMOS
PARA OS OUTROS
Jesus disse: «tratai os outros
como quereis que eles vos tratem» (Lc 6,31). O critério de Jesus, então, é
que cada um seja tratado por Deus do mesmo modo que essa pessoa trata os demais
em sua vida cotidiana. Quer dizer, o comportamento de cada um com os outros
é a medida do comportamento que Deus tem com cada ser humano.
Portanto, o respeito, a tolerância,
a estima a capacidade de perdoar que cada ser humano tem com as pessoas com as
quais convive, esse será o respeito, a tolerância, a estima e o perdão que
receberá de Deus.
A tolerância e o perdão do «Senhor»
ou «Rei» com seu «servo»/«escravo» alcança uma dimensão incrível, segundo a
parábola. A dez mil talentos [cerca de 300 toneladas de ouro!] chegava a soma
que Roma, com Pompeu, obteve da recém conquistada Judeia por volta do
ano 60 a.C. (segundo o historiador Flávio Josefo). Herodes Antipas
obteve duzentos talentos da Galileia e Pereia. Arquelau, seiscentos
talentos da venda da Idumeia, Judeia e Samaria (segundo o historiador Flávio
Josefo).
Assim sendo, a figura que propõe a parábola
evoca a ação de Roma e reflete noções proverbiais sobre a riqueza dos reis. Por
isso, é assombrosa a generosidade do «senhor/rei». Como é assombrosa a ruindade e miséria do
servo que, por pouco, chega a desejar matar a um desgraçado que lhe devia
uma quantia miserável.
Tudo nesta parábola é exagerado,
quase incrível. Como exagerada e surpreendente é a ruindade e a miséria de
espírito que estamos vendo e vivendo na duríssima situação de crise atual.
Jamais se viu tanta cobiça nos ricos e tanta incapacidade para perdoar «o
dinheiro que me devem». A cobiça pelo dinheiro é a causa do que estamos sofrendo.
E, enquanto a Igreja não começar a
tomar decisões exemplares, que seja capazes de comover o mundo, esta situação
não muda. Especialmente nos países do sul da Europa, que são precisamente os
países mais católicos. O mais urgente não é que se modifiquem as decisões
econômicas, mas que se convertam os corações ambiciosos e a cobiça insaciável
dos ricos, daqueles que manejam o poder político, daqueles que controlam o capital
financeiro.
A chave não está na «economia»,
mas na «ética».
Traduzido do espanhol por Telmo
José Amaral de Figueiredo.
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