Você é feliz?
A
constante busca pela felicidade
Jéssica Reis
A obsessão pela
felicidade e a obsessão pelo sucesso, pela prosperidade causa muita ansiedade e
depressão
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Luiz Felipe Pondé |
Uma rápida pesquisa no dicionário
pela palavra “felicidade” e as explicações são:
* sensação
real de satisfação plena;
* estado de
contentamento, de satisfação.
* Condição
da pessoa feliz, satisfeita, alegre, contente.
Mas será que o dicionário pode
responder tudo, inclusive definir o que é felicidade?
A felicidade é uma busca constante
do ser humano e depende de vários fatores, aliás existem várias formas de
felicidade, segundo Luiz Felipe Pondé, filósofo, escritor, diretor do
laboratório de política, comportamento e mídia da PUC-SP, professor da FAAP e
colunista da Folha de S. Paulo, em entrevista à revista Vida&Arte.
“Se você olhar para a história da
Filosofia tem épocas em que se acha que não realizar muitos desejos é felicidade,
manter o desejo longe deixa você mais feliz. Hoje, a gente acha que ser
feliz é realizar o desejo. Eu acho que a busca da felicidade é uma das
grandes causas de infelicidade do mundo contemporâneo. A obsessão pela
felicidade e a obsessão pelo sucesso, pela prosperidade causa muita ansiedade e
depressão, mas isso não vai melhorar, vai continuar assim, porque o sistema
capitalista produz competição, superação, o tempo inteiro”, diz Pondé.
Em um vídeo, o professor fala que
não gosta da discussão autoajuda em torno do tema felicidade e ele explica o
porquê: “Autoajuda é um mercado, quem vendo autoajuda ganha milhões e as pessoas
adoram, acham lindo falar palavras bonitas e confortáveis. Umas das características
da felicidade é você se sentir mais calmo. Quando se sente mais calmo,
produz uma menor ansiedade naquele momento. Mas a prova de que os esquemas de
autoajuda não funcionam é que toda hora você tem que procurar um novo. É um
mercado e nenhum deles funciona, porque o ser humano nunca é plenamente
feliz. A felicidade é o estado de espírito, ele é atravessado por
todo tipo de contingência, depende de pessoas, depende de dinheiro, depende de
saúde que é uma variável extremamente contingencial”.
O professor ainda exemplifica e
menciona o caso da pandemia, em que é necessário fazer escolhas, como,
ficar em casa e se cuidar, ou sair porque precisa ganhar dinheiro. E continua: “Depende
dos estados de espírito. Se você é uma pessoa mais depressiva, se você não é,
se você tem uma história familiar pior ou melhor, se você é uma pessoa mais
dada ou mais tranquila. Se você é mais generoso ou mais mesquinho. Eu acho que os
mesquinhos são menos felizes. São tantas variáveis, por isso que eu acho
que toda discussão de felicidade é mentirosa. Aliás tem um tema interessante
também que é o seguinte: a ideia da felicidade associada ao encontro do significado da vida. No nosso tempo, eu acho que
uma das forças mais ativas em você ter um estado de espírito mais feliz é ter
significado o trabalho que você faz, porque se passa muito tempo
trabalhando”, afirma o filósofo.
Mas a pergunta que todos devem se
fazer é por que o ser humano busca incansavelmente pela felicidade, por que
tanta obsessão?
“Porque a vida é infeliz em
grande parte. É normal em certa medida. Você adoece, você morre e você
perde pessoas que você ama, você fica pobre, você é traído, te passam para
trás, você tem um governo que te rouba, ou você tem um governo que é injusto ou
no trabalho não consegue chegar onde você quer, ou você é obrigado a trabalhar
no que não gosta. [...] São muitos os motivos para a infelicidade, então é
natural que a gente tente ter uma vida um pouco menos sofrida. Agora, hoje eu
acho que essa obsessão de felicidade já é um produto: ser feliz em tudo. Ter
os sentimentos certos, a comida certa, ter o filho certo, o relacionamento perfeito,
o rosto perfeito, aí já é uma doença”, finaliza Pondé.
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