«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Moralismo ou monetarismo?

Antonio Delfim Netto*
Valor Econômico
13.03.2012

Talvez seja hora de recordar por que alguns países europeus decidiram construir uma Comunidade Econômica (a CEE) com o objetivo principal de induzir Estados soberanos a resolverem seus problemas usando a negociação e não a guerra.

Levando ao limite a simplificação histórica, esses Estados foram produzidos pelo próprio comportamento do homem: um animal gregário (quem não é meu é inimigo) e territorial (o que é meu é só meu), limitado pela finitude dos recursos do território que conseguiu ocupar e assegurar para si. Cada um se contrapõe a todos os outros.

Felizmente, nesse mundo selvagem parece que há um processo que vai suavizando essa barbárie. Os próprios Estados soberanos vão apreendendo suas vantagens. A mobilização de sua cooperação interna (produto da evolução genética e cultural), quando estendida aos "vizinhos" por meio da negociação e não da guerra para o uso dos recursos naturais finitos de ambos, é mais eficiente e menos custosa. A grande lição que restou da construção de um continente com mil anos de guerra é que os próprios recursos para realizá-la são finitos e a arbitragem militar nunca leva à paz perpétua...

No fim da Segunda Guerra Mundial (a terceira de proporções catastróficas em um século, se incluirmos a franco-alemã de 1870), vencedores e vencidos começaram a entender que esse movimento sem fim, alimentado pelo desejo de vingança dos últimos e pela arrogância dos primeiros, só terminaria se fosse, de fato, construída uma Europa comum a todos.

Seu principal articulador foi o francês Jean Monet [foto no alto], com o apoio decisivo de dois grandes estadistas, Konrad Adenauer [foto ao lado] e Alcide De Gaspari [foto abaixo], a partir de uma ideia que já está em Adam Smith: o comércio e as trocas dispensam as guerras, pois os recursos raros podem ser trocados em benefício de todos.

É óbvio que essa construção implica a cessão de parte da soberania de cada Estado em benefício do conjunto, uma ideia difícil de ser digerida. A teoria então vigente - "a soberania não se partilha, não se negocia. Ela se afirma" - implicava o eterno retorno da arbitragem pela força. Diante desse impasse, a sugestão implícita no pensamento de seus construtores seria dividir a soberania. Uma parte "nobre e sagrada", que diz respeito à defesa nacional, às relações internacionais etc. permaneceria intocável. Não havia razão, porém, para incluir entre elas questões puramente técnicas, como, por exemplo, a produção coordenada de carvão e de aço.

Nasceu, assim, por iniciativa de Robert Schuman, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca) em 1957, que estabeleceu a cooperação franco-alemã. No mesmo ano, foi assinado o Tratado de Roma, onde se lançaram, de fato, as bases iniciais da Comunidade Econômica Europeia (CEE), que incluía a República Federal da Alemanha, a França, a Itália e o Benelux.

A partir daí, a CEE começou a se expandir. Em 1973, entram o Reino Unido, a Irlanda e a Dinamarca; em 1981, a Espanha; em 1986, Portugal. Neste mesmo ano, assinou-se o chamado "Ato Único", que estabeleceu a criação de um mercado comum que entraria em vigor em 1º de janeiro de 1993, juntamente com o Tratado de Maastricht, assinado em 1992.

Esse estabeleceu uma certa ordem fiscal que deveria ser obedecida por todos os membros: um déficit fiscal estrutural máximo de 0,5%, administrativa e perigosamente transformado num déficit fiscal inferior a 3% e o compromisso de reduzir a relação dívida bruta/PIB para 60%.

Em 1994, criou-se o Instituto Monetário Europeu, mencionado no Tratado de Maastricht, que preparou a introdução da moeda única, o euro, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1999. Com relação a ele foram fixadas de forma definitiva e irretratável todas as taxas de câmbio das antigas moedas nacionais.

Hoje, 17 países têm o euro como moeda. Com todos os seus problemas e dificuldades pontuais, a CEE é um espaço onde vigem os mesmos procedimentos: a livre circulação de bens e serviços, dos capitais e dos homens, políticas aduaneiras e tarifárias comuns, o que seguramente não é tudo, mas não é pouco.

Um aspecto pouco mencionado na construção da CEE é que cada decisão importante, que leva à maior cooperação entre os países, deve ser compatível com suas Constituições e deve ser aprovada pelos seus Parlamentos. A lamentável sugestão do ministro de Finanças da Alemanha, que pediu o adiamento das eleições gregas e a entrega do poder a burocratas gregos controlados pelos burocratas da "troika" de Bruxelas (CCE), de Frankfurt (Banco Central Europeu) e Washington (FMI), mostra a distância entre a visão política medíocre da atual administração alemã e a grandeza de um Helmut Kohl...

Mais triste, ainda, é a falta de reconhecimento que a estúpida punição germânica, que se tenta impor aos gregos para "purificá-los de suas extravagâncias dionísicas", é ditada por um cínico moralismo apoiado numa falsa teoria econômica. O problema é que ela está pondo em risco a mais brilhante construção política e civilizatória do século XX.

* Antonio Delfim Netto (nasceu em São Paulo, no Cambuci, em 1º de maio de 1928) é economista, professor universitário e político brasileiro. Professor emérito da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, onde fez sua carreira acadêmica, tornou-se professor titular de análise macroeconômica em 1983.Em 2005, ingressou no PMDB. Não se reelegeu em 2006 e não se candidatou a cargos eletivos em 2010.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Terça-feira, 13 de março de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/507431-moralismooumonetarismo

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