«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quarta-feira, 7 de março de 2012

MULHER: A LINGUAGEM DO AMOR

Mulher, Mãe e Trabalhadora


Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS

De retorno a São Paulo, ao meu lado no ônibus viajava uma senhora ainda jovem com duas crianças: uma filhinha de alguns anos e um bebê de alguns meses. Logo surgiu um pequeno impasse. Dois ou três passageiros resmungaram sobre a luz acesa nas poltronas ocupadas pela mãe e filhos. Era evidente, porém, que ela não apagava a lâmpada individual para evitar o choro da criança de colo. Tinha perfeita consciência que seu bebê temia o escuro e devia esperar que ele dormisse.


Enquanto isso, a jovem mãe oferecia o peito e “falava” com o bebê. Falava entre aspas, porque se tratava de um monólogo de palavras e frases entrecortadas, um murmúrio de sons e afagos, incompreensível e ao mesmo tempo cheio de significado; um sussurro inarticulado de mimimi-mumumu, como diria um comentarista esportivo; a magia da água que, mansa e borbulhante, brota da fonte. Fonte cristalina e transparente, onde tudo é límpido e refrescante.


Num relance, pude observar os dois rostos praticamente colados um ao outro. O nariz da mãe entrecruzava-se com o do filho, num jogo de comunicação bem conhecido de quem costuma lidar com a infância. Mais expressivo ainda era o olhar dela fascinado pelos olhinhos da criança, abertos e fixos naquele rosto familiar e amado. Podia-se adivinhar o esboço de um sorriso divino de ambos os lados, num enternecimento inexprimível. A imagem transbordava de ternura e afeto.


Neste caso, pouco ou nada importavam a lógica e o sentido das palavras. O amor, a dedicação e o carinho expressavam-se, antes, pela entonação da voz, pelo calor do corpo, pelos braços acolhedores, pelo balanço ritmado dos embalos, pela profusão de carícias e beijos. 


A linguagem do amor, na expressão animal e humana, não é construída com um edifício de palavras, frases, discursos, e sim com balbucios, gestos, olhares, sorrisos, toques, canções, presença... 


É a arte daquela que, além de carregar a sua “cria” por nove meses no aconchego de seu ventre e amamentá-la depois de nascida, ensina-lhe em seguida as primeiras palavras, as primeiras preces e os primeiros passos. Aquela que, no berço e na casa, vela pela vida que cresce e amadurece: primeira a levantar-se, última a deitar-se.


Semelhante cena, tão simples e singela, levou-me às palavras do salmo: “eu fiz calar e repousar a minha alma, como uma criança recém-amamentada no colo da mãe” (Sl 131,2). Tanto a linguagem do amor quanto a linguagem da oração não são feitas como narrativas articuladas, gramaticamente corretas em seus conceitos e argumentações. Ao contrário, ela constitui uma mistura de sons e silêncios, comunicação de fala e escuta, onde prevalece uma tonalidade de voz que é única e irrepetível em cada pessoa e em cada relação.


A razão, com sua lucidez fria e cortante, apaga muitas vezes o encanto de uma relação amorosa, quer em termos espirituais quer em termos afetivos. Aqui a alma, o coração e o corpo falam mais alto, mesmo sem nada dizer de inteligível ou traduzível. Isso explica o encantamento da música, do afago amoroso, do olhar banhado de luz, da expressão facial que se abre em flor. Aliás, explica também a gratuidade da própria flor que se oferece inteira e bela, para logo murchar e morrer.


Amor e oração, meditação e contemplação nascem e crescem num terreno distinto da racionalidade. Podem e devem contar com ela, evidentemente, mas se guiam por outra bússola e rumam em direção a outro porto. Tampouco seguem a lógica estreita e taxativa da matemática, embora sem esquecê-la. Oblação e gratuidade jamais se esgotam nos números e nos conceitos. Seu mistério secreto, sem deixar de ser humano, encontra-se muito além (ou acima) da compreensão humana. Finitude e infinitude se entrelaçam: numa trajetória de vida finita habita um espírito infinito, inquieto e irrequieto, que sempre busca superar-se a si mesmo, somente repousando na Casa de Deus, como lembra Santo Agostinho.


O amor da mulher/mãe/trabalhadora, na vida de cada um de nós, é ao mesmo tempo um lugar de chegada e de partida, que nos acompanha em toda a trajetória, desde o berço ao túmulo, do nascimento à morte. Ponto de referência onde o humano e o divino se cruzam, deixando marcas indeléveis gravadas na pedra viva da história. A mulher em sua entrega materna e em sua contribuição na sociedade, a exemplo do poeta e do artista, carrega em si algo de profundamente humano-divino, revelando na face da terra um pouco do oxigênio que se respira nos céus! Em cada mulher esconde-se uma oração, às vezes não recitada, mas potencialmente presente.


Fonte: www.provinciasaopaulo.com - Dia 06 de março de 2012.

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