«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

4º Domingo do Tempo Comum - Ano "C" - Homilia

Evangelho: Lucas 4,21-30


Naquele tempo, estando Jesus na sinagoga, começou a dizer: 
21 “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. 
22 Todos davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca. E diziam: “Não é este o filho de José?”
23 Jesus, porém, disse: “Sem dúvida, vós me repetireis o provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo. Faze também aqui, em tua terra, tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum”. 
24 E acrescentou: “Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. 
25 De fato, eu vos digo: no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e houve grande fome em toda a região, havia muitas viúvas em Israel. 
26 No entanto, a nenhuma delas foi enviado Elias, senão a uma viúva que vivia em Sarepta, na Sidônia. 
27 E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel. Contudo, nenhum deles foi curado, mas sim Naamã, o sírio”. 
28 Quando ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga ficaram furiosos. 
29 Levantaram-se e o expulsaram da cidade. Levaram-no até ao alto do monte sobre o qual a cidade estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício. 
30 Jesus, porém, passando pelo meio deles, continuou o seu caminho.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
PRIVADOS DE ESPÍRITO PROFÉTICO

Sabemos que, historicamente, a oposição a Jesus foi sendo gestada aos poucos: a suspeita dos escribas, a irritação dos mestres da lei e a rejeição dos dirigentes do Templo foram crescendo até acabar na execução na cruz.

O evangelista Lucas também sabe disso. Porém, intencionalmente, forçando, inclusive, o seu próprio relato, fala da rejeição frontal a Jesus em sua primeira atuação pública que descreve. Desde o início, os leitores deverão tomar consciência de que a rejeição é a primeira reação que encontra Jesus entre os seus ao apresentar-se como Profeta.

Aquilo que aconteceu em Nazaré não é um fato isolado. Algo que aconteceu no passado. A rejeição a Jesus, quando se apresenta como Profeta dos pobres, libertador dos oprimidos e 
clemente com os pecadores, pode ir se produzindo entre os seus ao longo dos séculos.

Aos seguidores de Jesus custa aceitar a sua dimensão profética. Esquecemos, quase que completamente, algo que tem sua importância. Deus não se encarnou num sacerdote, consagrado a cuidar da religião do Templo. Tampouco, num doutor ocupado em defender a ordem estabelecida pela lei. Ele encarnou-se e revelou-se num Profeta enviado pelo Espírito para anunciar aos pobres a Boa Notícia e aos oprimidos a libertação.

Esquecemos que a religião cristã não é uma religião a mais, nascida para proporcionar aos seguidores de Jesus as crenças, ritos e preceitos adequados para viver sua relação com Deus. É uma religião profética, impulsionada pelo Profeta Jesus para promover um mundo mais humano, orientado para sua salvação definitiva em Deus.

Nós, cristãos, corremos o risco de descuidar, vez ou outra, da dimensão profética que nos deve animar como seguidores de Jesus. Apesar das grandes manifestações proféticas que foram dadas na história cristã, não deixa de ser verdade o que afirma o reconhecido teólogo Hans Urs von Balthasar: nos finais do século segundo "recai sobre o espírito (profético) da Igreja uma geada que não se foi completamente".

Hoje, novamente, preocupados em restaurar "o religioso" diante da secularização moderna, os cristãos correm o risco de caminhar para o futuro privados do espírito profético. Se é assim, pode nos acontecer o mesmo que aos moradores de Nazaré: Jesus passará por nós e "se afastará" para prosseguir o seu caminho. Nada o impedirá de continuar a sua missão libertadora. Outros, vindos de fora, reconhecerão sua força profética e acolherão sua ação salvadora.

QUANDO UM POVO ERRA

É muito frequente, entre nós, atribuir ao "povo" as posturas e atitudes que cada um trata de defender. Facilmente, gritam-se slogans, adotam-se decisões e realizam-se ações em nome de um povo que, supostamente, as defende.

Ninguém se atreve a elevar uma voz que possa parecer contrária ao povo. Deve-se deixar claro que a nossa palavra é expressão evidente da vontade do povo.
Tudo acontece como se o apelo ao povo fosse o critério definitivo para julgar a validade e o caráter justo do que se propõe. 

Este desejo de defender o que o povo quer, deve ser, sem dúvida, a atitude de todo homem que busca o bem comum diante dos interesses egoístas e exclusivamente partidários.
Porém, seria um equívoco pensar que a única maneira de amar um povo seja identificar-nos com tudo o que esse povo diz e aprovar, de modo acrítico, tudo o que esse povo faz.

Um povo, pelo fato de sê-lo, não é automaticamente infalível. Os povos também erram. Os povos também são injustos.

É nesses momentos, justamente, que esse povo necessita de homens que lhe digam, com sinceridade e coragem, seus erros e seu pecado. Homens que, movidos por seu amor leal ao povo, se atrevem a levantar uma voz, às vezes, irritante e discordante, porém que esse povo necessita escutar para não desumanizar-se. 

Um povo que não tenha, em cada momento, filhos que se atrevam a denunciar-lhe seus erros e injustiças, é um povo que corre o risco de ir "perdendo sua consciência".
Quem sabe, o maior pecado de um povo seja abafar a voz de seus profetas, pessoas, às vezes, muito simples, porém que conservam como ninguém o melhor e o mais humano de um povo.

E quando um povo reduz ao silêncio a estes homens e mulheres, empobrece-se e resta sem luz para caminhar até um futuro mais humano.
É triste constatar que o refrão judaico continua sendo realidade: "Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria". E as pessoas continuam ignorando os seus profetas, como aquelas de Nazaré que expulsaram, certo dia, Jesus, o melhor e o mais necessário para o seu povo.

Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Quarta-feira, 30 de janeiro de 2013 - 09h00 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

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