«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

“O Renan não é corrupto porque é mau, mas porque essa é a única forma de fazer política no Brasil”


Entrevista com: Roberto Romano*

Yuri Al’Hanati

RENAN CALHEIROS - Senador e Presidente do Senado
A volta de Renan Calheiros (PMDB) à presidência do Senado, mesmo sob denúncias de corrupção, choca por aparentemente premiar alguém com conduta suspeita. Mas para o professor de Ética e Ciência Política Roberto Romano, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a escolha de Renan pelos colegas é uma consequência natural do sistema político brasileiro. Ele afirma que a prática de troca de favores e o lobby dos estados em Brasília estão inseridos em um cenário que favorece a corrupção. “O importante é que o político tenha o carimbo de empreendedor, o que dá origem ao bordão popular ‘Rouba, mas faz’”. Nesta entrevista, Romano comenta essa estrutura política, as origens do partido do novo presidente do Senado e a participação da opinião pública na mudança de pensamento.

De que forma as estruturas do poder estão relacionadas à corrupção?

Roberto Romano: O nosso modelo de presidencialismo concentra todas as iniciativas das políticas públicas no governo federal. Nada se faz no Brasil sem passar pela Presidência e pelos ministérios. Isso gera uma dificuldade para os municípios em conseguir obras. O pagamento por essa hegemonia do Executivo federal é a transformação de representantes do povo em lobistas dos municípios e das regiões. Isso quando não se tornam representantes de interesses do mercado e de grupos que nem sequer primam pela ética nos negócios. Ou seja, apenas quem é capaz de trazer obras e investimentos para sua região é eleito. O importante é que o político tenha o carimbo de empreendedor, o que dá origem ao bordão popular “Rouba, mas faz”. Quase não existe possibilidade de eleger e reeleger um político que seja apenas ético.

Dois dos principais nomes à eleição do Congresso, Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, são do PMDB. Ambos são também acusados de corrupção. Existe uma relação entre o partido e a corrupção?

Roberto Romano: Com o golpe militar de 64, houve a dissolução dos partidos para a criação de um sistema bipartidário. A Arena era formada pelos grandes oligarcas regionais. Eles abarcaram os cargos parlamentares, que por sua vez serviam apenas de intermediários de recursos para sustentar o presidente militar. O MDB ficou com a sobra dessas oligarquias. No fim da ditadura, o MDB, agora já transformado em PMDB, para ganhar o apoio das oligarquias da Arena em sua chapa, lançou José Sarney como vice de Tancredo Neves. Sarney foi um oligarca importante durante o regime; e ele locupletou todos os outros oligarcas ligados à sua sustentação [na Presidência]. Então o PMDB se tornou o grande partido oligárquico nacional, que expandiu suas bases para o Brasil inteiro e instalou no Congresso o “centrão” e sua política de dar para receber.

Como essa política é transmitida para os políticos de hoje?

Roberto Romano: O Renan Calheiros, por exemplo, era um militante do PCdoB, político de esquerda que começou a romper com o ideário socialista quando se aliou a Fernando Collor, representante da oligarquia de Alagoas. Depois, quando foi eleito senador, se uniu a José Sarney. Ele é herdeiro da oligarquia nacional e aprendeu muito bem a política de dar para receber. Além disso, desde Orestes Quércia, em 1994, o PMDB nunca mais apresentou um candidato à Presidência. Isso é estratégico porque qualquer partido grande sabe que não terá um concorrente no PMDB, mas terá que pagar o preço de seu apoio no Congresso com cargos. Então é possível entender por que Renan saiu da presidência do Senado por acusação de corrupção [em 2007] e por que volta agora sob a mesma acusação. Não há senador que não deva algum favor a Renan.

A conscientização da opinião pública sobre a corrupção tem alguma mudança prática no cotidiano político?

Roberto Romano: O que falta são análises estruturais. Nós somos muito presos aos resultados e muito pouco afeitos a pesquisar o funcionamento da máquina pública. Nossa visão do processo corruptivo é diacrônica [não tem sincronia]. Um escândalo em um dia, depois outro, depois outro... Essa sucessão de eventos cria um certo desânimo na opinião pública e deixa a imprensa e a polícia cansadas de correr atrás sempre das mesmas coisas. Essa dimensão nos faz esquecer que a corrupção é um sistema e como tal é sincrônica. No mesmo momento em que um escândalo estoura, toda uma rede está acontecendo ao mesmo tempo. O Renan não é corrupto porque é mau, mas sim porque essa é a única forma de fazer política no Brasil. E isso passa por uma cumplicidade do eleitor que observa apenas os resultados.

* Roberto Romano é filósofo e professor de Ética e Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Fonte: GAZETA DO POVO (Curitiba, PR) - Vida Pública -  03/02/2013 - Internet: http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?id=1341634

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