«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

PALAVRAS DE BENTO XVI ATÉ SUA DESPEDIDA

Neste espaço, nos propomos a reproduzir 
os  pronunciamentos do Papa Bento XVI 
até o dia 28 de fevereiro de 2013, quando ele deixará o ministério papal e se retirará para uma vida privada de oração e reflexão

Papa cita hipocrisia religiosa e
desfiguração da Igreja

JAMIL CHADE E FILIPE DOMINGUES
BENTO XVI preside Missa da Quarta-Feira de Cinzas no Vaticano
13 de fevereiro de 2013
Em sua primeira aparição pública depois de anunciar que vai deixar o cargo no próximo dia 28, o papa Bento XVI citou, na quarta-feira (13), a "hipocrisia religiosa", afirmando que "a divisão do clero" e "a falta de unidade" estão "desfigurando a Igreja".

Bento XVI falou, pela manhã, durante a audiência geral no Vaticano e, à tarde, na missa de quarta-Feira de cinzas - a última que celebrou na Basílica de São Pedro. Na audiência, ele disse que sua renúncia - a primeira de um papa em 600 anos - foi para o "bem da Igreja". Mais tarde, na homilia, diante de cardeais, o pontífice citou os que estariam "instrumentalizando Deus" para a obtenção de "prestígio pessoal e poder".

Em sua edição de quarta-feira (13), o jornal O Estado de S. Paulo mostrou que a renúncia de Bento XVI estaria relacionada não apenas à sua suposta fragilidade física, mas à disputa de poder dentro da Igreja - que seria liderada por Tarcisio Bertone, o número 2 do Vaticano -, que o deixou isolado. Para frear um governo paralelo, Bento XVI optou por desfazer seu pontificado e convocar novas eleições.

Na quarta-feira (13), Bento XVI deu indicações de que a divisão da Igreja pesou em sua decisão. O clima na Basílica de São Pedro durante a missa não foi de festa. Ao chegar ao altar construído sobre o túmulo do apóstolo Pedro, a monumental construção parecia diminuir ainda mais o já fragilizado papa. Mas bastou ele dar sua mensagem para que sua voz frágil mandasse um dos recados mais fortes que já ecoaram nos últimos anos nos afrescos e pilares de dimensões desproporcionais da basílica.

Seu alvo foi o grupo de cardeais que provoca discórdia dentro da Igreja Católica e teria provocado uma guerra interna. "O rosto da Igreja às vezes é desfigurado", disse o papa. "Penso em particular nos pecados contra a unidade da Igreja, nas divisões no corpo eclesial." O pontífice afirmou que ela deve superar "individualismos e rivalidades", especialmente no tempo da Quaresma - período de 40 dias antes da Páscoa em que os cristãos intensificam a oração, a esmola e o jejum.

Durante sua homilia, o papa citou texto do apóstolo Paulo no qual diz "Eis o momento favorável, o dia da salvação" e o aplicou ao momento atual, em que há uma urgência de mudanças "que não admitem ausências ou inércias", pois a unidade da Igreja está ameaçada. Trata-se de uma ocasião única e irrepetível para a reconciliação, disse o papa, de modo que é necessário que os cristãos retornem a Deus "com todo o coração".

Bento XVI completou a crítica à desunião na Igreja, à busca pelo poder e à instrumentalização da fé recordando que, no texto bíblico, Jesus denuncia a "hipocrisia religiosa, o comportamento que quer aparecer, as relações que buscam o aplauso e a aprovação". Em vez disso, o verdadeiro cristão "não serve a si mesmo ou ao público, mas ao seu Senhor, na simplicidade e na generosidade".

Não distante dele estavam dezenas de cardeais, bispos e membros do corpo diplomático que não disfarçavam o mal-estar. Ao terminar a missa, muitos deles se recusaram a falar com a imprensa, visivelmente abatidos.

O cardeal Giovanni Lajolo, presidente emérito da Pontifícia Comissão para a Cidade-Estado do Vaticano, admitiu ao jornal O Estado de S. Paulo que a mensagem de Bento XVI foi surpreendente: "Ficamos sem palavras. Ele mostrou uma profunda intimidade com Deus", declarou o italiano, que participará do próximo conclave - marcado para ocorrer a partir do dia 15 de março. Já o cardeal canadense Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que recebeu a mensagem de unidade na Igreja proferida pelo papa "com o coração aberto".

Poder mundano?

Antes, pela manhã, Bento XVI deu a primeira parte de seu recado, na audiência pública que realizou com grupos de todo o mundo. "Não é o poder mundano que salva o mundo, mas o poder da cruz, da humildade e do amor", declarou. A mensagem, voltada a todos os cristãos do mundo, no atual contexto pareceu ser mais destinada àqueles que pretendem fazer da Igreja um lugar de "poder mundano".

Referindo-se às ambições de poder de todo ser humano, o papa fez uma analogia com as tentações que Cristo sofreu durante 40 dias no deserto, segundo o relato bíblico. Ele recordou que Jesus encontrou serenidade e um lugar de "silêncio e de pobreza". Em mais uma possível referência ao materialismo na Igreja, Bento XVI criticou a instrumentalização de Deus, dizendo que todo cristão deve "superar a tentação de submeter Deus a si e ao próprio interesse".

Bento XVI procurou justificar aos fiéis os motivos de sua saída - desta vez falando em italiano e não em latim, como havia feito na reunião com cardeais na segunda-feira. "Fiz isso com plena liberdade, para o bem da Igreja, depois de ter rezado por muito tempo e de ter examinada diante de Deus a minha consciência", explicou.

"O que é que verdadeiramente conta na minha vida?", questionou o papa renunciante. Referindo-se, na verdade, à vida de todo cristão, mas numa clara alusão também à sua decisão pessoal de abandonar o papado, declarou: "Quando se vai ao essencial, é mais fácil de encontrar Deus"

Fonte: ESTADÃO.COM.BR - Notícias - 14 de fevereiro de 2013 - 08h06 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,papa-cita-hipocrisia-religiosa-e-desfiguracao-da-igreja,996926,0.htm

Homilia de Bento XVI na Missa de 
Quarta-feira de Cinzas - 13/02/2013

Boletim Sala de Imprensa da Santa Sé
PAPA BENTO XVI pronuncia sua homilia na Missa da Quarta-Feira de Cinzas
Venerados Irmãos,
caros irmãos e irmãs!

Hoje, Quarta-feira de Cinzas, iniciamos um novo caminho quaresmal, um caminho que se estende por quarenta dias e nos conduz à alegria da Páscoa do Senhor, à vitória da Vida sobre a morte. Seguindo a antiquíssima tradição romana da stationes quaresimais, nos reunimos hoje para a Celebração da Eucaristia. Tal tradição prevê que a primeira statio tenha acontecido na Basílica de Santa Sabina na colina Aventino. As circunstâncias sugeriram reunir-se na Basílica Vaticana. Somos numerosos reunidos ao redor do Túmulo do Apóstolo Pedro também para pedir sua intercessão para o caminho da Igreja neste momento particular, renovando nossa fé no Pastor Supremo, Cristo Senhor. Para mim é uma ocasião propícia para agradecer a todos, especialmente aos fiéis da Diocese de Roma, neste momento em que estou para concluir o ministério petrino, e para pedir especial lembrança na oração.

As leituras que foram proclamadas nos oferecem ideias que, com a graça de Deus, são chamados a se tornarem atitudes e comportamentos concretos nesta Quaresma. A Igreja nos repropõe, antes de tudo, o forte chamado que o profeto Joel dirige ao povo de Israel: “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos” (2,12). Sublinhamos a expressão “com todo o coração”, que significa do centro de nossos pensamentos e sentimentos, das raízes das nossas decisões, escolhas e ações, com um gesto de total e radical liberdade. Mas é possível este retorno a Deus? Sim, porque há uma força que não mora em nosso coração, mas que nasce do coração do próprio Deus. É a força da sua misericórdia. Diz ainda o profeta: “Voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (v.13). O retorno ao Senhor é possível como 'graça', porque é obra de Deus e fruto da fé que nós depositamos na sua misericórdia. Este retornar a Deus torna-se realidade concreta na nossa vida somente quando a graça do Senhor penetra no íntimo e o toca doando-nos a força de “rasgar o coração”. É ainda o profeta a fazer ressoar da parte de Deus estas palavras: “Rasgai o coração, e não as vestes” (v.13). Com efeito, também em nossos dias, muitos estão prontos a “rasgar as vestes” diante de escândalos e injustiças – naturalmente cometidos por outros -, mas poucos parecem disponíveis a agir sobre o próprio “coração”, sobre a própria consciência e sobre as próprias intenções, deixando que o Senhor transforme, renove e converta.

Aquele “voltai para mim com todo o vosso coração”, é ainda um apelo que envolve não só o particular, mas a comunidade. Ouvimos na primeira Leitura: “Tocai trombeta em Sião, prescrevei o jejum sagrado, convocai a assembleia; congregai o povo, realizai cerimônias de culto, reuni anciãos, ajuntai crianças e lactentes; deixe o esposo seu aposento, e a esposa, seu leito” (vv.15-16). A dimensão comunitária é um elemento essencial na fé e na vida cristã. Cristo veio “para reunir os filhos de Deus dispersos” (cfr Jo 11,52). O “Nós” da Igreja é a comunidade na qual Jesus nos reúne juntos (cfr Jo 12,32): a fé é necessariamente eclesial. E isto é importante recordá-lo e vivê-lo neste Tempo da Quaresma: cada um esteja consciente de que o caminho penitencial não se percorre sozinho, mas junto com tantos irmãos e irmãs, na Igreja.

O profeta, enfim, se detém sobre a oração dos sacerdotes, os quais, com lágrimas nos olhos, se dirigem a Deus dizendo: “Não deixes que esta tua herança sofra infâmia e que as nações a dominem. Por que se haveria de dizer entre os povos: 'Onde está o Deus deles?'” (v.17). Esta oração nos faz refletir sobre a importância do testemunho de fé e de vida cristã de cada um de nós e das nossas comunidades para manifestar a face da Igreja e como esta face seja, muitas vezes, deturpada. Penso especialmente nas culpas contra a unidade da Igreja, nas divisões no corpo eclesial. Viver a Quaresma em uma mais intensa e evidente comunhão eclesial, superando individualismos e rivalidade, é um sinal humilde e precioso para aqueles que estão distantes da fé ou indiferentes.

"É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação!” (2 Cor 6,2). As palavras do apóstolo Paulo aos cristãos de Corinto ressoam também para nós com uma urgência que não admite ausências ou omissões. O termo “agora” repetido várias vezes diz que este momento não pode ser desperdiçado, ele é oferecido a nós como uma oportunidade única e irrepetível. E o olhar do Apóstolo se concentra sobre a partilha com a qual Cristo quis caracterizar sua existência, assumindo todo o humano até carregar o pecado dos homens. A frase de São Paulo é muito forte: Deus “o fez pecado por nós”. Jesus, o inocente, o Santo, “Aquele que não cometeu pecado”(2 Cor 5,21), carregou o peso do pecado partilhando com a humanidade o êxito da morte, e da morte de cruz. A reconciliação que nos é oferecida teve um preço altíssimo, o da cruz elevada sobre o Gólgota, sobre a qual foi pendurado o Filho de Deus feito homem. Nesta imersão de Deus no sofrimento humano e no abismo do mal está a raiz da nossa justificação. O “voltar a Deus de todo o coração” no nosso caminho quaresmal passa através da Cruz, o seguir Cristo sobre a estrada que conduz ao Calvário, ao dom total de si. É um caminho no qual se aprende cada dia a sair sempre mais do nosso egoísmo e dos nossos fechamentos, para dar espaço a Deus que abre e transforma o coração. E São Paulo recorda como o anúncio da Cruz ressoa em nós graças a pregação da Palavra, da qual o próprio Apóstolo é embaixador; um chamado para nós para que este caminho quaresmal seja caracterizado por uma escuta mais atenta e assídua da Palavra de Deus, luz que ilumina nossos passos.

Na página do Evangelho de Mateus, que pertence ao assim chamado Discurso da montanha, Jesus faz referência a três práticas fundamentais previstas pela Lei Mosaica: a esmola, a oração e jejum: são também indicações tradicionais no caminho quaresmal para responder ao convite de “voltar a Deus como todo o coração”. Mas Jesus destaca que seja a qualidade e a verdade da relação com Deus o que qualifica a autenticidade de cada gesto religioso. Por isso, Ele denuncia a hipocrisia religiosa, o comportamento que quer aparecer, as atitudes que buscam o aplauso e a aprovação. O verdadeiro discípulo não serve a si mesmo ou ao “público”, mas ao seu Senhor, na simplicidade e na generosidade: “E o teu Pai, que vê no escondido, te dará a recompensa” (Mt 6,4.6.18). O nosso testemunho então será sempre mais incisivo quando menos buscarmos nossa glória e formos conscientes que a recompensa do justo é o próprio Deus, o ser unido a Ele, aqui, no caminho da fé, e, ao término da vida, na paz e na luz do encontro face a face com Ele para sempre (cfr 1 Cor 13,12).

Queridos irmãos e irmãs, iniciemos confiantes e alegres o itinerário quaresmal. Ressoe forte em nós o convite à conversão, a “voltar para Deus com todo o coração”, acolhendo a sua graça que nos faz homens novos, com aquela surpreendente novidade que é participação à vida do próprio Jesus. Nenhum de nós, portanto, seja surdo a este apelo, que nos é dirigido também no austero rito, tão simples e ao mesmo tempo tão sugestivo, da imposição das cinzas, que daqui a pouco realizaremos. Nos acompanhe neste tempo a Virgem Maria, Mãe da Igreja e modelo de todo autêntico discípulo do Senhor. Amém!

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/517589-papa-cita-hipocrisia-religiosa-e-desfiguracao-da-igreja
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Bento XVI pede "renovação verdadeira" da Igreja 
para evitar a perda de fiéis

JAMIL CHADE e FILIPE DOMINGUES
BENTO XVI - Encontro com o Clero de Roma - Sala Paulo VI (Vaticano)
Quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013
Após ter criticado a "hipocrisia religiosa" e as "divisões no corpo eclesial", o papa Bento XVI usou ontem seu último encontro com o clero da Diocese de Roma para pedir uma "verdadeira renovação" da Igreja Católica. Em uma espécie de conselho não só aos sacerdotes presentes, mas a todos aqueles que conduzirão a Igreja após sua renúncia e até mesmo ao novo papa, Bento XVI procurou retomar o espírito de mudança proposto pelo Concílio Vaticano 2.º (1962-1965).

O pontífice de 85 anos disse que é preciso valorizar "a comunhão na Igreja" e, 50 anos após o concílio, que "ainda há muito a fazer". Um dos principais desafios do próximo conclave será escolher um papa com vigor para renovar a Igreja e superar as divisões que marcam a Santa Sé. Bento XVI, segundo a revista italiana Panorama, teria acelerado a ideia de renúncia após ver os resultados de uma investigação por ele encomendada que mostrou "resistência generalizada" na Cúria Romana por mudanças e mais transparência. O documento teria sido entregue a ele em 17 de dezembro.

Ontem, Bento XVI usou novamente uma aparição pública para alertar que, sem renovação e sem superar resistências, a Igreja estaria sob ameaça. Para muitos, isso foi um alerta ao conclave - e também ao próximo papa - sobre a tarefa que terá pela frente diante de um dos principais problemas: a perda de fiéis. Para alguns mais entusiastas, o pedido de renovação do papa também significaria abertura para a eleição de um pontífice do mundo em desenvolvimento, ainda que vozes no Vaticano insistam que essa questão não é central.

Com relativo vigor, bom humor e serenidade, o papa dedicou a reflexão improvisada à sua experiência como um jovem perito no Concílio Vaticano 2.º, iniciado por João XXIII em 1962 e concluído sob Paulo VI em 1965. Referindo-se àquela ocasião, Bento XVI recordou: "Todos acreditavam que se devia prosseguir com a renovação." Havia, segundo ele, "uma esperança incrível, um novo Pentecostes", observou, numa analogia ao relato bíblico em que os apóstolos são enviados pelo Espírito Santo para pregar no mundo todo.

Num esforço para mostrar que o entusiasmo por uma reforma também faz parte da história da Igreja, Bento XVI lembrou a batalha entusiástica que havia sido aquele concílio, transformando rituais arcaicos, como a missa em latim, em um modelo mais moderno. "Mas muito daquilo ainda não foi implementado", lamentou. "Precisamos trabalhar para que se realize de verdade o Concílio Vaticano 2.º e se renove a Igreja", insistiu. "A Igreja é um organismo, é uma realidade vital. Não é uma estrutura. Nós somos a Igreja."

Fontes próximas ao papa explicaram ao Estado que uma das dificuldades de implementar a reforma do concílio é que, mesmo democratizados, os textos da Igreja precisam ser transmitidos com uma comunicação eficiente, o que não estaria ocorrendo.

Aplausos
Inicialmente comportada, a plateia de sacerdotes - quase todos vestidos de preto, cor que simboliza "morte para o mundo" - aplaudiu calorosamente o papa quando ele entrou na Sala Paulo VI ao som do hino em latim Tu Es Petrus, que homenageia o sucessor do apóstolo Pedro. Bento XVI, de branco - cor que representa "luz para o mundo" -, logo justificou que suas condições e idade não o permitiram "preparar um grande discurso". "É para mim um dom especial da Providência que antes de deixar o ministério petrino eu possa ainda ver o meu clero, o clero de Roma."

O cardeal vigário de Roma, d. Agostino Vallini, e os seis bispos auxiliares da cidade estavam presentes. Um deles, d. Guerino Di Tora, disse que a mensagem de comunhão transmitida por Bento XVI vale para todos. "A unidade deve ser uma busca de cada um de nós. Todos temos de realizá-la", declarou. D. Paolino Schiavon, também bispo auxiliar, completou: "A Igreja é um povo em caminho", dando a entender que a renovação pedida pelo papa ocorrerá aos poucos.

Embora a Diocese de Roma possua só cerca de 350 padres, outros 150 são estrangeiros que auxiliam nos trabalhos diários das paróquias locais, especialmente celebrando missas e atendendo confissões. O padre indonésio Joseph Harold, de 42 anos, mestrando em teologia, afirmou sentir com força o retorno de um aggiornamento (atualização, em italiano): "Nós, sacerdotes, temos de abrir nossas portas, mudar as estruturas de poder e dar mais espaço para os leigos".

Ontem, ao jornal italiano La Stampa, o cardeal sul-africano Wilfrid Fox Napier também pediu "uma renovação espiritual da Igreja" para tirá-la de uma "profunda crise". "Damos, com muita frequência, à imprensa e ao mundo, a ideia de confrontação e carreirismo, e não de estar servindo aos fiéis", admitiu.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Vida/O Fim do Pontificado: Mensagens para o sucessor - Sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013 - Pg. A12 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,bento-xvi-pede-renovacao-verdadeira-da-igreja-para-evitar-a-perda-de-fieis-,997130,0.htm
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Bento XVI ao Clero de Roma:
 "Obrigado por seu amor pela Igreja e pelo Papa"

Rádio Vaticana
BENTO XVI discursa no Encontro com o Clero de Roma

O Papa encontrou na manhã desta quinta-feira, na Sala Paulo VI, no Vaticano, os párocos e o clero da Diocese de Roma. Bento XVI foi acolhido com grande afeto e comoção, nas notas do canto "Tu es Petrus". 
Sob uma salva de palmas, Bento XVI agradeceu-lhes pelo amor que nutrem pela Igreja e por sua pessoa. 

"Para mim é um dom especial da Providência, disse o Papa, que antes de deixar o ministério petrino possa ver mais uma vez o meu clero, o clero de Roma. Eu sou muito grato por suas orações", disse o pontífice acrescentando: "Não obstante a minha retirada, estarei sempre próximo a vocês com a oração e tenho certeza de que também vocês estarão próximos a mim, mesmo que para o mundo eu permaneça escondido".

Bento XVI afirmou que, devido a suas condições, não pôde preparar um grande, verdadeiro discurso, como se poderia esperar, mas pensou em fazer uma pequena conversa sobre o Concílio Vaticano II. O Papa falou sobre a expectativa vivida naquele momento. 
"Fomos ao Concílio não somente com alegria, mas com entusiasmo. Havia uma expectativa incrível. Esperávamos que tudo se renovasse, que realmente chegasse um novo Pentecostes, uma nova era da Igreja. Sentia-se que a Igreja não ia para frente, mas que parecia uma realidade do passado e não portadora do futuro", frisou o pontífice.

Bento XVI recordou que "naquela época via-se que a relação entre a Igreja e o período moderno, desde o início, era um pouco contrastante, começando com o erro no caso de Galileu, e se pensava em corrigir este início errado e encontrar uma nova relação entre a Igreja e as melhores forças no mundo, para abrir o futuro da humanidade, para abrir o verdadeiro progresso. Éramos cheios de esperança, entusiasmo e vontade de fazer a nossa parte para que isso acontecesse", sublinhou.

Santo Padre lembrou as idéias essenciais do Concílio: "o mistério pascal como centro da existência cristã e, portanto, da vida cristã, expresso no tempo pascal e no domingo que é sempre o dia da Ressurreição. Sempre começamos o nosso tempo com a Ressurreição, com o encontro com o Ressuscitado".
"Neste sentido é lamentável que hoje se tenha transformado o domingo em fim de semana, enquanto é o primeiro dia, é o início: "interiormente, devemos considerar isto, é o início, início da Criação, é o início da re-criação da Igreja, encontro com o Criador e com o Cristo Ressuscitado", disse ainda Bento XVI.

O Papa destacou a importância deste duplo conteúdo do domingo: "é o primeiro dia, ou seja, festa da Criação, enquanto acreditamos no Deus Criador, e encontro com o Ressuscitado que renova a Criação. O seu verdadeiro objetivo é criar um mundo que é resposta ao amor de Deus".

Outras idéias do Concílio foram os princípios de inteligibilidade da Liturgia. "Inteligibilidade não significa banalidade, porque os grandes textos da liturgia não são facilmente inteligíveis e precisam de uma formação permanente do cristão, para que cresça e entre mais profundamente no mistério e possa compreender. Só uma formação permanente do coração e da mente pode realmente criar inteligibilidade e uma participação que é mais do que uma atividade exterior, que é um entrar da pessoa, do meu ser em comunhão com a Igreja e assim em comunhão com Cristo", disse ainda o Papa.

Sobre o tema eclesiológico, Bento XVI frisou que "a Igreja não é uma organização, algo estrutural, jurídico e institucional, isso também, mas é um organismo, uma realidade vital, que entra em minha alma, tornando-me elemento construtivo da Igreja como tal". 

O Concílio decidiu criar uma construção trinitária da eclesiologia: Povo de Deus-Pai-Corpo de Cristo-templo do Espírito Santo. "É fruto do Concílio que o conceito de comunhão se torna cada vez mais uma expressão do sentido da Igreja, comunhão em várias dimensões, comunhão com o Deus Trinitário, que é comunhão entre o Pai, Filho e Espírito Santo, comunhão sacramental, comunhão concreta no episcopado e na vida da Igreja", sublinhou ainda o pontífice.

O Santo Padre recordou o confronto sobre o tema da colegialidade e se deteve sobre o ecumenismo e diálogo inter-religioso abordado pelo Concílio, especialmente no documento "Nostra Aetate". O Papa reiterou que "ainda há muito para fazer a fim de chegar a uma leitura realmente no espírito do Concílio", cuja aplicação "ainda não foi completada".

Na parte conclusiva de seu discurso, Bento XVI abordou a questão do papel dos meios de comunicação. "Havia o Concílio dos Padres, o verdadeiro Concílio, mas havia também o Concílio dos meios de comunicação que davam uma interpretação política e não de fé do que estava acontecendo. Para a mídia, o Concílio era uma luta política, uma luta pelo poder entre diferentes correntes na Igreja", destacou o Papa.

"Parece-me que 50 anos depois do Concílio, vemos como este Concílio virtual se rompe, se perde e aparece o verdadeiro Concílio com toda a sua força espiritual. É nossa tarefa, neste Ano da Fé, trabalhar para que o verdadeiro Concílio, com a força do Espírito Santo se realize e seja renovada a Igreja", concluiu Bento XVI. 

Fonte: NEWS.VA - The Vatican Today - 14/02/2013 - Internet: http://www.news.va/pt/news/bento-xvi-aos-parocos-de-roma-obrigado-por-seu-amo
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Nas tentações o que está em jogo é a fé, 
porque está em jogo Deus. 

As palavras de Bento XVI no 1º Domingo da Quaresma


BENTO XVI
Angelus (Domingo: 17/02/2013)
Na última quarta-feira, com o tradicional Rito das Cinzas, entramos na Quaresma, tempo de conversão e penitência em preparação para a Páscoa. A Igreja, que é mãe e mestra, chama todos os seus membros a renovar-se no espírito, a reorientar-se decididamente para Deus, renegando o orgulho e o egoísmo para viver no amor. Neste Ano da Fé a Quaresma é um tempo propício para redescobrir a fé em Deus como critério-base da nossa vida e da vida da Igreja. Isso comporta sempre uma luta, um combate espiritual, porque o espírito do mal naturalmente se opõe à nossa santificação e busca fazer-nos desviar do caminho de Deus. Por isso, no primeiro domingo da Quaresma, todos os anos é proclamado o Evangelho das tentações de Jesus no deserto.

Jesus, de fato, depois de receber a "investidura" de Messias - "ungido" de Espírito Santo - no Batismo no Jordão, foi conduzido pelo mesmo Espírito no deserto para ser tentado pelo diabo. Ao iniciar o seu ministério público, Jesus teve que desmascarar e repelir as falsas imagens de Messias que o tentador lhe propunha. Mas essas tentações são também falsas imagens do homem, que em todos os momentos insidiam a consciência, trasvestindo-se de propostas convenientes e eficazes, ou até mesmo boas. Os evangelistas Mateus e Lucas apresentam três tentações de Jesus, diversificando-as apenas na ordem. O núcleo central consiste em instrumentalizar Deus para os próprios interesses, dando mais importância ao sucesso ou aos bens materiais. O tentador é astuto: não impele diretamente em direção ao mal, mas a um falso bem, fazendo crer que as verdadeiras realidades são o poder e aquilo satisfaz as necessidades primárias. Dessa forma, Deus torna-se secundário, reduz-se a um meio, torna-se definitivamente irreal, não importa mais, desvanece. Em última análise, nas tentações o que está em jogo é a fé, porque está em jogo Deus. Nos momentos decisivos da vida, mas, vendo bem, a qualquer momento, estamos numa encruzilhada: queremos seguir o eu ou Deus? O interesse individual ou o que realmente é bem?

Como nos ensinam os Padres da Igreja, as tentações fazem parte da "descida" de Jesus à nossa condição humana, ao abismo do pecado e das suas consequências. Uma "descida" que Jesus percorreu até o fim, até a morte de cruz, até os infernos do extremo distanciamento de Deus. Desse modo, Ele é a mão que Deus estendeu ao homem, à ovelha perdida, para reconduzi-la a salvo. Como ensina Santo Agostinho, Jesus tirou de nós a tentação, para nos dar a vitória (cf. Enarr  Psalmos em, 60,3:. PL 36, 724). Portanto, também nós não tememos enfrentar o combate contra o espírito do mal: o importante é que o façamos com Ele, com Cristo, o Vencedor. E para estar com Ele voltemo-nos para a Mãe, Maria: Invoquemos com confiança filial na hora da provação, e ela nos fará sentir a potente presença de seu Filho divino, para repelir as tentações com a Palavra de Cristo, e assim recolocar Deus no centro da nossa vida.

(Após o Angelus)

Obrigado a todos!

Um caloroso saúdo aos peregrinos de língua italiana. Obrigado a todos! O brigado por virem tão numerosos! Obrigado! A presença de vocês é um sinal do afeto e da proximidade espiritual que vocês estão me manifestando nestes dias. Saúdo, em particular, a administração de Roma Capital, conduzida pelo prefeito, e com ele saúdo e agradeço a todos os habitantes dessa amada Cidade de Roma. Saúdo os fiéis da diocese de Verona, de Nettuno, de Massanninziata e da paroqeuia romana de Santa Maria Janua Coeli, como também os jovens de Seregni e Brescia.

A todos auguro um bom domingo e um bom caminho de Quaresma. Esta tarde inicia a semana de exercícios espirituais: continuemos unidos na oração. Boa semana a todos. Obrigado!

Fonte: ZENIT.ORG - 17 de fevereiro de 2013 - Internet: http://www.zenit.org/pt/articles/nas-tentacoes-o-que-esta-em-jogo-e-a-fe-porque-esta-em-jogo-deus?utm_campaign=diarioportughtml&utm_medium=email&utm_source=dispatch
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"Acreditar não é nada mais do que,
na escuridão do mundo, 
tocar a mão de Deus"

Palavras de Bento XVI no final dos Exercícios Espirituais

Publicamos as palavras do Papa Bento XVI proferidas esta manhã na Capela Redemptoris Mater no Palácio Apostólico Vaticano na conclusão dos Exercícios Espirituais
BENTO XVI - Discursa na conclusão dos Exercícios Espirituais da quaresma
Caros irmãos,

Caros amigos!

No final desta semana espiritualmente tão densa, fica só uma palavra: obrigado! Obrigado a vocês por esta comunidade orante em escuta, que me acompanhou nesta semana. Obrigado, principalmente, ao senhor, eminência, por estas “caminhadas” tão bonitas no universo da fé, no universo dos Salmos. Ficamos impressionados pela riqueza, profundidade, beleza deste universo da fé e permanecemos gratos porque a Palavra de Deus nos falou de modo novo, com nova força.

"Arte de crer, arte de pregar” era o fio condutor. Lembrei-me do fato de que os teólogos medievais traduziram a palavra "logos" não só por "Verbum", mas também por "ars": "Verbum" e "ars" são intercambiáveis. Apenas nas duas juntas aparece, para os teólogos medievais, todo o significado da palavra “logos”. O “Logos” não é somente um razão matemática: o “Logos” tem um coração, o “Logos” é também amor. A verdade é bela, verdade e beleza vão juntas: a beleza é o selo da verdade.

E o senhor, partindo dos Salmos e da nossa experiência de cada dia, sublinhou fortemente que o “muito belo” do sexto dia -  expressado pelo Criador – é permanentemente contradito, desta forma, pelo mal, pelo sofrimento, pela corrupção. E parece quase que o maligno queira permanentemente sujar a criação, para contradizer a Deus e fazer irreconhecível a sua verdade e a sua beleza. Num mundo assim marcado também pelo mal, o “Logos”, a Beleza eterna e a Ars eterna, devem aparecer como “caput cruentatum”. O Filho encarnado, o “Logos” encarnado, é coroado com uma coroa de espinhos; e ainda justo assim, nesta figura sofrida do Filho de Deus, começamos a ver a beleza mais profunda do nosso Criador e Redentor; podemos, no silêncio da “noite escura”, escutar ainda a Palavra. Crer não é mais do que, na escuridão do mundo, tocar a mão de Deus e assim, no silêncio, escutar a Palavra, ver o Amor.

Eminência, obrigado por tudo e façamos ainda “caminhadas”, ainda mais, neste misterioso universo da fé, para sermos mais capazes de orar, de rezar, de anunciar, de ser testemunhas da verdade, que é bela, que é amor.

No fim, caros amigos, gostaria de agradecer a todos vocês, e não só por esta semana, mas por estes oito anos, em que levaram comigo, com grande competência, afeto, amor, fé, o peso do ministério petrino. Permanece em mim esta gratidão e embora agora termine a "exterior", "visível" comunhão - como disse o cardeal Ravasi – permanece a proximidade espiritual, permanece uma profunda comunhão na oração. Nesta certeza avançemos, confiantes da vitória de Deus, confiantes da verdade da beleza e do amor.

Obrigado a todos.

Fonte: ZENIT.ORG - 23 de fevereiro de 2013 - Internet: http://www.zenit.org/pt/articles/acreditar-nao-e-nada-mais-do-que-na-escuridao-do-mundo-tocar-a-mao-de-deus?utm_campaign=diarioportughtml&utm_medium=email&utm_source=dispatch
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"Permitiu-nos renovar a ars credendi"

Carta de Bento XVI ao Cardeal Gianfranco Ravasi

Publicamos a seguir a carta de agradecimento que Bento XVI direcionou ao cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho da Cultura, ao final dos Exercícios Espirituais pregado por ele esta semana no Vaticano para o Papa e a Cúria Romana.
Cardeal Gianfranco Ravasi - pregando os Exercícios Espirituais
Ao Venerado Irmão

Cardeal Gianfranco Ravasi

Presidente do Pontifício Conselho da Cultura

Desejo com todo o coração, Venerado Irmão, manifestar-lhe a minha profunda gratidão pelo serviço prestado pelo senhor a mim e à Curia Romana propondo as meditações dos Exercícios Espirituais. No começo da Quaresma, a semana dos Exercícios constitui um tempo ainda mais intenso de silêncio e de oração, e o tema deste ano – justamente o diálogo entre Deus e o homem na oração dos salmos – nos ajudou especialmente: apenas entrados, por assim dizer, no deserto seguindo as pegadas de Jesus, fomos capazes de atingir a fonte de água puríssima e abundante da Palavra de Deus, que o senhor nos guiou para tirar do Livro dos Salmos, o lugar bíblico por excelência no qual a Palavra se faz oração.

Cheio do seu conhecimento e da sua experiência, o senhor propôs uma fascinante viagem através dos Salmos, seguindo um duplo movimento: ascendente e descendente. Os Salmos de fato orientam principalmente para o Rosto de Deus, para o mistério no qual a mente humana naufraga, mas que a mesma Palavra divina permite captar de acordo com os vários perfis em que Deus mesmo se revelou. E, ao mesmo tempo, justamente na luz que resplandece do Rosto de Deus, a oração dos salmos nos faz olhar para o rosto do homem, para reconhecer na verdade as suas alegrias e as suas dores, as suas angústias e as suas esperanças.

Desta forma, querido Senhor Cardeal, a Palavra de Deus, mediada pela ars orandi antiga e sempre nova do Povo judeu e da Igreja, nos permitiu renovar a ars credendi: uma necessidade exigida pelo Ano da fé e agora ainda mais necessária pelo momento particular que eu pessoalmente e a Sé Apostólica estamos vivendo. O Sucessor de Pedro e os seus Colaboradores são chamados a dar à Igreja e ao mundo um claro testemunho de fé, e isso é possível somente graças a uma profunda e estável imersão no diálogo com Deus. Aos muitos que ainda hoje perguntam: “Quem nos fará ver o bem?”, podem responder todos os que refletem nos seus rostos e nas suas vidas a luz do rosto de Deus (cf. Sl 4,7).

O Senhor saberá, Venerado Irmão, recompensá-lo por este esforço, que o senhor tão brilhantemente assumiu. De minha parte, asseguro-lhe a lembrança sempre grata na oração pela sua pessoa e pelo seu serviço eclesial, enquanto que com afeto renovo-lhe a Benção Apostólica, estendendo-a com prazer a todos os entes queridos.

Cidade do Vaticano, 23 fevereiro de 2013

Benedictus PP XVI

Fonte: ZENIT.ORG - 23 de fevereiro de 2013 - Internet: http://www.zenit.org/pt/articles/permitiu-nos-renovar-a-ars-credendi?utm_campaign=diarioportughtml&utm_medium=email&utm_source=dispatch
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Último Angelus de Bento XVI: 
"O Senhor me pede para subir o monte"


Meditando no Evangelho da Transfiguração, o Pontífice explica que a própria renúncia não significa "abandonar a Igreja", mas servi-la "com uma dedicação mais adequada às minhas forças"

Às 12hoo horas de hoje [domingo] o Santo Padre Bento XVI saiu pela janela do seu escritório no Palácio Apostólico Vaticano para rezar o Angelus com os fiéis e os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro. Publicamos a seguir as palavras do Papa antes da oração mariana.
BENTO XVI saúda os peregrinos durante o ANGELUS deste domingo
Queridos irmãos e irmãs!

No segundo domingo da Quaresma, a liturgia sempre nos apresenta o Evangelho da Transfiguração do Senhor. O evangelista Lucas coloca especial atenção no fato de que Jesus foi transfigurado enquanto orava: a sua é uma profunda experiência de relacionamento com o Pai durante uma espécie de retiro espiritual que Jesus vive em um alto monte na companhia de Pedro, Tiago e João , os três discípulos sempre presentes nos momentos da manifestação divina do Mestre (Lc 5,10; 8,51; 9,28). O Senhor, que pouco antes havia predito a sua morte e ressurreição (9,22), oferece a seus discípulos uma antecipação da sua glória. E também na Transfiguração, como no batismo, ouvimos a voz do Pai Celestial: "Este é o meu filho, o eleito; ouvi-o" (9, 35). A presença de Moisés e Elias, representando a Lei e os Profetas da Antiga Aliança, é muito significativa: toda a história da Aliança está focada Nele, o Cristo, que faz um novo "êxodo" (9,31) , não para a terra prometida, como no tempo de Moisés, mas para o céu. A intervenção de Pedro: "Mestre, é bom para nós estarmos aqui" (9,33) representa a tentativa impossível de parar esta experiência mística. Santo Agostinho diz: "[Pedro] ... no monte... tinha Cristo como alimento da alma. Por que deveria descer para voltar aos trabalhos e dores, enquanto lá encima estava cheio de sentimentos de santo amor por Deus e que inspiravam-lhe uma santa conduta? "(Sermão 78,3).

Meditando sobre esta passagem do Evangelho, podemos tirar um ensinamento muito importante. Primeiro, o primado da oração, sem a qual todo o trabalho do apostolado e da caridade é reduzido ao ativismo. Na Quaresma aprendemos a dar o justo tempo à oração, pessoal e comunitária, que dá fôlego à nossa vida espiritual. Além disso, a oração não é um isolar-se do mundo e das suas contradições, como Pedro quis fazer no Tabor, mas a oração traz de volta para o caminho, para a ação. "A existência cristã - escrevi na Mensagem para esta Quaresma – consiste num contínuo subir o monte do encontro com Deus, para depois descer trazendo o amor e a força que provém dele, a fim de servir os nossos irmãos e irmãs com o mesmo amor de Deus "(n. 3).

Queridos irmãos e irmãs, sinto essa Palavra de Deus especialmente dirigida a mim, neste momento da minha vida. O Senhor me chama para “subir o monte”, para me dedicar ainda mais à oração e à meditação. Mas isto não significa abandonar a Igreja, pelo contrário, se Deus me pede isso é para que eu a possa continuar servindo com a mesma dedicação e o mesmo amor com o qual fiz até hoje, mas de um modo mais adequado à minha idade e às minhas forças. Invoquemos a intercessão da Virgem Maria: que ela sempre nos ajude a seguir o Senhor Jesus, na oração e nas obras de caridade.


[Depois da oração do Angelus o Santo Padre dirigiu estas palavras 
aos peregrinos de língua portuguesa:]

Queridos peregrinos de língua portuguesa que viestes rezar comigo o Angelus: obrigado pela vossa presença e todas as manifestações de afeto e solidariedade, em particular pelas orações com que me estais acompanhando nestes dias. Que o bom Deus vos cumule de todas as bênçãos.

Fonte: ZENIT.ORG - 24 de fevereiro de 2013 - Internet: http://www.zenit.org/pt/articles/ultimo-angelus-de-bento-xvi-o-senhor-me-pede-para-subir-o-monte
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"Deus parecia adormecido", 
afirma papa

Leia íntegra do discurso de despedida de Bento 16 a um público de 150 mil fiéis, na praça de São Pedro, no Vaticano
[Audiência Geral de Quarta-feira, 27.02.2013]

BENTO XVI - Praça de São Pedro - 27 de fevereiro de 2013
Veneráveis irmãos no episcopado e no sacerdócio! Distintas autoridades! Prezados irmãos e irmãs! Obrigado por virem em número tão grande a esta derradeira audiência geral de meu pontificado.

Como o apóstolo Paulo no texto bíblico que ouvimos [Referência à 'Carta de São Paulo aos Colossenses', habitantes de Colossas, cidade na atual Turquia. O começo diz: "Não cessamos de dar graças a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, pensando em vocês, nas nossas orações, desde que ficamos sabendo da fé de vocês em Cristo"], sinto em meu coração o dever preeminente de agradecer a Deus, que guia a igreja e a faz crescer; que semeia Sua palavra e assim alimenta a fé em Seu povo.

Neste momento, meu espírito estende os braços para abraçar a igreja inteira em todo o mundo, e agradeço a Deus pelas "notícias" que, nestes anos de ministério petrino, pude receber em relação à fé no Senhor Jesus Cristo, à caridade que circula no corpo da igreja -caridade esta que faz a igreja viver no amor- e à esperança que nos abre o caminho para a plenitude da vida e nos guia em direção à pátria celeste.

Sinto que eu devo carregar a todos em oração, numa presença que é de Deus, em que me recordo de cada encontro, cada viagem, cada visita pastoral. Reúno a todos e a cada coisa em oração, para entregá-los ao Senhor: para que possamos ter pleno conhecimento de Sua vontade, com cada sabedoria e compreensão espiritual, e para que possamos nos comportar de maneira que seja digna d'Ele, do que é d'Ele, frutificando em cada boa obra (Colossenses 1:9-10).

Neste momento, sinto em mim uma grande confiança [em Deus], porque sei -todos nós sabemos- que a palavra de verdade do Evangelho é a força da igreja: é a sua vida. O Evangelho purifica e renova; ele frutifica em todo lugar onde a comunidade de crentes ouve e saúda a graça de Deus na verdade e vive na caridade. Essa é minha fé, essa é minha alegria.

Quando, quase oito anos atrás, em 19 de abril, concordei em assumir o ministério petrino [Referência a Pedro, o primeiro papa, segundo a tradição católica], me mantive firme nesta certeza, que sempre me acompanhou.

Naquele momento, como já afirmei várias vezes, as palavras que ressoaram em meu coração foram: "Senhor, o que pedis de mim? É grande o peso que colocais sobre meus ombros, mas, se me pedirdes, atirarei as redes, certo de que me guiareis" [Pedro, segundo os Evangelhos, era pescador, e uma de suas pescarias foi guiada de forma miraculosa por Jesus. Cristo também chama os apóstolos de "pescadores de homens", responsáveis por "fisgar" pessoas com a mensagem evangélica].

E, de fato, o Senhor me guiou. Ele tem estado próximo de mim; diariamente eu tenho podido sentir a Sua presença. Estes anos têm sido um trecho do percurso peregrino da igreja, que assistiu a momentos de alegria e luz, mas também a momentos difíceis.

Tenho me sentido como são Pedro com os apóstolos no barco no mar da Galileia: o Senhor nos deu muitos dias de sol e de brisa suave, dias em que a pesca foi abundante; e houve momentos em que as águas eram agitadas, e o vento, contrário, como sempre tem acontecido ao longo de toda a história da igreja -e o Senhor parecia estar adormecido. Não obstante, eu sempre soube que naquela barca estava o Senhor, e que a barca da igreja não é minha, não é nossa, mas é Dele -o Senhor não a deixará afundar [Metáfora sobre passagem dos Evangelhos em que Jesus dorme em um barco no mar da Galileia (na verdade, um lago de água doce) durante uma tempestade. Assustados, os apóstolos o chamam. Depois de repreender-lhes a pouca fé, Cristo manda a tempestade se acalmar, o que é visto como sinal de sua natureza divina].

É Ele quem o conduz: certamente, Ele o faz também por meio de homens que Ele escolheu, pois Ele quis que assim fosse. Esta foi e é uma certeza que nada pode enfraquecer. É por esta razão que hoje meu coração está repleto de gratidão a Deus, pois jamais Ele deixou a mim ou à igreja sem Seu consolo, Sua luz, Seu amor.
Audiência Geral da Quarta-feira: 27 de fevereiro de 2013
Visão da Praça de S. Pedro - Basílica do Vaticano ao fundo
Estamos no Ano da Fé [Ano iniciado em 11/10/2012, aniversário de 50 anos da abertura do Concílio Vaticano 2º (que renovou as práticas da igreja e da qual o papa participou) e que terminará em 24/11/2013, na festa de Cristo Rei. O propósito do ano é reforçar a crença e a ação prática dos católicos], que eu quis para fortalecer nossa fé em Deus, num contexto que parece empurrar a fé cada vez mais em direção às margens da vida [Tema central do pensamento do papa, um grande crítico do afastamento entre a religião e as atitudes das pessoas no cotidiano].

Quero agora convidar a todos a renovar sua confiança firme no Senhor. Eu gostaria que nós todos nos entregássemos como crianças aos braços de Deus. E tenham certeza de que esses braços nos apoiam para que possamos caminhar todos os dias, mesmo em tempos de provações.

Quero que todos se sintam amados pelo Deus que nos deu Seu filho e nos mostrou Seu amor ilimitado. Quero que todos sintam a alegria de serem cristãos. Uma prece bela, a ser repetida diariamente pela manhã, diz: "Eu O adoro, meu Deus, O amo com todo meu coração. O agradeço por ter-me criado, por ter-me feito cristão". Sim, somos felizes por termos a dádiva da fé: ela é o bem mais precioso, aquele que ninguém nos pode tirar! Agradeçamos a Deus por isso todos os dias, com preces e com uma vida cristã coerente. Deus nos ama, mas Ele também espera que nos O amemos!

Neste momento, contudo, não é apenas a Deus que quero agradecer. Um papa não conduz a barca de são Pedro sozinho, mesmo que esta seja a sua primeira responsabilidade -e eu nunca me senti sozinho ao carregar as alegrias ou o peso do ministério petrino. O Senhor me pôs ao lado de muitas pessoas que, com generosidade e com amor a Deus e à igreja, me têm ajudado e ficado a meu lado.

Primeiramente a vocês, caros irmãos cardeais: sua sabedoria, seus conselhos, sua amizade, todos me têm sido preciosos. Meus colaboradores, a começar por meu secretário de Estado, que me acompanhou lealmente ao longo dos anos [Trata-se do cardeal Tarcisio Bertone, que trabalhou com Ratzinger quando este comandava a Congregação para a Doutrina da Fé, durante o papado de João Paulo 2º, e é um dos alvos dos "Vatileaks", documentos vazados do Vaticano que mostram intrigas de poder na Santa Sé. Bento 16 parece continuar apoiando seu braço direito], o Secretariado de Estado e toda a Cúria romana, além daqueles que prestaram seu serviço à Santa Sé em diversas áreas: os muitos rostos que nunca emergem, mas permanecem no segundo plano, em silêncio, em seu engajamento diário, com um espírito de fé e de humildade.

Eles têm sido para mim um apoio certeiro e confiável. Um agradecimento especial para a igreja de Roma, minha diocese [Aqui o papa se apresenta como bispo de Roma, cuja área de jurisdição direta é essa diocese. Originalmente, os papas eram apenas os bispos de Roma]!

Não posso me esquecer dos irmãos no episcopado e no sacerdócio, das pessoas consagradas e de todo o povo de Deus: em visitas pastorais, em encontros públicos, em audiências, em viagens, sempre recebi cuidado grande e afeto profundo; amei a todos e a cada um, sem exceção, com a caridade pastoral que está no coração de cada pastor, especialmente do bispo de Roma, o sucessor de são Pedro apóstolo. Levei cada um de vocês em minhas orações, todos os dias, com o coração de um pai.

Quero que minha saudação e meu agradecimento cheguem a todos: o coração de um papa se expande para abraçar o mundo inteiro. Quero expressar minha gratidão ao corpo diplomático credenciado na Santa Sé, que torna presente a grande família de nações. Aqui, também, penso em todos aqueles que trabalham em prol da boa comunicação e agradeço a eles pelo serviço importante que prestam.

Neste ponto, eu gostaria de oferecer um agradecimento sincero às muitas pessoas de todo o mundo que nas últimas semanas me vêm enviando sinais comoventes de atenção, amizade e preces. Sim, o papa nunca está só: agora vivencio esta verdade outra vez, de um modo tão grande que toca meu coração.

O papa pertence a todos, e muitas pessoas se sentem muito próximas dele. É verdade que recebo cartas das maiores personagens do mundo -desde chefes de Estado a líderes religiosos, representantes do mundo da cultura e assim por diante. Também recebo muitas cartas de pessoas comuns, que me escrevem simplesmente a partir de seus corações e me deixam sentir seu afeto, que nasce de estarmos juntos em Jesus Cristo, na igreja.

Essas pessoas não me escrevem como poderíamos escrever, por exemplo, a um príncipe ou a uma grande pessoa que não conhecemos. Elas escrevem como irmãos e irmãs, filhos e filhas, com o senso de laços de família muito carinhosos. Aqui podemos mencionar o que é a igreja -não uma organização, não uma associação para finalidades religiosas ou humanitárias, mas um organismo vivo, uma comunidade de irmãos e de irmãs no corpo de Jesus Cristo, que nos une a todos [Bento 16 se refere à ideia de que todos os católicos formam o Corpo Místico de Cristo, como se fossem as "células" desse organismo vivo (doutrina de origem bíblica, presente nas cartas de são Paulo que foi recuperada por um grupo de teólogos da geração do papa)]. Vivenciar a igreja dessa maneira e ser quase capaz de tocar com as mãos o poder de sua verdade, e seu amor é uma fonte de alegria, em um tempo em que muitos falam do declínio dela.

Nos últimos meses, eu senti que minha força tinha diminuído e pedi a Deus, com insistência, através da prece, para que me iluminasse com Sua luz. Que me levasse a tomar a decisão certa -não por meu bem, mas pelo bem da igreja. Dei este passo com plena consciência de sua severidade e também de seu caráter inovador, mas com profunda paz de espírito. Amar a igreja também significa ter a coragem de fazer escolhas difíceis, sofridas, tendo sempre em vista o bem da igreja, e não o meu.

Permitam-me aqui voltar novamente ao dia 19 de abril de 2005. A gravidade da decisão estava precisamente no fato de que, daquele momento em diante, eu estava comprometido sempre e para sempre com o Senhor.

Sempre, pois aquele que assume o ministério petrino não tem mais privacidade. Ele pertence sempre e totalmente a todos, à igreja inteira. Sua vida é totalmente privada da esfera privada, por assim dizer. Tenho sentido, e sinto neste momento, que ganhamos nossa vida precisamente quando a oferecemos [Alusão à frase de Jesus: "Quem perder a vida por causa de mim, há de encontrá-la", no Evangelho de Mateus].

Eu já disse antes que muitas pessoas que amam o Senhor também amam o sucessor de são Pedro e lhe têm afeto. Que o papa verdadeiramente tem irmãos e irmãs, filhos e filhas em todo o mundo, e se sente em segurança no abraço da comunhão deles, porque não pertence mais a si mesmo: pertence a todos, e todos são verdadeiramente seus.

O "sempre" é também um "para sempre": não há retorno à vida privada. Minha decisão de renunciar ao ministério ativo não revoga isso. Não retorno à vida privada, a uma vida de viagens, encontros, recepções, conferências e assim por diante. Não abandono a cruz, mas permaneço de maneira nova perto do Senhor Crucificado. Não exerço mais o poder do cargo do governo da igreja, mas a serviço da oração, por assim dizer, no recinto de são Pedro.

São Bento, cujo nome porto como papa, será para mim um grande exemplo nisso [São Bento de Núrsia (480-547), considerado o fundador das comunidades de monges na Europa Ocidental, como os beneditinos, cujo lema é "ora et labora" (reza e trabalha). É também o patrono da Europa.]. Ele nos mostrou o caminho para uma vida que, ativa ou passiva, pertence inteiramente à obra de Deus.

Agradeço a cada um de vocês pelo respeito e pela compreensão com que receberam esta decisão importante. Continuarei a acompanhar a igreja em seu caminho, através da prece e da reflexão. Com a dedicação ao Senhor e à Sua noiva que tenho procurado até agora viver diariamente e que quero viver para sempre [Na tradição católica, a "noiva de Cristo" é a igreja]. Peço que se recordem de mim diante de Deus e, sobretudo, que orem pelos cardeais, que são chamados para uma tarefa tão importante, e pelo novo sucessor de Pedro. Para que o Senhor o acompanhe com a luz e o poder de Seu espírito.

Invoquemos a intercessão maternal de Maria [A intercessão de Maria é o pedido que ela faz a Deus em favor de alguém], mãe de Deus e da igreja, para que ela acompanhe cada um de nós e toda a comunidade eclesial. A ela nos entregamos, com confiança profunda.

Queridos amigos, Deus guia Sua igreja, Ele a conserva sempre, e especialmente nos tempos difíceis. Não percamos nunca esta visão da fé, que é a única visão verdadeira do caminho da igreja e do mundo.

Que viva sempre em nossos corações, no coração de cada um de vocês, a certeza jubilosa de que o Senhor está perto, de que Ele não nos abandona, de que Ele está perto de nós e nos envolve em Seu amor.

Obrigado!

Fonte: Folha de S. Paulo - Mundo/Transição na Igreja - Quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013 - Pg. A12 - Internet: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/96110-deus-parecia-adormecido-afirma-papa.shtml
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Igreja: a razão e a paixão da vida

As palavras de Bento XVI aos cardeais no último dia do seu pontificado

Bento XVI na manhã desta quinta-feira 28 de Fevereiro, último dia do seu pontificado encontrou-se com os cardeais presentes em Roma para  uma saudação de despedida. 
Apresentamos a seguir suas palavras:
BENTO XVI com os cardeais - Sala Clementina - Vaticano
Venerados e queridos Irmãos!

Com grande alegria vos recebo e ofereço a cada um de vós a minha mais cordial saudação. Agradeço ao Cardeal Angelo Sodano que, como sempre, foi capaz de transmitir os sentimentos do Colégio: Cor ad cor loquitur. Obrigado Eminência, de coração. Gostaria de dizer – tendo com referência a experiência dos discípulos de Emaús - que também para mim foi uma alegria caminhar convosco nos últimos anos, na luz da presença do Senhor ressuscitado.

Como disse ontem diante dos milhares de fiéis que encheram a Praça de São Pedro, a vossa proximidade e o vosso conselho foram de grande ajuda no meu ministério. Nos últimos oito anos, vivemos com fé momentos de luz radiante no caminho da Igreja, junto a momentos nos quais algumas nuvens se adensaram no céu. Procuramos servir a Cristo e a sua Igreja com amor profundo e total, que é a alma do nosso ministério. Demos esperança, aquela que vem de Cristo, que só pode iluminar o caminho. Juntos podemos dar graças ao Senhor que nos fez crescer na comunhão e juntos pedir-Lhe que vos ajude a crescer ainda nesta unidade profunda, de modo que o Colégio dos Cardeais seja como uma orquestra, onde as diferenças - expressão da Igreja universal - contribua sempre para a harmonia superior e concorde.

Gostaria de vos deixar um pensamento simples, que muito está no meu coração: um pensamento sobre a Igreja, sobre seu mistério, que é para todos nós - podemos dizer - a razão e a paixão da vida. Deixo-me ajudar por uma expressão de Romano Guardini, escrita no ano em que os Padres do Concílio Vaticano II aprovaram a Constituição Lumen Gentium, em seu último livro, com uma dedicatória pessoal para mim; por isso as palavras deste livro são-me particularmente queridas. Guardini diz: A Igreja "não é uma instituição concebida e construída sob um projeto..., mas uma realidade viva... Ela vive ao longo do tempo, como qualquer ser vivo, transformando-se ... No entanto, na sua natureza permanece a mesma, e seu coração é Cristo". Foi a nossa experiência, ontem, parece-me, na Praça: ver que a Igreja é um corpo vivo, animado pelo Espírito Santo e vive realmente pela força de Deus. Ela está no mundo, mas não é do mundo: é de Deus, de Cristo, do Espírito. Vimos isso ontem. Por isso é também verdadeira e eloquente outra frase de Guardini: "A Igreja desperta nas almas". A Igreja vive, cresce e desperta nas almas que, como a Virgem Maria - acolhem a Palavra de Deus e a concebem pelo poder do Espírito Santo; oferecem a Deus a própria carne e, precisamente na sua pobreza e humildade, tornam-se capazes de gerar Cristo hoje no mundo. Através da Igreja, o Mistério da Encarnação permanece para sempre. Cristo continua a caminhar através dos tempos e em todos os lugares.

Permaneçamos unidos, queridos irmãos, nesse Mistério: na oração, especialmente na Eucaristia diária, e assim sirvamos a Igreja e toda a humanidade. Esta é a nossa alegria, que ninguém nos pode tirar.

Antes de vos cumprimentar pessoalmente, gostaria de dizer-vos continuarei a estar perto com a oração, especialmente nos próximos dias, para que sejais totalmente dóceis à ação do Espírito Santo na eleição do novo Papa. Que o Senhor vos mostre o que Ele quer. E entre vós, entre o Colégio de Cardeais, está também o futuro Papa ao qual desde já prometo a minha reverência e obediência incondicionadas. Portanto, com afeto e gratidão, concedo-vos de coração a Benção Apostólica.

Fonte: ZENIT.ORG - 28 de fevereiro de 2013 - Internet: http://www.zenit.org/pt/articles/igreja-a-razao-e-a-paixao-da-vida?utm_campaign=diarioportughtml&utm_medium=email&utm_source=dispatch
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O último Tweet de Bento XVI

O serviço permanecerá suspenso até o próximo Papa decidir

Hoje Bento XVI enviou o seu último Tweet como Papa nas nove línguas da conta @pontifex. A conta atual tem cerca de 13 milhões de seguidores e permanecerá em silêncio até a decisão do próximo Papa.

O Tweet foi esse: "Obrigado pelo vosso amor e pelo vosso apoio! Possais viver sempre na alegria que se experimenta quando se põe Cristo no centro da vida.

Fonte: ZENIT.ORG - 28 de fevereiro de 2013 - Internet: http://www.zenit.org/pt/articles/o-ultimo-tweet-de-bento-xvi?utm_campaign=diarioportughtml&utm_medium=email&utm_source=dispatch
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Não sou mais Pontífice Sumo da Igreja... 
sou simplesmente um peregrino que começa a última etapa da sua
peregrinação sobre esta terra

Últimas palavras públicas do Papa Bento XVI em Castel Gandolfo

Publicamos a seguir as últimas palavras públicas do Papa Bento XVI, dirigidas as fiéis reunidos em Castel Gandolfo, nessa tarde às 18h30, hora local.

***
BENTO XVI saúda o povo da sacada de Castel Gandolfo (28/02/2013)

Obrigado!

Obrigado a vós!

Caros amigos, me sinto feliz de estar aqui convosco, rodeado pela beleza do Criado e pela vossa simpatia  que me faz muito bem. Obrigado pela vossa amizade, o vosso afeto.

Sabeis que este meu dia é diferente dos anteriores: não sou mais Pontífice Sumo da Igreja católica: até às oito da tarde o serei ainda, depois não mais. Sou simplesmente um peregrino que começa a última etapa da sua peregrinação sobre esta terra. Mas ainda gostaria ... [aplausos – obrigado!] mas gostaria ainda com o meu coração, com o meu amor, com a minha oração, com a minha reflexão, com todas as minhas forças interiores, trabalhar para o bem comum e o bem da Igreja e da humanidade. E me sinto muito apoiado pela vossa simpatia. Vamos pra frente com o Senhor para o bem da Igreja e do mundo. Obrigado, vos dou agora [aplausos]... com todo o coração a minha benção. Seja bendito Deus Onipotente, Pai e Filho e Espírito Santo. Obrigado, Boa noite! Obrigado a vós todos!

Fonte: ZENIT.ORG - 28 de fevereiro de 2013 - Internet: http://www.zenit.org/pt/articles/nao-sou-mais-pontifice-sumo-da-igreja-sou-simplesmente-um-peregrino-que-comeca-a-ultima-etapa-da-sua?utm_campaign=diarioportughtml&utm_medium=email&utm_source=dispatch


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