Clonagem.“É preciso discutir a questão ética”


Itamar Melo
Zero Hora
16-05-2013
Dra. Patricia Pranke

Patricia Pranke, que coordena o Instituto de Pesquisa com Células-Tronco da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), comentou ontem o anúncio dos pesquisadores americanos que possibilita a criação de embrião humano via clonagem.

Eis a entrevista.

O que a técnica tem em comum com a clonagem?

Patricia Pranke: Foi usado um procedimento chamado de clonagem terapêutica, diferente da clonagem reprodutiva, que significa criar o clone e fazer o indivíduo nascer, como no caso da ovelha Dolly. A clonagem reprodutiva em seres humanos tem de ser banida. Clonagem terapêutica é outra coisa. O início da técnica é o mesmo, mas você não insere o embrião no útero para gerar um individuo novo. A ideia é desenvolver células tronco com o código genético do doador, para não existir rejeição.

Essa seria a vantagem?

Patricia Pranke: Sim. É por isso que se faz clonagem terapêutica. A compatibilidade é sempre importante, porque sempre pode haver rejeição. Se eu tiver um embrião formado a partir do núcleo das minhas células, as células-tronco não vão ser rejeitadas.

Essa técnica soluciona a discussão ética em torno do uso de embriões?

Patricia Pranke: Não soluciona dilema ético nenhum, porque se está produzindo um embrião. A única diferença é que ele não é um embrião doado. Tem de ser destruído da mesma forma, para se trabalhar com essas células. Não muda a questão ética. Para alguns, até agrava, porque além de produzir o embrião, existe o risco de alguém querer usá-lo para clonagem. Teoricamente, se o embrião for colocado no útero, produzirá um clone de quem doou a célula. É óbvio que a gente não quer isso.

Já existe alguma terapia em que as células embrionárias poderiam ser utilizadas?

Patricia Pranke: Hoje ninguém está usando célula embrionária humana em paciente. A gente espera que daqui a alguns anos vai acontecer. O principio é usar as células para regenerar um tecido, seja coração, músculo, rim, qualquer coisa. As células embrionárias podem se transformar em qualquer tipo de célula. A célula tronco adulta é mais limitada.

Quais são os próximos passos?

Patricia Pranke: Primeiro é preciso padronizar a técnica de clonagem terapêutica, transformá-la em algo que possa ser realizado com frequência, o que é muito difícil. E, antes de usar em terapias, é preciso discutir a questão ética. No Brasil, por exemplo, a clonagem terapêutica não é permitida.
Clonagem terapêutica - esquema

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quinta-feira, 16 de maio de 2013 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/520197-e-preciso-discutir-a-questao-etica

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A necessidade de dessacerdotalizar a Igreja Católica

Vocações na Igreja hoje

Eleva-se uma voz profética