«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Chance de ser mãe solteira na periferia é até 3,5 vezes maior

Bruno Paes Manso, José Roberto de Toledo 
e Rodrigo Burgarelli


Há uma enorme diferença entre as mães da periferia e do centro expandido de São Paulo. Em praticamente todos os distritos fronteiriços da cidade, uma em cada três mães é solteira. Nos casos mais extremos, como no Jardim Ângela e Marsilac, as mães sem marido ou companheiro são maioria absoluta.

Nesses lugares, a família nuclear tradicional não é a regra, mas a exceção. Apenas 39% das mães em idade fértil do Jardim Ângela, um dos bairros de menor renda da capital paulista, estão casadas. Além das 53% de solteiras, há 5% de separadas e 2% de viúvas.

Já nos distritos mais centrais, como Perdizes, a taxa pode ser tão baixa quanto 15%. Sete em cada dez estão casadas. Ou seja, a chance de uma mulher ser mãe solteira na periferia é até 3,5 vezes maior do que nas áreas mais ricas de São Paulo. Do mesmo modo, a chance de uma mãe na periferia ter um marido para ajudar a cuidar dos filhos é praticamente a metade.

A diferença de estado civil das mães tem uma correspondência com a situação econômica. As taxas de maternidade fora do casamento não passam de uma a cada quatro nesse cinturão onde estão os bairros de renda mais alta. É de 16% em Moema e no Jardim Paulista, 18% no Itaim-Bibi, 19% na Vila Mariana, 23% em Pinheiros e 24% na Consolação. Mas nos distritos centrais de renda mais baixa, como República (51%) e o Pari (49%), a prevalência de mães solteiras é igual à dos distritos pobres da periferia.

Para evitar desvios por causa da diferença de faixa etária entre um grupo e outro, o Estadão Dados e o Ibope restringiram a pesquisa às mulheres entre 16 e 49 anos - o que corresponde, em teoria, ao período fértil.

Desejo. O sonho de ser mãe transcende renda e classe social. Nas periferias, contudo, esse desejo vira realidade mais cedo e acaba produzindo uma grande quantidade de mães solteiras - boa parte delas adolescentes. A diretora Jucileide Rodrigues da Silva, que desde os anos 1980 está à frente da Escola Municipal Oliveira Viana, no Jardim Ângela, diz que o problema não é só a falta de informação.

"As escolas aqui do Ângela falam sobre pílulas, camisinhas e orientação sexual. Ao longo dos anos, começamos a perceber que muitas meninas engravidavam para sair de casa com histórico de violência. A gravidez surge como uma fuga. No final, dá tudo errado porque o marido as abandona e elas precisam cuidar sozinhas dos filhos."

Foi o que aconteceu com Hule Alves da Silva, de 18 anos, moradora do Jardim Ângela que, apesar da juventude, já enfrentou quatro gestações. Perdeu o primeiro filho quando estava grávida de 7 meses. Hule tinha apenas 14 anos. Sua filha mais nova, Gabrielle Elloa, tem 1 mês de vida. Gustavo Henrique tem 3 anos e Pedro Henrique, 1 ano. "Eu não me arrependo. Gosto de ser mãe e meus filhos salvaram a minha vida."

Desde criança, a história de Hule foi barra pesada. A mãe morreu assassinada quando ela tinha 2 anos. Acabou tendo de morar com o tio, que a espancava com fios de aço e com a borracha do sofá. Viveu com ele até os 11 anos. Aos 12, enquanto andava na rua, conheceu um motoqueiro. Ele tinha 25 anos e se tornaria o pai dos três filhos.

Apesar de terem se juntado no começo, o casamento nunca se estabilizou e foi cheio de idas e vindas. A última separação ocorreu há seis meses. O pai dos filhos a ajuda com R$ 160 de vale-refeição. "Eu tenho esperança de o pai das crianças voltar. Ele é o homem da minha vida e tenho o nome dele tatuado nas costas. Também quero trabalhar, qualquer trabalho serve."

A professora Regina Rosário, de 38 anos, uma das primeiras mulheres a cantar rap e integrante da Frente Nacional Mulheres no Hip Hop, acredita que um outro motivo para explicar a elevada proporção de mães solteiras na periferia são os valores machistas dos jovens, que depreciam as mulheres. "Os homens são criados para serem machos e as mulheres são vistas como vagabundas." Regina afirma também que a figura da mãe é muito valorizada na periferia, o que acaba incentivando as meninas a buscarem esse caminho. "Para muitas, é melhor concretizar o sonho de ser mãe do que ter um subemprego qualquer."

O modelo materno acaba influenciando. E mães solteiras se tornam avós de filhas solteiras. Ariane, de 16 anos, também moradora do Jardim Ângela, está grávida de 7 meses. Sua mãe tem 9 filhos. Só os quatro primeiros foram do primeiro marido. Os outro cinco são de pais diferentes.

Depois de engravidar, Ariane foi expulsa de casa. Recebeu abrigo de Iracema, de 63 anos, que conhecia a avó da menina. "A mãe sempre gostou de forró. Não ligava se as filhas de 13 anos dormissem com o namorado em casa. Acabaram engravidando", diz Iracema.


Acesse os gráficos com os dados desta pesquisa:
procure por 
"96xSP – Mães têm renda menor que paulistanas sem filhos", 
clicando no link abaixo:

Fonte: O Estado de S. Paulo - Metrópole - Domingo, 12 de maio de 2013 - Pg. A22 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,chance-de-ser-mae-solteira-na-periferia-e-ate-35-vezes-maior-,1030951,0.htm
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"Gravidez é vista como ascensão"


CLARISSA THOMÉ
Rio de Janeiro

Mãe aos 13 anos, Jéssica ainda mora com a mãe
Jéssica - mãe aos 13 anos

Quando Luiz Cláudio Carvalho se mudou para a casa da namorada, teve de dividir espaço com um urso gigante e outros bichos de pelúcia. Era um quarto de menina - Jéssica Aparecida da Silva tinha 13 anos. Pouco depois, ela engravidou da primeira filha. Já são duas: Maria Luiza, de 1 ano e 9 meses, e Emanuelle Cristina, de 2 meses. Hoje, Jéssica faz parte de um grupo para adolescentes criado no Hospital da Mãe - maternidade estadual para gestantes de baixo risco na Baixada Fluminense. Ali, 20% dos bebês nascem de mães com menos de 19 anos.

Estatísticas da Secretaria de Estado de Saúde do Rio mostram que as adolescentes são mães com mais frequência que as mulheres com mais de 35 anos. No ano passado, nasceram 40.439 crianças de jovens de 12 a 19 anos e 28.027 de mulheres com mais de 35. Quatro bebês tiveram mães meninas, menores de 12 anos.

"Várias razões explicam a gravidez na adolescência. Elas se sentem invulneráveis - acreditam que nada vai acontecer com elas. Nem todas usam pílula anticoncepcional e as que usam nem sempre o fazem da forma correta. E, muitas vezes, veem a gravidez como forma de ascensão social, de maior reconhecimento na família", diz o diretor do hospital, Sérgio Teixeira.

Jéssica não usava pílula quando engravidou de Maria Luiza. Tinha 14 anos, cursava o 1.º ano do ensino médio e fazia um curso de informática. Ela e o namorado moram com a mãe e a avó da menina, mas Jéssica escondeu a gestação da família até o quinto mês. "Eu não estava querendo. Minha mãe me xingou de tudo o que é nome."

Apesar do susto, Jéssica engravidou pela segunda vez quando Maria Luiza estava com 10 meses. "Só fiquei menstruada uma vez. Achava que não ia acontecer porque estava amamentando." Dessa vez, escondeu até do companheiro - só revelou no quarto mês de gravidez.

A rotina do casal não é fácil. Luiz Cláudio, hoje com 19, trabalha como auxiliar de caminhão e sai de casa às 4h. Jéssica amamenta as duas meninas, que se revezam nas mamadas durante a madrugada. Ela levanta às 6h30 e se divide entre tarefas domésticas e o cuidado com as filhas. "A gente quase não sai. O único passeio é ir à casa da mãe dele. Tudo é uma aventura com as duas", resume. Para a irmã, de 15 anos, o conselho é para que não siga sua trilha. "Ela sabe o que eu passo."

Fonte: O Estado de S. Paulo - Metrópole - Domingo, 12 de maio de 2013 - Pg. A22 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,gravidez-e-vista-como-ascensao,1030947,0.htm

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