Domingo da Ascensão do Senhor - Homilia
Evangelho: Lucas 24,46-53
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
46 “Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia
47 e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.
48 Vós sereis testemunhas de tudo isso.
49 Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”.
50 Então Jesus levou-os para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os.
51 Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu.
52 Eles o adoraram. Em seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria.
53 E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus.
JOSÉ ANTONIO PAGOLA
"ASCENSÃO " Afresco de Giotto di Bondone (1304-1306), 200 x 186 cm, Capella Scrovegni, Pádua, Itália |
São os últimos momentos de Jesus com os seus. Logo os deixará para entrar, definitivamente, no mistério do Pai. Não os poderá mais acompanhar pelos caminhos do mundo, como fez na Galileia. A sua presença não poderá ser substituída por ninguém.
Jesus somente pensa em que chegue a todos os povos o anúncio do perdão e da misericórdia de Deus. Que todos escutem o seu chamado à conversão. Ninguém há de sentir-se perdido. Ninguém haverá de viver sem esperança. Todos devem saber que Deus compreende e ama seus filhos e filhas sem fim. Quem poderá anunciar esta Boa Notícia?
Segundo o relato de Lucas, Jesus não pensa em sacerdotes ou bispos. Tampouco, em doutores e teólogos. Quer deixar na Terra "testemunhas". Esta é a sua primeira preocupação: "vós sois testemunhas destas coisas". Serão as testemunhas de Jesus aquelas que comunicarão a sua experiência de um Deus bom e difundirão seu estilo de vida, trabalhando por um mundo mais humano.
Porém, Jesus conhece bem os seus discípulos. São fracos e covardes. Onde encontrarão a audácia para serem testemunhas de alguém que foi crucificado pelo representante do Império e os dirigentes do Templo? Jesus tranquiliza-os: "Eu vos enviarei aquele que meu Pai prometeu". Não lhes faltará a "força do alto". O Espírito de Deus os defenderá.
Para expressar graficamente o desejo de Jesus, o evangelista Lucas descreve a sua partida deste mundo de maneira surpreendente: Jesus volta para o Pai, levantando suas mãos e abençoando seus discípulos. É o seu último gesto. Jesus entra no mistério insondável de Deus e sobre o mundo desce sua bênção.
Os cristãos se esqueceram que somos portadores da bênção de Jesus. Nossa primeira tarefa é sermos testemunhas da Bondade de Deus. Manter viva a esperança. Não nos rendermos diante do mal. Este mundo que parece um "inferno maldito" não está perdido. Deus o olha com ternura e compaixão.
Também hoje é possível buscar o bem, fazer o bem, difundir o bem. É possível trabalhar por um mundo mais humano e um estilo de vida mais saudável. Podemos ser mais solidários e menos egoístas. Mais austeros e menos escravos do dinheiro. A própria crise econômica pode nos motivar a buscar uma sociedade menos corrupta.
Na Igreja de Jesus nos esquecemos que a primeira coisa é promover uma "pastoral da bondade". Temos de nos sentir testemunhas e profetas desse Jesus que passou sua vida semeando gestos e palavras de bondade. Desse modo, despertou nas pessoas da Galileia a esperança num Deus Salvador. Jesus é uma bênção e o povo deve conhecê-lo.
UM LUGAR EM DEUS
Que sentido pode ter a "Ascensão" de Jesus ao céu numa época em que nenhuma pessoa lúcida imagina, ainda, Deus como um ser que vive num lugar celeste, por cima das nuvens?
Porém, sobretudo, o que pode significar para nós um Salvador que desapareceu longe de nós, quando o que importa é a solução dos problemas de nosso mundo cada vez mais graves e ameaçadores?
E, contudo, neste tempo em que a progressiva exploração do mundo não parece oferecer-nos toda a felicidade desejada e quando se perfila, inclusive, a possibilidade de um final catastrófico da história e não sua consumação feliz, necessitamos escutar mais do que nunca a mensagem que se encerra na Ascensão do Senhor.
Crer na Ascensão de Jesus é crer que a humanidade de Cristo, da qual todos participamos, entrou na vida íntima de Deus de um modo novo e definitivo.
Jesus ocultou-se em Deus, porém não para ausentar-se de nós, mas para viver, a partir desse Deus, uma proximidade nova e insuperável, e impulsionar a vida dos homens para seu destino último.
Isso significa que o ser humano encontrou, em Deus, um lugar para sempre. "O céu não é um lugar que está acima das estrelas, é algo muito mais importante: é o lugar que qualquer pessoa tem junto a Deus".
Jesus, mesmo, é isso que nós chamamos céu, pois o céu, na realidade, não é nenhum lugar, mas uma pessoa, a pessoa de Jesus Cristo na qual Deus e a humanidade se encontram inseparavelmente unidos para sempre.
Isso quer dizer que nos dirigimos ao céu, entramos no céu, na medida em que orientamos nossa vida para Jesus e vamos adentrando-nos nele.
Deus tem para os homens um espaço de felicidade definitiva que Cristo nos abriu para sempre. Uma pátria última de reconciliação e paz para a humanidade.
Isto que será escutado por muitos com um sorriso cético é, para aquele que crê, a realidade que sustenta o mundo e dá sentido à apaixonante história da humanidade.
Quando se desvanece esta última esperança, o mundo não se enriquece, mas se esvazia de sentido e fica privado de seu verdadeiro horizonte.
Nós que cremos somos seres estranhos num mundo racionalizado, fechado somente em suas próprias possibilidades, otimista algumas vezes e triste e desesperançado outras, segundo os ciclos dos êxitos e fracassos da humanidade, que tanto mudam!
Porém, somos seres alegremente estranhos que levamos em nós uma fé que nos oferece razões para viver e esperança para morrer.
Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.
Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Segunda-feira, 6 de maio de 2013 - 09h34 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php
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