«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Os índios, a legislação e quem a desrespeita [Revoltante!]

Washington Novaes
Índio caiová-guarani com a Constituição Brasileira em suas mãos
Diz o relatório anual O Estado dos Direitos Humanos no Mundo, divulgado pela Anistia Internacional (BBC Brasil, 22/5), que "vivemos em um país sob um déficit de justiça muito grande" em vários setores, principalmente indígenas e de moradores de favelas, como sintetizou seu diretor executivo no Brasil, Átila Roque. Segundo ele, o "marco institucional" garante os direitos, "mas na prática isso não se realiza".

Como é observado no documento, para os indígenas 2012 foi um ano de "acirramento da violência", usada como "instrumento para favorecer interesses econômicos" - com "brutalidade chocante", de que o caso dos índios caiovás-guaranis, de Mato Grosso do Sul (MS), é um dos exemplos. E poderá haver muitos outros se prosperarem projetos em tramitação no Congresso Nacional, como o de emenda constitucional que propõe retirar da Fundação Nacional do Índio (Funai) - e passar para o Congresso - a atribuição de demarcar terras indígenas. Ou a proposta da "bancada ruralista" de CPI para analisar as relações da Funai e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) com organizações não governamentais (ONGs). A bancada cobra ainda a volta da portaria da Advocacia-Geral da União que autoriza o governo a contratar a implantação de rodovias, hidrelétricas, linhas de transmissão de energia em terras já demarcadas.

Por enquanto, a Casa Civil da Presidência mandou suspender processo de demarcação de terras no Paraná - onde há divergências entre a Funai e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - e o ministro da Justiça promete para até o fim do ano novas regras para demarcação, que valerão para cem processos já em andamento (O Globo, 11/5). Mas ele diz ser contra a transferência de atribuições da Funai para o Congresso, pois "seria inconstitucional" (Folha de S.Paulo, 20/4). Já a ministra-chefe da Casa Civil, sabe-se, prepara um "pacote de mudanças no processo de demarcação" (Estado, 9/5) que altera os processos de identificação e demarcação de terras, basicamente para contemplar os "ruralistas" e impedir que passem a se opor ao Executivo no Congresso. A chefe da Casa Civil ainda lembrou que o Executivo aguarda decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em embargos declaratórios no processo sobre a demarcação da área dos índios ianomâmis, de 2008.

Enquanto isso, parece iminente a ameaça de conflito armado entre 45 mil índios caiovás-guaranis e fazendeiros que disputam suas terras em MS. É tema sobre o qual o autor destas linhas escreve há décadas. Centenas deles já morreram nos conflitos. E um jovem guarani suicidou-se no dia seguinte ao de seu casamento; enforcou-se numa árvore e deixou escrito na terra, sob seus pés: "Eu não tenho lugar" (sem terras, não teria como viver segundo sua cultura; fora delas, estaria condenado a ser boia-fria, mendigo, alcoólatra, como tantos outros).

É oportuno que, numa hora difícil, venha à luz o livro O Profeta e o Principal, do antropólogo Renato Sztutman (USP), que trata da obra do antropólogo francês Pierre Clastres, que morreu muito moço, mas conheceu várias etnias brasileiras, entre elas a dos guaranis. Um dos livros de Clastres trata exatamente dessa etnia - e do que ele designava como "sociedade contra o Estado". Esse é o título de outra obra sua, onde mostra que nós, não índios, nos habituamos a descrevê-los não pelo que têm, e sim pelo que não têm - não usam roupas, não detêm nossas tecnologias, não vivem como brancos. Com isso nos esquecemos do que têm e pode ser muito importante: 
1) a não delegação de poder (o chefe não dá ordens; é o conhecedor da história e da cultura, o grande mediador de conflitos, mas não dá ordens - até porque seria recebido com espanto); 
2) a autossuficiência no nível pessoal (um índio, na força de sua cultura, sabe fazer sua casa, plantar sua roça, colher, fazer seus instrumentos de trabalho e adorno, sua rede, conhece as plantas nativas úteis, etc., não precisa de ninguém para nada); e 
3) o privilégio de conviver com a informação aberta, ninguém dela se apropria para transformar em instrumento político ou econômico.

Renato Sztutman pensa que "por se estruturarem como uma sociedade contra o Estado os guaranis se tornam indesejáveis para a nossa sociedade e o Estado hegemônicos", e ainda cercados pelo agronegócio (Agência Fapesp, 9/4) - embora até no Município de São Paulo haja três aldeias dessa etnia.
PROF. JOSÉ AFONSO DA SILVA - jurista

Nesta hora de graves ameaças aos direitos indígenas - que temos de respeitar - precisamos relembrar o parecer do respeitado constitucionalista José Afonso da Silva no processo em que o STF reconheceu o direitos dos índios ianomâmis a suas terras em Roraima. Catedrático de universidades, assessor de Mário Covas na Constituinte de 1988, secretário de Segurança Pública em São Paulo, o professor José Afonso liquidou a questão ao demonstrar que o reconhecimento dos indígenas a terras por eles ocupadas imemorialmente vem da legislação de Portugal, desde1640. Foi mantido pela legislação do século seguinte, chegou à nossa primeira Constituição, foi preservado nas de 1934, 1967 e 1988 - nesta, com o reconhecimento de que a demarcação de suas terras é um ato "meramente declaratório", antecedido pelo "direito originário" que está no artigo 231. "A demarcação", diz o parecer, "não cria nem extingue direitos, reconhece apenas a situação de fato e o direito consequente". E sendo assim, "a localização e extensão da terra indígena não é determinada segundo critérios de oportunidade e conveniência do poder público, porque o critério que define a localização e a extensão das terras é o da ocupação tradicional, ou seja, a demarcação tem de coincidir, precisamente, com as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, definidas cientificamente por via antropológica". E isso, conclui ele, não ameaça a soberania nacional nem a atuação das Forças Armadas.

Em meio a tantas ameaças aos índios, convém refletir sobre isso.

Fonte: O Estado de S.Paulo - Espaço aberto - Sexta-feira, 31 de maio de 2013 - Pg. A2 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,os-indios-a-legislacao--e-quem-a-desrespeita-,1037444,0.htm
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Para entidades, Dilma cede a ruralistas
por interesse político

Roldão Arruda
Município de Sidrolândia (MS):
policiais federais e índios entram em confronto durante reintegração de posse
Em nota oficial, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) responsabilizou a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pela ação da Polícia Federal na madrugada de ontem, em Sidrolândia (MS). A acusação baseia-se no fato de que a força federal só age com o consentimento de Brasília.

O Cimi também levou em conta outras ações já registradas no governo Dilma. Para a organização, que é vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), está em curso no País "uma estratégia mais ampla do governo federal para viabilizar demandas de ruralistas e de latifundiários do agronegócio".

Essa acusação, de que o governo cede espaços maiores à bancada ruralista, em detrimento dos indígenas, para garantir a base de sustentação do governo no Congresso, vem ganhando espaço. Na quarta-feira, um dia antes do conflito em Mato Grosso do Sul, a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong) divulgou nota oficial na qual também afirma que o governo atrasa os processos de demarcação de terras indígenas para atender aos interesses dos ruralistas.

A associação encerra a nota exigindo respeito à Constituição de 1988, que abordou de maneira clara a questão indígena.

No mesmo dia, no Rio Grande do Sul, o Conselho de Articulação do Povo Guarani acusou Dilma de manter "uma relação promíscua com ruralistas". Essa relação, dizem os indígenas, atrasa a demarcação de suas terras.

Essas duas manifestações foram precedidas por um manifesto coletivo, assinado por uma centena de antropólogos, batendo na mesma tecla. O texto diz que o governo desfigura os processos de regularização das terras para atender interesses econômicos.

O conflito nessa área é grande e tende a se agravar. As populações indígenas representam 0,4% da população e ocupam quase 13% do território nacional.

A quase totalidade de suas terras está localizada na Amazônia, em áreas de florestas. Os conflitos ocorrem nas Regiões Sul e Centro-Oeste, onde a valorização das terras provoca maior resistência dos ruralistas e dificulta a demarcação de terras.

Fonte: O Estado de S. Paulo - Política/Cenário - Sexta-feira, 31 de maio de 2013 - Pg. A6 - Internet: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,para-entidades-dilma-cede-a-ruralistas-por-interesse-politico-,1037409,0.htm

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