23º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

Evangelho: Marcos 7,31-37

Naquele tempo:
31 Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole.
32 Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão.
33 Jesus afastou-se com o homem, para fora da multidão; em seguida colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele.
34 Olhando para o céu, suspirou e disse: «Efatá!», que quer dizer: «Abre-te!».
35 Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade.
36 Jesus recomendou com insistência que não contassem a ninguém. Mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam.
37 Muito impressionados, diziam: «Ele tem feito bem todas as coisas: Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar».

JOSÉ MARÍA CASTILLO

A INCOMUNICAÇÃO

Neste Evangelho relata-se um fato prodigioso, coisa que se adverte unicamente ao final do episódio. O povo chegou ao máximo do assombro, ao ver o que Jesus havia feito. O que é que Ele fez? Muito simples: havia conseguido que um surdo-mudo pudesse ouvir e falar. Quer dizer, Jesus havia conseguido que um homem, que vivia incomunicável, pudesse se comunicar. Isso foi tudo. Porém isso, a juízo daquelas pessoas, significou algo assombroso. Algo que, pelo visto, era muito e representava muito. Fazer da incomunicação uma verdadeira comunicação é um feito que produz nos seres humanos o «máximo do assombro». Por que isso é tão espantoso?

Porque, se já era complicada e difícil a verdadeira comunicação humana nos tempos de Jesus, indizivelmente mais difícil o é hoje, justamente hoje, nestes tempos em que temos a tecnologia da comunicação mais desenvolvida. Tão desenvolvida que jamais se pôde imaginar que chegássemos a tais avanços e tanta perfeição. E, no entanto, cada dia nos entendemos menos e nos comunicamos menos. Por quê? Porque sobra-nos «informação» e falta-nos «comunicação». Mais ainda: na mesma medida em que se desenvolveram as técnicas de comunicação, nessa mesma medida empobreceu-se a autêntica comunicação entre as pessoas.

A atualidade deste Evangelho é apaixonante. Vivemos na sociedade das tecnologias da informação. As tecnologias que nos saciam de notícias, porém nos ocultam as verdades. E, sobretudo, distanciam-nos das pessoas, dos problemas das pessoas, da dor e da alegria que vivem os seres humanos. Sabemos muito dos outros, porém não nos conhecemos, seus verdadeiros problemas não nos interessam, não nos importam, não os sentimos como nossos.

E assim, o que acontece é que a cada dia estamos mais sozinhos. E terminamos sendo mais egoístas. Hoje, temos uma excelente «teoria da ação comunicativa» (Jürgen Habermas, filósofo alemão, 89 anos). Porém, o fato é que a informação (manipulada) está tornando, cada dia mais, complicada a verdadeira comunicação que faz as pessoas mais transparentes.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

ABRIR-SE À VIDA

Albert Camus [escritor, filósofo e jornalista francês: 1913-1960] descreveu como poucos o vazio da vida monótona de cada dia. Escreveu, assim, em O Mito de Sísifo:
«Acontece que todos os cenários desmoronam. Levantar-se, bonde, quatro horas de escritório ou fábrica, comida, bonde, quatro horas de trabalho, descanso, sono e segunda-terça-quarta-quinta-feira-sexta-feira-sábado, sempre no mesmo ritmo, seguindo o mesmo caminho de sempre. Um dia surge o “porquê” e tudo recomeça no meio dessa fadiga tingida de admiração».

Desaparecida a miragem das férias, é fácil para mais de um entrar em sintonia com os sentimentos do escritor francês. Às vezes, é a vida monótona de cada dia aquela que nos propõe, em toda a sua crueza, as interrogações mais profundas de nosso ser: «Tudo isso para quê? Por que vivo? Vale a pena viver? Tem sentido esta vida?».

O risco é sempre a FUGA. Fechar-se, sem mais, na ocupação de cada dia. Viver sem interioridade. Caminhar sem direção. Não refletir. Arrastar-se sem esperança. Perder, inclusive, a sede, o desejo de viver com mais profundidade.

Não é tão difícil viver assim. Basta fazer o que fazem quase todos. Seguir a correnteza. Viver de maneira mecânica. Substituir as exigências mais radicais do coração por todo tipo de «necessidades» supérfluas. Não escutar nenhuma outra voz. Permanecer surdos a qualquer chamado profundo.

O relato da cura do surdo-mudo (Mc 7,31-37), redigido segundo um esquema catequético bem conhecido, é um chamado à abertura e à comunicação. Aquele homem surdo e mudo, fechado em si mesmo, incapaz de sair de seu isolamento, deixa que Jesus trabalhe seus ouvidos e sua língua. A palavra do Profeta ressoa como um imperativo de contornos universais: «Abre-te».

Quando não escuta os anseios mais humanos de seu coração, quando não se abre ao amor, quando, em definitivo, fecha-se ao Mistério último que os crentes chamam «Deus», a pessoa se separa da vida, fecha-se à graça e obstrui as fontes que lhe fariam viver.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fontes: José María Castillo. La religión de Jesús: comentario al Evangelio diario – Ciclo B (2017-2018). Bilbao: Desclée De Brouwer, 2017, páginas 323-324; Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – J. A. Pagola – Ciclo B (Homilías) – Internet: clique aqui.

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