«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sábado, 8 de setembro de 2018

23º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Homilia

Evangelho: Marcos 7,31-37

Naquele tempo:
31 Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole.
32 Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão.
33 Jesus afastou-se com o homem, para fora da multidão; em seguida colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele.
34 Olhando para o céu, suspirou e disse: «Efatá!», que quer dizer: «Abre-te!».
35 Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade.
36 Jesus recomendou com insistência que não contassem a ninguém. Mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam.
37 Muito impressionados, diziam: «Ele tem feito bem todas as coisas: Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar».

JOSÉ MARÍA CASTILLO

A INCOMUNICAÇÃO

Neste Evangelho relata-se um fato prodigioso, coisa que se adverte unicamente ao final do episódio. O povo chegou ao máximo do assombro, ao ver o que Jesus havia feito. O que é que Ele fez? Muito simples: havia conseguido que um surdo-mudo pudesse ouvir e falar. Quer dizer, Jesus havia conseguido que um homem, que vivia incomunicável, pudesse se comunicar. Isso foi tudo. Porém isso, a juízo daquelas pessoas, significou algo assombroso. Algo que, pelo visto, era muito e representava muito. Fazer da incomunicação uma verdadeira comunicação é um feito que produz nos seres humanos o «máximo do assombro». Por que isso é tão espantoso?

Porque, se já era complicada e difícil a verdadeira comunicação humana nos tempos de Jesus, indizivelmente mais difícil o é hoje, justamente hoje, nestes tempos em que temos a tecnologia da comunicação mais desenvolvida. Tão desenvolvida que jamais se pôde imaginar que chegássemos a tais avanços e tanta perfeição. E, no entanto, cada dia nos entendemos menos e nos comunicamos menos. Por quê? Porque sobra-nos «informação» e falta-nos «comunicação». Mais ainda: na mesma medida em que se desenvolveram as técnicas de comunicação, nessa mesma medida empobreceu-se a autêntica comunicação entre as pessoas.

A atualidade deste Evangelho é apaixonante. Vivemos na sociedade das tecnologias da informação. As tecnologias que nos saciam de notícias, porém nos ocultam as verdades. E, sobretudo, distanciam-nos das pessoas, dos problemas das pessoas, da dor e da alegria que vivem os seres humanos. Sabemos muito dos outros, porém não nos conhecemos, seus verdadeiros problemas não nos interessam, não nos importam, não os sentimos como nossos.

E assim, o que acontece é que a cada dia estamos mais sozinhos. E terminamos sendo mais egoístas. Hoje, temos uma excelente «teoria da ação comunicativa» (Jürgen Habermas, filósofo alemão, 89 anos). Porém, o fato é que a informação (manipulada) está tornando, cada dia mais, complicada a verdadeira comunicação que faz as pessoas mais transparentes.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

ABRIR-SE À VIDA

Albert Camus [escritor, filósofo e jornalista francês: 1913-1960] descreveu como poucos o vazio da vida monótona de cada dia. Escreveu, assim, em O Mito de Sísifo:
«Acontece que todos os cenários desmoronam. Levantar-se, bonde, quatro horas de escritório ou fábrica, comida, bonde, quatro horas de trabalho, descanso, sono e segunda-terça-quarta-quinta-feira-sexta-feira-sábado, sempre no mesmo ritmo, seguindo o mesmo caminho de sempre. Um dia surge o “porquê” e tudo recomeça no meio dessa fadiga tingida de admiração».

Desaparecida a miragem das férias, é fácil para mais de um entrar em sintonia com os sentimentos do escritor francês. Às vezes, é a vida monótona de cada dia aquela que nos propõe, em toda a sua crueza, as interrogações mais profundas de nosso ser: «Tudo isso para quê? Por que vivo? Vale a pena viver? Tem sentido esta vida?».

O risco é sempre a FUGA. Fechar-se, sem mais, na ocupação de cada dia. Viver sem interioridade. Caminhar sem direção. Não refletir. Arrastar-se sem esperança. Perder, inclusive, a sede, o desejo de viver com mais profundidade.

Não é tão difícil viver assim. Basta fazer o que fazem quase todos. Seguir a correnteza. Viver de maneira mecânica. Substituir as exigências mais radicais do coração por todo tipo de «necessidades» supérfluas. Não escutar nenhuma outra voz. Permanecer surdos a qualquer chamado profundo.

O relato da cura do surdo-mudo (Mc 7,31-37), redigido segundo um esquema catequético bem conhecido, é um chamado à abertura e à comunicação. Aquele homem surdo e mudo, fechado em si mesmo, incapaz de sair de seu isolamento, deixa que Jesus trabalhe seus ouvidos e sua língua. A palavra do Profeta ressoa como um imperativo de contornos universais: «Abre-te».

Quando não escuta os anseios mais humanos de seu coração, quando não se abre ao amor, quando, em definitivo, fecha-se ao Mistério último que os crentes chamam «Deus», a pessoa se separa da vida, fecha-se à graça e obstrui as fontes que lhe fariam viver.

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fontes: José María Castillo. La religión de Jesús: comentario al Evangelio diario – Ciclo B (2017-2018). Bilbao: Desclée De Brouwer, 2017, páginas 323-324; Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – J. A. Pagola – Ciclo B (Homilías) – Internet: clique aqui.

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