«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

O que é o bolsonarismo?

Bolsonaro não controla mais o bolsonarismo

William Nozaki*

O fenômeno virou metástase no interior do tecido social e
não obedece ao comando do candidato
WILLIAM NOZAKI

O fenômeno Jair Bolsonaro deixou de ser uma questão meramente política e eleitoral para se converter em um problema social e sociológico. O bolsonarismo se enraizou e entrou em metástase no interior do tecido social brasileiro.

Como se sabe, o ELEITORADO do capitão reformado é composto majoritariamente por:
* homens,
* brancos,
* de classe média,
* com ensino superior e
* concentrado nas cidades grandes e médias e nas regiões de fronteira.

Evidentemente, sua presença é sentida em outros estratos sociais, mas com menor intensidade. O perfil eleitoral de seus apoiadores, entretanto, é apenas um pequeno aperitivo do que agrega sua base de sustentação social.

O bolsonarismo conformou uma nova aliança de classes no Brasil, uma espécie de exército zumbi hidrofóbico originário de “walkmin dead” e que congrega, no MERCADO:
* setores do rentismo,
* do grande comércio varejista,
* do pequeno e médio produtor rural e
* de profissionais liberais ligados ao velho bacharelismo.

No CONGRESSO, parcela das bancadas:
* do boi,
* da bala,
* da bíblia e
* dos nanicos que orbitam ao redor do “centrão”.

No ESTADO as baixas patentes:
* da farda,
* da toga e
* do clero [demais funcionários públicos].

Na SOCIEDADE, segmentos das:
* igrejas neopentecostais,
* atletas de MMA/UFC,
* duplas e cantores sertanejos,
* apresentadores de programas de auditório,
* artistas e músicos ultrapassados,
* comediantes conservadores de stand up comedy e
* intelectuais de procedência duvidosa.

Uma parcela desse contingente heterogêneo, a extrema-direita que representa seu sumo, partilha de uma visão de mundo obscurantista e marcada por traços como:
* o ódio,
* a intolerância,
* o machismo,
* o racismo,
* a lgbtfobia,
* a xenofobia. Muitas vezes são
* criacionistas,
* moralistas,
* terraplanistas e
* monarquistas,
* rechaçam os direitos humanos e
* louvam a violência e a tortura.
APOIADORES DE BOLSONARO E O SEU SLOGAN PRETENSAMENTE CRISTÃO:
"Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!"

Não tem compromisso com a democracia ou com valores modernos. Substituem a noção de bem comum pela de ganhos privados. Sufocam o indivíduo moderno nas amarras da família tradicional e no lugar da igualdade de oportunidades retroagem em defesa da naturalização das desigualdades.

São liberais cínicos, proclamam como princípio a não-intervenção do Estado na economia com a mesma desfaçatez que o faziam aqueles que foram contra a abolição da escravidão e contra a instituição do salário mínimo no País.

O fenômeno não chega a ser propriamente inédito entre a fauna e a flora que compõe a cultura política brasileira. Chega mesmo a guardar alguma relação de parentesco com outras idiossincrasias nacionais como o udenismo, o janismo e até mesmo o malufismo, mas com novos componentes, claro, temperados pela presença:
* da indústria cultural,
* das redes sociais digitais,
* do norte-americanismo,
* do militarismo civil e
* do fundamentalismo religioso.

A maior inovação talvez esteja no risco de instabilidade permanente em que essa aliança pelo regresso coloca o País, pois, dado esse perfil, o bolsonarismo talvez não seja controlável nem pelo próprio Bolsonaro, como observamos nos últimos dias.
JAIR BOLSONARO (PSL) & HAMILTON MOURÃO (PRTB)
Respectivamente candidatos à Presidente e Vice-Presidente da República na chapa bolsonarista

Do ponto de vista econômico e político, Bolsonaro está circundado pelo investidor financeiro Paulo Guedes e pelo general de reserva Hamilton Mourão. O que deveria ser o lastro da moeda e das armas se mostrou, recentemente, um calcanhar de Aquiles.

Do hospital, Jair Bolsonaro precisou conter declarações ultraliberais e antipopulares de Guedes que davam notícia da criação de novos impostos e novas alíquotas regressivas incidindo sobre os trabalhadores e desonerando as altas elites.

E precisou barrar sanhas golpistas e reacionárias de Mourão em suas declarações preconceituosas sobre a “indolência” dos índios, a “malandragem” dos negros, o “desajuste” das famílias monoparentais, a “mulambada” dos países emergentes, a possibilidade de “autogolpe” e a necessidade de uma Constituição que “prescinda do povo”.

O som de Guedes e a fúria de Mourão vieram acompanhados de atitudes incendiárias de apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais.

As ofensas, ameaças e perseguições, reais e virtuais, contra as mulheres que organizaram o grupo e a campanha #EleNão é mais uma mostra de que a combinação de:
* antipetismo,
* crise econômica,
* judicialização da política,
* instabilidade institucional e
* polarização ideológica criaram um ambiente de violência física, material e simbólica que não é mais governável nem mesmo por quem alimentou esse clima de conflagração e beligerância.
CAMPANHA #EleNão

Como se sabe, o grau de rejeição e outras fragilidades tornam uma vitória eleitoral de Bolsonaro improvável, mas não se trata de algo impossível, e como a história mostra não convém subestimar as iras fascistas.

Desta forma, a se tomar como parâmetro o padrão de atuação das bases sociais, políticas e econômicas de Bolsonaro na campanha presidencial e a se imaginar hipoteticamente que o candidato vença, é muito provável que tenhamos:
a) ou um governo suficientemente forte, e autoritário, orientado para implementar um projeto que levará o País a um colapso social,
b) ou um governo iminentemente fraco, e conservador, norteado pela sua própria auto-sobrevivência e que nos levará a mais um colapso institucional.

Nos dois casos teremos um cenário de mais crises e instabilidades. Se o fascismo vencer, o Brasil escreverá “uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria”, pois Bolsonaro não controla o bolsonarismo.

* WILLIAM NOZAKI é graduado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo - USP, com ênfase em Ciência Política, e mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, com ênfase em História Econômica. Atualmente é doutorando em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, docente do curso de Ciências Sociais na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo – FESP-SP e professor convidado na Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais - FLACSO.

Fonte: CartaCapital – Política/Análise – Segunda-feira, 24 de setembro de 2018 – 11h03 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui.

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