Em quem você vai votar?
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arquidiocese
de São Paulo – SP
Não
é o caso de, simplesmente, votar com a maioria:
cada
um deve tomar a decisão autonomamente e responder
à
própria consciência pela escolha que faz
Dom Odilo Pedro Scherer Cardeal-Arcebispo de São Paulo - SP |
Já escolheu em quem vai
votar? No próximo dia 7 de outubro, os brasileiros serão chamados às urnas para
escolher um novo presidente da República, o governador e dois senadores do
próprio Estado, um deputado federal e um deputado estadual. São cinco
decisões determinantes para os rumos da vida política do Brasil nos próximos
anos.
Embora a campanha para
presidente e governador esteja em maior evidência e mereça especial
discernimento, a escolha dos parlamentares não deveria receber atenção menor.
De fato, eles integrarão o Poder Legislativo, com a missão de:
* aprovar ou rejeitar os projetos do Poder Executivo e
* de controlar suas ações de governo.
Bons deputados e senadores
são tão necessários quanto bons presidentes e governadores. Para governar, o presidente precisa de uma boa base
parlamentar, formada por políticos sérios, corretos e verdadeiramente
interessados no bem do povo e do país.
Já está na hora de fazer a
listinha, a ser levada na mão no dia
da votação. Ainda dá tempo para se informar melhor sobre o perfil e a
idoneidade dos candidatos, mas não se deveria chegar ao dia da eleição sem
ter uma ideia clara a respeito dos candidatos a votar. O voto de cada
cidadão tem peso e, por isso:
* fugir das urnas,
* votar em branco ou nulo,
embora possam ser atitudes
legítimas, não são a melhor prática. Além de demonstrar desinteresse
pelo bem comum, isso poderia favorecer candidatos que o cidadão não
gostaria de ver eleitos. O melhor mesmo é escolher e votar conscientemente,
valorizando o próprio voto. E não é o caso de, simplesmente, votar com a
maioria: cada um deve tomar a decisão autonomamente e responder à própria
consciência pela escolha que faz.
Talvez, alguém ainda
espera que a hierarquia da Igreja indique partido e candidato aos fiéis, mas
isso não é possível, porque a própria
lei eleitoral é restritiva em relação a isso. Além disso, foi uma decisão do
próprio episcopado católico do Brasil não fazer escolhas em lugar dos
eleitores. A Igreja Católica não é um partido nem tem partido: ela é uma
comunidade de muitas pessoas, no meio das quais podem existir várias expressões
políticas, contanto que não contradigam os fundamentos e princípios da própria
Igreja. Da mesma forma, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
não é um partido, nem tem uma opção de partido ou candidato.
Entendemos que não é correto
instrumentalizar a ação religiosa em função da busca do poder político; nem
devem os clérigos mesclar atuação religiosa com campanha eleitoral. Mas é
legítimo que os representantes da Igreja se interessem pela vida política e
pela formação da consciência política dos cidadãos, propondo critérios
de discernimento para a participação dos cidadãos na vida política e de
escolha de partidos e candidatos nas eleições. Esses critérios decorrem dos
princípios doutrinais e morais da fé católica e estão presentes na Doutrina
Social da Igreja. Mas também decorrem da análise atenta da situação social,
política, econômica e moral na qual se encontra o país.
O Papa Francisco recordou
vários desses princípios na sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium
(2013), na qual ele ensina com clareza que a evangelização e a vida cristã
possuem uma forte “dimensão social”. O
ensinamento católico não é neutro em relação à vida política e social.
Por isso, os católicos não podem se desinteressar pela promoção do bem comum e
a ação política. Aos bispos da América Latina, o Papa Francisco manifestou sua
preocupação pela fraca presença e atuação de católicos na vida política de
seus países. Naturalmente, ele também ensina que a militância partidária e
o desempenho de cargos políticos são atividades próprias da missão dos cristãos
leigos.
Para ser mais direto, está claro que a Igreja Católica não incentiva
o voto em quem:
* não possui as
capacidades esperadas para o exercício do cargo pleiteado, ou
* em quem já deu
provas de corrupção, falta de retidão e honestidade na gestão do bem público.
* A Igreja também
não incentiva a votar em quem tem propostas políticas que incluam o uso da
violência e sejam contrárias à justiça e à paz,
* ou sejam
lesivas à vida e à dignidade da pessoa, de toda pessoa.
É de se esperar que aqueles
que assumirão os mandatos tenham uma atenção especial pelos pobres e as camadas
mais injustiçadas e esquecidas da sociedade brasileira, de maneira a
promover uma verdadeira equidade e solidariedade social.
O voto nunca deveria ser
carimbado de ódio, raiva ou irresponsabilidade em relação ao BEM COMUM. Voto é questão de
consciência e chegou a hora de cada um fazer a sua parte para deixar o Brasil
melhor após as eleições. No final de tudo, é isso o que conta.
Comentários
Postar um comentário