Jovens querem ser ouvidos
Queremos um sínodo transparente e aberto,
pedem os jovens alemães
Entrevista
com Thomas Andonie
Presidente
da Federação da Juventude Católica Alemã
(Bund der Deutschen Katholischen Jugend -
BDKJ)
Roland Müller
Settimana
News
15-09-2018
Jovens querem ser ouvidos, de verdade,
pela Igreja Católica.
Sínodo será uma oportunidade para isso
SÍNODO DOS BISPOS Com a presença de Papa Francisco - Aula Sinodal - Vaticano |
De
7 a 9 de setembro aconteceu em Mônaco da Baviera a reunião da Federação da Juventude Católica Alemã (Bund der Deutschen Katholischen Jugend -
BDKJ), que reúne 17 associações com 660.000 jovens. Participaram do encontro
também os representantes das associações de países de língua alemã, como a
Áustria, o Tirol do Sul e a Suíça, em vista do próximo Sínodo dos Bispos. O
medo dos jovens é que não seja transparente nem aberto.
Katholisch.de entrevistou Thomas Andonie,
presidente da associação alemã desde julho de 2017, sobre o conteúdo da reunião
que terminou com uma declaração conjunta.
Eis
a entrevista.
Sr.
Andonie, no último fim de semana aconteceu uma reunião da rede internacional de
associações juvenis católicas de vários países de língua alemã. Qual foi a
ocasião?
Thomas Andonie: No início de outubro,
inicia-se no Vaticano o sínodo dos
jovens e a Igreja de todo o mundo volta sua atenção para os jovens, seus
desejos e expectativas. Para tanto, queremos também oferecer uma contribuição e
cooperar para que o sínodo dos bispos tenha sucesso. Olhamos para além das
fronteiras nacionais para ver o que move os jovens e quais são suas
solicitações em relação à própria Igreja.
Por
que foi necessária uma reunião internacional?
Andonie: Para reunir os desejos do
maior número possível de jovens. O BDKJ opera principalmente na Alemanha, mas é
importante olhar para fora das fronteiras sobre os temas do sínodo que dizem
respeito à Igreja mundial. Era óbvio começar na esfera de língua alemã. Nesse
nível, é incomum que se reúna um número tão grande de representantes de jovens
de uma associação de trabalho de autogestão. Queríamos ver o que move os jovens em nossos países, para ter uma visão
mais ampla - e ver como o trabalho é organizado para cada solicitação.
Jovens
de diferentes países se interessam pelos mesmos temas? E onde estão as
diferenças?
Andonie: Naturalmente, existem
diferenças, por exemplo, em relação às nossas estruturas associativas e ao modo
de compreender a pastoral juvenil. Mas notamos que existe um grande parêntese que unifica tudo: o problema da
autenticidade da Igreja. Sobre esse ponto existe uma grande concordância.
Isso também é demonstrado pelo fato de que, durante os três dias do encontro,
conseguimos estruturar uma declaração conjunta. Em cinco pontos-chave, conseguimos indicar o que move os jovens.
Os
críticos dizem que as exigências da declaração não constituem nada de novo ...
Andonie: É claro que é muito triste
que em algumas partes acabamos sempre por colocar as mesmas exigências, porque em vários pontos nada muda. Mas que os
jovens queiram colaborar para estruturar a Igreja juntos, é um fato que deve
ser levado muito a sério. De fato, nossa
mensagem não vem de um pequeno círculo, mas na Alemanha é sustentada
democraticamente por 660.000 jovens de 17 associações juvenis. Uma olhada no
documento pré-sinodal mostra que os jovens querem exatamente isso:
* participação,
* troca de ideias e
* âmbitos nos quais poder agir de forma independente.
É
exatamente isso que constitui o trabalho eclesial das associações. Acreditamos
nesse modo de poder oferecer aos jovens uma
Igreja que seja a sua casa.
O
que estabelece a declaração comum?
Andonie: Além do acolhimento
incondicional de todo jovem, o aspecto
da solidariedade é muito importante no texto. O que une é a questão sobre como a Igreja possa ser autêntica.
Nossa resposta é: ela deve se confrontar criticamente consigo
mesma e engajar-se de maneira crível com
os desfavorecidos e aqueles que sofrem.
É assim que a fé é demonstrada.
Naturalmente,
a liturgia também é um aspecto central, mas a ação da Igreja torna-se visível no mundo se a fé é vivida na ação.
Portanto, a Igreja deve tomar uma posição clara sobre os casos de abusos e
assumir as consequências. Somos muito
gratos ao Papa Francisco por ter enfrentado o clericalismo. A Igreja só
pode ser credível se admitir seus erros e assumir as consequências. Isso
significa que o sofrimento infligido a crianças e adolescentes por
representantes da Igreja deve ser plenamente esclarecido e ser levado perante
os tribunais civis.
Um
grande estudo sobre abusos na Igreja alemã será apresentado em breve. O que o
BDKJ espera deste estudo?
Andonie: As estruturas que favorecem
o abuso devem ser descobertas e devem ser mudadas. Em muitas áreas
problemáticas da Igreja, por exemplo, as de igualdade de gênero ou abusos, sempre notamos que o problema é a relação
de poder na Igreja. Devemos trazer transparência naqueles lugares onde
verificamos abusos através do clericalismo na Igreja. No trabalho das
associações juvenis, a liderança é exercida em conjunto com os clérigos. Esse é
um ponto importante em termos de transparência. Devemos também assumir juntos a responsabilidade nas paróquias,
nas dioceses e em outras instituições da Igreja e repensar as estruturas tradicionais e os
órgãos de direção.
Você
recomendaria, portanto, o modelo administrativo autônomo para toda a Igreja?
Andonie: Constatamos que na nossa
entidade funciona muito bem. Hoje também existem modelos alternativos de gestão
no plano paroquial com os leigos, como, por exemplo, na diocese de Osnabrück.
São modelos de gestão conjunta -
embora não devesse ser regulada pelo centro.
Há
alguma coisa que deveria ser mudada dentro do BDKJ diante da crise dos abusos?
Andonie: O BDKJ e suas associações de
jovens regularmente verificam se nossas abordagens para a prevenção da
violência sexual funcionam. Especialmente naqueles lugares na Igreja em que os
jovens são ativos, é importante garantirmos uma proteção sensível e eloquente
em relação aos problemas. A mesma coisa que também desejamos para a Igreja.
Diante
dos casos de abuso, pedidos foram feitos para cancelar o sínodo de jovens. Você
acha que seria algo razoável?
Andonie: Na fase pré-sinodal, notamos
como a credibilidade da Igreja seja especialmente importante para todos. Seria um sinal nefasto dizer: por causa dos
abusos, anulamos um sínodo que coloca os jovens no centro de sua atenção.
Eu acredito que um aspecto central deva ser, para responder aos casos de abuso,
o fato que a Igreja esteja preocupada em se tornar um lugar seguro para todos
os jovens. No plano internacional, surgem continuamente novos casos: em 2010,
na Alemanha, recentemente no Chile e agora nos Estados Unidos. Estamos vendo que
existem situações importantes sobre os quais falar. Disso devem ser tiradas as
consequências e, em especial, devem
mudar na Igreja as estruturas que favorecem esse incrível sofrimento. Desse
modo, a Igreja pode tornar-se credível. Justamente
por isso, o sínodo deve ser celebrado de maneira transparente. E ser
conhecido publicamente o que for ali tratado.
O
BDKJ pede por um maior diálogo com os jovens no sínodo?
Andonie: Sim, porque vemos com grande
tristeza que não é nem transparente nem aberto, mesmo que isso tenha sido
explicitamente solicitado na fase pré-sinodal. Não se sabe quem será adicionado como consultor dos bispos, se jovens
estarão presentes e com que procedimento serão escolhidos. É muito
importante que os jovens representantes não
só ofereçam conselhos, mas também estejam
envolvidos nas deliberações. É um pedido apresentado em âmbito mundial por
jovens comprometidos e ligados à Igreja. Seria um passo simples, e os bispos deveriam questionar-se e mudar
alguma coisa.
Traduzido por Luisa Rabolini da versão
italiana (Settimana News - clique aqui). Acesse a
versão original, clicando aqui (em alemão).
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