Igreja: hora de mudança!
“A Igreja precisa de uma reforma profunda,
de modo urgente”
José María
Castillo
Teólogo
espanhol
Religión
Digital
17-09-2018
“As igrejas vazias, os conventos
vazios, os seminários também meio vazios, com uma teologia extraviada diante dos
problemas mais urgentes deste momento... e continuamos puxando e esperando para
ver se isto melhora? Como? Quando? Onde? Estamos cegos ou andamos perdidos e
sem ideias dos deveres imprescindíveis que nos urgem?”
PAPA FRANCISCO |
O
Papa Francisco convocou um Encontro
Mundial de todos os presidentes das Conferências Episcopais da Igreja Católica.
O Encontro ocorrerá em Roma, no próximo mês de fevereiro. Um acontecimento como
este nunca havia ocorrido na Igreja. Certamente porque a Igreja nunca havia
tido esta necessidade tanto como agora, quando raro é o dia que não ficamos sabendo de novos escândalos (clericais
ou eclesiásticos) que se tornam públicos nos lugares mais inesperados e em
situações que não imaginávamos.
A
primeira coisa que esta convocação do Papa Francisco vem nos dizer é que a Igreja precisa, de modo urgente, de uma
reforma profunda. Todo mundo sabe que já Lutero e os outros reformadores do
século XVI promoveram uma reforma em seu tempo. Nenhuma pessoa culta duvida da
genialidade de Lutero. Mas também é verdade que a reforma de Lutero, ao invés
de reformar, o que fez foi dividir a Igreja. E, hoje, uma das coisas que todos nós mais precisamos é nos unir, o
máximo possível e o quanto for possível.
A
segunda coisa que esta convocação feita pelo Papa Francisco nos diz é que a Cúria Vaticana – ao menos, assim como
está agora mesmo – é incapaz de resolver os problemas mais sérios que a Igreja
tem apresentado. A Cúria Romana serviu, entre outras coisas e até agora,
para ocultar os problemas de fundo que a Igreja tem apresentado há séculos.
Contudo, as clandestinidades já não são possíveis na cultura em que vivemos e
com a abundância crescente de técnicas de comunicação que dirigimos e nos
dirigem.
Em
terceiro lugar, o Papa Francisco, ao convocar este Encontro de todos os
presidentes das Conferências Episcopais do mundo, o que na realidade está
fazendo é colocar em prática uma das questões mais importantes que o Concílio
Vaticano II decidiu, a saber: que a
“ordem (ou colégio) dos bispos” é, com o Romano Pontífice, “sujeito de supremo
e pleno poder sobre a Igreja universal” (Lumen Gentium 22,3). Ou seja, o poder supremo
na Igreja não o tem a Cúria Romana, mas o Papa e o Colégio ou Corpo episcopal
com o Papa.
Já é hora de, na prática do
governo da Igreja, as coisas serem geridas de outra maneira, uma vez que do modo
como foram geridas até este momento, a Igreja está emperrada em um clericalismo atrasado que, em grande medida, está
distanciando a Igreja da cultura e da sociedade de nosso tempo. As igrejas
vazias, os conventos vazios, os seminários também meio vazios, com uma teologia
extraviada diante dos problemas mais urgentes deste momento... e continuamos
puxando e esperando para ver se isto melhora? Como? Quando? Onde? Estamos cegos
ou andamos perdidos e sem ideias dos deveres imprescindíveis que nos urgem?
Além
disso, é importante saber que o Papa
Francisco, ao dar mais protagonismo às Conferências Episcopais, não faz outra
coisa que recuperar a tradição da Igreja do primeiro milênio. Durante dez
séculos, a Igreja era governada pelos Sínodos locais ou regionais. E com aquela
forma de governo, a Igreja se fez presente e marcou toda a cultura da Europa.
Ao
contrário, quando no século XI o Papa Gregório VII deu o giro decisivo no
governo da Igreja, constituindo o papa como “senhor supremo do mundo”, até
desembocar no “poder pleno e supremo” (plenitudo
potestatis) (Inocêncio III), a consequência foi legitimar (como se fosse o
dono do mundo) os reis da Europa para justificar o colonialismo, cujas
consequências estamos pagando agora, com um futuro que não sabemos nem quando e
nem como terá solução.
Além
disso, se o papado busca seus colaboradores diretos nas Conferências
Episcopais, o governo da Igreja será
mais participativo, com mais possibilidades de cooperação dos leigos e menos
gestão administrativa da mera burocracia, que inevitavelmente fica mais
distante dos problemas que as pessoas vivem e das soluções que necessitam,
sobretudo os mais desvalidos.
Em
todo caso, quanto mais possa ou ajude a evitar a tentação dos “Zebedeus”,
aqueles que ambicionavam os primeiros lugares (Mc 10,35-41; Mt 20,20-24), será
um fator importante para que na Igreja
haja mais união de todos e o exemplo de Jesus esteja mais vivo e presente
naqueles que governam.
Traduzido pelo Cepat. Acesse a versão original, clicando
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