«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Importando a confusão e somando com a nossa


Washington Novaes*

Dificilmente em qualquer outra época se terão juntado tantos fatores externos e internos para dificultar o diagnóstico e a adoção de caminhos eficazes para resolver em âmbito global ou de cada país a grave crise econômico-financeira-produtiva-social-ambiental do mundo de hoje. A tal ponto que dificilmente a reunião de hoje e amanhã do G-20 chegará a consensos produtivos. Da mesma forma que, no nosso panorama interno, são enormes e evidentes as dificuldades para avançar nos ásperos caminhos da contenção da inflação sem perder o embalo do crescimento.

Não é novidade que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, insistirá em criar uma taxação internacional sobre operações financeiras, na esperança de deter a especulação, que gira mais de US$ 600 trilhões (Estado, 28/1), num mundo onde o produto bruto anual de todas as nações juntas anda pelos US$ 60 trilhões anuais. E como a crise financeira e a ameaça de "débâcles" vivem rondando todos os países, inclusive os industrializados, parte desse dinheiro especulativo invade cada vez mais o mundo real das commodities (agropecuárias, minerais), em busca de garantias reais - e é, na visão de Sarkozy, o principal fator da alta do preço dos alimentos no mundo (Estado, 30/1).

Para a ONU (19/1), as "respostas momentâneas descoordenadas à crise cambial e ao desemprego", conjugadas com medidas de austeridade fiscal, "ameaçam a recuperação econômica do mundo", assim como dificultam avanços nas tentativas de acudir quase 1 bilhão de pessoas que passam fome e centenas de milhões à beira desse precipício.

O preço dos alimentos no mundo é hoje o mais alto de todos os tempos, diz o Earth Policy Institute, na hora em que, a cada dia, mais 219 mil pessoas se somam à população (80 milhões por ano) e a produção agrícola vem em boa parte de zonas áridas ou com problemas hídricos. Até 2070, diz Jacques Diouf, diretor-geral da Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO), da ONU, será preciso aumentar a produção de alimentos no mundo em 70% (100% nos países mais pobres). Como se fará isso em meio à especulação financeira e aos subsídios dos países mais ricos (US$ 365 bilhões anuais só aos produtores da OCDE, segundo a Folha de S.Paulo, 6/2), que condicionam a oferta a outras razões (balanço comercial, mercado financeiro etc.)?

O preço da cesta de alimentos já é o mais alto desde 1990, segundo a FAO (Estado, 4/2). E não é novidade que no oligopolizado mercado futuro de commodities um mesmo lote de soja ou trigo chega a passar (no papel ou no computador) de mão em mão até 40 vezes, antes de se concretizarem a venda final e o consumo.

Quando se olha a questão por outro ângulo - o dos custos dos produtos agrícolas -, a perplexidade não é menor. O Brasil já é o maior importador de agrotóxicos no mundo. Consome em torno de 14 litros por hectare cultivado - além de 180 mil toneladas anuais de fertilizantes. A importação de fertilizantes cresceu mais de 200% em uma década e chegou a 80% do total (era de 20% há 30 anos). Importamos 74% do nitrogênio, 49% do fósforo e 92% do potássio. A importação total de defensivos anda pela casa dos R$ 12 bilhões anuais.

Mas os alimentos "não são o vilão da inflação", diz o ministro da Agricultura, quando se discute a alta de preços (23/12). O ex-ministro Rubens Ricupero lhe dá razão em parte, ao lembrar que os preços atuais também recuperam as graves perdas da década de 80 (Folha de S.Paulo, 6/2) - embora ele não esqueça a especulação financeira com commodities e os preços oligopolizados dos insumos químicos e agrotóxicos. Mas o fato é que o índice de commodities agropecuárias (soja, carne, trigo, açúcar) do Banco Central já acusava em outubro de 2010 alta de 46%; na energia (petróleo, gás, cana), 17%; e nos metais, 5,9%. Nouriel Roubini, um dos raros economistas que previram a crie mundial de 2008, acha que a atual situação "pode levar à instabilidade econômica e política" (27/1).

Mas a especulação não é só nas commodities. As altas taxas de juros no Brasil atraem legiões de investidores, já que elas estão em zero ou pouco acima nos países mais ricos. O governo brasileiro precisa, por isso, comprar moeda estrangeira (US$ 41,4 bilhões, quase o dobro do capital que entrou no País), aumentando as despesas com juros. Cresce a dívida pública (R$ 1,694 trilhão). Os problemas cambiais levam a um déficit da indústria em suas relações com o exterior. O governo tem de recorrer a impostos compulsórios para bancos com posições "vendidas" no câmbio. Amiúdam-se as projeções em torno de expectativas de aumentos da taxa de inflação ou alertas (como nas atas do Copom). O ministro da Fazenda chegou a falar em expurgos nos índices de inflação nos alimentos e combustíveis - mas parece haver desistido. O fato é que o IGP-M de 2010 (11,32%) é o mais alto desde 2004, com forte participação dos preços de alimentos. Os preços do boi gordo na Bolsa subiram em 2010 mais de 36%, para chegar a R$ 117,18 a arroba. Caem as expectativas dos economistas para o crescimento do PIB este ano.

Segundo os pecuaristas, a alta da carne foi para recuperar as perdas de 2004 a 2007 (15/2). O mercado só se estabilizará, segundo eles, em 2014. E, para atender às expectativas de exportação em 2011 e ao aumento do consumo per capita para 38 quilos anuais, será preciso aumentar ainda mais a produção. Onde expandir? No Cerrado, dizem alguns dirigentes do setor (Estado, 11/2). Mesmo na Amazônia não será tão problemático, dizem outros - e os dados mais recentes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já apontam para certa reversão de tendência ali, com o desmatamento no segundo semestre mais alto que o de igual período de 2009.
O jeito é ir pondo a culpa de tudo no crescimento da China e da Índia. Com a distância, as contestações demoram.

* JORNALISTA

Fonte: O Estado de S. Paulo - Dia 18/02/2011 - Pg. A2 - Internet: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110218/not_imp681161,0.php

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