O Vaticano busca fazer as pazes com o Big Bang
Se o Big Bang foi o princípio de todas as coisas, o que veio então antes? Esta é uma das perguntas colocadas em uma nova página na internet aberta conjuntamente pelo Vaticano e a comunidade científica italiana.
A matéria é da BBC, 22-02-2011. A tradução é do Cepat.
Deixando de lado séculos de desconfiança entre a religião e a ciência, a intenção da página é oferecer ao público um maior entendimento de ambos os lados.
A página, que estará disponível em italiano e em inglês, contará com informações de todo tipo, desde astronomia até teologia, missões espaciais ou questões de filosofia e arte.
Terá três portais, um para a audiência geral, outro para os estudantes e seus professores e outros para crianças em idade escolar.
Em cada portal existirá uma grande variedade de plataformas multimídia, inclusive uma que seguirá todos os
dados recolhidos por satélites e sondas não tripuladas.
A iniciativa está sendo organizada de forma conjunta pelo Vaticano e a Agência Espacial Italiana (ASI, na sigla em italiano).
O Monsenhor Gianfranco Basti, decano do Departamento de Filosofia da Universidade Pontifícia Lateranense, é um dos porta-vozes da iniciativa. “Do ponto de vista da Igreja, trata-se de mostrar às pessoas religiosas que os cientistas não são os inimigos e fazer os cientistas verem que os crentes também não são os inimigos. O objetivo de ambas as partes é reconciliar-se pelo bem da humanidade”.
Para Piero Benvenuti, da ASI, trata-se mais do entendimento da realidade. “A ciência pode ajudar, mas temos que aceitar que ela não tem todas as respostas”, afirma.
Enquanto o Vaticano se preocupará com a seção teológica da página na internet, a ASI se encarregará do conteúdo científico, incluindo as últimas informações sobre as missões espaciais da Europa e dos Estados Unidos.
Os vínculos da Igreja católica com a astronomia remontam ao século XVI, quando o Papa Gregório XIII criou um comitê para estudar os dados científicos relevantes.
A partir de então, o Vaticano manteve seu interesse na pesquisa astronômica com algum grau de continuidade. Seu primeiro observatório foi construído na Itália no final do século XVIII.
Em 1993, foi concluído o telescópio de Tecnologia Avançada do Vaticano no Observatório Internacional de Monte Graham (foto acima), no Arizona, e é considerado por muitos como o melhor lugar astronômico na zona continental dos Estados Unidos.
Mas houve um tempo em que a Igreja foi hostil àqueles que desafiavam os ensinamentos ortodoxos. No centro de Roma ainda se pode ver uma estátua de Giordano Bruno, frade dominicano que foi queimado na fogueira em 1600 por sugerir que o universo era infinito.
Galileu, o matemático e astrônomo do século XVII, também se imiscuiu em terrenos pantanosos com a Igreja quando afirmou que a Terra girava em torno do sol.
A Igreja católica percorreu desde então um longo caminho e não persegue aqueles que tratam de explicar o universo em termos científicos.
Onde existem explicações científicas, a Igreja afirma que devem ser aceitas. Onde não as há, a fé pode exercer um papel. A Igreja afirma que são realidades paralelas, não opostas.
“Posso crer em Deus e ao mesmo tempo aceitar as teorias de Einstein que afirmam que o tempo nunca existiu”, disse Monsenhor Basti. O professor Benvenuti está de acordo com esta dupla verdade. “Não posso, como cientista, demonstrar que o amor existe, mas sei que está aí”, afirma.
Da mesma forma o principal astrônomo do Vaticano afirmou recentemente que seres inteligentes criados por Deus poderiam existir em outros planetas e que a vida alienígena não contradiz a doutrina da Igreja.
Esta é a razão pela qual o Vaticano apóia a nova página na internet, que apresenta uma estranha mistura de dados puros e duros com interpretações filosóficas. Trata-se de unir as diferenças que separam os fatos e a fé, o que se pode explicar cientificamente e o que não.
A força das crenças cristãs e o rigor do esforço científico convertem o sítio em uma ferramenta única, levando a mensagem de que, quando se trata de nossas origens, as provas e as crenças podem coexistir pacificamente.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - On-Line - Dia 23/02/2011 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=40873
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