«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

domingo, 10 de junho de 2012

10º Domingo do Tempo Comum - Ano "B" - Homilia


Evangelho: Marcos 3,20-35 

Noël Quesson

"Naquele tempo, Jesus voltou para casa com os seus discípulos. E de novo se reuniu tanta gente que eles nem sequer podiam comer." 

No início de sua pregação, Jesus teve sucesso. A "multidão", isto é, as pessoas do povo simples, se aglomeravam ao seu redor para ouvi-lo. Marcos observa que, certo dia, havia tanta gente que não existia nem mesmo lugar para se comer. Esta casa seria aquela de Simão Pedro, em Cafarnaum, a qual Jesus havia adotado como sua (cf.: Marcos 1,29; 2,1; 3,20; 9,28; 9,33; 10,10). Nas ruínas atuais de Cafarnaum, os arqueólogos encontraram a base de uma modesta casa de pescadores datando do primeiro século antes de Cristo, sobre a qual havia sido edificado um santuário cristão muito antigo. O grafito de devoção marcado em gesso sugere que se teria encontrado, neste local, esta "casa" onde Jesus residia frequentemente. 
A partir da Encarnação, nossas casas adquiriram uma dignidade nova. Imaginamos Jesus, numa delas... a casa pobre de um marinheiro perto do porto... em meio a outras casas da vila, no labirinto de ruelas.


"Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si."

Eis o que se dizia dele em sua família: "É um exaltado... tornou-se louco... ele perdeu a cabeça...". Evidentemente, desde algum tempo, quanta diferença com sua vida tranquila de trinta anos em Nazaré! A família de Jesus não poderia ignorar que ele era "malvisto" pelas autoridades religiosas... "ele será pego por essas histórias"... Eles vêm, então, para o recuperar e fazê-lo voltar à ordem. 
Estamos dispostos a aceitar as vocações um tanto "loucas", arriscadas, não razoáveis de acordo com as boas prudências humanas? Nós chegamos, às vezes, seguindo Jesus, aparecer-nos como alguém um pouco "louco"? Porque nós não seguimos todas as normas habituais do mundo, nos negócios, nos problemas de consciência, de conduta pessoal ou coletiva?


"Os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava possuído por Belzebu, e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios."

Uma segunda opinião, muito mais grave, era apregoada sobre Jesus. Não somente "ele é louco", mas "ele está possuído"! Falsa insinuação. Ninguém negava a autenticidade de seus milagres. Mas o seu "poder" vem de Satanás, que os judeus da época chamavam pelo desprezível nome de "Baal do estrume" (este é o sentido da palavra Baal-zebu). [Baal = senhor, deus]. E são os "escribas", os "letrados" que lançam esta suspeita.

"Então Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: 'Como é que Satanás pode expulsar a Satanás? Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá manter-se. Se uma família se divide contra si mesma, ela não poderá manter-se. Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não poderá sobreviver, mas será destruído. Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar seus bens, sem antes o amarrar. Só depois poderá saquear sua casa'." 

Esta é a primeira e breve parábola narrada por Marcos: a imagem de um combate corpo a corpo, rápido e decisivo. Jesus aqui mostra que ele tem consciência de ser "mais forte" que Satã! Hoje, isso continua verdadeiro. A luta continua. E Jesus está conosco nos combates contra o mal. Nós somos pessimistas ou otimistas diante da explosão das forças más em nosso mundo?


" 'Em verdade vos digo: tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados, como qualquer blasfêmia que tiverem dito. Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno'. Jesus falou isso, porque diziam: 'Ele está possuído por um espírito mau'."

Não é a natureza do pecado que está em questão, nem a limitação da misericórdia divina, que torna esse pecado imperdoável, mas unicamente a obstinação voluntária no mal. É preciso repetir com Jesus: Deus não condena ninguém... Deus perdoa todos os pecados... a todas as pessoas. Mas pode existir homens que se fecham resolutamente a esse perdão: é a "blasfêmia contra o Espírito Santo". Deus, certamente, perdoa, mas alguns recusam esse perdão: isso deve ser o inferno. Nenhum daqueles que a ele se condenam, não querem sair dele... do contrário, seria imediatamente salvo por esse Deus que "perdoa todos os pecados e blasfêmias". 
Essa recusa obstinada até o fim é frequente?
Ninguém pode julgar seu irmão pelo exterior. Mas que cada um examine seu próprio caso: neste momento, no dia em que estou hoje, a questão a que devo me submeter não é: "Eu sou pecador?". Porque todos são pecadores (Romanos 3,23). Mas a única questão é esta: "Eu acolho o perdão de Deus?... eu blasfemo o Espírito Santo?... eu esnobo este amor que salva gratuitamente os pecadores?" (Romanos 3,24).
Jesus, tenha piedade de mim que sou pecador. Christe, eleison. Esta é a famosa "oração a Jesus" que repetem incansavelmente os fiéis do Oriente.


"Nisso chegaram sua mãe e seus irmãos."

Marcos encaixou um no outro os episódios da "recusa dos escribas" e aquele da abordagem de sua família. Esse procedimento literário lhe é familiar, para nos convidar a procurar as ligações entre as duas situações. Jesus é rejeitado, ignorado... em sua própria família. A palavra "irmão", em hebraico, designa indiferentemente os irmãos e os primos. Estes levaram sua tia, a mãe de Jesus, numa tentativa de recuperá-lo. Observemos a audácia de Marcos. É a primeira vez que ele nos fala de Maria! E é para dizer isto. De fato, o evangelista não procura embelezar. São coisas que não se inventam.


"Eles ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. Havia uma multidão sentada ao redor dele. Então lhe disseram: 'Tua mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura'."

Em oposição àqueles que estão "dentro da casa", Marcos, por duas vezes, observa que a família de Jesus "está fora". Esta expressão "aqueles de fora" é habitual, na Igreja dos primeiros séculos, para designar os "não-cristãos" (cf.: 1Tessalonicenses 4,12; 1Coríntios 5,12.13; Colossenses 4,5; 1Timóteo 3,7). Marcos reutilizará essa linguagem, que separa os homens em duas categorias, de acordo com aqueles que escutam Jesus com fé ou aqueles que restam "fora": "A vós, os mistérios estão abertos... mas àqueles que estão fora, tudo se torna enigma incompreensível" (Marcos 4,11). 
Esta cena, na qual Maria e os primos de Jesus vêm para tentar interromper a missão de Jesus, deve nos fazer meditar longamente sobre o que é a fé. A fé de Maria, não menos que a nossa, não está "pronta e acabada", uma vez por todas. A fé não pode ser definida a não ser como uma realidade que evolui. Não é desde o primeiro momento da Anunciação que Maria compreendeu quem era seu filho, mesmo que ela tenha tido de iluminações especiais. Lucas, também, observou que Maria, em certas ocasiões, não "compreendeu" Jesus (Lucas 2,50). 


"Ele respondeu: 'Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?' E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: 'Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe'."

Marcos frequentemente observou esses "olhares" de Jesus (cf.: Marcos 3,5; 5,32; 10,21; 11,11; 12,41). Uma das mais simples orações que podemos fazer é esta: pensar que neste momento Jesus me olha.
"Quem faz a vontade de Deus é meu irmão... minha mãe". A vontade do Pai é a obsessão de Jesus. Jesus é apaixonado... apaixonado por Deus! Quem ama a Deus, diz ele, é sua família, sua única e verdadeira família. Nesse sentido, Maria é duplamente sua mãe. Sua verdadeira grandeza é "fazer a vontade de Deus".
"Sentados em círculo entorno dele..." "sob o olhar de Jesus"... assim é, se poderia dizer, a primeira comunidade cristã. Cada missa nos permite reviver isso. A catequese essencial, para todos, em todo tempo, é a "liturgia da Palavra". Dai-nos, Senhor, escutar tua palavra, e de a "praticar", para entrar em sua família.


Fonte: QUESSON, Noël. Parole de Dieu pour Chaque Dimanche - Année B. Limoges: Droguet-Ardant, 1981. pp. 171-175.

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