«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

As três reformas urgentes no Vaticano


Alberto Melloni *
Corriere della Sera
04.06.2012

Os atuais problemas da Igreja dizem respeito à formação, à seleção, à cultura da classe dirigente do catolicismo do século XXI. As três reformas institucionais necessárias referem-se à Cúria, à diplomacia e ao episcopado

Alberto Melloni -historiador
E, assim, não acabou. Depois da demissão de Gotti Tedeschi [presidente do Instituto de Obras Religiosas - IOR] e da prisão de um empregado do papa, chegam outros pedaços de papel, que, como em toda estratégia de tensão, aumentam a confusão, não tanto por aquilo que dizem, mas sim pelo próprio fato de existirem. Para não continuarmos sendo prisioneiros dos detalhes, é preciso então levantar o olhar: e tentar definir os três problemas objetivos, as três explicações possíveis e as três reformas que esse pandemônio torna mais urgentes.


Os problemas que florescem dizem respeito à formação, à seleção, à cultura da classe dirigente do catolicismo do século XXI.


A medíocre encenação das indiscrições diz que existem agitadores, agentes, organizações, com livros de pagamento, lobbies de carreira e o calendário do campeonato da luta livre entre movimentos. Um mundo diversificado nos objetivos: mas unido pela convicção de que a Igreja precisa deles no poder mais do que do evangelho, e permeado por uma lógica de violência à qual nos adaptamos apenas se formos treinados por mestres competentes.


Nessa catástrofe formativa – que contagiou sem aparentes distinções o clero secular, o clero regular e o clero dos movimentos –, desencadeia-se o fato de que muitos dos piores fizeram carreira na Cúria. Um fenômeno que leva a nos perguntarmos com ainda mais angústia por que aqueles anticorpos de sabedoria que devem existir também aí correm o risco de parecer áfonos e invisíveis.


Até esse desequilíbrio, no entanto, seria remediável se, no episcopado, nas Igrejas, nos movimentos, fosse preservada uma cultura de diálogo. 
A abertura sincera ao exame atento das questões, a capacidade de tratar com seriedade dos problemas difíceis e de cultivar a pluralidade de sabedorias foram sacrificadas pela obsessão de uma teologia que glosa o catecismo, murmura a missa em latim errando os acentos e louva enfaticamente a última encíclica, na certeza de que esse excesso de zelo não induzirá à suspeição, mas será considerado um mérito.


Esses fatos, sem a orientação de insiders infiéis, podem ser explicados dentro de três cenários possíveis.


[1º] O primeira é que eles estão na presença de uma luta de poder digna das malebolge [vales do inferno] de Dante. O cardeal Bertone – o confidente de uma vida que, independentemente dos dotes e dos limites do seu governo, é o escudo humano de Bento XVI – é um alvo não inerte, mas transitório. Quem desencadeia tal desordem não quer o posto do número dois. A soma desse projeto de luta entre semipoderosos, em que entram por escolha ou por acaso o secretário particular, os aspirantes a secretários de Estado (certamente não quem foi secretário de Estado) faz o resto. E assim, entre aqueles que se passam por "ajudantes" de uma suposta purificação ratzingeriana e os porta-estandartes de uma radicalização ultraconservadora do douto conservadorismo de Bento XVI, teria se gerado uma reação fora de controle, com muito fogo amigo e ações de cobertura.


[2º] A outra possibilidade é que essa confusão seja toda e somente italiana, em sentido estrito: isto é, que projete sobre a Igreja aquele desastre político-moral que vai muito além dos spread e do tratamento Monti. O populismo inescrupuloso (que nestas horas vimos em ação até contra o sentido do Estado de Giorgio Napolitano), misturado com uma relação desprotegida com as finanças e com a direita italiana, enfim, teria emprestado à Igreja métodos e brutalidade que só nós, italianos, sabemos ler sobre a filigrana da eleição do prefeito de Roma ou dos equilíbrios de qualquer holding.


[3º] A terceira possibilidade é que um marasmo aparentemente padresco faça parte do jogo da grande política. Se as agências que se fazem chamar de "mercado" apontaram para o fato de que os alemães (a chanceler alemã, o papa alemão) não sentirão pesar sobre a sua consciência o pesadelo de reabrir, com o fim do euro e da Europa, a porta para a guerra pela terceira vez em 100 anos –, então, manter ocupada a Igreja sobre indecências menores teria um sentido maior.


As três reformas institucionais – que sempre foram a pinça com a qual a Igreja de Roma aferra as questões espirituais – referem-se à Cúria, à diplomacia e ao episcopado.


[1ª] Por mais de um século, a Secretaria de Estado não funciona, e o sonho montiniano de dar ao papa um primeiro-ministro fracassou. Se o papa coloca na Segunda Loggia alguém grande, ele se submete à sua sombra: e pode chegar a deixar vago o posto como fez Pio XII. Se o Papa escolhe um homem mais evasivo, a lamentação é forte, e a desordem, também. O nó, portanto, deve ser abordado em um quadro eclesiológico de conjunto, como aquele proposto por canonistas do porte de Eugenio Corecco e Francesco M. Pompedda entre os anos 1980 e 1990.


[2ª] A segunda reforma diz respeito à diplomacia pontifícia: a pelotão dos núncios papais é o primeiro a sofrer de uma marginalidade que se reflete no silêncio eclesial sobre os grandes nós geopolíticos do presente, primeiros dentre todos o europeu e o chinês. Mas 150 diplomatas não são geríveis. Portanto, é preciso um pequeníssimo número de supernunciaturas continentais, confiadas a diplomatas purpurados, ouvidos regularmente em Roma e capazes de fazer pesar sobre as grandes mesas globais a voz da única família do mundo onde todos contam igualmente.


[3ª] A terceira reforma é uma palavra esquecida do Vaticano II: colegialidade. O papa – viu-se em Milão – precisa se confrontar com aqueles que, por causa da consagração episcopal, recebem um poder sobre a Igreja universal: dessa comunhão, o vigário de Pedro tira a vantagem no plano humano e teológico, sem fazer sombra sobre as suas prerrogativas. Um órgão colegial permanente é esperado desde 1964 e não é o Sínodo dos Bispos convocado com funções consultivas: demorar para se perguntar sobre como dar vazão a esse aspecto da comunhão significa fazer com que o papa se torne um alvo para quem "o ajuda" e tornar a Igreja o motivo de deboche da mídia.
Que é exatamente o que está acontecendo.


Tradução é Moisés Sbardelotto.


* Alberto Melloni é historiador da Igreja italiano e professor da Universidade de Modena -Reggio Emilia.


Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Quarta-feira, 06 de junho de 2012 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/510194-as-tres-reformas-urgentes-no-pandemonio-vaticano-artigo-de-alberto-melloni

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