«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Que fazer com filho rebelde?


Johan Konings *


O Livro do Deuteronômio prescreve: “Se alguém tiver um filho contumaz e rebelde, que não obedece à voz de seu pai e de sua mãe e, mesmo castigado, se obstina em não obedecer, seu pai e sua mãe o tomarão e levarão aos anciãos de sua cidade, à porta do lugar. Eles dirão aos anciãos de sua cidade: ‘Este nosso filho é contumaz e rebelde, não obedece à nossa voz, é devasso e beberrão. Então todos os homens da cidade o apedrejarão até à morte, e assim extirparás o mal do meio de ti, e todo o Israel ouvirá e temerá” (Dt 21,18-21).  


Jesus, no evangelho de Lucas, discorda disso: “O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu, partiu para um lugar distante e ali esbanjou numa vida dissoluta tudo o que possuía.[...] Então ele se pôs a caminho e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e foi tomado de compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o beijou” (Lc 15,12.20).


Uma mãe me conta que seu filho, mal começou a frequentar a Faculdade, está se tornando insuportável, se revolta contra tudo, faz quebradeira em casa, diz que escolheu o mal. Pergunto: “Drogas?”. Ela responde: “Acho que sim”.  


Que caminho seguir, o do Deuteronômio ou o de Cristo? O do Deuteronômio é relativamente fácil: extirpar o mal pela raiz, isto é, pelo sujeito que o comete. O de Jesus é mais difícil. Aliás, Jesus pagou sua maneira diferente de ver e de agir com a morte.


Nossa primeira reação, geralmente, é o caminho fácil. O caminho de combater as drogas com as armas. Mas violência gera violência. E o caminho da despenalização? Talvez também este seja “fácil” demais... “Deixe eles se matarem” (pois o uso medicamente controlado é uma ilusão, pelo menos com os costumes que nós temos aqui).


Qual é o caminho difícil? Vejamos. Por trás das drogas está um mundo, uma cultura, uma mentalidade. Essa é que deve mudar. E isso é tarefa de todos nós, tarefa de paciência, não dá resultado visível de um dia para outro. É plantar para outro colher. 


Uma sociedade que não valoriza a educação, o acompanhamento cuidadoso de crianças e adolescentes que os habitue a procurar formação, conhecimento da vida, valores que promovam a vida deles mesmo e de todos, tal sociedade terá, necessariamente, de enfrentar comportamentos absurdos da parte dos seus filhos. 


Não estou dizendo que a mãe que me falou não tenha cuidado de seu filho. Creio, antes, que cuidou. Até o “confiou” a um colégio católico... O problema é que a educação não é uma tarefa individual, nem de tal ou tal escola determinada. Toda a sociedade está envolvida nisso. Vejo com desconfiança aquilo que as revistas de sempre, ultimamente, estão colocando nos holofotes: dar aos filhos ensino em casa. Evitar-lhes o contato com a realidade social. Podem até avançar bastante na matemática e na língua portuguesa, e até aprender inglês com doze anos. Mas logo mais vão ficar envolvidos com esta mesma sociedade, desprovidos de anticorpos e sujeitos a se deixarem arrastar por uma cachoeira de corrupção...


“Mal começou a frequentar a Faculdade”... Encontrou um mundo que deveria ser o sumo da educação, mas na realidade é apenas uma fábrica de diplomas, que, depois, terão o valor que o mercado lhes contribuir. 


Faculdade eivada de uma mentalidade egoísta, mera competição e gozação, onde se ridiculariza tudo o que foi ensinado como valor humano – e mais ainda aquilo que se apresenta como valor cristão. 


Mas não é só a Faculdade. É a música (aliás, o som, pois música não é) que se é obrigado a engolir o dia todo, é a alimentação de muita caloria e pouca qualidade, o modo de comer sem estilo, a dispersão mental das cibergeringonças, mil coisas que, em si, talvez poderiam ser úteis, mas que estão sendo usadas sem ordem, nem exterior, nem interior. Confusão. Pessoa virada para fora que nem casaco largado às pressas. E aí de repente encontra o caminho das pedrinhas...


Talvez haja quem ache este discurso conservador (olhando para trás, acho mesmo que recebemos algumas coisas que vale a pena conservar). Tenho, porém, a certeza de que precisamos construir uma cultura contrária à que se impõe e nos está sendo imposta. Não uma volta para trás, mas um lance à frente, ultrapassando as assim chamadas novidades. 


Então talvez os filhos se empolguem por algo que os anime e lhes abra perspectivas de mais humanidade, mais dignidade e compreensão, mas admiração e gratidão. Mais amor.


* Johan Konings nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colegio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Foi professor de exegese bíblica na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (1972-82) e na do Rio de Janeiro (1984). Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (jesuítas) e, desde 1986, atua como professor de exegese bíblica na FAJE - Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, onde recebeu o título de Professor Emérito em 2011. Participou da fundação da Escola Superior Dom Helder Câmara.


Fonte: domtotal.com - Colunas - 13 de junho de 2012 - Internet: http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=2829

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