«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

26º Domingo do Tempo Comum - Ano C - HOMILIA

Evangelho: Lucas 16,19-31

Naquele tempo, 16,19 disse Jesus: “Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho finíssimo, e que todos os dias se banqueteava e se regalava. 
20 Havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que estava deitado à porta do rico. 
21 Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do rico. Até os cães iam lamber-lhe as chagas. 
22 Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. 
23 E estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio. 
24 Gritou, então: ‘Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas’. 
25 Abraão, porém, replicou: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males; por isso ele agora aqui é consolado, mas tu estás em tormento. 
26 Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que, os que querem passar daqui para vós, não o podem, nem os de lá passar para cá’. 
27 O rico disse: ‘Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, 
28 para lhes testemunhar, que não aconteça virem também eles parar neste lugar de tormentos’. 
29 Abraão respondeu: ‘Eles lá têm Moisés e os profetas; ouçam-nos!’ 
30 O rico replicou: ‘Não, pai Abraão; mas se for a eles algum dos mortos, arrepender-se-ão’. 
31 Abraão respondeu-lhe: ‘Se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos’. 

JOSÉ ANTONIO PAGOLA
Pintura de Hendrick ter Brugghen (1625) - Museu Central de Utrecht (Países Baixos)
ROMPER A INDIFERENÇA

Segundo Lucas, quando Jesus gritou "não podeis servir a Deus e ao dinheiro", alguns fariseus que estavam ouvindo e eram amigos do dinheiro "riam dele". Jesus não recua. Em pouco tempo, narra uma parábola desoladora para que os que vivem escravos da riqueza abram os olhos.

Jesus descreve, em poucas palavras, uma situação gravíssima. Um homem rico e um mendigo pobre que vivem próximos um do outro, estão separados pelo abismo que há entre a vida de opulência insultante do rico e a miséria extrema do pobre.

O relato descreve os dois personagens destacando, fortemente, o contraste entre ambos. O rico está vestido de púrpura e linho finíssimo, o corpo do pobre está coberto de chagas. O rico banqueteia-se esplendidamente não somente nos dias de festa, mas diariamente, o pobre está deitado à sua porta, sem poder levar à boca aquilo que cai da mesa do rico.  Somente se aproximam dele os cães que vêm lamber suas feridas enquanto buscam algo no lixo.

Em nenhum momento se fala que o rico tenha explorado o pobre ou que o tenha maltratado ou desprezado. Poderia dizer-se que não fez nada de mal. Entretanto, sua vida inteira é desumana, pois vive somente voltado ao seu próprio bem-estar. O seu coração é de pedra. Ignora, totalmente, o pobre. Não vê aquele que está à frente. Ele está ali mesmo, enfermo, faminto e abandonado, porém o rico não é capaz de cruzar a porta para cuidar dele.

Não nos enganemos. Jesus não está denunciando, somente, a situação da Galileia dos anos trinta. Está procurando sacudir a consciência daqueles que se acostumaram a viver na abundância, tendo junto à sua porta, a umas poucas horas de voo, povos inteiros vivendo e morrendo na miséria mais absoluta.

É desumano nos fecharmos em nossa "sociedade do bem-estar" ignorando, totalmente, essa outra "sociedade do mal-estar". É cruel continuar alimentando essa "secreta ilusão de inocência" que nos permite viver com a consciência tranquila, pensando que a culpa é de todos e de ninguém.

Nossa primeira tarefa é romper a indiferença. Resistirmos a continuar desfrutando de um bem-estar vazio de compaixão. Não continuar isolando-nos, mentalmente, para deslocar a miséria e a fome que há no mundo para uma distância abstrata, para podermos, assim, viver sem ouvir nenhum clamor, gemido ou pranto.

O Evangelho pode nos ajudar a viver vigilantes, sem nos tornarmos cada vez mais insensíveis aos sofrimentos dos abandonados, sem perder o sentido de responsabilidade fraterna e sem permanecer passivos quando podemos agir.
Pintura de Gabriël Metsu (1629-1667)
Museu de Belas-Artes (Estrasburgo - França)

NÃO IGNORAR AQUELE QUE SOFRE

O contraste entre os dois protagonistas da parábola é trágico. O rico se veste de púrpura e linho. Toda a sua vida é luxo e ostentação. Pensa, somente, em "banquetear-se suntuosamente cada dia". Este rico não tem nome, pois não tem identidade. Não é ninguém. Sua vida vazia de compaixão é um fracasso. Não se pode viver somente para banquetear-se. 

Deitado à porta de sua mansão jaz um mendigo faminto, coberto de chagas. Ninguém o ajuda. Só uns cachorros se aproximam para lamber-lhe suas feridas. Não possui nada, porém tem um nome portador de esperança. Chama-se "Lázaro" ou "Eliezer", que significa "Meu Deus é auxílio".

Sua sorte muda radicalmente no momento da morte. O rico é enterrado, seguramente com toda a solenidade, porém é levado ao "Hades", o "reino dos mortos". Lázaro também morre. Nada se diz sobre algum rito funerário, porém "os anjos o levam até o seio de Abraão". Com imagens populares de seu tempo, Jesus recorda que Deus tem a última palavra sobre ricos e pobres.

Não se julga o rico como explorador. Não se diz que seja um ímpio distante da Aliança. Simplesmente, desfrutou de sua riqueza ignorando o pobre. Ele estava lá, porém não o viu. Estava à sua porta, porém não se aproximou dele. Excluiu-o de sua vida. Seu pecado é a indiferença.

Segundo os observadores, está crescendo em nossa sociedade a apatia ou falta de sensibilidade diante do sofrimento alheio. Evitamos, de mil maneiras, o contato direto com pessoas que sofrem. Pouco a pouco, vamos nos tornando, cada vez mais, incapazes de perceber sua aflição.

A presença de uma criança mendigando em nosso caminho nos incomoda. O encontro com um amigo, doente terminal, nos perturba. Não sabemos o que fazer nem o que dizer. É melhor tomar distância. Voltar, o quanto antes, às nossas ocupações. Não deixar-nos afetar.

Se o sofrimento ocorre longe é mais fácil. Vivemos momentos em que a fome, a miséria ou a enfermidade aumentam em percentual, números e estatísticas que nos informam da realidade, mas sem tocar o nosso coração. Sabemos, também, contemplar horríveis sofrimentos na televisão, porém, através da tela, o sofrimento sempre é mais irreal e menos terrível. Quando o sofrimento afeta alguém mais próximo a nós, nos esforçamos, de mil modos, por anestesiar nosso coração.

Quem segue Jesus, torna-se mais sensível ao sofrimento daqueles que encontra pelo caminho. Aproxima-se do necessitado e, se está ao seu alcance, procura aliviar a sua situação.

Tradução do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: MUSICALITURGICA.COM - Homilías de José A. Pagola - Quarta-feira, 25 de setembro de 2013 - 10h09 - Internet: http://www.musicaliturgica.com/0000009a2106d5d04.php

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