«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ENTREVISTA EXCLUSIVA DE PAPA FRANCISCO

A IGREJA, O HOMEM E SUAS FERIDAS

Entrevista de Papa Francisco ao padre Antonio Spadaro S.J.
La Civiltà Cattolica
Caderno n° 3918 de 19/09/2013 – páginas 449-477
Papa Francisco sendo entrevistado pelo padre jesuíta Antonio Spadaro
O Papa Francisco concedeu uma entrevista, de aproximadamente seis horas, dividia em três dias, para Antonio Spadaro (na foto acima), padre jesuíta, diretor da revista La Civiltà Cattolica. Ele entrevistou o Papa, representando o conjunto de 15 revistas dirigidas por jesuítas. Trata-se de revistas centenárias, como a própria La Civiltà Cattolica (Itália), Razón y Fe (Espanha), America (EUA), Études (França), Stimmen der Zeit (Alemanha), Thinking Faith (Grã-Bretanha), Mensaje (Chile), entre outras.

A íntegra da entrevista foi publicada hoje, 19 de setembro de 2013, por este conjunto de revistas.

Uma tradução portuguesa da entrevista, muito bem feita, inclusive das frases em latim, 
pode ser lida clicando aqui:

Uma outra tradução, esta feita no Brasil, está acessível clicando aqui:

A entrevista em sua língua original, italiano, pode ser lida na íntegra, clicando aqui:

O Instituto Humanitas Unisinos On-Line selecionou algumas frases do Papa Francisco proferidas durante a entrevista:

- “Não podemos reduzir o seio da Igreja universal a um ninho protetor da nossa mediocridade.”

- “Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. Não tem sentido perguntar a um ferido se seu colesterol é alto ou o açúcar. É preciso curar as feridas. Depois falaremos do resto. Curar feridas, curar feridas... E é preciso começar pelo mais elementar”.

- “O povo de Deus necessita de pastores e não funcionários ‘clérigos de gabinete”

- “A religião tem o direito de expressar suas próprias opiniões a serviço das pessoas, mas Deus na criação nos fez livres: não é possível uma ingerência espiritual na vida pessoal”

- "Fui repreendido por isso (por não falar sobre aborto e contracepção). Mas, quando falamos sobre essas questões, temos que fazê-lo em um contexto. O ensinamento da igreja quanto a isso é claro, e eu sou um filho da igreja, mas não é necessário falar sobre esses assuntos o tempo inteiro".

- “Uma vez uma pessoa, para me provocar, me perguntou se eu aprovava a homossexualidade. Eu então lhe respondi com outra pergunta: “Diga-me, Deus, quando olha para uma pessoa homossexual, aprova a sua existência com afeto ou a rechaça e a condena?” Sempre é preciso ter em conta a pessoa. E aqui entramos no mistério do ser humano. Nesta vida, Deus acompanha as pessoas e é nosso dever acompanhá-las a partir de sua condição. É preciso acompanhar com misericórdia. Quando isto acontece, o Espírito Santo inspira ao sacerdote a palavra oportuna”.

- “Não podemos seguir insistindo somente em questões referentes ao aborto, ao casamento homossexual ou uso de anticoncepcionais. É impossível.”

- “Se alguém tem respostas para todas as perguntas, estamos ante uma prova de que Deus não está com ele. Trata-se de um falso profeta que usa a religião para o seu próprio bem. Os grandes guias do povo de Deus, como Moisés, sempre deram espaço para a dúvida.”

- “Um cristão restauracionista, legalista, que quer tudo claro e seguro, não vai encontrar nada. A tradição e a memória do passado têm que nos ajudar a abrir espaços novos a Deus. Aquele que busca sempre soluções disciplinares, o que tende a “segurança” doutrinal de modo exagerado, o que busca obstinadamente recuperar o passado perdido, possui uma visão estática e involutiva. E assim a fé se converte numa ideologia entre outras. Para mim, tenho uma certeza dogmática: Deus está na vida de cada pessoa. Deus está na vida de cada um”

- “Em música amo Mozart, obviamente. Aquele “Et incarnatus est” de sua Missa em Dó é insuperável: te leva a Deus! Me encanta Mozart interpretado por Clara Haskil”

- “Mozart me preenche: não posso pensá-lo, preciso senti-lo.”

- “Beethoven gosto de escutar, mas prometeicamente.”

- “Gosto das Paixões de Bach. A passagem de Bach que mais gosto é o Erbarme Dich, o choro de Pedro da Paixão segundo Mateus. Sublime.”

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias - Sexta-feira, 20 de setembro de 2013 - Internet: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/523914-entrevista-do-papa
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CONVITE PARA O DIÁLOGO


Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo Diocesano de Jales (SP)
Dom Luiz Demétrio Valentini

Continua repercutindo em todo o mundo a longa entrevista que o Papa Francisco concedeu ao diretor da revista La Civiltà Cattolica, dos Jesuítas. Sua própria extensão, e a diversidade de assuntos abordados, sinalizam com clareza a intenção do Papa de fazer desta entrevista uma ampla plataforma de diálogo em torno de assuntos importantes, que ele acha necessário abordar.

Assim fazendo, ele começa a implementar o que ele mesmo aconselhou a fazer: “promover a atitude do encontro, que leva à cultura do diálogo”.

Quando se aposta no diálogo, é possível abordar assuntos, em torno dos quais não é preciso supor que todos tenham o mesmo posicionamento.  Pois o diálogo estimula a busca de consensos, que não precisam ter de imediato o caráter de verdades absolutas, mas de realidades concretas, vividas por pessoas, que merecem contar, no mínimo, com nossa atenção respeitosa. Com isto se abre caminho para uma reflexão mais atenta, a respeito de situações vividas por pessoas que carregam problemas, que elas sentem, no mínimo, a necessidade de verbalizar. 
       
A Igreja precisa estar atenta às oportunidades que estas pessoas nos oferecem, para mostrar ao menos nossa proximidade e nossa escuta. 
       
A Igreja não precisa estar sempre com o braço levantado, pronta para condenar pessoas que vivem em situação irregular, do ponto de vista dos parâmetros legais. 
       
Neste contexto, se entende melhor o que o Papa quis dizer com estas palavras:     
“Não podemos insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e ao uso de métodos contraceptivos. Isto não é possível. Eu não falei muito destas coisas, e me censuraram por isto. Mas quando se fala disto, é necessário falar num contexto. De resto, o parecer da Igreja é conhecido, eu sou filho da Igreja, mas não é necessário falar disto continuamente”
    
Mesmo em assuntos onde o parecer da Igreja já é definido, é possível estabelecer um diálogo construtivo, que aproxime as pessoas. Mas a Igreja não pode assumir, preventivamente, uma atitude de condenação radical, só baseada em princípios, e sem levar em conta a realidade concreta em que as pessoas vivem.
      
A propósito deste posicionamento, o Papa Francisco reitera uma de suas recomendações mais insistentes: usar de misericórdia. Assim ele se expressa:
«Esta é também a grandeza da confissão... O confessionário não é uma sala de tortura, mas lugar de misericórdia, no qual o Senhor nos estimula a fazer o melhor que pudermos. Penso na situação de uma mulher, que carregou consigo um matrimônio fracassado, no qual chegou a abortar. Depois esta mulher voltou a casar e agora está serena, com cinco filhos. O aborto pesa-lhe muito e está sinceramente arrependida. Gostaria de avançar na vida cristã. O que faz o confessor?”
          
Além da atitude de misericórdia, o Papa apela para um princípio muito importante: é preciso, sempre, respeitar a dignidade pessoal de cada um, e partir da condição de liberdade, na qual fomos criados por Deus.  Assim se expressa o Papa: 
“Deus, na criação, tornou-nos livres: a ingerência espiritual na vida pessoal não é possível. Uma vez uma pessoa, de modo provocatório, perguntou-me se aprovava a homossexualidade. Eu, então, respondi-lhe com outra pergunta: 'Diga-me: Deus, quando olha para uma pessoa homossexual, aprova a sua existência com afeto ou a rejeita, condenando-a?'. É necessário sempre considerar a pessoa. Aqui entramos no mistério do homem. Na vida, Deus acompanha as pessoas e nós devemos acompanhá-las a partir da sua condição. É preciso acompanhar com misericórdia”
          
Portanto, é preciso levar em conta as situações que as pessoas vivem. Em todas elas “devemos anunciar o Evangelho,... pregando a boa nova do Reino e curando todo o tipo de doença e de ferida. Em Buenos Aires recebia cartas de pessoas homossexuais, que são “feridos sociais”, porque me dizem que sentem como a Igreja sempre os condenou. Mas a Igreja não quer fazer isto. Durante o voo de regresso do Rio de Janeiro disse que se uma pessoa homossexual é de boa vontade e está à procura de Deus, quem sou eu para julgá-la”?
     
O Papa está propondo uma postura nova, de acolhida, de compreensão e de misericórdia, que não se limite à repetição de juízos teóricos, ao mesmo tempo que não abandona os princípios, leve sempre em conta o contexto vivido pelas pessoas.
      
Esta a proposta.  Ela levará a desdobramentos importantes na prática pastoral da Igreja. O Papa lançou o desafio. Vamos seguir o exemplo que ele nos deixou. 

Fonte: Diocese de Jales - Artigos do Bispo - 29/09/2013 - Internet: http://diocesedejales.org.br/home/

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