4º Domingo da Páscoa – Ano A – Homilia
Evangelho: João 10,1-10
Naquele
tempo, disse Jesus:
1
«Em verdade, em verdade vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela
porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante.
2
Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas.
3
A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas
pelo nome e as conduz para fora.
4
E, depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as
ovelhas o seguem,
porque
conhecem a sua voz.
5
Mas não seguem um estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos
estranhos.»
6
Jesus contou-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que ele queria
dizer.
7
Então Jesus continuou: «Em verdade, em verdade vos digo, eu sou a porta das
ovelhas.
8
Todos aqueles que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas
não os escutaram.
9
Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará
pastagem.
10
O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a
tenham em abundância.
Ana Maria
Casarotti
Missionária
de Cristo Ressuscitado
A PORTA QUE GERA LIBERDADE
No Quarto Domingo do Tempo Pascal, celebra-se
“Jesus Bom Pastor”. Nos domingos anteriores lemos textos
referentes às aparições de Jesus,
dificuldades que surgiram para reconhecê-lo e progressivamente a comunidade
toda aceitava sua presença desta nova forma: Ressuscitado.
Ele mostra-se no meio deles e os acompanha em
todo momento, mas sua aparência é diferente.
Maria Madalena vai ao sepulcro e vê “que a
pedra tinha sido retirada do túmulo e que Jesus não está ali”. Depois de chamar
os discípulos, ela fica chorando junto ao sepulcro: “levaram seu Senhor e não
sei onde foi colocado”. Jesus aparece, mas ela o reconhece quando é chamada por
seu nome! A voz de Jesus pronunciando seu nome está carregada com a experiência
do amor recebido de Jesus. Somente assim ela o reconhece como seu Mestre tão
querido e procurado!
No domingo retrasado, foi oferecido o texto
de Tomé, que escuta o relato dos
outros discípulos, mas não acredita neles. Coloca condições para acreditar. Ele
precisa ter certeza de que essa presença é o mesmo Jesus que estava no meio
deles e que foi crucificado, morto e sepultado: “Se eu não vir a marca dos
pregos nas mãos de Jesus, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e
se eu não colocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei.” Uma semana
mais tarde ele acredita na presença do “Meu Senhor e meu Deus”, como ele mesmo
o chama.
No domingo passado, aprofundou-se a narrativa
de dois discípulos [de Emaús] que,
desanimados, voltam para seu antigo lar. Apesar de ter escutado sobre as
aparições do Ressuscitado, eles não acreditam e voltam para seu lar. Jesus
caminha junto deles e ajuda-lhes a dar sentido a essa história que eles
discutem como letra morta. Eles somente reconhecem-no quando têm a
possibilidade de partilhar em comunidade o pão.
Nos primeiros versículos da perícope do bom
pastor, propõe-se uma comparação aparentemente fácil de entender. O pastor é aquele que entra pela porta, e o
ladrão e assaltante não entra pela porta, mas sobe por outro lugar.
Podemos pensar que toda pessoa possa entender
esta ideia. Mas o evangelista dirá que depois de ter contado esta parábola
“eles não entenderam o que Jesus queria dizer” (Jo 10, 6).
É preciso aprofundar o significado que a
comunidade primitiva nos transmite por meio destas palavras. Somente assim é
possível captar o sentido do texto.
Lembremos o profeta Ezequiel, quando se dirige aos reis e os compara com
pastores que enganam seu povo: “Ai dos pastores de Israel que são pastores
de si mesmos!”. “Vocês bebem o
leite, vestem a lã, matam as ovelhas gordas, mas não cuidam do rebanho. Vocês
não procuram fortalecer as ovelhas fracas, não dão remédio para as que estão
doentes, não curam as que se machucaram, não trazem de volta as que se
desgarraram e não procuram aquelas que se extraviaram. Pelo contrário, vocês dominam com violência e opressão”
(Ezequiel 34, 3-4).
Pastores de si mesmos somente se interessam
por aquilo que podem oferecer-lhes as ovelhas, seja a lã, o leite, a carne.
Eles não cuidam do rebanho, somente o dominam com violência e opressão.
Esta referência a Ezequiel traz à memória
alguns dos textos de Papa Francisco quando recorda que “o mundo precisa de pastores que saibam tratar os outros com
misericórdia, porque esta atitude pode mudar o coração das pessoas e deve
ser o centro propulsor de toda ação pastoral e missionária (Texto completo do
discurso do Papa, clique aqui).
Jesus continua dizendo que ELE É A PORTA DAS
OVELHAS e através dela as ovelhas têm liberdade para entrar e sair e
encontrarem pastagens. Mais adiante agrega “Eu
vim para que tenham vida, e a tenham em abundância”.
É um chamado não somente para ter presente
que ele oferece a vida em abundância, mas também é um convite a ser portadores dessa vida para as pessoas que estão ao nosso
redor.
Há alguns anos houve uma expressão de Papa Francisco
que foi muito conhecida: “que os
pastores tenham cheiro de ovelhas”.
Para isso É PRECISO ESCUTAR A VOZ DO PASTOR e
ter um ouvido afinado, que se acostuma a distinguir porque conhece esse som dos
que também o convidam continuamente a ir atrás dele.
Ouvir sua voz
é conhecer aquilo que nos pede nesse pequeno sussurro interior e convida-nos a ser
criativos e audazes no seguimento a Jesus. Numa comunidade não há pessoas a
serviço de outras, senão que todas somos servidoras umas das outras.
Como disse Raymond Gravel no seu comentário (Cristo uma porta grande aberta) “cada vez que escutamos uma palavra
que liberta, que salva, que reconforta, que dá esperança e vida, devemos seguir
a voz de quem a profere. Mas quando
ouvimos uma voz que julga, condena e exclui, há fortes indícios de que estamos
na presença de um mercenário, de um falso pastor, de um ladrão ou de um salteador.”
Sejamos pastores que geram esperança naqueles
que estão ao nosso lado, sem fazer distinções pessoais, culturais, religiosas,
nacionalistas. Elas somente encerram as pessoas sem oferecer liberdade nenhuma.
Aproveitam-se delas.
Jesus oferece
vida e vida em abundância porque ele é VIDA e todos e todas que estamos a seu lado somos
portadores dessa vida em abundância que é Jesus mesmo.
Comunicadores daquilo que gera vida,
liberdade, espaço de diálogo. Sejamos
construtores de pontes e não de muros!
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