«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

terça-feira, 23 de maio de 2017

UMA DELAÇÃO ESCANDALOSA

Cinco perguntas sem resposta na delação da
JBS que abalou Brasília

Guilherme Mazui e Fábio Schaffner

Veja cinco mistérios que a Procuradoria-Geral da República
terá de desvendar
WESLEY E JOESLEY BATISTA
Proprietários do Grupo JBS

O Brasil parou às 19h30min de quarta-feira (17 de maio). A divulgação de trechos da delação premiada do dono do grupo JBS, Joesley Batista, comprometia o presidente Michel Temer (PMDB) e o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, principal partido de sustentação ao governo. Na quinta-feira, a retirada do sigilo sobre o processo elevou o cataclismo político ao implicar os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, além de 1.829 políticos de 28 partidos. Algumas questões, contudo, seguem sem resposta.

1 – Onde foi parar o dinheiro entregue a Rocha Loures?

Na conversa de 7 de março no Palácio do Jaburu, Joesley Batista pede ao presidente Michel Temer que designe um interlocutor para resolver pendências no governo. Temer indica o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) da sua "mais estrita confiança". É Loures quem intermedeia a solução de um problema de Joesley no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), bem como oferece ao empresário que indique nomes para ocupar cargos em órgãos de fiscalização, como a Receita Federal e o Banco Central.

Em troca, Joesley oferece propina. Os termos do negócio foram fechados pelo diretor da JBS, Ricardo Saud: R$ 500 mil semanais durante 20 anos. O primeiro pagamento foi filmado pela Polícia Federal (PF). Rocha Loures recebe o dinheiro em uma mala e a leva para a casa dos pais, em São Paulo. A PF anotou o número de série das cédulas. Não há certeza, porém, se foi instalado um chip na mala, a exemplo do que foi feito na entrega de propina a um primo do senador Aécio Neves.

O maior temor dos assessores de Temer é que o rastreamento do dinheiro acabe comprometendo o presidente. Temer nega ter recebido propina e até agora Rocha Loures não disse o que fez com o dinheiro.

2 – Por que os R$ 2 milhões de Aécio Neves foram parar numa empresa do senador Zezé Perrella?

Ao pedir R$ 2 milhões a Joesley Batista, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) disse que precisava do dinheiro para pagar seu advogado, Alberto Toron. Segundo Joesley, o dinheiro foi pago em quatro parcelas de R$ 500 mil, entregues a um primo de Aécio, Frederico Pacheco de Medeiros, o Fred.

A Polícia Federal filmou três desses pagamentos. As cédulas foram previamente registradas e as malas tinham chip. Segundo os investigadores, Fred repassou o dinheiro a Menderson Souza Lima, assessor e cunhado do senador Zezé Perrela (PMDB-MG). Sempre seguido pela PF, Menderson fez três viagens de carro a Belo Horizonte levando a propina.

O rastreamento do dinheiro mostra que os recursos foram parar na Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, empresa do filho do senador Gustavo Perrella. Ao prender Menderson, em operação deflagrada na quinta-feira, a PF apreendeu R$ 400 mil na casa dele. Alberto Toron declarou que nunca recebeu o dinheiro de Aécio. Zezé Perrella disse jamais ter recebido dinheiro de Joesley e Alberto Toron e declarou que tampouco foi pago por Aécio.

3 – Lula e Dilma operavam a conta no Exterior mantida por Joesley?

O empresário Joesley Batista disse à Procuradoria-Geral da República (PGR) que mantinha duas contas-correntes no Exterior destinadas aos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. Em 2014, as contas chegaram a ter saldo de US$ 150 milhões. O dinheiro era depositado por Joesley cada vez que ele obtinha êxito ao negociar financiamentos no BNDES.

De acordo com o empresário, o dinheiro não foi usado para pagar despesas pessoais dos petistas, mas sim para manter operações designadas pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega. A eleição de 2014 acabou consumindo todo o montante. De acordo com o delator, Mantega indicou o tesoureiro de campanha, Edinho Silva, como interlocutor. Era Edinho que dizia qual partido deveria receber tal quantia.

— Cada partido vinha e decidia se queria por fora, por dentro, nota fria, dinheiro, caixa 1, caixa 2. Foi até zerar, até acabar. Acabou a da Dilma e acabou a do Lula. Eu avisei quando acabou — disse Joesley aos procuradores.

A documentação de posse da PGR não informa o país nem o banco onde as contas foram abertas. Joesley se comprometeu a entregar um pen drive com todas as operações.

4 – Por que Joesley Batista iria comprar cinco deputados se não mudaria o impeachment?

Na noite do sábado anterior à votação do impeachment na Câmara, Joesley recebeu uma visita surpresa do deputado João Bacelar (PR-BA). O parlamentar pedia um socorro financeiro para evitar a abertura de processo contra Dilma Rousseff. Para tanto, disse que precisava comprar o voto de 30 deputados, ao custo de R$ 5 milhões cada um. Joesley barganhou: disse que só pagaria R$ 3 milhões por deputado, e no máximo a cinco parlamentares. Ou seja, do pedido de R$ 150 milhões, aceitava pagar apenas 10%, R$ 15 milhões.

A questão é que o suborno a cinco deputados não seria suficiente para reverter o placar desfavorável a Dilma. Quando o impeachment foi à votação, 367 parlamentares votaram a favor. O número mínimo de votos exigido para abertura do processo era 342. Somente a compra de 26 deputados, e não cinco, barraria a tentativa de deposição da presidente.

Joesley não explicou aos procuradores por que aceitou pagar por algo que não receberia. Seu depoimento, contudo, dá a impressão de que ele gostaria de enviar um sinal de boa vontade ao governo, demonstrar que estava ajudando, ainda que esse auxílio fosse insuficiente.

5 – Todas as doações da JBS são propina?

Executivo da JBS, Ricardo Saud afirmou na delação que a empresa pagou propina a 1.829 candidatos eleitos, filiados a 28 partidos. No caso do Congresso, o grupo ajudou a financiar um a cada três parlamentares eleitos — 166 na Câmara e 28 no Senado. Saud definiu as doações como "reservatório da boa vontade", que envolve repasses de recursos em doação oficial ou caixa 2.

Em alguns casos, o recurso servia apenas para evitar que os políticos pudessem criar empecilhos aos interesses da empresa. Em outros, exigia a atuação em favor da JBS, com aprovação de projetos e medidas provisórias. Nos futuros pedidos de inquérito sobre as doações, a PGR quer o aval do STF para apurar quais casos tratam de corrupção e quais são exclusivamente caixa 2.

Onyx Lorezoni (DEM-RS) admitiu ter recebido R$ 100 mil de forma clandestina, em espécie, da JBS em 2014. No caso de José Ivo Sartori, Saud afirmou que repassou, por doação oficial, R$ 1,5 milhão à campanha do peemedebista em 2014 a pedido de Aécio Neves, dinheiro que seria da cota de propina do tucano. Sartori nega qualquer irregularidade. Sua campanha recebeu recursos declarados à Justiça Eleitoral, sendo R$ 2,5 milhões, em dois depósitos bancários, e R$ 184.250,00 em despesas pagas.

Fonte: Zero Hora (Porto Alegre – RS) – Política/Terremoto no poder – Terça-feira, 23 de maio de 2017 – 06h42 – Internet: clique aqui.

Coisas estranhas nesta delação

Editorial

A delação do empresário da JBS é escandalosa, e não apenas pelos
crimes relatados
DELAÇÃO DE JOESLEY E WESLEY BATISTA AO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (MPF)

O vazamento da delação de Joesley Batista na semana passada deixou uma vez mais o País profundamente consternado, ao envolver em ações criminosas graduados personagens da vida nacional, a começar pelo presidente da República, Michel Temer. Surpreende que denúncias tão graves tenham sido divulgadas – assumindo, assim, ares de veracidade – sem que nada do que delas consta, e tampouco as circunstâncias que envolvem os fatos, tenha sido averiguado previamente. Tal açodamento foi, no mínimo, irresponsável. Haja vista as consequências da divulgação nos campos político, econômico e financeiro.

A delação do empresário da JBS é escandalosa, e não apenas pelos crimes relatados. As histórias que a cercam são de enorme gravidade, indicando, no mínimo, o pouco cuidado com que se tratou um material com enorme potencial explosivo para o País.

Em primeiro lugar, causa escândalo o fato de que a principal notícia vazada na noite de quarta-feira passada não foi confirmada e, mesmo assim, o Ministério Público Federal (MPF) não fez qualquer retificação. Foi afirmado que um áudio gravado por Joesley Batista provava que o presidente Michel Temer havia dado anuência à compra do silêncio de Eduardo Cunha e de Lúcio Funaro. Ainda que a conversa apresentada seja bastante constrangedora para o presidente Michel Temer pelo simples fato de ter sido travada com alguém da laia do senhor Joesley Batista, das palavras ouvidas não se comprova a alegada anuência presidencial. Ou seja, aquilo que tanto rebuliço vem causando na vida política e econômica do País desde a semana passada não foi comprovado e, pelo jeito, não o será, pelo simples fato de não existir.

Como o Broadcast – serviço de notícias em tempo real da Agência Estado – revelou no sábado passado, a gravação da conversa entre Joesley Batista e Michel Temer no Palácio do Jaburu não foi periciada antes de ser usada no pedido de abertura de inquérito contra o presidente. Ou seja, nem mesmo essa medida de elementar prudência foi adotada pelo Ministério Público Federal. Em razão de a denúncia envolver altas personalidades, seria crucial dar os passos processuais com extrema segurança, até mesmo para evitar eventual nulidade da ação e consequente impunidade dos eventuais culpados. Tudo indica, no entanto, que o principal objetivo do MPF era obter notoriedade, e não fazer cumprir a lei.

A fragilidade da delação de Joesley Batista não se esgota nesses pontos. De forma um tanto surpreendente, o MPF não apresentou denúncia contra o colaborador, como se a revelação dos supostos crimes cometidos pelo presidente da República e por outros nomes importantes da vida nacional fosse suficiente para remir a pena do criminoso confesso. Trata-se de evidente abuso, a merecer pronta investigação da Justiça. Se, como o MPF denuncia, os crimes foram tão graves e abrangem toda a política nacional, é um grave e escandaloso erro – para dizer o mínimo – conferir perdão a quem os perpetrou e lucrou abundantemente. Note-se que a lei proíbe que se dê imunidade aos líderes de organização criminosa. Não seria essa a função dos senhores Joesley e Wesley Batista nos acontecimentos em questão?

Além disso, até o momento não foi apresentada uma possível razão que justificasse o procedimento seguido pelo MPF e pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à delação de Joesley Batista. Como não estava ligado à Operação Lava Jato, o caso deveria ter sido distribuído por sorteio, e não encaminhado diretamente ao ministro Edson Fachin.

A delação de Joesley Batista ainda expõe o Ministério Público em dois pontos muito sensíveis. O delator contou que o procurador Ângelo Goulart Villela, mediante pagamento de R$ 50 mil mensais, era seu informante dentro do MP. Ora, tal fato leva a checar com lupa todos os passos do empresário nesse processo de colaboração. Além disso, um procurador da República, que atuava muito próximo a Rodrigo Janot, deixou a Procuradoria-Geral da República (PGR) para trabalhar no escritório que negocia com a própria PGR os termos da leniência do Grupo JBS. Tudo isso sem cumprir qualquer quarentena.

Ansiosamente, o País espera que avance o combate à corrupção. Tal avanço deve ser feito, porém, de forma menos descuidada.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Notas e Informações – Terça-feira, 23 de maio de 2017 – Pág. A3 – Internet: clique aqui.

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