«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 12 de março de 2018

A fraternidade está em campanha

Campanha da Fraternidade merece ser apoiada

Dom Odilo Pedro Scherer
Cardeal-Arcebispo de São Paulo – SP

Devemos superar injustiças, discriminações, polarizações e ódios

Todos os anos, desde 1963, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove a Campanha da Fraternidade durante o período da Quaresma, quando os cristãos se preparam para celebrar a Páscoa. Incentivador primeiro da iniciativa foi dom Eugênio de Araújo Sales, na época responsável pela Arquidiocese de Natal, secretário para a ação social da CNBB e presidente da Cáritas Brasileira. A inspiração veio de outras campanhas semelhantes já realizadas regularmente, naquele tempo, por outras conferências episcopais, como as da Alemanha e da Itália.

No seu nascimento, a Campanha da Fraternidade foi instrumento de implementação do Concílio Ecumênico Vaticano II na renovação da Igreja Católica. Desde 1970, a cada ano o papa envia uma mensagem na abertura da campanha, na Quarta-Feira de Cinzas, o que mostra a importância que a Campanha da Fraternidade assumiu.

Inicialmente, os temas anuais foram dedicados, sobretudo, à vida interna da própria comunidade católica. A partir de 1973, porém, o temário foi sendo orientado para questões sociais e âmbitos em que se faz necessário promover maior fraternidade, nas suas diversas implicações.

Essa evolução traduz a compreensão de que a fé católica não se restringe à vida privada, mas tem implicações sociais. Como Jesus ensinou, amor a Deus e amor ao próximo são inseparáveis. O tema de 1973, “O egoísmo escraviza, o amor liberta”, apontava claramente para a necessária superação de tudo o que escraviza a pessoa e fere a sua dignidade. Em 1974 o tema “Onde está teu irmão?” tratava da defesa da vida humana e da superação de toda violência contra o semelhante. Em 1975, “Repartir o Pão” abordava o escândalo da fome e da miséria. Em 1978, com o tema “Trabalho e justiça para todos” a campanha enfocou o problema do desemprego e das injustiças sociais, que ferem profundamente a solidariedade social e a fraternidade.

Com o passar do tempo, passaram a ser abordadas questões que, para uma análise superficial, nada teriam em comum com a promoção da “fraternidade” e, menos ainda, com a Quaresma e a vivência da fé cristã. No entanto, a reta compreensão da fé e da moral cristãs não permite separação e incoerência entre o culto prestado a Deus e o zelo e apreço pela obra de Deus. Assim, em 1979, o tema “Preserve o que é de todos” levantou a questão das dimensões da justiça e da fraternidade implicadas no cuidado, ou no descuido, da natureza. A temática ambiental foi tratada ainda em várias outras campanhas sucessivas, como a de 2017, que tratou dos biomas brasileiros.

Em 1981, o foco foi “Saúde para todos”; em 1988, “Ouvi o clamor desse povo” tratou da “fraternidade e o negro”. A abordagem de questões foi sendo ampliada, abrangendo assuntos e âmbitos muito diversos, como a terra, a água, as drogas, o trabalho, a saúde, a economia, o tráfico humano, a segurança pública.

“Fraternidade e superação da violência” é o tema de 2018. Recentemente, a campanha também passou a ser promovida de modo ecumênico a cada cinco anos.

Os objetivos da Campanha da Fraternidade estão expressos no seu próprio nome: despertar e promover o amor fraterno e o senso comunitário, indicando vias para a promoção do bem comum, especialmente em relação às questões focadas em cada campanha. E a via proposta para promover o bem comum é a da fraternidade efetiva, traduzida em respeito, solidariedade, defesa ou socorro de quem mais sofre as consequências da ausência de fraternidade na vida social.

Os resultados pretendidos são maior justiça, harmonia e paz social, a equidade e a participação responsável na promoção do bem comum. Tudo isso não é apenas compatível com a fé e a vida cristãs: trata-se de exigências éticas e morais decorrentes do Evangelho de Jesus Cristo.

No final da campanha é feito o “gesto concreto de solidariedade”, mediante a coleta em dinheiro nas celebrações da Igreja Católica em todo o Brasil. O fruto desse gesto é destinado a apoiar ações voltadas para a busca dos objetivos da Campanha: localmente, pelas dioceses; em todo o Brasil, pela CNBB. A fraternidade merece ser apoiada para superar injustiças, discriminações, polarizações e ódios, sintomas de sérias enfermidades no corpo social.

Com a Campanha da Fraternidade a Igreja Católica não deixou de lado a sua missão religiosa, nem se alinhou a nenhuma ideologia, partido político ou governo. O pressuposto dessa ação é sempre o da fé cristã, em que o amor a Deus e o amor ao próximo são inseparáveis. Quem deseja viver a fé de modo coerente não pode ficar alheio ao que se passa ao seu redor.

Vale lembrar as recomendações aos cristãos dadas pelo apóstolo São João já no início da Igreja: “Filhinhos, não amemos só com palavra e de boca, mas com ações e de verdade” (1Jo 3,18). De modo semelhante, o apóstolo São Tiago respondeu a quem pensava que a fé cristã fosse apenas interior, sem implicações na vida social: “Meus irmãos, de que adianta alguém dizer que tem fé, quando não tem obras? (...) A fé, se não se traduz em ações, é morta em si mesma” (cf. Tg 2,14-17).

A promoção da Campanha da Fraternidade é uma das respostas ao chamado que ressoa no rito da Quarta-Feira de Cinzas, bem no início do período quaresmal: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (cf. Mc 1,15). Quem tem fé religiosa deve voltar-se para Deus de todo o coração e orientar suas relações sociais de maneira coerente com o amor ao próximo. A Campanha da Fraternidade não absorveu nem substituiu as demais práticas da Quaresma, que continuam sendo propostas a todos os fiéis: o jejum, a esmola e a oração. Seria um erro deixar de lado essas práticas penitenciais consagradas desde os tempos bíblicos. E seria um lamentável equívoco achar que a Campanha da Fraternidade é estranha às práticas quaresmais cristãs.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto/Opinião – Sábado, 10 de março de 2018 – Página A2 – Internet: clique aqui.

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