5º Domingo de Páscoa – Ano B – Homilia

Evangelho: João 15,1-8

Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos:
1 «Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor.
2 Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda.
3 Vós já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei.
4 Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim.
5 Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permaneceu em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
6 Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados.
7 Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vós será dado.
8 Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos.

JOSÉ ANTONIO PAGOLA

NÃO FICARMOS SEM SEIVA

A imagem é de uma força extraordinária. Jesus é a «videira», aqueles que nele creem são os «ramos». Toda a vitalidade dos cristãos nasce dele. Se a seiva de Jesus ressuscitado corre pela nossa vida, nos traz alegria, luz, criatividade, coragem para viver como vivia ele. Se, pelo contrário, não flui em nós, somos ramos secos.

Este é o verdadeiro problema da uma Igreja que celebra Jesus ressuscitado como «videira» cheia de vida, porém está formada, em boa parte, por ramos mortos. Para que seguir distraindo-nos com tantas coisas, se a vida de Jesus não corre por nossas comunidades e nossos corações?

Nossa primeira tarefa hoje e sempre é «permanecer» na videira, não viver desconectados de Jesus, não ficarmos sem seiva, não secarmos mais. Como se faz isto? O Evangelho nos diz com clareza: temos de nos esforçar para que suas «palavras» permaneçam em nós.

A vida cristã não brota espontaneamente entre nós. O Evangelho, nem sempre, pode ser deduzido racionalmente. É necessário meditar longas horas as palavras de Jesus. Somente a familiaridade e afinidade com os evangelhos nos faz ir aprendendo, pouco a pouco, a viver como ele.

Esta aproximação frequente às páginas do Evangelho nos põe em sintonia com Jesus, nos contagia seu amor ao mundo, nos apaixona pelo seu projeto, infunde em nós seu Espírito. Quase sem nos darmos conta, vamo-nos fazendo cristãos.

Esta meditação pessoal das palavras de Jesus muda-nos mais que todas as explicações, discursos e exortações que nos chegam do exterior. As pessoas mudam a partir de dentro. Talvez, este seja um dos problemas mais graves de nossa religião: não mudamos, porque somente o que passa pelo nosso coração muda a nossa vida; e, com frequência, por nosso coração não passa a seiva de Jesus.

A vida da Igreja se transformaria se os fiéis, os casais cristãos, os padres, as religiosas (freiras), os bispos, os educadores tivessem como livro de cabeceira os evangelhos de Jesus.

CRER

A fé não é uma impressão ou emoção do coração. Sem dúvida, o crente sente sua fé, a experimenta e a desfruta, porém seria um erro reduzi-la ao "sentimentalismo". A fé não é algo que dependa dos sentimentos: "já não sinto nada... devo estar perdendo a fé". Ser crentes é uma atitude responsável e pensada.

A fé não é, tão pouco, uma opinião pessoal. O crente se compromete pessoalmente a crer em Deus, porém a fé não pode ser reduzida ao "subjetivismo": "eu tenho minhas ideias e creio naquilo que me parece". A realidade de Deus não depende de mim, nem o cristianismo é fabricação de cada um.
A fé não é, muito menos, um costume ou tradição recebida dos pais. É bom nascer numa família crente e receber, desde criança, uma orientação cristã da vida, porém seria muito pobre reduzir a fé a um "costume religioso": "na minha família sempre fomos muito da Igreja". A fé é uma decisão pessoal de cada um.

A fé não é, tão pouco, uma receita moral. Crer em Deus tem suas exigências, porém seria um equívoco reduzir tudo ao "moralismo": "eu respeito a todos e não faço mal a ninguém". A fé é, também, amor a Deus, compromisso por um mundo mais humano, esperança de vida eterna, ação de graças, celebração.

A fé não é, também, um "tranquilizante". Crer em Deus é, sem dúvida, fonte de paz, consolo e serenidade, porém a fé não é somente um "salva-vidas" para os momentos críticos: "eu quando estou em apuros apelo à Virgem Maria". Crer é o melhor estímulo para lutar, trabalhar e viver de maneira digna e responsável.

A fé começa a desfigurar-se quando se esquece que, antes de tudo, ela é um encontro pessoal com Cristo. O cristão é uma pessoa que se encontra com Cristo e nele vai descobrindo a um Deus Amor que cada dia o convence e atrai mais. João o disse muito bem: "Nós conhecemos o amor que Deus tem por nós e cremos nele. Deus é Amor" (1Jo 4,16).

Esta fé só dá frutos quando vivemos dia a dia unidos a Cristo, isto é, motivados e sustentados por seu Espírito e sua Palavra: "Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" [Jo 15,5].

Traduzido do espanhol por Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: Sopelako San Pedro Apostol Parrokia – Sopelana – Bizkaia (Espanha) – J. A. Pagola – Ciclo B – Internet: clique aqui.

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