«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Família & Comunidade: são as nossas bases

QUAL É SEU UNIFORME?

Alfredo J. Gonçalves*
Padre Scalabriniano

Com o advento da chamada pós-modernidade, numerosas referências
com seus laços sólidos e orientadores “se desmancham no ar”
ou “se liquidificam”

Em nome da razão e de uma pretensa liberdade sem regras nem freios, “a modernidade empregou uma grande parte de seu tempo e muita energia a combater a comunidade”, afirma Bauman (Cfr. Zygmunt Bauman, La vie en miettes-experiénce postmoderne et moralité, Librairie Arthème Fayard/Pluriel, Paris, 2014, pág. 372). Da mesma forma que outras formas pré-modernas de relações humanas, a comunidade entrava na lista dos resíduos tradicionais a serem extirpados. Além de ser vista como lugar de pressão e não raro de escravidão, impedia o intercâmbio sem fronteiras do liberalismo político e econômico. O mesmo pode-se afirmar com respeito a determinadas formas de relacionamentos familiar e de parentesco. Entretanto, com o advento da chamada pós-modernidade (ou modernidade tardia), numerosas referências com seus laços sólidos e orientadores “se desmancham no ar” ou “se liquidificam”, para usar respectivamente a frase do Manifesto Comunista ou a metáfora do próprio Bauman. O autor constata:

«Nós provamos com frequência uma irresistível “necessidade de pertença” – uma necessidade de identificar-se não somente como seres humanos individuais, mas também como membros de uma identidade maior. Essa identificação por adesão deve fornecer, espera-se, o fundamento sólido sobre a qual construir uma identidade menor e mais frágil. Na medida em que estão em ruínas certas identidades antigas e sólidas, as quais garantiam e apoiavam as identidades individuais, enquanto outras perdem rapidamente o seu poder de força, verifica-se uma demanda por novas identidades, aptas a promover julgamentos firmes e com autoridade» (idem, pág. 372).

Isso explica uma atitude negativa quanto a um certo fanatismo, mas, ao mesmo tempo confirma a valor da Vida Religiosa Consagrada (daqui pra frente: VRC) em um tempo desprovido de referências firmemente ancoradas. O fanatismo já é bem conhecido e notório. Nasce de uma leitura fatalista e fundamentalista da história para defender-se contra a sensação, real ou aparente, do caos e do medo, da desordem e do anonimato. Em sua raiz mais profunda está a busca ansiosa de uma nova ordem estabelecida, o que traz abrigo, proteção e segurança para quem em meio à tempestade não dispõe de bússola. Numerosos movimentos políticos, ideológicos ou religiosos emergem com essa marca registrada. Prova disso é o uso exagerado e doentio de um uniforme como símbolo de identidade. Como se o modo de vestir-se dividisse a sociedade em “bons” e “maus”, “nós” e “eles”, “convertidos” e “não convertidos” ou ainda “salvos” e “condenados”. No fundo, todo o fundamentalismo – novamente de caráter político, ideológico ou religioso – costuma apresentar-se com os olhos e a língua inflamados, o que tem varrido a história de violência, tragédia e morte.

No caso da VRC, a sensação de caos e de desordem procura defender-se não tanto através de uma segurança imediata e quase que mágica. Sem dúvida, é preciso reconhecer que tudo o que debatemos no parágrafo anterior pode surgir (e efetivamente tem surgido) no interior da Vida Religiosa. Basta ver o retorno do hábito e de certos hábitos, da rigidez dos ritos, da solenidade afetada e ostensiva, do formalismo aparente e de outras exterioridades estéreis e suspeitas. Mas neste caso trata-se de um claro desvio. De fato, a razão de ser das diversas formas de VRC não está nas aparências, e sim na centralidade e no seguimento de Jesus Cristo, no cultivo de um carisma específico e na importância da vida comunitária. Sua identidade mergulha as raízes:
* na Boa Nova do Evangelho,
* na herança do(a) Fundador(a) e
* na vida em comum.

Pe. Alfredinho - autor deste artigo
O reencontro com a comunidade, enquanto forma de identidade primordial e de pertença familiar, aliado ao cuidado da mística e da missão, consiste hoje em dia numa referência sólida, que pode garantir e renovar as energias. Família e comunidade são terrenos férteis para reacender a chama da fé, da esperança e da utopia. Essas relações interpessoais formam a base para combater o vírus da apatia, do desinteresse e do desencanto que dominam as pessoas e a própria ação social e política. Ou para passar da “globalização da indiferença à cultura da solidariedade”, diria o Papa Francisco. Não se trata de vestir um uniforme vistoso e com tendência crescente à sofisticação, mas um uniforme revestido de uma profunda opção interior, iluminado pelo rosto de Deus e tecido com os mesmos fios que tecem a vida dos pobres e excluídos.

* Correções ortográficas e edição do texto foram realizadas por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

Fonte: e-mail do próprio autor – Quarta-feira, 13 de junho de 2018 – Roma, Itália.

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