«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Armas em vez de livros e remédios

Alfredo J. Gonçalves
Padre Carlista e Assessor das Pastorais Sociais
São Paulo – SP

Ganha a bancada da bala.
Vazia e fraca em termos de conteúdo e argumentos,
resta-lhe o apelo ao bombardeio de infâmias,
ao confronto e à agressividade gratuita.
Incapaz de escutar, somente é capaz de relacionar-se com pedras na mão
Padre Alfredo J. Gonçalves

Que podemos esperar de um projeto político-econômico que facilita o acesso às armas e, ao mesmo tempo, restringe o orçamento destinado ao ensino superior, em particular nas ciências humanas, e corta gastos com a saúde da população mais carente? A partir dessa, insinuam-se outras perguntas:
* quem ganha e quem perde com a produção e comércio de armas?
* Quem ganha e quem perde com a expansão do conhecimento, da ciência e da pesquisa?
* Quem ganha e quem perde com a precariedade dos serviços de saúde?

Ganha um pensamento retrógrado, obtuso e autoritário que, em lugar de um diálogo livre, aberto e plural das instâncias e instituições democráticas, insiste sobre o comando dos mais fortes ou dos que fazem mais barulho. Impõe em lugar de propor, ordena antes de ouvir. Qualquer tipo de oposição a esse “pensamento único” é vista como um atentado à moral, ao povo e a Deus. E os opositores não passam de “marxistas” infiltrados da esquerda. Retorna a retórica dos tempos da guerra fria, com sua ideologia de segurança nacional e seus fantasmas. Ruídos, impropérios, difamações e intrigas superam o que deveria ser uma relação política sadia e saudável (não sem tensões, evidentemente) entre os diferentes atores em cena.

Ganha a bancada da bala. Vazia e fraca em termos de conteúdo e argumentos, resta-lhe o apelo ao bombardeio de infâmias, ao confronto e à agressividade gratuita. Incapaz de escutar, somente é capaz de relacionar-se com pedras na mão. Para ela, curta de ideias e de paciência, o twitter e o revólver constituem os melhores instrumentos. Quem se encontra despido de razão, arma-se com o grito e a violência, procurando a todo custo desqualificar o adversário. Frente a este último, não lhe resistindo ao raciocínio argumentativo, passa ao ataque puro e simples da pessoa, surdo às motivações em jogo.

Mas ganham também os gigantescos conglomerados nacionais e/ou transnacionais, venham eles da área das telecomunicações, da produção e venda de armamentos ou da “indústria da doença” ou farmacêutica. Ganha o monopólio da fabricação de armas, da saúde privada e de um saber técnico, pragmático e utilitarista que, deliberadamente, dispensa questionamentos, dúvidas, críticas, e alternativas ao atual uso e abuso dos recursos naturais, da força de trabalho humana e do patrimônio cultural e religioso do conjunto da humanidade. O viver bem hoje, aqui e agora, luxuosa e ostensivamente, sobrepõe-se ao bem viver do outro e da comunidade, da vida em todas as suas formas e das gerações futuras.

Quanto aos perdedores, já os conhecemos bem. Em grande parte, não moram, não possuem endereço fixo. Escondem-se nos porões mais sórdidos, nas periferias mais longínquas ou nas favelas sob a vigilância e a exploração das milícias. Desqualificados em termos de estudo e capacitação, perambulam como desempregados, subempregados, sem-terra, sem trabalho e sem teto. Ou como migrantes, prófugos e refugiados, rechaçados da própria terra e forçados a buscar uma pátria. Um exército de “braços descartáveis” que se conta aos milhares e milhões. Muitos cidadãos estão condenados a passar de um hospital a outro, em intermináveis filas, suportando o fardo de suas dores e humilhações. Inúmeras mães choram os filhos cedo ceifados pelas balas da violência, anônimos uns, insepultos outros.

Vivem na espera e na esperança. Encheram-lhes os ouvidos de promessas, mas, nas reformas levadas mais urgentes e necessárias, deixam-nos à margem de qualquer tipo de participação. Prevê-se o resultado: nesta política de corte conservador, que leva à máxima potência uma espécie de darwinismo social, ganham os moradores da Casa Grande, as corporações, o poder dos lobistas, os donos e senhores de ontem, de hoje de sempre. Perdem, esperam, lutam e sonham os que habitam a Senzala. Mas é nela e a partir dela que o Reino de Deus mergulha suas raízes profundas, eternas e luminosas.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Sexta-feira, 10 de maio de 2019 – Internet: clique aqui.

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