Que governo é esse ? ? ?

Com seu “armai-vos uns aos outros”
e apoio a Olavo, Bolsonaro reafirma
capitão da eleição de 2018

Wilson Tosta
Jornalista chefe da Sucursal do Rio de Janeiro – RJ

Bolsonaro não pode ser acusado de estelionato eleitoral.
Com seus últimos atos, confirmou muito do que prometeu!
JAIR BOLSONARO
em campanha eleitoral, no ano passado, ensinando uma menininha a fazer o seu gesto de costume:
o sinal de um revólver com as mãos!

Caro leitor,

O capitão voltou. Em meio ao incessante tiroteio verbal entre olavetes [= seguidores do astrólogo e autoproclamado “filósofo” Olavo de Carvalho] e militares, ao fracasso da economia e ao bate-cabeça da sua base parlamentar, o presidente Jair Bolsonaro fez pelo menos dois movimentos de reafirmação da sua persona política vitoriosa na disputa pela Presidência em 2018:

a) Um foi a edição do decreto que, na prática - e em hipotético desafio à lei - revogou o Estatuto do Desarmamento.
b) Outro foi o cristalino sinal - um conjunto de gestos - de Bolsonaro avisando que, na disputa entre Olavo de Carvalho e os militares, o presidente fica com o autoproclamado filósofo da Virgínia e o rebanho que o incensa nas redes sociais.
JAIR BOLSONARO
assina decreto que muda regras sobre o uso de armas e munições - Palácio do Planalto - 07/Maio/2019

Bolsonaro não pode ser acusado de estelionato eleitoral. Com seus últimos atos, confirmou muito do que prometeu. Mais de um ano atrás, em Curitiba, por exemplo, defendeu, com espantosa transparência, as armas como “garantia da liberdade”. Deixou claro que queria liberar o armamento no Brasil. Falava sério.

Em um País de saúde e educação precárias, estradas em ruínas e imensa desigualdade social, transformou a liberdade de andar armado em prioridade de campanha e de governo
Foi como se dissesse aos brasileiros:
“Armai-vos uns aos outros, e seus problemas desaparecerão”.

O mercado reagiu. A Taurus, fabricante nacional de armas, experimentou dias de sonho em suas cotações na Bolsa, enquanto Bolsonaro, em busca de votos, defendia o “Trezoitão para Todos” e crescia nas pesquisas. O hoje presidente se inspirava em debate que envolve o Congresso e a sociedade e causou controvérsia mesmo entre aliados do presidente, como mostrou a Coluna do Estadão. O filhão Eduardo, escrivão da Polícia Federal e deputado, postou-se ao lado do pai na defesa da democratização dos instrumentos de morte.

No poder, Bolsonaro, o Velho, de início, apenas facilitou a posse de armamento, já na segunda semana no cargo. O texto, porém, decepcionou os bolsonaristas mais radicais. O liberou-geral do recente decreto da posse fez vibrar os seguidores mais apaixonados do capitão. E ainda criou um suculento mercado potencial de quase 20 milhões de brasileiros que poderiam andar armados, cobiçado por empresas estrangeiras. Em linha com essa cobiça, o decreto que praticamente mandou para o lixo o Estatuto do Desarmamento editado no primeiro governo Lula veio amplo. Liberou a importação de armas, como destacou o BR-18 e munições. O mercado brasileiro acusou o golpe: diante da possível concorrência, as ações da nacional Taurus caíram.

Desviando a atenção do que interessa

A controvérsia das armas vem em boa hora para o governo. Com ela, Bolsonaro tem chance de reagrupar o núcleo mais radical de seus seguidores - uma ação necessária no momento em que enfrenta críticas pelo corte de verbas no ensino federal - e mudar de assunto. Foi, nesse caso, uma escalada. Primeiro, os alvos eram os cursos de Humanas. Depois, três universidades acusadas de balbúrdia, como mostrou Renata Agostini. Finalmente, foi anunciado um bloqueio de 30% para todas as universidades e institutos federais, o que já mobiliza a oposição.

O arrocho atingiu até a educação básica. Estudantes protestaram contra a presença de Bolsonaro no Rio no dia seguinte, para celebrar os 130 anos do Colégio Militar. O ato teve apoio até de uma ex-aluna do Colégio Militar... Nada como assunto novo em uma hora dessas.

Assista, na íntegra, ao vídeo abaixo,
clicando sobre a imagem:


 De que lado Jair Bolsonaro está: de Olavo, é claro!

O outro movimento de Bolsonaro aconteceu na repercussão da continuação da polêmica do ideólogo Olavo de Carvalho com os militares. A sucessão de ataques do autoproclamado filósofo ao secretário de Governo, general Santos Cruz, em uma controvérsia de possíveis raízes econômicas gerou desagravo de governadores. Também houve reações do ex-comandante do Exército, general Villas Bôas, em manifestações internas, em nota nas redes sociais chamando Olavo de “Trotsky de direita”, e em entrevista ao Estadão. Nela, disse que o ideólogo presta desserviço ao Brasil. A reação repulsiva de Olavo, lembrando a condição física do general, que enfrenta grave doença degenerativa, gerou reações de solidariedade de parlamentares e até do ministro da Justiça, Sérgio Moro.

Mas Bolsonaro, que já tinha condecorado Olavo após o início da polêmica, diante dos novos ataques, indicou, em almoço com os chefes militares, que não pediria que o ideólogo baixasse o tom. Mostrou seu lado na briga.
A semana se encerrou com uma aparente vitória de Olavo e seus seguidores, expressa no anúncio do vice-presidente, general Hamilton Mourão, outro alvo dos olavistas, de que o confronto agora é “página virada”. Bolsonaro está mais próximo de sua base tradicional, feliz com a liberação das armas e os militares, pelo menos momentaneamente, quietos na polêmica com o olavismo e com outra preocupação: um bloqueio de 44% em seus recursos.

Na pátria armada, Brasil, o capitão parece ter enquadrado os generais.

Assista, até o fim, ao vídeo abaixo,
no qual se explica a conjuntura do atual governo Bolsonaro:


Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Supercoluna – Domingo, 12 de maio de 2019 – 15h00 – Internet: clique aqui.

Tsunami

Eliane Cantanhêde

Ao mirar o Meio Ambiente, Bolsonaro assusta e alimenta
a oposição a ele na sociedade
OLAVO DE CARVALHO
Autoproclamado "filósofo", este astrólogo e metido a saber de tudo, é a mente pensante da
família Bolsonaro

Está cada vez mais claro que os alvos do presidente Jair Bolsonaro são ditados por ideologia, numa guerra santa contra “esquerdopatas”, reais ou imaginários, em áreas estratégicas do País. De um lado, escancara a posse e o porte de armas. De outro, atira em universidades, pesquisas, área de Humanas, ambiente, ONGs e conselhos.

Ao reagir ao tal Olavo de Carvalho, o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas disse que, “substituindo uma ideologia pela outra, (ele) não contribui para (...) a solução concreta dos problemas brasileiros”. Perfeito. Nota mil.

Pois o presidente Bolsonaro governa como se não houvesse nada além de direita versus esquerda. Depois de tantos anos sujeito aos erros da esquerda, o Brasil está à mercê dos erros da direita.

Depois de partir para cima das universidades, onde jovens continuam sendo jovens, aqui e em toda a parte, o governo desloca suas metralhadoras, fuzis, revólveres e todos os cartuchos contra o Meio Ambiente, uma das áreas do Brasil com maior prestígio no mundo, pela biodiversidade invejável, pelo rigor das leis, pela credibilidade de especialistas e técnicos.

Desde a campanha, Bolsonaro já demonstra, no mínimo, um desconhecimento e um desdém pela preservação e a sustentabilidade. Seu chanceler, Ernesto Araujo, foi além ao falar ironicamente em “ambientalismo”, que seria uma militância a serviço das esquerdas internacionais, junto com Direitos Humanos, por exemplo, para destruir os valores cristãos do Ocidente.

Depois, Bolsonaro pensou até em extinguir o ministério. Desistiu, mas escolhendo um ministro praticamente alheio à problemática ambiental, o advogado e administrador Ricardo Salles. E, ao assumir a Presidência, passou a usar o cargo para uma revanche.
BOLSONARO realizou, em março de 2019, cortes profundos em vários programas mantidos pelo
Ministério do Meio Ambiente, e, principalmente, cortou 95% das verbas destinadas
a combater as mudanças climáticas no Brasil!!!

Em janeiro, o Ibama anulou a multa aplicada ao cidadão Jair Bolsonaro por pescar na Estação Ecológica de Tamoios, em Angra dos Reis (RJ), o que é proibido por lei. Em março, o fiscal que cumpriu a lei foi exonerado. Na semana passada, a retaliação foi ampliada para a própria Estação de Tamoios, quando o agora presidente, numa “visão progressista”, disse que ela “não preserva nada” e defendeu transformá-la na “Cancún brasileira”, trazendo bilhões de reais para o turismo.

Essas investidas combinam à perfeição com todos os passos do Ministério do Meio Ambiente, que pretende, por exemplo, liberar leilões de exploração de petróleo no Parque Nacional de Abrolhos (BA), um santuário ecológico admirado em todo o mundo.

Além de trocar especialistas e técnicos do Ibama e do Instituto Chico Mendes por militares, o ministro também anuncia, como vem noticiando o jornal O Estado de S. Paulo, que vai promover uma revisão geral das 334 áreas de proteção ambiental do País e abrir a concessão de paraísos como os Lençóis Maranhenses (MA), a Chapada dos Guimarães (MT) e o Parque Nacional de Jericoacoara (CE) à iniciativa privada. Nada contra a iniciativa privada, mas é preciso saber exatamente como e com que objetivos esses tesouros nacionais serão usados.

Oito ex-ministros do Meio Ambiente, de diferentes partidos e tendências, estão estupefatos e preocupados. Eles defendem o diálogo e focam no governo, não em Salles. Acham que ele não sabe nada da agenda ambiental federal, estadual e internacional e “age como o ministro da agricultura, da exploração e da mineração na área ambiental”.

Bolsonaro previu “um tsunami” nesta semana. Não se sabe o que será. O fato é que ele atrai a ira de professores, estudantes, artistas, ambientalistas, a área de direitos humanos e a comunidade internacional. Mas isso é política.

O principal é que o meio ambiente não comporta arrependimento.
Depois de destruir, é impossível recompor.

Fonte: O Estado de S. Paulo – Política – Domingo, 12 de maio de 2019 – Pág. A8 – Internet: clique aqui.

Enquanto o País derrapa,
Bolsonaro cuida de armas

Rolf Kuntz
Jornalista

Devotado a seu guru, o presidente se absteve de repelir a
ofensa brutal ao general Villas Bôas
FILA QUILOMÉTRICA DE DESEMPREGADOS À PROCURA DE EMPREGO
no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, no dia 26 de março de 2019

Nem o governo aposta mais num mísero e constrangedor crescimento econômico de 2% neste ano, e uma nova projeção oficial é esperada para os próximos dias. Mas a palavra “governo” é um tanto imprópria, nesse caso, porque seu significado inclui, normalmente, a Presidência da República. O presidente Jair Bolsonaro tem mostrado, de fato, menos preocupação com a economia do que com outros assuntos, provavelmente mais altos em sua escala de prioridades.

E a criação de emprego? Ora os empregos!

Enquanto o pessoal do Ministério da Economia refazia as contas e o ministro Paulo Guedes batalhava no Congresso pela reforma da Previdência, o chefe de governo cuidava de um decreto sobre porte de armas. Estava cumprindo, segundo explicação de gente do Executivo, uma promessa de campanha. Faz sentido. O último balanço trimestral apontou apenas 13,4 milhões de desempregados, número muito menor que o dos beneficiários potenciais do decreto do bangue-bangue. Segundo cálculo do Instituto Sou da Paz, informou o jornal O Estado de S. Paulo, cerca de 19 milhões de pessoas poderão ter acesso facilitado a armas – e a armas pesadas, anteriormente permitidas apenas a policiais e a membros das Forças Armadas. Alguém poderá, no entanto, propor uma comparação diferente.

Como ficaria a discussão se fôssemos além dos 13,4 milhões de desempregados e tomássemos como referência a população subutilizada, formada por 28,3 milhões de pessoas? Os desempregados, medidos segundo critério internacional, são apenas uma parcela desse conjunto. O contingente dos subutilizados supera o dos potenciais portadores de armas. Talvez pudesse merecer, portanto, maior atenção do presidente. Mas isso ocorreria somente se ele estivesse disposto a cuidar de um assunto mais complicado. Ele tem mostrado certa aversão a esse tipo de exercício, embora se tenha declarado capaz, há pouco tempo, de criticar a metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Assista ao vídeo abaixo, no qual o Ministro da Educação,
errando nas contas e debochando de seus críticos,
tenta explicar o bloqueio de verbas para a educação.
Clique sobre a imagem:


E a educação, ora a educação!

Mas o presidente, é preciso reconhecer, vem cuidando da educação, apontada como prioritária por apoiadores e também por críticos do governo. Pelo decreto das armas, menores de 18 anos poderão exercitar-se em clubes de tiro sem autorização judicial. Bastará a permissão de um responsável legal. Com isso, o processo educacional ficará menos burocratizado, com vantagem para a formação de crianças e jovens.

A preocupação do presidente com a educação é visível, também, na seleção cuidadosa de ministros e secretários para a área. O atual, Abraham Weintraub, exibiu admirável modéstia, em depoimento no Senado, ao apontar seu currículo como superior à “média dos últimos 15 ministros”. Essa média é um conceito um tanto obscuro, mas pode-se deixar de lado o detalhe. Vale a humildade: por que levar em conta só os “últimos 15 ministros”?

Ministro da Educação que escreve e fala errado!

Ele também mostrou, como o chefe Bolsonaro, pouco apreço a pormenores insignificantes. Referiu-se a Kafta, quando talvez quisesse mencionar Kafka. Estaria com fome? Lembrou ter sido processado administrativamente na universidade onde trabalhou e comparou os condutores do processo a agentes da Gestapo.

Poderia ter lembrado o caráter esquerdista da Gestapo, organização a serviço do governo nazista. O nazismo, já disse o presidente Bolsonaro em visita a Israel, foi um movimento de esquerda, detalhe ignorado no Museu do Holocausto.

Fiel ao estilo de seu chefe, o ministro tem mostrado em várias ocasiões seu desprezo a ninharias. Qual a importância de escrever “insitaria”, como num de seus tuítes, em vez de “incitaria”? Em outra ocasião, numa transmissão ao vivo com o presidente, confundiu 3,5 chocolates com 30, mas esse, de fato, é um tropeço muito menos importante do que as trapalhadas sobre os orçamentos das universidades.

Um corte de 30% foi apresentado inicialmente como punição a três instituições federais, por ele acusadas de balbúrdia. Em sua opinião, ministro tem de controlar festinhas e impedir gente pelada e drogas, além, é claro, de fiscalizar ideologicamente as aulas e as disciplinas. O corte, ou contingenciamento, acabou sendo generalizado e atingiu também universidades estaduais, pela suspensão de bolsas de pesquisa.

Enquanto isso, a economia se arrasta, o governo é acuado no Congresso, ninguém sabe como ficará o projeto de reforma da Previdência e o futuro permanece embaçado. No mercado, a mediana das projeções de crescimento econômico em 2019 já caiu para 1,49%. O Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) enfatiza, em comunicado, a dificuldade de tomar decisões num ambiente de muita incerteza. Até o Banco Central?

Assista ao vídeo abaixo, no qual o Ministro da Educação
erra, grosseiramente, o nome de um famoso escritor.
Ele, ao invés de falar Kafka, diz kafta, uma comida árabe!
Clique sobre a imagem:


Um Presidente da República que elogia mal-educados!

Já se fala, no Ministério da Economia, em liberar mais dinheiro do Fundo de Garantia para estimular o consumo e os negócios. E o presidente? Continua dando mais atenção a seu guru Olavo de Carvalho que ao vice Hamilton Mourão e a vários ministros, incluído o da Economia. Quando o guru ofendeu o general Eduardo Villas Bôas com uma grosseria incomum, ministros e políticos de vários partidos condenaram a agressão e prestaram homenagem ao ofendido.

Sem dizer uma palavra contra o ofensor, o presidente o elogiou. “Olavo de Carvalho”, escreveu Bolsonaro referindo-se à carreira do mestre, “rapidamente tornou-se um ícone, verdadeiro fã para muitos”. Ícone ou fã? Como sempre, as palavras são tratadas com o desprezo adequado a coisas menores. Bolsonaro reserva sua atenção às coisas e pessoas de fato importantes, como Olavo de Carvalho, por ele condecorado com a Ordem de Rio Branco.

Mas o tuíte, com a homenagem ao guru e a desatenção ao general brutalmente ofendido, vale algumas perguntas. Seu aspecto mais notável será o linguístico? Será o político, pelo culto reiterado a um ícone boquirroto, conselheiro na nomeação de ministros, censor de outros e orientador do governo? Ou o mais importante, enfim, será a qualidade moral da posição de Bolsonaro em relação a ofensor e a ofendido?

Não deixe de assistir, na íntegra, a este vídeo!
Vale a pena conhecer um
ponto de vista bem diferente deste atual:


Fonte: O Estado de S. Paulo – Espaço aberto / Opinião – Domingo, 12 de maio de 2019 – Pág. A2 – Internet: clique aqui.

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