«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 31 de maio de 2019

Um mundo sem privacidade!

“Profeta” do escândalo do Facebook faz alerta sobre reconhecimento facial

Bruno Romani

Professor polonês previu mecanismo que levou ao caso
Cambridge Analytica; agora, se preocupa com uso de inteligência artificial para reconhecimento de rostos humanos
MICHAL KOSINSKI

Michal Kosinski sabe que causa controvérsia. Psicólogo e professor assistente da Universidade Stanford, o polonês de 37 anos descreveu, anos antes de ser descoberto, o mecanismo por trás da maior crise da história do Facebook. Em artigo de 2013, ele chamou atenção para o uso de curtidas e testes para decifrar a personalidade de uma pessoa. A estratégia foi usada pela consultoria política Cambridge Analytica (CA) para influenciar a opinião pública em episódios como as eleições americanas de 2016. De profeta, Kosinski passou a ser considerado cúmplice na manobra. Agora, faz novo alerta: abusos no uso de inteligência artificial (IA) para reconhecimento de rostos humanos.

“Empresas e governos estão usando tecnologia para identificar não só as pessoas, mas também características e estados psicológicos, causando riscos sérios à privacidade”, diz o pesquisador, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo. Nos últimos anos, ele tem dedicado seus estudos a mostrar como a tecnologia de reconhecimento facial pode ser usada para discriminar pessoas. Para exemplificar, escolheu uma abordagem espinhosa: mostrar que um algoritmo pode olhar para fotos de pessoas em redes sociais e adivinhar sua orientação sexual com precisão maior do que humanos fariam.

Cara a cara

No estudo, o polonês utilizou um algoritmo de reconhecimento facial disponível de graça na internet, o VGG Face. O sistema foi alimentado com 35 mil fotos de rostos encontradas em redes sociais. A máquina tinha um desafio: ao ser apresentada a um par de fotos, com uma imagem de um heterossexual e uma de um homossexual, ela deveria ser capaz de apontar qual das pessoas tinha a maior probabilidade de ser gay.

A máquina teve taxa de acerto de 81% no caso de homens e 71% no caso de mulheres – já julgadores humanos tiveram 61% e 54%, respectivamente. Ao analisar cinco fotos das mesmas pessoas, a precisão da máquina subiu para 91% (homens) e 83% (mulheres).

“O estudo não tenta entender o que causa diferenças entre gays e héteros, mas mostrar que há mecanismos que trabalham para isso, como o fato de que características psicológicas e sociais afetam nossa aparência”, explica Kosinski. “Para os humanos, é difícil detectá-las, mas os algoritmos são muito sensíveis e podem fazer previsões precisas.”

Publicados em 2017 na revista The Economist, os resultados da pesquisa provocaram polêmica. Dois grupos LGBTQ+ dos EUA, o Human Rights Campaign e o Glaad, consideraram o estudo falho e perigoso, enquanto pesquisadores questionaram seu método, linguagem e propósito.

Para Kosinski, há paralelos na reação das pessoas entre seu estudo sobre o Facebook e sobre reconhecimento facial. “Quando alertei para o monitoramento de curtidas, as pessoas riram dos meus resultados. Ao descobrir sobre a Cambridge Analytica, passaram a me levar a sério”, conta. “De repente, começaram a me culpar por alertar sobre o problema, mesmo não sendo o autor dessa tecnologia.” Mas é difícil ignorar sua conexão com o caso.

A mudança de foco do pesquisador acompanha as tendências da internet, como o crescimento da interação baseada em imagens. Um exemplo é o Instagram, maior rede social de fotos e vídeos do mundo. Entre 2013 e 2018, a plataforma, que também é do Facebook, cresceu mais de dez vezes e hoje tem mais de 1 bilhão de usuários compartilhando selfies e fotos de amigos em todo o mundo.

Perdas e danos

O polonês não se importa com as reações e crê ter atingido seu objetivo: mostrar a facilidade de se construir um algoritmo capaz de estabelecer conclusões como a orientação sexual, religiosa ou política de uma pessoa.

Independentemente de estarem certos ou errados, sistemas com essa missão podem gerar danos à sociedade se forem usados. “Há startups e companhias que oferecem previsões básicas gratuitas na internet. É uma tecnologia acessível – e pode estar em aeroportos ou postos de fiscalização de imigrantes”, diz.

Há até lugares em que isso já está sendo posto em prática: na China, há relatos de que o governo usa reconhecimento facial para catalogar e vigiar os uighurs, uma minoria étnica muçulmana. Já cidadãos chineses são monitorados para a obtenção de crédito pessoal.

“Não dá para a sociedade se transformar numa sociedade preditiva, na qual não posso ter um emprego por ter 72% de chance de ter determinado comportamento”, avalia Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do Grande ABC (UFABC). “Isso retira das pessoas, bem como da sociedade, a capacidade de livre arbítrio.”
Reconhecimento facial na China - a sociedade mais vigiada do mundo

Ética

Para especialistas em Inteligência Artificial ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, o nível de apuro tecnológico da pesquisa de Kosinski não surpreende. “São resultados preliminares. É possível até melhorar a precisão do algoritmo”, diz Alexandre Chiavegatto Filho, professor da USP e especialista em tecnologia na saúde. Não é algo que está nos planos do polonês: para ele, o que fez foi suficiente para jogar luz no problema. A discussão do trabalho, porém, está longe de ser enterrada.

“Escolher estudar padrões ligados a assuntos íntimos, como orientação sexual, com base no rostos das pessoas parece bastante assustador”, diz Walter Carnielli, diretor do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da Unicamp e pesquisador associado ao Advanced Institute for Artificial Intelligence (AI2). Para Chiavegatto, da USP, o tiro do polonês pode sair pela culatra. “É uma pesquisa que mostra para o Irã e outros governos totalitários que é possível e simples aplicar essa tecnologia. É preciso pensar nas consequências.”

Lá fora a questão é bem discutida: antevendo cenários distópicos, a cidade de São Francisco (EUA) proibiu, há duas semanas, o uso governamental de reconhecimento facial em locais públicos. Kosinski concorda que a proibição não é um bom caminho para a tecnologia. Aqui no Brasil, o mais próximo disso são audiências públicas sobre o uso de reconhecimento facial e de inteligência artificial.

Enquanto isso, Kosinski se prepara para tocar as trombetas de um novo apocalipse tecnológico. Hoje, ele trabalha em novo artigo sobre reconhecimento facial. Desta vez, tenta demonstrar como a tecnologia pode ser usada para estimar visões políticas. A expectativa é publicar o trabalho até o final do ano, antes de uma nova corrida presidencial começar nos EUA. Ele sabe que deve gerar controvérsia – de novo. “Se as pessoas entenderem os riscos, tudo bem: meu trabalho terá sido bem feito.”

Fonte: O Estado de S. Paulo – link / Economia – Domingo, 26 de maio de 2019 – Pág. B9 – Internet: clique aqui.

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