Quem faz a nossa cabeça?



Telmo José Amaral de Figueiredo
Padre, biblista e teólogo
Diocese de Jales – SP

            Um dos maiores intelectuais da atualidade, falecido em fevereiro de 2016, o italiano Umberto Eco, comentava a respeito da mania que as pessoas têm, nos tempos de hoje, em exprimir suas opiniões:
            «As redes sociais deram o direito à palavra a legiões de imbecis que, antes, só falavam nos bares, após um copo de vinho e não causavam nenhum mal para a coletividade (...). Nós os fazíamos calar imediatamente, enquanto hoje eles têm o mesmo direito de palavra do que um prêmio Nobel. (...) O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade. (...) É a invasão dos imbecis.»
            Esse comentário, nada sutil, chama a nossa atenção para um fenômeno muito perigoso: confundirmos palpite, opinião de pessoas não especializadas e, muitas vezes, mal-intencionadas, com a realidade, com aquilo que é fato! Por detrás dessa atitude, pode-se perceber uma ausência de referências éticas, a dificuldade em discernir o que é falso e verdadeiro, o que é bem e mal, o que é justo e injusto.
            Justamente, em um mundo assim, é de fundamental importância termos consciência de onde tomamos as notícias, informações e opiniões que fazem a nossa cabeça. De modo geral, a maioria da população brasileira não lê jornais impressos ou disponíveis em sites na internet, nem assina ou lê revistas noticiosas especializadas, nem navega por sites mais sérios e bem preparados que, não somente, transmitem notícias, mas as comentam e ajudam o leitor a compreendê-las. Somente para ficar em poucos exemplos, eis alguns desses sites de boa informação: Instituto Humanitas Unisinos - Notícias; GGN - O Jornal de Todos os Brasis; Outras Palavras; Agência Pública; El País - Edição Brasil e Le Monde Diplomatique Brasil. Sem mencionar, é claro, os sites de grandes jornais de circulação nacional que trazem uma ampla gama de notícias e análises de comentaristas nacionais e internacionais, tais como: O Estado de S. Paulo; Folha de S. Paulo; Valor Econômico; O Globo; Portal G1 e Correio Braziliense.
            No entanto, muitos se satisfazem com “notícias” recebidas através de redes sociais (p. ex.: WhatsApp, Facebook, Instagram, Twitter etc.). Não por acaso, o Brasil é considerado um dos países do mundo onde a população mais acredita em fake news, ou seja, notícias falsas ou muito distorcidas. Segundo o Instituto Ipsos, em pesquisa divulgada no final de 2018, no Brasil, 62% dos entrevistados admitiram já ter acreditado em alguma notícia falsa. Os outros países onde mais entrevistados já foram enganados pelas fake news foram Arábia Saudita (58%), Coreia do Sul (58%), Peru (57%) e Espanha (57%).
            O Papa Francisco afirmou, na homilia da missa em Skopje, capital da Macedônia do Norte, nesta terça-feira, 7 de maio: «(...) nos habituamos a comer o pão duro da desinformação, e acabamos prisioneiros do descrédito, dos rótulos e da infâmia; julgamos que o conformismo saciaria a nossa sede, e acabamos por nos dessedentar de indiferença e insensibilidade; alimentamo-nos com sonhos de esplendor e grandeza, e acabamos por comer distração, fechamento e solidão; empanturramo-nos de conexões, e perdemos o gosto da fraternidade. (...) nos encontramos oprimidos pela impaciência e ansiedade. Prisioneiros da virtualidade, perdemos o gosto e o sabor da realidade».
            Para mim, esta última frase de Papa Francisco é muito forte e oportuna. De fato, muitos vivem fora da realidade, acreditando em tudo que recebe pelas páginas amigas de suas redes sociais. Por isso, pergunto a todos: Quem faz a sua cabeça? De onde vêm as notícias e opiniões nas quais você mais acredita?
            Concluo, citando o grande orador português, Padre António Vieira: «Quem não lê, não quer saber; quem não quer saber, quer errar».

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