«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

24º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 15,1-32 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano

 

A alegria de Deus é a conversão dos pecadores

Enquanto os escribas e fariseus tinham a ambição de levar o povo a Deus e, portanto, conduzi-lo pela observância de regras e preceitos religiosos, Jesus escolhe um caminho diferente. Ele não quer levar os homens a Deus, porque sabe que se você quiser levar os homens a Deus, inevitavelmente, alguém é deixado para trás e alguém é excluído! Por isso, Jesus traz Deus aos homens e Deus aos homens é trazido, apenas, de uma maneira: a comunicação de sua misericórdia e compaixão.

Mas são precisamente os escribas e fariseus, essas pessoas tão piedosas e tão devotas, que, em vez de se alegrarem e colaborarem com Jesus em sua ação, estão contra ele. Leiamos o capítulo 15 do Evangelho de Lucas, desde o primeiro versículo. 

Lucas 15,1:** «Todos os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para ouvi-lo.»

Publicanos e pecadores”, portanto, a escória da sociedade, os excluídos da religião e os marginalizados, que sentem na mensagem de Jesus a resposta ao desejo de plenitude de vida que cada pessoa tem dentro de si.

Por mais que a pessoa viva na direção errada de sua existência, por mais imersa no pecado que ela esteja, há sempre nela um desejo de plenitude de vida, um desejo de felicidade, que muitas vezes, infelizmente, ela escolheu errado, mergulhou-a no desespero e na dor, mas essa voz sempre esteve acordada. E, portanto, a resposta ao seu desejo é encontrada em Jesus. 

Lucas 15,2: «Os fariseus e os escribas, porém, murmuravam, dizendo: “Esse homem acolhe os pecadores e come com eles”.»

Enquanto Jesus é ouvido por cobradores de impostos e pecadores, os fariseus, isto é, as pessoas piedosas, e os escribas, isto é, os teólogos oficiais, murmuravam. É interessante como nos Evangelhos as autoridades religiosas, os mestres espirituais, os escribas e os fariseus, evitam pronunciar o nome de Jesus. Jesus significa “o Senhor salva”, e eles não precisam dessa salvação do Senhor e se voltam para ele sempre com um termo bastante grosseiro e pejorativo, “este, esta pessoa”.

E aqui está o escândalo! Jesus não apenas os recebe, mas também come com eles. Comer significa compartilhar a vida. Se você come com uma pessoa infectada, inevitavelmente sua impureza é passada para todos os outros. Eles não entenderam que com Jesus os pecadores, os incrédulos, os impuros, não precisam se purificar para serem dignos de comer com ele, mas o que os purifica é comer com ele. Mas as pessoas religiosas não entendem isso. 

Lucas 15,3: «Então ele contou-lhes esta parábola:»

Esta parábola, agora veremos, não é dirigida aos discípulos de Jesus,

mas aos escribas e fariseus, isto é, aos seus inimigos. É uma parábola que se compõe de três partes, as duas primeiras falando sobre a alegria de Deus, e a terceira, conhecida como a do filho pródigo, sobre os motivos dessa alegria. 

Lucas 15,4-5: «“Quem de vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la? E quando a encontra, alegre põe-na aos ombros...»

Jesus dá como certo o que os escribas e fariseus consideram loucura. Nenhuma pessoa sã deixa noventa e nove ovelhas no deserto à mercê de animais, à mercê de ladrões, para ir em busca de uma que se extraviou sem ter certeza de encontrá-la.

Bem, a lógica do mundo, que é a lógica da conveniência, não é a lógica de Jesus.

A lógica de Jesus é aquela que faz o bem do ser humano. E, portanto, Jesus se apresenta como esse pastor que abandona as noventa e nove para ir em busca daquela que estava perdida. “E quando a encontra...”: escribas e fariseus imaginavam que o protagonista amarraria uma corda em seu pescoço e, à força de chutes, a conduziria ao redil, a trancaria e nunca mais a soltaria, repreendendo-a e punindo-a. Porém, quando encontra essa ovelha perdida “alegre põe-na aos ombros”.

Esta ovelha perdida – perder-se no evangelho de Lucas é uma imagem do pecado – é tratada melhor do que as outras noventa e nove. Ela é fraca e o pastor comunica sua força a ela. Então ela passa a ter um relacionamento com o pastor que nenhuma das outras noventa e nove ovelhas terão. De fato, o pastor a carrega nos ombros e lhe transmite sua alegria. 

Lucas 15,6-7: «... e, chegando em casa, reúne os amigos e vizinhos, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!’ Eu vos digo: assim haverá no céu alegria por um só pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.»

Mas, enquanto o pastor da parábola convida os outros a se alegrar, vemos que, aqui, os escribas e fariseus murmuram. Essa ovelha não será mais uma ovelha entre outras, mas uma ovelha que terá uma relação especial com seu pastor. E Jesus continua: “Eu vos digo: assim haverá no céu alegria por um só pecador que se arrepende”. É por isso que Jesus comunica a vida aos pecadores, porque sabe que o poder de sua palavra, a comunicação de sua vida, se aceita, pode fazê-los sair do mundo do pecado e da transgressão e colocar sua vida em sintonia com o plano que Deus sempre teve para as criaturas. 

Lucas 15,8-10: «Ou qual a mulher que, tendo dez moedas de prata e perdendo uma, não acende a lâmpada, varre a casa e busca cuidadosamente até encontrá-la? E quando a encontra, reúne as amigas e vizinhas, e diz: ‘Alegrai-vos comigo! Encontrei a moeda que tinha perdido!’ Assim, eu vos digo, haverá alegria entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrepende”.»

Depois, vem a segunda parábola que mostra a delicadeza de Jesus: sempre que tem de dar exemplos, sempre dá um exemplo no masculino, mas depois um no feminino. Jesus não esquece o mundo da mulher e, se primeiro falou de um homem, o pastor, agora a mulher entra em cena. Uma mulher que tem dez moedas e perde uma. E mesmo neste caso a reação é uma explosão de alegria. Deus se alegra, os pecadores se convertem, o pastor e seus vizinhos se alegram, a mulher e seus amigos se alegram. Quem está murmurando? Os escribas e os fariseus. 

Lucas 15,11-32: «E Jesus continuou: “Um homem tinha dois filhos. O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe. E o pai dividiu os bens entre eles. Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu, partiu para um lugar distante e ali esbanjou numa vida desenfreada tudo o que possuía. Depois que gastara tudo, chegou uma grande fome àquela região, e ele começou a passar necessidade. Então, foi pedir trabalho a um dos cidadãos do lugar, que o mandou a seu campo guardar os porcos. Ele queria matar a fome com a comida dos porcos, mas nem isso lhe davam. Então caiu em si e disse: “Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. Vou partir e voltar para meu pai, e dizer-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados’. Então ele se pôs a caminho e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e foi tomado de compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e o beijou. O filho, então, disse-lhe: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho’. No entanto, o pai disse aos seus servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. Colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o, para comermos e festejarmos, pois este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa. O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e danças. Então chamou um dos criados e perguntou o que estava acontecendo. Ele respondeu: ‘Teu irmão voltou, e teu pai matou o novilho gordo, porque recuperou seu filho são e salvo’. Ele, porém, ficou com raiva e não queria entrar. O pai, então, saiu e insistia com ele, mas ele respondeu ao pai: ‘Eu te sirvo há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua, e nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Quando, porém, chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com as prostitutas, matas para ele o novilho gordo’. Então o pai lhe disse: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu; mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado”.»

Eis, pois, que na terceira parábola, dirigida aos escribas e fariseus, apresenta-se o filho mais velho, aquele que é representado caricaturamente, como o religioso que sempre serviu ao pai, como um servo ao seu senhor, sempre obedeceu às suas ordens, mas por isso mesmo o serviço e os mandados não o fizeram entender o coração do Pai. Então, enquanto o Pai se alegra com a volta do filho que “morreu e tornou a viver”, o irmão mais velho, em vez de se alegrar, aquele que julga tudo com os parâmetros religiosos da moralidade, se indigna, se zanga e é aquele que não quer entrar na casa. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021.

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os doentes. Não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento.”

(Jesus Cristo: Evangelho Segundo Lucas 5,31-32)

Por incrível que possa parecer, as críticas e atitudes recriminatórias que fariseus e doutores da Lei faziam e tinham em relação a Jesus podem ser encontradas, hoje, com muita frequência entre nós! Vivemos, nos ambientes religiosos, atualmente, uma temporada de hipocrisia moralista que se assemelha, em muito, àquela que Jesus encontrou nos líderes religiosos de sua época. 

Há setores de nossa Igreja Católica, bem como, de igrejas evangélicas e neopentecostais que adoram exercer o seu poder e influência junto aos fiéis, fazendo pressão sobre as consciências! Isso mesmo! O poderoso instrumento que utilizam para isso é o PECADO. Ele é apresentado como “perdição”, “perversão”, como “extravio”, “obra do demônio”, “cilada de Satanás” e expressões do gênero. E Deus castiga e condena, firmemente, o pecado. Aliás, em muitas pregações de líderes religiosos atuais, ouve-se falar mais de pecado, tentação e demônio do que do próprio Cristo! Até parece que, aquele que levou a melhor não foi Jesus, mas o demônio, que é apresentado como tendo um poder e força, quase, invencíveis! Desse modo aterroriza-se e atemoriza-se as pessoas para que não “desobedeçam aos seus pastores”. 

Nada melhor do que o MEDO e a SUPERTIÇÃO para controlar as pessoas e influenciá-las para irem na direção que se deseja! Jesus jamais utilizou desses artifícios, pelo contrário, a sua acolhida aos pecadores, excluídos, rejeitados e abandonados pela sociedade era tão sincera, tão forte que essas pessoas adoravam estar junto a Jesus. Aliás, isso é notado logo no início do Evangelho de hoje: “Todos os publicanos e pecadores aproximavam-se de Jesus para ouvi-lo” (Lc 15,1). Os desprezados, que tinham medo de tudo e de todos, não temiam a Jesus! Ele não lhes transmitia medo, insegurança, preconceito, julgamento, mas amizade, escuta e acolhimento fraterno! 

Será que a nossa Igreja não está necessitando seguir o Mestre nessa sua atitude, nesse seu exemplo?

Como podemos abrir horizontes de esperança, de bondade, de justiça e de paz se, muitas vezes, ainda temos um discurso e uma atitude preconceituosos em relação aos “pecadores”, “aos perdidos”, “aos que não frequentam”, “aos de fora”?

Ao invés de cultivarmos uma “consciência de culpa” nas pessoas, atitude essa doentia e que não ajuda na verdadeira conversão, por que não atuamos no sentido de aliviar a vida das pessoas que, atualmente, estão muito cansadas, desanimadas, desesperançadas e incrédulas diante de tanta violência, egoísmo, desigualdade, consumismo e indiferença por parte dos grandes e fortes da sociedade?

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Meu Deus, quando a caminho de ti não tenho mais provisões, não tenho outra opção a não ser recorrer a ti, refazer humildemente os meus passos. Quando a culpa me faz temer o castigo, a esperança me oferece abrigo para tua justiça. Quando o erro me confina ao meu tormento, a fé anuncia o teu conforto. Quando me deixo vencer pelo sono das fraquezas, teus benefícios e tua generosidade me despertam. Quando a desobediência e a revolta me afastam de ti, teu perdão e misericórdia me levam de volta à amizade. E tu estás sempre lá para espiar meu retorno para me abraçar em um abraço regenerador, aberto a um futuro único de amor. Que a tua Palavra penetre proveitosamente no meu coração e me faça viver para te amar e te agradecer todos os dias da minha vida. Amém.»

(Marino Gobbin. 24ª Domenica del Tempo Ordinario. In: CILIA, Anthony O.Carm. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico C. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 556)

 Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – XXIV Domenica del Tempo Ordinario – Anno C – 15 settembre 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 08/09/2022).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.