25º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 16,1-13 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

O dinheiro só tem sentido, se utilizado a favor dos outros

O dinheiro para Jesus é um instrumento necessário para se sentir bem e fazer as pessoas se sentirem bem, portanto é um instrumento para os outros, mas é um instrumento. Quando deixa de ser um instrumento, torna-se um ídolo que sacrifica pessoas. Lemos essa parábola desconcertante e imprevisível que só o evangelista Lucas tem no capítulo 16, nos primeiros treze versos. Por que é desconcertante? Porque Jesus propõe uma pessoa desonesta como exemplo de comportamento. E isso realmente é um tanto estranho. 

Lucas 16,1:** «Depois, Jesus falou ainda aos discípulos: “Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens.»

É um ensinamento de Jesus para a sua comunidade. Bem, desde que o mundo é mundo, sabe-se disso. Existe o provérbio italiano que diz: “Chi ministra minestra” [ou seja: quem administra fica com parte daquilo que toma conta!]. Sempre muitos dos administradores, dos feitores e corretores fizeram seus próprios interesses em detrimento dos interesses do patrão e em detrimento dos trabalhadores. Bem, este homem percebe isso. 

Lucas 16,2-4: «Ele o chamou e disse: ‘Que ouço dizer a teu respeito? Presta contas da tua administração, pois não podes mais administrar meus bens’. O administrador, então, começou a refletir: ‘Meu senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Para cavar não tenho força; de mendigar, tenho vergonha. Ah! Já sei o que fazer para que me recebam em suas casas, quando eu for afastado da administração’.»

Então o mestre lhe pede as contas. “Deixe-me ver as contas um pouco”. E o administrador o que ele faz? Ele percebe duas impossibilidades: capinar, cavar não consegue (impossibilidade física) e mendigar tem vergonha (impossibilidade moral). Em seguida, encontramos a astúcia que Jesus elogia. Este administrador desonesto certamente será expulso. Então ele decide fazer amizade com os devedores do padrão. 

Lucas 16,5-6: «Então chamou, cada qual separadamente, os que estavam devendo a seu senhor. E perguntou ao primeiro: ‘Quanto deves a meu senhor?’ Ele respondeu: ‘Cem barris de azeite!’ O administrador disse: ‘Pega a tua conta, senta-te, depressa e escreve: cinquenta!’»

É uma quantia enorme, o equivalente a mil denários. Um denário era o salário diário, indicativamente, para aquela época, essa quantia era o fruto de 146 oliveiras. Não está claro - os estudiosos ainda não chegaram a uma opinião unânime - o que o administrador faz. O que ele faz? Ele está renunciando à sua comissão, o que é provável, porque reduz pela metade a dívida, ou é uma simples fraude? Isso não está claro. De qualquer modo, ele diminui, reduz pela metade a dívida. 

Lucas 16,7: «Depois perguntou a outro: ‘E tu, quanto deves?’ Ele respondeu: ‘Cem sacas [medidas] de trigo’. O administrador disse; ‘Pega tua conta e escreve oitenta’.»

E, aqui, está uma quantidade ainda maior. Cem medidas de trigo, naquela época, davam 2.500 denários, lembro que um denário era o salário diário de um trabalhador, mais ou menos 27.500 quilos de trigo! Aqui, o administrador, abaixa um pouco menos a dívida. 

Lucas 16,8: «E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu com sagacidade. De fato, os filhos desse mundo são mais sagazes para com os da sua geração do que os filhos da luz.»

Bem, estranhamente, o resultado é que o patrão elogiou aquele administrador desonesto, porque ele agiu com astúcia. E aqui está a moral de Jesus, ou seja, as pessoas que agem por interesse, por conveniência, inventam de tudo para ganhar cada vez mais. 

Lucas 16,9: «Eu vos digo: usai ‘Dinheiro’ injusto a fim de fazer amigos, para que, quando acabar, vos recebam nas moradas eternas.»

Os rabinos do tempo de Jesus distinguiam entre riqueza honesta e riqueza desonesta. Para Jesus, a riqueza é sempre desonesta. Se você é rico é porque é desonesto. Se você é desonesto, não é generoso, porque se fosse generoso não seria rico. A recomendação de Jesus é: use o dinheiro a favor dos outros para que, quando chegar a hora da necessidade, eles o acolham. 

Lucas 16,10-13: «Quem é fiel nas pequenas coisas, será fiel também nas grandes; e quem é injusto nas pequenas será injusto também nas grandes. Por isso, se não sois confiáveis no uso do ‘Dinheiro injusto’, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois confiáveis no que é dos outros, quem vos dará o que é vosso? Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um para amar o outro, ou se apegará a um, desprezando o outro. Não podeis servir a Deus e ao ‘Dinheiro’”.»

E Jesus continua. A questão da desonestidade é enfatizada, tornada importante por Jesus. Jesus insiste, a riqueza é sempre desonesta. Se você que é rico não é desonesto, seu pai foi desonesto, se seu pai não foi desonesto, deve ter sido seu avô ou seu bisavô, mas na base de toda riqueza há sempre a desonestidade, pelo menos é isso que Jesus pensa. E então a frase final: “Você não pode servir a Deus e às riquezas!”

O termo riqueza é o aramaico “mamoná” que significa “conveniência”, então Jesus é claro: ou o próprio interesse e a própria conveniência, riqueza ou Deus. Você não pode juntar os dois.

Bem, o evangelista escreve que, assim que Jesus fez essa declaração, ele ouviu risos atrás dele [Lc 16,14-15]. Quem será? Serão os gananciosos cobradores de impostos? Serão os pecadores? Não, são justamente os piedosos fariseus. Os fariseus, tão piedosos e devotados, não faziam diferença entre o canto de um salmo e um acerto de contas. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“O dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência do homem; a essência domina-o e ele adora-a.”

(Karl Marx: 1818-1883 – foi filósofo, economista, escritor e líder socialista alemão)

A advertência mais séria que Jesus jamais deixou para a humanidade, encontra-se neste Evangelho de Lucas: “Não podeis servir a Deus e ao ‘Dinheiro’” (Lc 16,13). E, por outro lado, não existe nada tão difícil para nós que nos propomos a ser discípulos e discípulas de Jesus, que evitar esse tipo de tentação! E por que Jesus é tão radical nessa questão da impossibilidade de reconciliar Deus e as riquezas? 

Por um motivo óbvio: porque para ser rico, para acumular riquezas o ser humano passa a ser escravo daquilo que possui, ao invés, de se servir do dinheiro, passa a ser servo/escravo do mesmo! Há um ditado que diz: “Dinheiro não aceita desaforo!” Ou seja, ou se faz o dinheiro render, crescer, aumentar sempre mais, ou ele se vai, desaparece! Se a pessoa é muito generosa com seu dinheiro, ou muito descuidada, desorganizada, logo, o perderá! É da lógica do dinheiro, da riqueza, que tenha de ser acumulado e aumentar, sempre mais! 

Isso faz com que tudo na vida se mova, se organize a partir dessa lógica: buscar mais produtividade, mais consumo, mais bem-estar, mais energia, mais poder sobre os demais. O que acaba por colocar em perigo a vida das pessoas e de todos os seres vivos que habitam a nossa “casa comum”, isto é, o nosso planeta. É, justamente, isso que estamos assistindo neste momento: a emergência climática mundial! De tanto perseguir o “progresso”, o “desenvolvimento”, o consumo, o ser humano está dilapidando, arruinando, destruindo o seu próprio habitat, a sua própria morada! De tanto acumular riquezas, apenas, o um porcento da população mundial possui mais bens que todo o resto dos moradores de nosso planeta! Isso é insensatez, loucura pura! Afinal, lança-se bilhões de seres humanos na fome, na miséria, na falta de condições mínimas de uma vida digna, enquanto, uma ínfima minoria tem mais dinheiro que países inteiros! 

É preciso ficar bem claro isso (José María Castillo):

“Quando o texto do evangelho diz que o senhor elogiou o administrador desonesto, o que a parábola quer dizer é que a ganância por dinheiro desumaniza e rebaixa a tal ponto que aqueles que são hábeis em roubar e enriquecer-se são elogiados, mesmo que isso seja para seu próprio prejuízo. Ou seja, a desumanização produzida pela ganância é tal que não produz apenas indivíduos desumanos, mas também critérios desumanos, relações desumanizadas e uma sociedade desequilibrada.”

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«São Vicente de Paulo, apóstolo e testemunha da Caridade de Cristo: ensina-nos a amar a Deus com obras e com verdade e, acima de tudo, na pessoa dos pobres e necessitados que a sua Providência coloque no caminho da nossa vida. Ensine-nos a não desviar o olhar dos feridos da vida, mas sim para nos dirigirmos a eles, para torná-los nossos vizinhos. Obtenha-nos um coração terno e compassivo com as misérias e sofrimentos dos pobres, especialmente dos mais indefesos e abandonados deste mundo; ensina-nos a ser generosos para servi-los às custas de nossos braços e com o suor de nossas testas. Junte-se a nós em nosso serviço aos homens e intercede junto ao Filho de Deus, que deu sua vida pelo amor a nós, para que em nossa família, nosso trabalho, nosso bairro, nossa paróquia, nossas comunidades, sejamos testemunhas credíveis do seu Evangelho de Amor. Amém »

(Fonte: clique aqui)

 Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – XXV Domenica del Tempo Ordinario – Anno C – 22 settembre 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 13/09/2022).

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