«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

25º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 16,1-13 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano 

O dinheiro só tem sentido, se utilizado a favor dos outros

O dinheiro para Jesus é um instrumento necessário para se sentir bem e fazer as pessoas se sentirem bem, portanto é um instrumento para os outros, mas é um instrumento. Quando deixa de ser um instrumento, torna-se um ídolo que sacrifica pessoas. Lemos essa parábola desconcertante e imprevisível que só o evangelista Lucas tem no capítulo 16, nos primeiros treze versos. Por que é desconcertante? Porque Jesus propõe uma pessoa desonesta como exemplo de comportamento. E isso realmente é um tanto estranho. 

Lucas 16,1:** «Depois, Jesus falou ainda aos discípulos: “Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens.»

É um ensinamento de Jesus para a sua comunidade. Bem, desde que o mundo é mundo, sabe-se disso. Existe o provérbio italiano que diz: “Chi ministra minestra” [ou seja: quem administra fica com parte daquilo que toma conta!]. Sempre muitos dos administradores, dos feitores e corretores fizeram seus próprios interesses em detrimento dos interesses do patrão e em detrimento dos trabalhadores. Bem, este homem percebe isso. 

Lucas 16,2-4: «Ele o chamou e disse: ‘Que ouço dizer a teu respeito? Presta contas da tua administração, pois não podes mais administrar meus bens’. O administrador, então, começou a refletir: ‘Meu senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Para cavar não tenho força; de mendigar, tenho vergonha. Ah! Já sei o que fazer para que me recebam em suas casas, quando eu for afastado da administração’.»

Então o mestre lhe pede as contas. “Deixe-me ver as contas um pouco”. E o administrador o que ele faz? Ele percebe duas impossibilidades: capinar, cavar não consegue (impossibilidade física) e mendigar tem vergonha (impossibilidade moral). Em seguida, encontramos a astúcia que Jesus elogia. Este administrador desonesto certamente será expulso. Então ele decide fazer amizade com os devedores do padrão. 

Lucas 16,5-6: «Então chamou, cada qual separadamente, os que estavam devendo a seu senhor. E perguntou ao primeiro: ‘Quanto deves a meu senhor?’ Ele respondeu: ‘Cem barris de azeite!’ O administrador disse: ‘Pega a tua conta, senta-te, depressa e escreve: cinquenta!’»

É uma quantia enorme, o equivalente a mil denários. Um denário era o salário diário, indicativamente, para aquela época, essa quantia era o fruto de 146 oliveiras. Não está claro - os estudiosos ainda não chegaram a uma opinião unânime - o que o administrador faz. O que ele faz? Ele está renunciando à sua comissão, o que é provável, porque reduz pela metade a dívida, ou é uma simples fraude? Isso não está claro. De qualquer modo, ele diminui, reduz pela metade a dívida. 

Lucas 16,7: «Depois perguntou a outro: ‘E tu, quanto deves?’ Ele respondeu: ‘Cem sacas [medidas] de trigo’. O administrador disse; ‘Pega tua conta e escreve oitenta’.»

E, aqui, está uma quantidade ainda maior. Cem medidas de trigo, naquela época, davam 2.500 denários, lembro que um denário era o salário diário de um trabalhador, mais ou menos 27.500 quilos de trigo! Aqui, o administrador, abaixa um pouco menos a dívida. 

Lucas 16,8: «E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu com sagacidade. De fato, os filhos desse mundo são mais sagazes para com os da sua geração do que os filhos da luz.»

Bem, estranhamente, o resultado é que o patrão elogiou aquele administrador desonesto, porque ele agiu com astúcia. E aqui está a moral de Jesus, ou seja, as pessoas que agem por interesse, por conveniência, inventam de tudo para ganhar cada vez mais. 

Lucas 16,9: «Eu vos digo: usai ‘Dinheiro’ injusto a fim de fazer amigos, para que, quando acabar, vos recebam nas moradas eternas.»

Os rabinos do tempo de Jesus distinguiam entre riqueza honesta e riqueza desonesta. Para Jesus, a riqueza é sempre desonesta. Se você é rico é porque é desonesto. Se você é desonesto, não é generoso, porque se fosse generoso não seria rico. A recomendação de Jesus é: use o dinheiro a favor dos outros para que, quando chegar a hora da necessidade, eles o acolham. 

Lucas 16,10-13: «Quem é fiel nas pequenas coisas, será fiel também nas grandes; e quem é injusto nas pequenas será injusto também nas grandes. Por isso, se não sois confiáveis no uso do ‘Dinheiro injusto’, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois confiáveis no que é dos outros, quem vos dará o que é vosso? Ninguém pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um para amar o outro, ou se apegará a um, desprezando o outro. Não podeis servir a Deus e ao ‘Dinheiro’”.»

E Jesus continua. A questão da desonestidade é enfatizada, tornada importante por Jesus. Jesus insiste, a riqueza é sempre desonesta. Se você que é rico não é desonesto, seu pai foi desonesto, se seu pai não foi desonesto, deve ter sido seu avô ou seu bisavô, mas na base de toda riqueza há sempre a desonestidade, pelo menos é isso que Jesus pensa. E então a frase final: “Você não pode servir a Deus e às riquezas!”

O termo riqueza é o aramaico “mamoná” que significa “conveniência”, então Jesus é claro: ou o próprio interesse e a própria conveniência, riqueza ou Deus. Você não pode juntar os dois.

Bem, o evangelista escreve que, assim que Jesus fez essa declaração, ele ouviu risos atrás dele [Lc 16,14-15]. Quem será? Serão os gananciosos cobradores de impostos? Serão os pecadores? Não, são justamente os piedosos fariseus. Os fariseus, tão piedosos e devotados, não faziam diferença entre o canto de um salmo e um acerto de contas. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“O dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência do homem; a essência domina-o e ele adora-a.”

(Karl Marx: 1818-1883 – foi filósofo, economista, escritor e líder socialista alemão)

A advertência mais séria que Jesus jamais deixou para a humanidade, encontra-se neste Evangelho de Lucas: “Não podeis servir a Deus e ao ‘Dinheiro’” (Lc 16,13). E, por outro lado, não existe nada tão difícil para nós que nos propomos a ser discípulos e discípulas de Jesus, que evitar esse tipo de tentação! E por que Jesus é tão radical nessa questão da impossibilidade de reconciliar Deus e as riquezas? 

Por um motivo óbvio: porque para ser rico, para acumular riquezas o ser humano passa a ser escravo daquilo que possui, ao invés, de se servir do dinheiro, passa a ser servo/escravo do mesmo! Há um ditado que diz: “Dinheiro não aceita desaforo!” Ou seja, ou se faz o dinheiro render, crescer, aumentar sempre mais, ou ele se vai, desaparece! Se a pessoa é muito generosa com seu dinheiro, ou muito descuidada, desorganizada, logo, o perderá! É da lógica do dinheiro, da riqueza, que tenha de ser acumulado e aumentar, sempre mais! 

Isso faz com que tudo na vida se mova, se organize a partir dessa lógica: buscar mais produtividade, mais consumo, mais bem-estar, mais energia, mais poder sobre os demais. O que acaba por colocar em perigo a vida das pessoas e de todos os seres vivos que habitam a nossa “casa comum”, isto é, o nosso planeta. É, justamente, isso que estamos assistindo neste momento: a emergência climática mundial! De tanto perseguir o “progresso”, o “desenvolvimento”, o consumo, o ser humano está dilapidando, arruinando, destruindo o seu próprio habitat, a sua própria morada! De tanto acumular riquezas, apenas, o um porcento da população mundial possui mais bens que todo o resto dos moradores de nosso planeta! Isso é insensatez, loucura pura! Afinal, lança-se bilhões de seres humanos na fome, na miséria, na falta de condições mínimas de uma vida digna, enquanto, uma ínfima minoria tem mais dinheiro que países inteiros! 

É preciso ficar bem claro isso (José María Castillo):

“Quando o texto do evangelho diz que o senhor elogiou o administrador desonesto, o que a parábola quer dizer é que a ganância por dinheiro desumaniza e rebaixa a tal ponto que aqueles que são hábeis em roubar e enriquecer-se são elogiados, mesmo que isso seja para seu próprio prejuízo. Ou seja, a desumanização produzida pela ganância é tal que não produz apenas indivíduos desumanos, mas também critérios desumanos, relações desumanizadas e uma sociedade desequilibrada.”

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«São Vicente de Paulo, apóstolo e testemunha da Caridade de Cristo: ensina-nos a amar a Deus com obras e com verdade e, acima de tudo, na pessoa dos pobres e necessitados que a sua Providência coloque no caminho da nossa vida. Ensine-nos a não desviar o olhar dos feridos da vida, mas sim para nos dirigirmos a eles, para torná-los nossos vizinhos. Obtenha-nos um coração terno e compassivo com as misérias e sofrimentos dos pobres, especialmente dos mais indefesos e abandonados deste mundo; ensina-nos a ser generosos para servi-los às custas de nossos braços e com o suor de nossas testas. Junte-se a nós em nosso serviço aos homens e intercede junto ao Filho de Deus, que deu sua vida pelo amor a nós, para que em nossa família, nosso trabalho, nosso bairro, nossa paróquia, nossas comunidades, sejamos testemunhas credíveis do seu Evangelho de Amor. Amém »

(Fonte: clique aqui)

 Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – XXV Domenica del Tempo Ordinario – Anno C – 22 settembre 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 13/09/2022).

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