«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

“Deus, Pátria, Família!”

 Esse slogan é uma blasfêmia

 Enzo Bianchi

Monge italiano, fundador da Comunidade de Bose, teólogo e biblista – Publicado pelo Jornal «La Repubblica», Roma, 05-09-2022 

ADOLF HITLER, à esquerda, e BENITO MUSSOLINI, no centro - defensores desse funesto slogan

O ídolo é sempre um falso antropológico, fonte de alienação

Estamos em uma hora em que falha o pensar, o refletir e até a linguagem se ressente disso. Não só se empobrece como se torna grosseira, bárbara e recorre a slogans. Por outro lado, todos nós sabemos: quando falta o pensamento, sobem os tons e as palavras ressoam para provocar emoções, e isso vale para todo lugar, até os comícios de rua. Sendo idoso não esqueço as palavras desbotadas nos muros que ficaram da época fascista:

* “Acreditar, Obedecer, Lutar!”,

* “Autoridade, Ordem, Justiça!”,

* “Deus, Pátria, Família!” [Slogan adotado pelo bolsonarismo, aqui no Brasil, também].

JAIR BOLSONARO gosta de utilizar o mesmo slogan fascista, o que não surpreende!

Parece-me significativo que tenham voltado a ressoar hoje: “Deus, Pátria, Família” é um slogan que me perturba. Porque essas três palavras colocadas uma após a outra, feitas bandeira e estandarte entre pessoas que se julgam fortes, para mim ressoam não apenas sinistras, mas até blasfemas. Palavras de um tempo e de uma cultura que eu não gostaria de viver. 

O slogan: palavra DEUS 

Como cristão, estou convencido de que a palavra “Deus” é um termo eminente, mas insuficiente, por trás do qual se escondem emoções que são projeções humanas. A maior parte das imagens que forjamos de Deus são perversas. Como cristão, estou convencido de que só Jesus falou e mostrou quem é Deus.

O Deus de Jesus não gosta de ser proclamado, nem invocado contra alguém, mas gosta de ser pensado como “Deus conosco”.

Não precisa de nós para defendê-lo ou impô-lo à sociedade em que vivemos. É ofendido se for instrumentalizado como elemento identitário, se for arrastado para a arena política. 

O slogan: palavra PÁTRIA 

Quanto à Pátria, felizmente a minha geração não mais serviu à ideologia nacionalista, um ídolo em nome do qual, nas guerras, tantas vidas humanas eram sacrificadas. 

Amamos a nossa terra, mas também aquelas dos outros, convencidos de que “cada terra para o cristão é estrangeira e toda terra estrangeira para o cristão é pátria”, como lemos na Epístola a Diogneto, texto de um cristão do século II, quando os cristãos podiam viver como minorias em diálogo e em paz na maré pagã do Império Romano. Não, para nós hoje não é mais nobre morrer pela pátria

O slogan: palavra FAMÍLIA 

Quanto à “Família”, aquela que podia ser invocada não existe mais, foi estilhaçada com o paternalismo, a submissão das mulheres, a impossibilidade de os jovens tomarem a palavra. Nascemos numa família e somos acolhidos por ela, e isso é uma grande graça. Mas quando temos que construir uma vida buscamos o amor fora da família. Significa que também a família é insuficiente: não devemos torná-la um mito ou um ídolo. 

É preciso ser vigilante contra o familismo que forja uma ideologia não a serviço do amor humano, mas dos controladores da ordem moral.

Ficamos escandalizados se esses slogans são gritados hoje na Rússia pelo poder religioso e por aquele político, mas depois permitimos que sejam propostos como um programa na nossa cansada e velha, mas ainda válida, democracia. O ídolo é sempre um falso antropológico, fonte de alienação. “Deus, Pátria, Família!”: três palavras que se gritadas são uma blasfêmia e deveriam representar para todos o espectro de uma prisão. 

Traduzido do italiano por Luisa Rabolini. 

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos – Notícias – Terça-feira, 6 de setembro de 2022 – Internet: clique aqui (Acesso em: 10/09/2022 – às 10h30).

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