«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Dando a César o que é de Deus!

 Muitos religiosos estão invertendo a lapidar frase de Jesus: «O que é de César, devolvei a César, o que é de Deus, a Deus» (Mc 12,17)

 Telmo José Amaral de Figueiredo

Padre da Igreja Católica, teólogo, biblista e professor

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo
 

O cristianismo jamais deve se identificar, defender e escolher um lado político-partidário na sociedade!

Há duas maneiras, muito conhecidas, de dominar as pessoas e levá-las a fazer aquilo que, talvez, não gostariam: o medo e/ou a crendice (superstição). 

A filósofa alemã, de origem judia, Hannah Arendt (1906-1975), em seu conhecido livro As origens do totalitarismo (1951), aprofunda a relação entre ideologia autoritária e terror. Ela reconhece “o medo que o povo tem pelo governante e o medo do governante pelo povo”; marcas registradas da tirania, segundo a filósofa. O terror deixa de ser um método para a tomada e exercício do poder totalitário, tornando-se algo permanente, pois faz parte da lógica totalitária, mesmo que todos os “inimigos” sejam derrotados, submetidos ou mortos! Afirma Arendt: “Em outras palavras, a lei de matar, pela qual os movimentos totalitários tomam e exercem o poder, permaneceria como lei do movimento mesmo que conseguissem submeter toda a humanidade ao seu domínio”. Junto com o terror é semeada a suspeita, a desconfiança contra um “inimigo de ocasião”. Sempre há necessidade, no totalitarismo, de um “inimigo” contra o qual exercer o terror! Ainda, segundo Arendt, em um sistema totalitário somente há duas classes: a do carrasco e a da vítima! Vejamos: “O processo pode decidir que aqueles que hoje eliminam raças e indivíduos ou membros das classes agonizantes e dos povos decadentes serão amanhã os que devam ser imolados”. Para que as pessoas se ajustem bem ao papel de carrasco ou vítima, há necessidade de um “preparo”, que seria a ideologia

A ideologia possui, segundo Arendt, três características principais:

[a] “pretensão de explicação total”, tendem a “analisar não o que é, mas o que vem a ser”, ou seja, “promete esclarecer todos os acontecimentos históricos”;

[b] “liberta-se de toda experiência da qual não possa aprender nada de novo, mesmo que se trate de algo que acaba de acontecer”, por isso, a ideologia não se fundamenta na realidade que os nossos cinco sentidos podem apreender, mas “insiste numa realidade ‘mais verdadeira’ que se esconde por trás de todas as coisas perceptíveis”; cria-se uma outra forma de perceber o mundo, livre da realidade e da experiência, a pessoa vive em uma realidade paralela;

[c] o “pensamento ideológico arruma os fatos sob a forma de um processo absolutamente lógico, que se inicia a partir de uma premissa aceita axiomaticamente, tudo mais sendo deduzido dela”, segundo Arendt, “uma vez que tenha estabelecido a sua premissa, o seu ponto de partida, a experiência já não interfere com o pensamento ideológico”.

HANNAH ARENDT

Como essa explicação de Arendt, que tinha como contexto o nazismo (na Alemanha de Hitler) e o comunismo (na Rússia de Stálin), mutatis mutandis, permanece válida para os tempos de hoje! Afinal, o que assistimos no Brasil, desde a campanha para a Presidência da República, em 2018, e, agora, nesta campanha de 2022, é o uso e abuso do medo para influenciar as pessoas e demonizar as forças opositoras, as quais são etiquetadas de: esquerdistas, petistas, comunistas, estatizantes, perigosas porque transformarão o Brasil em uma Venezuela e limitarão a liberdade das pessoas etc. 

Ao lado do medo caminha a superstição, as crendices que são produzidas, justamente, pelo medo, que a sustentam e conservam! O filósofo Baruch Spinoza (1632-1677), em seu famoso Tratado teológico-político, nos traz palavras que servem, perfeitamente, para os tempos de hoje:

“Todos eles, designadamente quando correm perigo e não conseguem por si próprios salvar-se, imploram o auxílio divino com promessas e lágrimas de mulher, chamam cega à razão (porque não pode indicar-lhes um caminho certo para as coisas vãs que eles desejam) e vã à sabedoria humana; em contrapartida, os delírios da imaginação, os sonhos e as extravagâncias infantis, parecem-lhes respostas divinas.”

Como observou bem Kurt Kloetzel (1923-2007), engenheiro e médico brasileiro, autor do acessível livrinho O que é superstição (1989): “O supersticioso tem verdadeira avidez pelo milagroso, pelas soluções mágicas, que surgem do nada, sem esforço algum. Basta que tenha notícia de algum fenômeno inesperado que destoe do dia a dia, algum evento fantástico que fuja a uma explicação e lá está ele, todo ouvidos, todo atenção”. A superstição é fruto da busca por segurança, por algo que nos tranquilize diante dos desafios da vida. Porém, ela traz uma sério risco, como nota Kloetzel: “Assim, juntando o apetite pelo milagroso com a necessidade de heróis façanhudos, temos um rico mercado para os manipuladores da superstição, aqueles que sabem direcioná-la em proveito próprio (‘Com Dorfim, toda dor tem um fim’. ‘Vote em Sincrásio, o exterminador dos corruptos’)”. 

Ou seja, tanto o medo quando sua congênere, a superstição, tem em comum a rejeição à razão, à realidade, aos fatos verdadeiros para apoiarem-se em seu “mundo paralelo”. Por isso, nenhum tipo de argumentação é capaz de mudar a mente e a opinião de pessoas que se deixam contaminar por ambos! O fanatismo, a confiança cega são consequências óbvias quando o medo e a superstição falam mais alto. 

KURT KLOETZEL

Mas, retomemos a citação do Evangelho presente no subtítulo deste artigo. Por que se retoma essa frase de Jesus, que já serviu para justificar de tudo: tanto a condenação da ação pública da Igreja, como a ingerência do Estado em assuntos religiosos? Justamente, porque, entre nós, há uma tendência de várias igrejas neopentecostais e algumas evangélicas de retomarem um antigo projeto católico: a cristandade! Sim, há uma verdadeira busca por se organizar a sociedade brasileira à luz dos princípios e ordenamentos da religião, mais especificamente, da Bíblia, da palavra de Cristo. Segundo, obviamente, a ótica e interpretação que os líderes dessas igrejas dão da Palavra de Deus. 

O simples fato de 181 deputados federais e 8 senadores comporem, em 2022, a Frente Parlamentar Evangélica, presente em 80% dos partidos, já fala por si só! Aliás, para as eleições de 2022 (cf.: portal G1), houve um crescimento de 11% na quantidade de candidaturas de líderes religiosos, sendo que, de cada 10 candidatos, 9 são evangélicos! Por que pastores se tornam, cada vez mais, vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores e assim por diante? O que se pretende com toda essa força e influência? O bispo Edir Macedo líder da Igreja Universal do Reino de Deus, em um livro publicado em 2008, em pareceria com Carlos Oliveira, intitulado Plano de Poder – Deus, os cristãos e a política, deixa tudo bem claro: a finalidade é criar uma “nação evangélica”, segundo ele, “governada por Deus”. Essa conquista do poder, ainda segundo Macedo, é um projeto, “elaborado e pretendido pelo próprio Deus”. E, obviamente, o canal para a realização desse “grande sonho Divino” é ele, sim, Edir Macedo. Segundo o jornalista e pesquisador Johnny Bernardo, em artigo intitulado A Igreja Universal e o seu plano de domínio para o Brasil, “Macedo estabeleceu uma série de estratégias, como eliminação das concorrências, investimento maciço em meios de comunicação, influência da sociedade por meio de campanhas de marketing e defesa de temas polêmicos, a exemplo da legalização do aborto, e a busca do poder pela organização política”. 

Essa visão de Macedo, certamente, é compartilhada por outros líderes evangélicos que se lançaram na política partidária brasileira e desfrutam das benesses que a mesma lhes proporciona. Dinheiro, poder, presença maciça nos meios de comunicação (rádios, TVs, mídias sociais) e fama é tudo que une algumas das igrejas evangélicas na busca de transformar o nosso país, se possível, em uma teocracia. Isto é, uma sociedade na qual os preceitos religiosos e a vontade dos pastores sejam a regra de vida de toda a sociedade. Parece algo da Idade Média, mas não é, é um sonho do presente para muitas dessas lideranças! 

Publicado, em janeiro de 2000, por Thomas Nelson Brasil

Acontece que, se analisarmos a longa história da cristandade, onde poder temporal e poder sagrado se identificavam e se personalizavam na figura do Papa, veremos que as coisas não acabaram bem. O Evangelho e a evangelização foram completamente desfigurados por um projeto muito mais de poder do que de fé! Como bem observa o teólogo católico espanhol José María Castillo:

“As relações entre a religião e a política foram, em geral, relações intensas e de conveniência. Sobretudo, em assuntos econômicos. Porque o poder religioso e o poder político necessitaram-se reciprocamente e se favoreceram em tudo que esteve ao seu alcance. Concretamente, o que tantas vezes ocorreu é que o poder político favoreceu o poder religioso, mediante donativos ou mediante isenções fiscais; e, por sua vez, o poder religioso apoiou o poder político ‘legitimando’ as decisões do rei, do imperador, do chefe de Estado etc. Isto é sobejamente conhecido”.

Por isso, propõe-se, aqui, uma análise mais detida da passagem evangélica de Marcos 12,7, que se encontra no subtítulo deste artigo. Esse versículo integra a perícope de Mc 12,13-17 (paralelos: Mt 22,15-22; Lc 20,20-26). O que se apresenta, aqui, é a questão de pagar-se ou não o imposto de César, do imperador romano. Todo súdito do Império Romano, que tivesse completado quatorze anos, no caso que fosse do sexo masculino, e doze anos, se fosse do sexo feminino, deveria pagar imposto ao imperador, até a idade de sessenta e cinco anos, praticamente, a vida inteira! Esse tributo era chamado de tributum capitis ou testatico. Para tal, organizava-se os recenseamentos tão odiados pelo povo, razão de várias revoltas (cf.: Lc 2,1-5; At 5,37). Para os israelitas, o ato de contar a população era um sacrilégio, uma ofensa a Deus, pois era interpretado como uma forma de retirar de Deus a autoridade que tinha sobre o seu povo, entregando-a ao imperador. 

Fato inusitado é comparecerem, diante de Jesus, fariseus e partidários de Herodes Antipas, os herodianos. Enquanto os fariseus tinham uma inclinação mais nacionalista e se colocavam, completamente, contrários à colaboração com o dominador romano, os herodianos eram clientes de Herodes, vassalo romano, totalmente sujeito às ordens romanas, um fantoche sem personalidade. Essa parceria um tanto rara justifica-se porque Jesus irritava a ambos os grupos: era leal e rejeitava toda forma de hipocrisia. Ele não dependia do poder e não bajulava os poderosos! Jesus jamais aliou-se a este ou aquele grupo político da sociedade palestina na época. Pois o Reino que Jesus quer implantar, nesta terra, “não é deste mundo” (João 18,36), ou seja, não é organizado e fundamentado nos valores, nos princípios deste mundo: egoísmo, ganância, competição, riqueza, fama, poder, ódio, vingança etc. 

Para escapar da armadilha que lhe montaram os fariseus e herodianos, Jesus toca o ponto fraco da falsa coerência que essas pessoas pensam ter! A sabedoria de Jesus comprova-se ao pedir-lhes que lhe apresentem uma moeda: “denário”, segundo Marcos (12,15) e Lucas (20,24); “a moeda do tributo”, segundo Mateus 22,19. De fato, o denário era a moeda utilizada para pagar o imposto a César (tributum capitis ou testatico). Detalhe inquietante: o denário (moeda de prata de 3,0 gramas) tinha, de um lado, a representação do imperador de Roma e a inscrição: “Tiberivs Caesar Divi Avgvsti Filivs Avgvstvs” (“Tibério César, filho augusto do divino Augusto”, outra possível tradução: “César Tibério Augusto, filho do Divino Augusto”), alegando que após a morte Augusto se tornou um deus. No outro lado do denário de prata do tempo de Tibério César, havia a inscrição: “Sumo Pontífice” com a imagem de uma mulher sentada, símbolo da paz, talvez Lívia, a mãe de Tibério. Na Palestina judaica circulavam moedas de cobre sem a imagem do imperador deificado, pois isso feria as sensibilidades dos judeus. O próprio Herodes Antipas, governador da Galileia, evitava utilizar imagens em suas moedas, o mesmo ocorria com a moedas locais da Judeia.

Denário em prata, 3 gramas com a imagem de Tibério César Augusto (42 a.C – 37 d.C.), foi imperador romano de 14 a 37 d.C.

Então, quer dizer que os oponentes de Jesus tinham, para pronta apresentação, uma moeda com a imagem de um homem que se fazia passar por filho de um deus, e que, por conseguinte, após sua morte, também se transformaria em um! Ora, ao usar habitualmente o denário de Tibério, essas pessoas estavam dando seu próprio consentimento a uma forma de idolatria! Porém, há mais sutilezas nessa cena, vejamos:

a) Se Jesus solicita que lhe deem a moeda do tributo é porque não a tem, não carrega dinheiro algum consigo! Aliás, ele já havia deixado claro que o “o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20).

b) Se os oponentes de Jesus retiram, debaixo de suas túnicas, o denário é porque o utilizam sem problemas, o recebem pelas suas atividades e com ele adquirem produtos no mercado.

c) Essa contenda ocorre, atenção, no recinto do Templo de Jerusalém (cf. Mc 11,27), portanto, um local considerado sagrado. No entanto, eles não se preocupam em profaná-lo ao mostrar a imagem de um pretenso deus! Possuem escrúpulos em pagar os tributos romanos, mas não em utilizar o dinheiro deles! 

Aqui, eu faço um parêntese a fim de trazer para os nossos dias as lições daquilo que foi dito acima.

Quando a religião se mistura muito ao mundo do poder, da política, ela acaba por contaminar-se com e neste mundo!

Ao invés de purificá-lo, convertê-lo, o que mais comumente acontece é o contrário: o mundo do poder e as suas relações contaminam e corrompem a vida religiosa! É muito mais fácil para o poder manipular a religião, a fé do povo do que ocorrer o inverso. Por isso, Jesus jamais estreitou laços com forças político-partidárias de sua época. Poderia, até haver membros de algumas delas em seu grupo de discípulos, porém, ele não mantinha relações diretas com tais grupos. Há a possibilidade de Simão, o cananeu ou o zelote e Judas Iscariotes, um possível sicário, termo latino para zelote, terem pertencido ao grupo radical dos zelotes que se opunha, em modo violento, à ocupação romana (cf.: Mc 3,18-19; Mt 10,4 e Lc 6,15-16). Mas, repito, não se encontra uma única palavra de Jesus apoiando iniciativas políticas desse e de outro gênero. 

Assim que a moeda, com a qual se pagava o tributo a Tibério César, o denário, foi mostrada a Jesus, ele pergunta: “De quem é esta figura e a inscrição?” E a resposta é rápida e objetiva: “De César” (Mc 12,16). Nem dizem o nome completo Tibério César, apenas “César”. Então, Jesus conclui o diálogo em modo tosco e lapidar: “O que é de César, devolvei a César, e o que é de Deus, a Deus” (Mc. 12,17). Jesus reconhece o dever civil e, inclusive, moral de contribuir para o bem comum de toda a sociedade, tarefa dos impostos cobrados da população. Desse modo, o cristão é chamado a viver como um cidadão exemplar, cumpridor de suas obrigações para com a sociedade. Atenção! Aqui, Jesus não entra no mérito da justiça desse tipo de tributação cobrada por Tibério César, apenas reconhece o direito das autoridades em requererem a colaboração da população para as despesas sociais. Pela história, sabemos que esse imposto de Tibério não era utilizado para melhorar as condições de vida da população judaica, por exemplo, mas para custear os legionários (exército) romanos e todo o aparato imperial de controle dos povos submetidos à Roma. 

A resposta de Jesus não foi evasiva, diplomática ou uma tentativa de se chegar a algum pacto! Ele foi coerente com a sua pregação do Reino de Deus, por isso, Jesus completa a sua resposta: “o que é de Deus, [devolvei] a Deus”. Ele não está igualando Deus a César, como se este tivesse direitos semelhantes a Deus em relação ao povo! Não, Deus está acima de qualquer poder e ser mundano: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o orbe da terra e os que nele habitam” (Salmo 24[23],1). Justamente, por isso, Jesus dá resposta a algo que não lhe perguntaram, pois os seus oponentes estavam se esquecendo do principal: “não deis a nenhum César o que é, somente, de Deus: a vida de seus filhos... os pobres são de Deus, os pequenos são seus prediletos, o reino de Deus lhes pertence. Ninguém há de abusar deles” (José Antonio Pagola). 

É o ser humano que deve ser “devolvido”, restituído a Deus! Os poderes deste mundo desejam ter posse, domínio completo sobre corpos e mentes das pessoas! Quase não há mais espaço de liberdade para as ações e pensamentos das pessoas! Privacidade, individualidade, liberdade soam como palavras sem vida, sem sentido em um mundo que conhece, manipula e controla, sempre mais, as pessoas mediante os dados, as informações que captam em tudo aquilo de eletrônico e mediático que fazemos uso: cartões de crédito, caixas bancários, mídias sociais etc. No fundo, Jesus se reporta, em sua resposta, ao princípio de Gênesis: “Deus disse: ‘Façamos um ser humano, à nossa imagem e segundo nossa semelhança... E Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou” (1,26.27). Se a moeda, com a imagem de Tibério César, deveria lhe ser restituída, pois a ele pertencia; do mesmo modo, o ser humano deve ser restituído a Deus, pois nele está impressa a imagem divina! O ser humano é sagrado e ninguém pode querer dominá-lo, apropriar-se dele! 

E, aqui, o Evangelho nos ajuda a discernir o perigo que corremos nos tempos atuais! Em nome de Deus, muitos líderes religiosos estão entregando seus fiéis, membros de suas igrejas, portanto, seres humanos, ao domínio, ao controle de líderes políticos, pessoas que usam o povo, somente, para conquistar e manter o seu poder e riqueza! Jesus, em seu tempo, rejeitou o culto que se praticava no Templo de Jerusalém, pois era algo vazio, exterior, não mudava, de fato, a vida e a situação de ninguém. O novo culto que ele veio apregoar era aquele “em espírito e verdade” (cf.: João 4,21-24). Segundo José María Castillo: “E esse culto é o culto da liberdade perante os poderes deste mundo, sem compromissos nem jeitinhos, mas com a liberdade de quem diz a cada um o que tem a dizer”. 

E isso é o que não acontece quando a religião, por meio de suas igrejas, se torna serva e aliada, misturada à política partidária!

O cristianismo jamais deve se identificar, defender e escolher um lado político-partidário na sociedade!

Pois, a proposta de Cristo é bem superior, muito mais ampla e profunda do que qualquer tipo de proposta política que os seres humanos possam formular, ou que qualquer líder político queira encarnar! 

Muita atenção com as falsas notícias e informações (fake news), o próprio Jesus foi vítima delas: “Começaram [os anciãos do povo, os sumos sacerdotes e os escribas], então, a acusá-lo, dizendo: ‘Encontramos este homem agitando a nossa nação, proibindo pagar os tributos a César e afirmando ser ele mesmo o Cristo, o Rei’” (Lucas 23,2). Atentos aos falsos pastores que se arrogam em defensores da verdade, do Evangelho, da família e da autêntica religião! Não passam de lobos vorazes, desejosos de se aproveitar do rebanho que a Deus pertence!

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