«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

27º Domingo do Tempo Comum – Ano C – Homilia

 Evangelho: Lucas 17,5-10 

Alberto Maggi *

Frade da Ordem dos Servos de Maria (Servitas) e renomado biblista italiano

 

Fé é a resposta dos seres humanos ao dom de amor que Deus faz a toda a humanidade

Jesus quer conduzir os seus discípulos da religião à fé, de uma relação com Deus baseada na submissão, na obediência às suas leis, uma relação que faz do crente um servo para com o seu Senhor, a uma relação com o Pai baseada na semelhança e na prática de seu amor. Este é um relacionamento que faz do crente um filho de Deus.

Para que isso seja possível, o amor do discípulo deve atingir uma qualidade semelhante à de Deus, e Jesus repetidamente, neste Evangelho de Lucas, convidou seus discípulos a serem como o Pai, ou seja, a serem bons até a alma. E qual é a qualidade do amor de Deus? Aquela que se expressa em um perdão incondicional. 

Lucas 17,5:** «Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!”»

Estamos no capítulo 17 de Lucas, do versículo 3 lemos: “Se teu irmão pecar, repreende-o. Se ele se arrepender, perdoa-lhe”. E Jesus, já antecipando a objeção, diz: “Se pecar contra ti sete vezes num só dia...”, – e os números não indicam uma quantidade, mas uma qualidade – "... e sete vezes vier a ti dizendo: ‘Estou arrependido’, perdoa-lhe” (17,4).

O evangelista usa esta última expressão com um verbo imperativo: perdoa-lhe. Portanto, é imperativo ter que perdoar a quem comete alguma falta. O número, como disse, não indica uma quantidade, mas sim a qualidade. A qualidade do seu perdão, diz Jesus, deve ser como a de Deus.

E é neste ponto que os apóstolos intervêm com uma pergunta, com uma afirmação completamente fora de lugar. Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” Mas a fé não pode ser aumentada, não pode ser dada porque a fé não é dada por Deus, a fé não é um dom que Deus dá a alguns em grande medida, a outros menos, e a outros por nada.

A FÉ é a resposta dos seres humanos ao dom de amor que Deus faz a toda a humanidade.

Lucas 17,6: «O Senhor respondeu: “Se tivésseis fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria.»

Quem responder a Deus tem fé! Então aumentar ou não a fé, não depende de Deus, mas depende da resposta do homem. É por isso que Jesus responde o que está escrito neste versículo. Aqui, a tradução pode ser amoreira ou sicômoro, uma planta que tinha raízes tão profundas que se achava difícil arrancar, era uma planta que, uma vez plantada, durava seiscentos anos.

Então Jesus está dizendo que esses discípulos não têm fé alguma, porque uma pitada dessa fé seria suficiente. Eles ainda não responderam ao dom de amor que Deus lhes deu. É por isso que Jesus propõe uma alternativa. Se não aceitam sua oferta de se tornarem filhos de Deus, de ter uma relação com o Pai baseada na semelhança de seu amor, permanecem na condição de servos de Deus, servos de seu Senhor, baseados na submissão.

Neste Evangelho, na Última Ceia, Jesus afirmará: “Eu, porém, estou no meio de vós como aquele que serve” [Lc 22,27b]. A novidade trazida por Jesus é que Deus não pede para ser servido pelos homens, mas é Deus que se coloca a serviço dos homens. E pouco antes, no capítulo 12, quase como uma imagem da Eucaristia, Jesus havia falado daquele senhor que voltou à noite para sua casa e, encontrando os servos ainda de pé, o que fará? Ele não será servido, mas ele os servirá [cf.: Lc 12,35-38]. 

Lucas 17,7-8: «Qual de vós, tendo um servo ocupado a lavrar ou a guardar o gado, lhe dirá quando chega do campo: ‘Vem depressa para a mesa? Não dirá antes: ‘Prepara-me o jantar, cinge-te para me servir, enquanto eu como e bebo, e depois tu poderás comer e beber?»

Aqui, no entanto, muito pelo contrário. Exatamente o inverso do que Jesus havia dito no capítulo 12. Ali, foi o senhor quem fez seus servos sentarem-se à mesa e passou para servi-los. Aqui, diz exatamente o contrário. Qual é essa contradição? Bem, Jesus propõe uma alternativa. Ou vocês aceitam esta oferta do amor de Deus e o amor de Deus lhes liberta e este amor é expresso através do perdão incondicional, ou então permanecem na condição de servos do seu Senhor. 

Lucas 17,9-10: «Será que o senhor vai agradecer ao servo porque fez o que lhe havia ordenado? Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos ordenaram, dizei: ‘Somos simples servos, só fizemos o que devíamos fazer”.»

Aqui, então, está a conclusão desta passagem que muitas vezes tem sido mal interpretada como se significasse a inutilidade da ação cristã. “Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos ordenaram...”, este verbo ordenar referia-se à observância da lei.

Aqui, Jesus propõe uma alternativa, não impõe, mas oferece. Ou nos tornamos filhos de Deus, portanto totalmente livres para amar e servir, ou permanecemos na condição de servos. Mas quem permanece na condição de servo nunca poderá experimentar a liberdade, a plenitude e a alegria que a comunhão de Deus, que se revela como Pai aos seus, pode manifestar. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Todos os textos bíblicos citados foram extraídos de: BÍBLIA SAGRADA. Tradução oficial da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). 5. ed. Brasília (DF): Edições CNBB, 2021. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

“Pois todo o que foi gerado de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé.”

(1João 5,4)

O tema proposto pelo Evangelho deste domingo é um dos mais fundamentais e centrais do cristianismo: a FÉ. Afinal, crer não é aceitar um conjunto de doutrinas, leis, normas, teorias e coisas assim. Nem mesmo, uma espécie de dom concedido por Deus para que acreditemos nele, em sua existência e presença entre nós!

E, aqui, encontra-se a surpresa: ter fé é saber responder ao dom de amor que Deus oferece, gratuitamente, a todos os seres humanos e que se expressa, de modo mais concreto, no perdão sem condições!

 Portanto, crer em Deus é, antes de tudo, confiar no AMOR que ele tem por nós! 

Agora, os evangelhos não escondem quão pequena e deficiente era a fé dos discípulos e dos apóstolos de Cristo! O próprio Jesus é quem observa que:

a) os discípulos não têm fé, mas medo: Mc 4,40;

b) os discípulos eram “descrentes” (grego: apistoi): Mt 17,17;

c) são “pequenos na fé” ou “fracos na fé” (grego: oligopistoi): Mt 8,26; 14,31; 16,8; 17,20; Lc 12,28).

É admirável que Jesus, no entanto, teça elogios à fé:

a) do centurião romano: Mt 8,10 e paralelos);

b) da mulher cananeia: Mt 15,28;

c) do leproso samaritano: Lc 17,19.

Ou seja, os mais próximos dele não correspondem ao seu amor, antes, parecem estar repletos de ambição pela fama, pelo poder, que costuma preencher o coração de tantas pessoas neste mundo! Só para citar alguns textos, vale a pena conferir: Mc 9,33-37; Mt 20,20-28; Lc 9,46-48 etc. Essa é uma séria advertência a todos os seus seguidores, a todos os seus discípulos! Afinal, eles estão mais à procura da glória e do sucesso pessoais ou do Cristo?! 

Será que, nós também, não andamos distraídos por mil coisas, a ponto de não mais conseguirmos nos comunicar com Deus?! Estamos conectados a tantas redes sociais, a tantos grupos de conversa, a tantas listas de transmissão que não nos damos conta da nossa falta de fé! Afinal:

* somos, realmente, pessoas de fé?

* Quem é Deus para nós?

* Nós amamos, de verdade, a Deus?

* É Deus quem dirige, quem governa a nossa vida?

Sem realizarmos uma experiência íntima e direta de comunicação com Deus, mesmo que pequenina, imperfeita, não podemos dizer que temos FÉ! Talvez, por isso, mesmo, tanto se fala de Deus, usa-se o seu nome, dedica-se-lhe slogans e frases de efeito, porém, na sociedade não se observa, não se sente a presença, cada vez maior, do AMOR, da MISERICÓRDIA, do PERDÃO e da JUSTIÇA, valores maiores de seu Reino!


 Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Guia meu olhar, Senhor! Mesmo que tu experimentes minha fé e me faças andar no escuro, apagando a estrada à minha frente, mesmo que meu passo vacile, faz que meu olhar calmo e iluminado seja uma testemunha viva de que tenho tu em mim e fique em paz. Mesmo que tu experimentes minha confiança deixando o ar rarear e que eu tenha a impressão de que falta a terra sob meus pés, meu olhar lembre a todos que ninguém tem força para me afastar de ti, no seio do qual caminhamos, respiramos, somos... Ainda que tu permitas que o ódio me assedie, preparando-me armadilhas e falsificações e desfigure minhas intenções, o olhar de teu Filho espalhe serenidade e amor através dos meus olhos.»

(Fonte: Dom Hélder Câmara. Orazione finale. 27ª Domenica del Tempo Ordinario. In: CILIA, Anthony O.Carm. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico C. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 590)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci” – Videomelie e trascrizioni – XXVII Domenica del Tempo Ordinario – Anno C – 06 ottobre 2019 – Internet: clique aqui (Acesso em: 28/09/2022).

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