«Quando devemos fazer uma escolha e não a fazemos, isso já é uma escolha.» (William James [1842-1910]: filósofo e psicólogo norte-americano)

Quem sou eu

Jales, SP, Brazil
Sou presbítero da Igreja Católica Apostólica Romana. Fui ordenado padre no dia 22 de fevereiro de 1986, na Matriz de Fernandópolis, SP. Atuei como presbítero em Jales, paróquia Santo Antönio; em Fernandópolis, paróquia Santa Rita de Cássia; Guarani d`Oeste, paróquia Santo Antônio; Brasitânia, paróquia São Bom Jesus; São José do Rio Preto, paróquia Divino Espírito Santo; Cardoso, paróquia São Sebastião e Estrela d`Oeste, paróquia Nossa Senhora da Penha. Sou bacharel em Filosofia pelo Centro de Estudos da Arq. de Ribeirão Preto (SP); bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia N. S. da Assunção; Mestre em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (Itália); curso de extensão universitária em Educação Popular com Paulo Freire; tenho Doutorado em Letras Hebraicas pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, realizo meu Pós-doutorado na PUC de São Paulo. Estudei e sou fluente em língua italiana e francesa, leio com facilidade espanhol e inglês.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

VENEZUELA: o uso político da miséria!

“O que está acontecendo nas fronteiras da Venezuela não é fornecimento de ajuda humanitária, mas o uso político dela”

Astrid Prange
Deutsche Welle
22-02-2019

Revoltante e irresponsável. E de ambos os lados.
O que está acontecendo nas fronteiras da Venezuela não é fornecimento
de ajuda humanitária, mas o uso político dela.
Isso é um crime!
Venezuelanos atravessam a fronteira com a Colômbia e se dirigem
à Cúcuta na tentativa de sobreviver

Vamos deixar uma coisa bem clara: a população da Venezuela precisa de ajuda humanitária. O número de pessoas que luta pela simples sobrevivência aumenta a cada dia, e o fornecimento de alimentos e medicamentos é uma catástrofe no país.

Tanto pior, portanto, que o autointitulado presidente interino Juan Guaidó e seus apoiadores abusem da ajuda humanitária e a usem como instrumento de poder. Aparecer do lado de pacotes de comida para bebê rende boas imagens para a televisão, mas pouca credibilidade política.

Pior ainda é o presidente Nicolás Maduro. O sucessor de Hugo Chávez arruinou economicamente o país, e de forma sistemática. Ele mandou prender os adversários políticos, tirou poder do Parlamento, que é dominado pela oposição, e abandonou a população à própria sorte.
DOIS PRESIDENTES: UM ELEITO FRAUDULENTAMENTE E OUTRO AUTOPROCLAMADO
Nicolás Maduro (à esquerda) e Juan Guaidó (à direita)

Agora, a ajuda humanitária deve servir, para os dois lados, de cobertura para o fracasso político. As sanções contra o regime de Maduro, impostas desde 2015 pelos Estados Unidos, não tiveram o “sucesso” esperado, ou seja, a queda do “Socialismo do Século 21”.

Elas apenas aceleraram o declínio da Venezuela e empurraram Maduro cada vez mais para os braços de Moscou e Pequim. Na semana passada, Maduro falava que não havia fome na Venezuela. Agora, ele anuncia, às vésperas do embate de 23 de fevereiro, que 300 toneladas de ajuda humanitária estão chegando da Rússia.

A Rússia é o principal aliado da Venezuela. Já nos tempos de Chávez, o Kremlin enviava armas para as Forças Armadas venezuelanas. Além disso, Caracas deve 12 bilhões de dólares para Moscou – como garantia para empréstimos, a Venezuela empenhou nada menos que a metade das ações da Citgo, uma rede de postos de gasolina nos Estados Unidos que pertence à estatal petrolífera PDVSA.

A Rússia tem, com isso, dois trunfos contra o presidente Donald Trump:
1) por meio da Citgo, pode influenciar o abastecimento de combustíveis nos Estados Unidos; e,
2) por meio da presença na Venezuela, se estabeleceu como importante ator internacional, ao lado da China e dos Estados Unidos, na América Latina.

O mais novo exemplo é o veto da Rússia no Conselho de Segurança da ONU, na semana passada. À resolução dos Estados Unidos que exigia novas eleições e ajuda humanitária, Moscou contrapôs seu próprio projeto de resolução.

O imbróglio deixa antever um retorno à Guerra Fria. Que ela tenha como palco justamente a América Latina é especialmente trágico. Afinal, a confrontação entre os Estados Unidos e a Rússia foi oficialmente encerrada apenas em 2014, com a normalização das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba.
PROGRAMA ALIMENTAR MUNDIAL (PAM) DAS NAÇÕES UNIDAS:
avião sendo abastecido de víveres e suprimentos variados para vítimas de furacão
Aeroporto de Kuala Lumpur (Malásia)

Como a ajuda poderia ser realizada

Se houvesse um real interesse em enviar ajuda humanitária para a população da Venezuela, agências da ONU, como o Programa Alimentar Mundial, poderiam levar alimentos para o país – se necessário, com um mandato do Conselho de Segurança. Organizações de ajuda humanitária americanas e russas, bem como doadores de todo o mundo, poderiam entregar suas remessas para a ONU em vez de usá-las para elevar a divisão política dentro do país.

E ainda mais importante: o governo da Venezuela poderia, ele mesmo, pedir ajuda à comunidade internacional. Ajuda humanitária também poderia ser transportada a pé, por voluntários, por outros pontos da fronteira além de Cúcuta – sem toda essa cobertura midiática.

O atual uso político da ajuda humanitária é tudo menos humanitário. Ele faz uma população inteira refém e transforma quem presta ajuda humanitária em cúmplice de uma acirrada disputa política de poder. Isso é um crime.

Fonte: Deutsche Welle – Mundo/Opinião – Sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019 – Internet: clique aqui.

Venezuela é uma fria

Eliane Cantanhêde
Jornalista

Impasse: o Brasil não pode lavar as mãos nem vai usar a
força militar, mas qual a alternativa?
ANTÔNIO HAMILTON MOURÃO
Vice-presidente da República do Brasil

Direto e realista, como sempre, o vice-presidente Hamilton Mourão admite que “um dos cenários na Venezuela é de guerra civil, o que pode respingar para todo lado”. Ele ressalva que, mesmo assim, trata-se de uma questão interna do país vizinho e cabe à ONU interferir, não ao Brasil.

Enquanto eles continuarem matando uns aos outros, a gente não pode fazer nada”, disse Mourão, que viaja ainda neste domingo para Bogotá, na Colômbia, para a reunião, amanhã [segunda-feira], em que o Grupo de Lima discutirá a situação de emergência na Venezuela.

Uma das grandes preocupações do governo brasileiro é com o grau de beligerância entre Venezuela e Colômbia. Segundo Mourão, que é general de exército, “80% do dispositivo militar venezuelano é voltado para a fronteira com a Colômbia. Na fronteira com o Brasil, tudo o que Maduro tem é uma brigada de engenharia de selva muito capenga”.

O Grupo de Lima foi criado justamente por causa da dramática crise venezuelana e, dos seus 14 países, só um, o México, se manteve aliado ao inacreditável Nicolás Maduro e se recusou a reconhecer Juan Guaidó como presidente interino. Além de Mourão, a reunião contará também com a presença de presidentes da região e do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence. Os dois vices discursarão.

Maduro pode ser louco, irresponsável e patético, deu um xeque-mate na comunidade internacional e jogou a Venezuela no centro de uma delicada questão geopolítica. Ilhado, rejeitado por meia centena de países, ele contrapôs Estados Unidos, de um lado, e China e Rússia, de outro. E o Brasil, como a Colômbia, foi arregimentado por Washington para agir.
USO POLÍTICO E IDEOLÓGICO DA CRISE E MISÉRIA DO POVO:
Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional Venezuelana,
Iván Duque, presidente da Colômbia e Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos,
posam para foto durante encontro do Grupo de Lima, em Bogotá - 25/02/2019

(Foto: Martin Mejia/AP)

Parece absurdo, mas as potências reagem ao colapso da Venezuela, que mata pessoas e gera o êxodo de milhares de famílias, como questão meramente ideológica. Os Estados Unidos tentam recuperar a velha hegemonia na América Latina, a China e a Rússia usam o pobre país contra a grande potência, ou contra um mundo unipolar.

A ação brasileira, a reboque dos Estados Unidos, combina com o discurso de campanha do presidente Jair Bolsonaro e com os escritos do chanceler Ernesto Araújo, mas deixa setores produtivos, exportadores e até oficiais de alta patente de cabelo em pé. Segundo um deles, que não quis se identificar, “nós entramos numa fria”. E explicou:

 “Não faz muito sentido essa aliança tão incondicional com os Estados Unidos.
Qualquer consequência negativa (da ação na Venezuela) não vai recair sobre eles,
vai recair sobre nós”.

A verdade é que era impossível simplesmente lavar as mãos diante do caos na Venezuela, mas são poucas as alternativas. As pontes diplomáticas implodiram, uma invasão militar é fora de cogitação e não dá para recuar. O impasse é que o Brasil tem de fazer alguma coisa, mas não tem ideia do que fazer.

Um grande complicador, como reconhece o vice Mourão, é a falta de canais com o governo e as instituições venezuelanas. “Estamos sem informações fidedignas, sem ter com quem falar e em quem confiar”, admitiu. Como já dito neste espaço, militares brasileiros olham com desconfiança os venezuelanos, considerados muito vulneráveis à corrupção.

Quanto mais o regime fazia água, mais oficiais iam sendo promovidos e hoje há 1.300 generais, o que seria cômico, não fosse trágico. Essa gente toda está pendurada na PDVSA (a petroleira equivalente à Petrobrás), nos projetos e obras ao longo do Rio Orinoco, em confortáveis embaixadas mundo afora.

Quem sofre é o povo, como sempre na história. A Venezuela virou um bunker de Maduro, enquanto Brasil, Colômbia e Chile, entre outros, quebram a cabeça para intervir sem uso de armas. “Ninguém vai entrar numa canoa furada”, diz Mourão, rechaçando ação militar. Ainda bem, mas só fazer show na fronteira não vai resolver nada. Qual a alternativa?

[Comentário pessoal: A alternativa é a diplomática, sempre! De nada serve encurralar Nicolás Maduro com ameaças, pois quanto mais acuado ele se sentir, mais resistirá! Será necessário oferecer-lhe uma via de saída do poder que não lhe seja, completamente, desfavorável, a bem do povo que sofre e morre! Em seguida, assim que possível, deverão ocorrer eleições para todos os cargos, de presidente até prefeitos, pois o país está passando por uma crise insolúvel de credibilidade! Isso porque, o atual autoproclamado Presidente da Venezuela – Juan Guaidó – não foi eleito para este cargo, na realidade!]

Fonte: O Estado de S. Paulo – Colunista / Política – Domingo, 24 de fevereiro de 2019 – 05h00 (Horário de Brasília – DF) – Internet: clique aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.