O Mal existe
Contemplar para
compreender, entender a si mesmo para fazer o bem
Márcia Junges e Ricardo Machado
Entrevista com Miroslav
Milovic
Filósofo e docente do
Departamento de Direito da Universidade de Brasília (UnB)
O mal não existe tão somente em suas formas escancaradas.
É, também, sutil e ardiloso, tem seu feitio banal e quase
invisível
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MIROSLAV MILOVIC |
O pensamento e a tentativa de
compreensão de nosso espaço no mundo requerem, como sugere Miroslav Milovic, recuperando os gregos antigos, a contemplação. “(...) Como pensa
Sócrates, para agir precisamos saber o
que é o mundo, o logos dele. Precisamos entender o que é a própria natureza
para poder nos entender. Por isso, este olhar teórico, a vida contemplativa tem
a primazia para os gregos”, explica o professor, em entrevista por e-mail à IHU On-Line. “É o caminho para conhecer o Bem. Simvalein
é o verbo grego que ilumina este caminho do essencial. Sair deste caminho, indo
para o particular, significa se aproximar do Mal. Diavalein é o verbo que aparece por aqui. E é a origem da palavra
diabo, da metáfora do Mal”, complementa.
Nesse sentido, Milovic critica a rigidez biopolítica invisível de nossas sociedades,
que acabam, por estratégias sofisticadas, afastando-nos do aprofundamento do
pensamento, da contemplação, que tenta nos tornar mais operadores que
pensadores. “Nesse mundo tão ordenado, quase não temos que pensar mais. O
pensamento não muda a estrutura dominante do ser. Essa inabilidade do
pensamento termina, no último momento, nas catástrofes políticas do nosso
século. Tantos crimes, mas quase sem culpados. O indivíduo que não pensa e se torna cúmplice dos crimes: essa é a
banalidade do mal diagnosticada por Hannah
Arendt como a consequência dessa tradição filosófica que quase mumificou a
estrutura do ser e nos marginalizou”, sustenta o professor.
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HANNAH ARENDT (1906-1975) Filósofa |
Miroslav Milovic nasceu na Iugoslávia, em 1955, graduou-se em
Filosofia pela Faculdade de Filosofia de Belgrado e possui doutorado na mesma
área pela Université de Paris IV e pela Universität Frankfurt. Foi professor de
Filosofia na Iugoslávia, Turquia, Espanha, Japão e, atualmente, é docente do
Departamento de Direito da Universidade de Brasília (UnB). Milovic é autor e organizador
de diversas obras, entre elas Comunidade da Diferença (Rio de
Janeiro: Relume Dumará, 2004), Filosofia da Comunicação (Brasília:
Plano, 2002).
Observação: Entrevista publicada originalmente na edição 538 da
Revista IHU On-Line, de 24 de março de 2014.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Filosoficamente, como se
pode definir o que é o Mal?
Miroslav Milovic: Os gregos investigam o mundo, mas dizem algo que, vai
determinar a nossa cultura. Por um lado, por exemplo, eles colocam as perguntas
sobre a física. Por outro, acham que existe algo além das pesquisas sobre a
física que determina o próprio fundamento dela. Além da física, existe a metafísica. No início, Platão[1] e Aristóteles[2] usam a
expressão “filosofia primeira”. A
metafísica como palavra vai aparecer depois, dentro da sistematização da obra
aristotélica. Mesmo assim, podemos ficar com essa diferença. O mundo tem os fundamentos que a física ou,
poderíamos dizer, a ciência não conhece. O mundo tem a estrutura metafísica.
Isso, de novo, está no início da cultura europeia e chega até hoje. Aqui
aparece o sentido da filosofia, a qual se identifica com a metafísica. Os amigos da sabedoria, como pensa
Platão, que não se deixam seduzir pelo
conhecimento das aparências, estão no caminho da metafísica. Então já temos
uma ligação íntima entre a filosofia, a metafísica e a razão. Ao lado,
poderíamos colocar a palavra ontologia. A
ontologia é a pergunta sobre o ser
que se abre para um olhar metafísico. Teoria poderia ser outra palavra
neste contexto. Vem deste olhar contemplativo. Com a teoria como filosofia,
como metafísica, o ser humano pode se entender. Entender a própria origem
divina, talvez, e entender como agir. Ou, como pensa Sócrates, para agir
precisamos saber o que é o mundo, o logos dele. Precisamos entender o que é a própria natureza para poder nos entender.
Por isso este olhar teórico — a vida
contemplativa tem a primazia para os gregos.
É o caminho para conhecer o Bem. Simvalein é o verbo grego que ilumina este caminho do essencial.
Sair deste caminho, indo para o particular, significa se aproximar do Mal. Diavalein é o verbo que aparece por
aqui. E é a origem da palavra diabo, da metáfora do Mal.
IHU On-Line - Quais são as principais
abordagens filosóficas sobre o problema do Mal?
Miroslav Milovic: São as palavras de Hannah Arendt[3]. Em suas várias discussões sobre política,
Hannah Arendt se refere à discussão fenomenológica, nos ajudando a compreender
a importância histórica dessa radicalização do cartesianismo dentro da
fenomenologia husserliana. Arendt
acredita que a separação platônica entre o ser e a aparência marca um passo
histórico não só para a vida dos gregos, mas para todo o caminho posterior
da civilização. A desvalorização da
aparência e a afirmação do ser são os aspectos da reviravolta na vida dos
gregos e do Ocidente europeu. Com isso, tem início uma específica tirania da razão e dos padrões na nossa
vida. Isso é o que Nietzsche[4] elabora como o começo
do niilismo na Europa. A estrutura já determinada, estática, entre o ser e
a aparência, tem consequências catastróficas para o próprio pensamento. Ele se
torna mera subsunção das aparências às formas superiores do ser. Nesse mundo tão ordenado, quase não temos
que pensar mais. O pensamento não muda a estrutura dominante do ser. Essa inabilidade do pensamento termina, no
último momento, nas catástrofes políticas do nosso século. Tantos crimes,
mas quase sem culpados. O indivíduo que não pensa e se torna cúmplice dos
crimes: essa é a banalidade do mal diagnosticada por Hannah Arendt como a
consequência dessa tradição filosófica que quase mumificou a estrutura do ser e
nos marginalizou.
Mencionei Arendt porque aqui temos
a ideia do Mal que se confronta com as
leituras gregas. Entre os dois, poderíamos mencionar talvez Kant[5], que articula o nascimento da moderna
filosofia da subjetividade. O Mal neste
contexto é o abandono dessa autonomia da subjetividade.
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IMMANUEL KANT (1724-18040) |
IHU On-Line - Quais são as formas que o
Mal assumiu em nosso tempo?
Miroslav Milovic: É conhecida a diferença
aristotélica entre zoé e bios, entre o natural ou privado e público ou político. É a diferença que
Aristóteles concretiza falando sobre a desigualdade dos homens. O escravo não possui de forma alguma a
faculdade de deliberar na política. Assim ele chega à justificação da
escravidão. A Modernidade mudou essa
perspectiva. Nós somos iguais por natureza. Ou seja, zoé e bios não ficam
contrapostos. A experiência moderna é uma específica inclusão da zoé no bios. Aqui podemos pensar em Hobbes[6] também e na
questão da nossa autopreservação. Sobreviver,
preservar a vida natural parece ser o projeto político no início da Modernidade.
A liberdade é o fato natural. Nós somos livres como os seres naturais. Só depois, no contexto do idealismo alemão,
vai ser feita uma específica separação entre natureza e liberdade e uma
específica ligação entre liberdade e política. Nós não somos livres como
seres naturais, mas dentro de uma específica afirmação espiritual sobre a
natureza. Mas isso são as discussões posteriores. O que Agamben[7] quer entender
é essa mudança moderna da relação entre zoé e bios. Se nós somos iguais e livres por natureza, como então podemos entender
essa inclusão da zoé em bios? É o contexto em que Agamben se
confronta com Foucault[8] avisando as
consequências catastróficas dessa ligação moderna entre a natureza e a política.
Para esclarecer essa inclusão moderna da zoé,
Agamben vai voltar a um conceito que Foucault utiliza, mas indica os limites
históricos dele. É o conceito da soberania. Em lugar do poder
soberano da normação, pensa Foucault, a
partir dos séculos XVIII e XIX, temos o poder disciplinar da normalização.
Em lugar do poder judiciário ligado ao poder soberano, temos a perspectiva cuja
função não é de punir as infrações dos indivíduos, mas de corrigir suas
virtualidades. É o novo tipo de poder que Foucault classifica como sociedade disciplinar. É o novo tempo
do panoptismo e do olhar vigilante do
poder controlando os indivíduos, os
corpos e a população. A dúvida que Agamben, neste contexto, tem sobre
Foucault é que assim não ficam claros os perigos do novo poder. O que Agamben
vê nessa perspectiva é o poder que nos
deixa expostos à morte, que nos deixa nos campos de concentração. A
pergunta então é: como isso aconteceu?
Mas ficou clara a mudança. Na
origem da política temos as condições da produção da vida nua. Ou da vida
exposta à morte. A zoé incluída, como
pensa a biopolítica de Foucault, fica agora incluída como excluída pelas
estruturas políticas e jurídicas. Assim, a
biopolítica da modernidade vai em direção a uma tanatopolítica. É o ponto
em que Agamben tenta superar o projeto de Foucault.
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GIORGIO ABAMBEN (nascido em 1942) - filósofo italiano |
IHU On-Line - Como é possível
compreender que Adolf Eichmann[9] justificou a partir da filosofia
kantiana o cumprimento de seus deveres como funcionário do Reich alemão?
Miroslav Milovic: É bom entender que Arendt primeiro
procura a inspiração em Kant. Com a faculdade estética do juízo, o ponto, pensa Kant, é como compreendemos a
natureza e não o que ela é em si mesma. “O que é a natureza?” é uma
pergunta cognitiva e, portanto, não pertence à Terceira Crítica[10]. A
natureza existiria mesmo se não houvesse nenhum sujeito transcendental. Ela
só não seria determinada conceitualmente. Mas sem o sujeito a natureza não
seria bela. Ainda assim, aquilo que se torna o discurso possível sobre o belo
não é mais o pensamento teórico. Enquanto as condições de possibilidade da
experiência, no que diz respeito à forma, podem ser buscadas na razão, as
condições referentes ao conteúdo são fundamentadas pela relação geral das
faculdades espirituais. Aqui temos dois motivos importantes para Arendt. Por um
lado, temos uma implícita
intersubjetividade do juízo e, por outro, essa intersubjetividade não é fundamentada nos conceitos. Temos a
possibilidade do prático ou político que não depende da racionalidade. Temos a separação entre o teórico e o
prático que Habermas[11] depois irá criticar, porque essa separação cria as condições de uma forte estetização da política.
Estetização da política pode significar a
política desligada das pessoas, o que Arendt coloca, falando sobre a
modernidade, mas pode ser a política desligada da teoria e dos argumentos.
Mas essa arquitetônica do sistema
kantiano articula as novas formas, modernas, da primazia do universal.
Eichmann, mesmo sem entender, obviamente, as leituras kantianas sobre a
subjetividade autônoma, segue isso. Na
filosofia kantiana o universal ainda não se constitui pela presença dos Outros.
Eichmann segue este dramático monólogo do pensamento.
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GILLES DELEUZE (1925-1995) - filósofo francês |
IHU On-Line - Qual é a atualidade da
constatação arendtiana da banalidade do mal, de que Eichmann, ao invés de um
monstro, era, na verdade, um burocrata medíocre que não tinha capacidade para
entender o mal que praticava?
Miroslav Milovic: Como observa Deleuze[12], Platão
não só quer afirmar a primazia do universal representado na filosofia, mas quer
expulsar do estado ideal tudo o que não o representa. O sentido do
particular não reside na sua diferença, mas na representação do universal. O
pensamento também representa e a filosofia é a melhor representação. Hannah
Arendt procurará neste contexto o início do mal, ou da banalidade do mal, que
determina a Europa moderna. Pensar se
relaciona com o universal. Assim o particular desaparece. Eichmann só
seguiu essa tirania do dever, que as futuras ontologias têm que enfrentar.
Agamben fala sobre isso no final do seu livro Opus Dei (São Paulo: Boitempo, 2013). A burocracia nos fecha no mundo dado. E a nossa tarefa, hoje, é
reinventar o mundo.
IHU On-Line - Em que sentido há uma
relação entre o mal e a hiper-racionalidade que caracteriza a sociedade
contemporânea?
Miroslav Milovic: Vou responder pensando a crítica
que Hegel[13]
articula contra o jusnaturalismo. O
estado da natureza em que se afirma o novo sentido teórico da Modernidade não é
o estado de liberdade e dos direitos. Não existem os direitos naturais,
pensa Hegel. A questão do direito é um
contexto social. O sentido do direito é uma relação com os outros. Hegel
acha que isso é assim pelo conceito. Então temos
que entender duas perspectivas:
* uma histórica,
que Hegel entende como o caminho da
saída de natureza e da afirmação da liberdade, e o outro,
* o caminho do pensamento,
do conceito, de uma articulação conceitual do pensamento.
O caminho da liberdade e o caminho
do pensamento: duas perspectivas hegelianas inseparáveis. Ele volta para uma
palavra quase abandonada na filosofia: a palavra ontologia. Por outro lado, Hegel
quer analisar a lógica do pensamento com a qual se chega até o conceito.
Desde o início a filosofia hegeliana é uma relação íntima entre a ontologia e a
lógica. Só que sua ontologia não será grega. Hegel, mesmo tendo muita simpatia pelo pensamento grego, não concorda
com uma pressuposta primazia do geral e do coletivo, que no sentido explícito
encontramos em Platão e Aristóteles. Mesmo querendo afirmar o coletivo, de
novo Hegel quer fazer isso justificando-o e não postulando-o. A primazia do coletivo tem que ser a
consequência do próprio conceito. Por outro lado, Hegel se confronta com a ilimitada afirmação do indivíduo da época moderna, ligada ao avanço do liberalismo.
Ele pensa sobre uma outra síntese entre o coletivo e o individual, mas não no
sentido de um novo ecumenismo. Essa relação tem que ser entendida como a
consequência do próprio conceito. Então, a ontologia que volta não é grega. Ela
é história do próprio conceito e não de uma estrutura estática da metafísica,
já determinada. O raciocínio de Hegel é fácil. O mundo pré-moderno é uma articulação da metafísica objetiva, onde
temos de nos encaixar. É o contexto que ele, por causa disso, várias vezes
chama de consciência infeliz e da humilhação do homem, da essência do homem que
fica sempre fora dele. O povo judeu é talvez melhor exemplo para isso do que o
povo grego. São os gregos, finalmente, que encontram o brilho do coletivo. Mesmo
assim, Hegel liga a liberdade só com a
Modernidade. Talvez o início que está no jusnaturalismo seja a teoria dos
direitos humanos. Mas este mundo — que Hobbes é testemunha — é o mundo da
violência, e temos que sair dele, como o próprio Hegel confirma no parágrafo
mencionado. Aqui já temos um argumento a mais, ligado à mencionada relação
entre a lógica e a ontologia. Temos que sair do Estado de Natureza, não só por
causa da violência que lá se encontra, mas porque no direito natural e na
natureza, conforme pensa Hegel, temos só a relação com as coisas e não com nós
mesmos. Direitos naturais não criam o ambiente para uma específica
autocompreensão do ser humano, que Hegel procura. Quem somos nós? E ainda mais, quem somos nós depois da Revolução
Francesa?[14] O direito natural não é a nossa autoconsciência. A nossa autoconsciência fica ligada não à
natureza, mas ao caminho histórico — que chega até a Revolução Francesa. A natureza não é o lugar do ser humano.
Por isso, como mencionamos, fica até contraditório falar sobre os direitos
naturais.
Hegel critica a racionalidade moderna, ou a nossa
hiper-racionalidade voltando para os pressupostos dela. O sentido do pensamento hoje é devolver aos seres humanos este aspecto
ontológico que se perdeu. A discussão sobre os direitos humanos pode se
iniciar só por aqui. A dignidade
do ser humano está na ontologia dele.
Mas, por outro lado, é fácil
indicar as dúvidas sobre Hegel. Rápido. O
ser humano não existe só em si, mas sim consciente da sua liberdade. A vida
ética, o reconhecimento e, assim, a intersubjetividade é um acontecimento
político. Hegel acredita que isso se realiza na Revolução Francesa. São
conhecidas as dúvidas de Marx[15] sobre essa emancipação política. Habermas também está fundamentando toda a
sua teoria nessa impossibilidade da realização da intersubjetividade na
Modernidade. É um perigo político, como vamos ver ainda, pensar a
Modernidade como a realização da democracia e da intersubjetividade. Para Habermas ainda é uma possibilidade,
para muitos uma impossibilidade de ver a democracia na Modernidade.
Ao lado da questão da
intersubjetividade podemos mencionar também a questão da diferença. Não podemos
deixar o Estado e o conceito depender das contingências e das decisões
individuais. A ideia do Estado é muito mais digna, acha Hegel. A natureza dele
é diferente, é a realização da vontade espiritual. Assim, acho, outro nem pode
aparecer como outro, mas dentro deste caminho glorioso do espírito. Parece-me
que Hegel neste ponto não supera a filosofia kantiana. Em Kant não podemos pensar o encontro com o outro. Outro está
dentro de um procedimento reflexivo da filosofia. Outro em Hegel também aparece só no caminho reflexivo do espírito. Essa dificuldade do encontro com outro
chega talvez até o próprio Habermas. Ademais, como Hegel, Habermas também não procura uma
intersubjetividade econômica, mas uma intersubjetividade política. Ele acha que
Hegel ficou só com a filosofia da subjetividade, que agora se chama espírito, e
que por causa disso o projeto da intersubjetividade
ainda fica aberto. Mas, com todas as dificuldades da Modernidade que vamos
discutir, outra pergunta aparece também, agora contra Habermas: qual é o sentido de procurar a
intersubjetividade onde ela não pode acontecer? Modernidade não é o mundo
da intersubjetividade como acha Hegel e como ainda acredita Habermas.
A teleologia do espírito no final
das contas apaga com as diferenças. Neste sentido Hegel vai proclamar o fim da história e a impossibilidade das
diferenças sociais. O exemplo das mulheres é ilustrativo. Na Filosofia do Direito, Hegel vai
confirmar que elas não superam a natureza e o privado. Elas não chegam até o
público e até a perspectiva geral do conceito.
Assim, podemos
concluir que a modernidade não chega nem até a ideia
da intersubjetividade
nem até a ideia da diferença.
Isso é ainda hoje a diagnose do nosso mundo.
IHU On-Line - A despolitização da
modernidade é um sintoma de que tipo de fenômeno mais profundo de nosso tempo?
Miroslav Milovic: A Modernidade, seguindo o raciocínio hegeliano, realiza a nossa liberdade. O indivíduo é reconhecido como tal, como
geral, no âmbito social. Somos livres não só na nossa interioridade, mais no
mundo também. E ainda mais. Todos somos
livres. Por isso a Modernidade representa o fim da história. A razão se
realizou e só temos que entender e segui-la. A nossa vida é a repetição do passado. Pouco depois, Marx vê no fundo da Modernidade não a
realização da liberdade, mas o conflito profundo entre o capital e o trabalho.
É o conflito que a própria Modernidade não pode resolver. Por isso Marx fala sobre a revolução, sobre a mudança ontológica na
produção do social. Carl Schmitt[16] entendeu este recado marxista sobre o profundo
conflito na Modernidade. Só ele acha que Marx, de uma certa maneira, ainda
ficou neste horizonte liberal enfatizando as questões da economia. E as
questões não só econômicas, são ainda as políticas. Só Schmitt vê um específico esquecimento da política na Modernidade.
Assim, onde Hegel vê o projeto da realização política da liberdade, Schmitt vê as condições da profunda
despolitização moderna. É o início de uma outra leitura, agora política,
sobre a Modernidade.
O sistema apaga com as subjetividades. A perspectiva da
reinvenção da política é a perspectiva dessa articulação das novas
subjetividades. É talvez a possibilidade
do povo. Ele é, para Schmitt, a
subjetividade política que o sistema esqueceu. Ele é a subjetividade da
constituição, fala Schmitt várias vezes. Ele
é a possibilidade da democracia direta e assim a possibilidade da própria
democracia. Todo o trabalho de Schmitt tentando repensar a origem da
política é o trabalho que confronta o liberalismo e a democracia. O liberalismo
não é a democracia, não porque não pode superar o próprio conflito entre o
trabalho e capital, como diria Marx, mas porque se separa das próprias
condições da legitimação. A legitimação desaparece no liberalismo, ou se
reduz aos critérios técnicos do próprio sistema. Marx e Schmitt estão no início
dessa leitura sobre a modernidade despolitizada.
IHU On-Line - O campo como paradigma
político moderno é uma das ideias mais inquietantes de Giorgio Agamben. Em que
medida essa concepção expressa a essência da máquina de extermínio que moveu a
política nazista e as outras políticas persecutórias do século XX para cá?
Miroslav Milovic: A despolitização fica visível nos
campos de concentração, como pensa Agamben, por exemplo. Pensamos que somos da cidade, mas no último momento o campo é o nosso
espaço político. Os homens do campo são os novos exemplos do homo sacer. Agamben fala aqui dos
muçulmanos. Abaladas de fome, ajoelhadas
na terra, as pessoas do campo parecem os muçulmanos rezando. Parecem
mortos-vivos. É a vida exposta à morte. Aqui fica mais claro o sentido da
palavra biopolítica. É uma política sem a política. É uma
consequência da despolitização moderna e da perda da liberdade. Estamos longe do otimismo hegeliano falando
sobre a realização política da nossa liberdade. Auschwitz[17], Gulag[18],
Guantánamo[19]... Ou os povos do
Terceiro Mundo? Também incluídos como excluídos.
Estamos, parece, longe da superação
da natureza onde aparece o espiritual. A
diferença entre a natureza e a liberdade, entre o animal e o humano, tão
importante para nossa cultura, existe ainda? E, ademais, fica impossível testemunhar
sobre isso. A verdade está dentro do
campo, e não fora. E quem está dentro morre e não pode testemunhar. O fato
de poder falar, ou o a priori da
comunicação não significa nada nessa situação. A possibilidade da comunicação ainda não significa que podemos falar.
Um argumento que Agamben articula contra os pensadores de certo a priori da comunicação é o que podemos
encontrar em Apel[20] e Habermas. Quem
fala é quem sobreviveu. Mas quem sabe o que aconteceu, o Muçulmano, não
pode falar. Quem é a verdadeira e única testemunha não pode testemunhar. Estamos neste silêncio sobre o Mal.
IHU On-Line - O aprisionamento e
deportação dos judeus só pôde acontecer porque, antes de mais nada, essas
pessoas eram tornadas apátridas. Como essa prerrogativa continua a endossar a
política que é aplicada aos refugiados hoje?
Miroslav Milovic: Seguindo Hegel estamos chegando até
a Revolução Francesa e a decisão política do reconhecimento. Aqui, de novo,
Hegel se confronta com Kant. Sabemos que Kant chega até a reciprocidade das
vontades, falando sobre o direito e as condições externas da nossa liberdade.
Só Hegel acha que Kant não mostra de uma maneira argumentativa como se chega
até essa reciprocidade. A solução de Hegel
é pelo reconhecimento mútuo dos
indivíduos com o qual o indivíduo se afirma como a finalidade em si. Ele
chega, assim, até a ideia de que o reconhecimento é o direito de ter direitos.
Hannah Arendt vai voltar a este projeto.
Onde esconder-se neste mundo perigoso, onde encontrar os lugares seguros?
Seguramente não na casa de um
utilitarista cujo cálculo nos pode extraditar aos criminosos. Seguramente não na casa de um kantiano que sempre
tem que dizer a verdade. Teria muitas dúvidas
sobre a casa de um habermasiano,
porque tudo pode acontecer com a nossa vida até encontrarmos uma solução
discursiva. Teria também muitas dúvidas na casa
de um pós-moderno orientado pela perfeição estética da sua própria vida.
O único
lugar seguro parece a casa aberta para Outrem.
Essa casa que nos oferece a hospitalidade sem a reciprocidade.
A hospitalidade
poderia ser a palavra para ética hoje.
Notas:
[1] Platão (427-347 a.C.):
filósofo ateniense. Criador de sistemas filosóficos influentes até hoje, como a
Teoria das Ideias e a Dialética. Discípulo de Sócrates, Platão foi mestre de
Aristóteles. Entre suas obras, destacam-se A
República (São Paulo: Editora Edipro, 2012) e Fédon (São Paulo: Martin Claret, 2002). Sobre Platão, confira a
entrevista: As implicações éticas da
cosmologia de Platão, concedida pelo filósofo Marcelo Perine à edição 194
da revista IHU On-Line, de 04-09-2006. Leia, também, a edição 294 da Revista
IHU On-Line, de 25-05-2009, intitulada Platão. A totalidade em movimento.
[2] Aristóteles de
Estagira (384-322 a.C.): filósofo nascido na Calcídica, Estagira. É um dos
maiores pensadores de todos os tempos. Suas reflexões filosóficas — por um lado
originais e por outro reformuladoras da tradição grega — acabaram por
configurar um modo de pensar que se estenderia por séculos. Prestou
inigualáveis contribuições para o pensamento humano, destacando-se nos campos
da ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica,
zoologia, biologia, história natural e outras áreas de conhecimento. É
considerado, por muitos, o filósofo que
mais influenciou o pensamento ocidental.
[3] Hannah Arendt
(1906-1975): filósofa e socióloga alemã, de origem judaica. Foi influenciada
por Husserl, Heidegger e Karl Jaspers. Em consequência das perseguições
nazistas, em 1941, partiu para os EUA, onde escreveu grande parte das suas
obras. Lecionou nas principais universidades deste país. Sua filosofia assenta
numa crítica à sociedade de massas e à
sua tendência para atomizar os indivíduos. Preconiza um regresso a uma
concepção política separada da esfera econômica, tendo como modelo de
inspiração a antiga cidade grega. Entre suas obras, citamos: Eichmann em Jerusalém - Uma reportagem sobre
a banalidade do mal (São Paulo: Companhia das Letras, 1999) e Origens do totalitarismo (São Paulo: Companhia
das Letras, 1989). Sobre Arendt, confira as edições 168 da IHU On-Line, de
12-12- 2005, sob o título Hannah Arendt,
Simone Weil e Edith Stein. Três
mulheres que marcaram o século XX e a edição 206, de 27-11-2006, intitulada
O mundo moderno é o mundo sem política.
Hannah Arendt 1906-1975. Veja também, na edição 207 de 04-12-2006, a entrevista
Um pensamento e uma presença provocativos,
de Michelle-Irène Brudny.
[4] Friedrich Nietzsche
(1844-1900): filósofo alemão, conhecido por seus conceitos além-do-homem,
transvaloração dos valores, niilismo, vontade de poder e eterno retorno. A
Nietzsche foi dedicado o tema de capa da edição número 127 da IHU On-Line, de
13-12-2004, intitulado Nietzsche:
filósofo do martelo e do crepúsculo. A edição 15 dos Cadernos IHU em
formação é intitulada O pensamento de
Friedrich Nietzsche. Confira, também, a entrevista concedida por Ernildo
Stein à edição 328 da revista IHU On-Line, de 10-5-2010, intitulada O biologismo radical de Nietzsche não pode
ser minimizado, na qual discute ideias de sua conferência A crítica de Heidegger ao biologismo de
Nietzsche e a questão da biopolítica, parte integrante do Ciclo de Estudos
Filosofias da diferença - Pré-evento do XI Simpósio Internacional IHU: O
(des)governo biopolítico da vida humana. Na edição 330 da revista IHU On-Line,
de 24-5-2010, leia a entrevista Nietzsche,
o pensamento trágico e a afirmação da totalidade da existência, concedida
pelo professor Oswaldo Giacoia. Na edição 388, de 9-4-2012, leia a entrevista O amor fati como resposta à tirania do
sentido, com Danilo Bilate. Na edição 513, de 16-10-2017, leia a entrevista
Uma política de vida ao invés de uma
política sobre a vida. A biopolítica afirmativa de Nietzsche. A edição 529
da IHU On-Line teve como tema de capa Nietzsche.
Da moral de rebanho à reconstrução genealógica do pensar.
[5] Immanuel Kant
(1724-1804): filósofo prussiano, considerado como o último grande filósofo dos
princípios da era moderna, representante do Iluminismo. Kant teve um grande
impacto no romantismo alemão e nas filosofias idealistas do século XIX, as
quais se tornaram um ponto de partida para Hegel. Kant estabeleceu uma distinção entre os fenômenos e a coisa-em-si
(que chamou noumenon), isto é, entre o que nos aparece e o que existiria em si
mesmo. A coisa-em-si não poderia, segundo Kant, ser objeto de conhecimento
científico, como até então pretendera a metafísica clássica. A ciência se restringiria, assim, ao mundo
dos fenômenos, e seria constituída pelas formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e pelas categorias do
entendimento. A IHU On-Line número 93, de 22-03-2004, dedicou sua matéria de
capa à vida e à obra do pensador com o título Kant: razão, liberdade e ética. Também sobre Kant foi publicado o
Cadernos IHU em formação número 2, intitulado
Emmanuel Kant - Razão, liberdade, lógica e ética. Confira, ainda, a edição
417 da revista IHU On-Line, de 06-05-2013, intitulada A autonomia do sujeito, hoje. Imperativos e desafios.
[6] Thomas Hobbes
(1588–1679): filósofo inglês. Sua obra mais famosa, O Leviatã (1651), trata de teoria política. Neste livro, Hobbes
nega que o homem seja um ser naturalmente social. Afirma, ao contrário, que os homens são impulsionados apenas por
considerações egoístas. Também escreveu sobre física e psicologia. Hobbes
estudou na Universidade de Oxford e foi secretário de Sir Francis Bacon. A
respeito desse filósofo, confira a entrevista O conflito é o motor da vida política, concedida pela Profa. Dra.
Maria Isabel Limongi à edição 276 da revista IHU On-Line, de 06-10-2008.
[7] Giorgio Agamben
(1942): filósofo italiano. É professor da Facoltà di Design ed Arti della IUAV
(Veneza), onde ensina Estética, e do College
International de Philosophie de Paris. Formado em Direito, foi professor da
Università di Macerata, Università di Verona e da New York University, cargo ao
qual renunciou em protesto à política do governo estadunidense. Sua produção centra-se nas relações entre
filosofia, literatura, poesia e, fundamentalmente, política. Entre suas
principais obras estão Homo Sacer: o
poder soberano e a vida nua (Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002), A linguagem e a morte (Belo Horizonte:
Ed. UFMG, 2005), Infância e história:
destruição da experiência e origem da história (Belo Horizonte: Ed. UFMG,
2006); Estado de exceção (São Paulo:
Boitempo Editorial, 2007), Estâncias – A
palavra e o fantasma na cultura ocidental (Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2007)
e Profanações (São Paulo: Boitempo
Editorial, 2007). Em 4-9-2007, o sítio do Instituto Humanitas Unisinos - IHU
publicou a entrevista Estado de exceção e
biopolítica segundo Giorgio Agamben, com o filósofo Jasson da Silva
Martins. A edição 236 da IHU On-Line, de 17-9-2007, publicou a entrevista Agamben e Heidegger: o âmbito originário de
uma nova experiência, ética, política e direito, com o filósofo Fabrício
Carlos Zanin. A edição 81 da publicação, de 27-10-2003, teve como tema de capa O Estado de exceção e a vida nua: a lei
política moderna. Em 30-6-2016, o professor Castor Bartolomé Ruiz proferiu
a conferência Foucault e Agamben.
Implicações Ético Políticas do Cristianismo. De 16-3-2016 a 22-6-2016, Ruiz
ministrou a disciplina de Pós-Graduação em Filosofia e também validada como
curso de extensão através do IHU intitulada Implicações
ético-políticas do cristianismo na filosofia de M. Foucault e G. Agamben.
Governamentalidade, economia política, messianismo e democracia de massas, que
resultou na publicação da edição 241 dos Cadernos IHU ideias, intitulado O poder pastoral, as artes de governo e o
estado moderno. Em 23 e 24-5-2017, o IHU realizou o VI Colóquio
Internacional IHU – Política, Economia,
Teologia. Contribuições da obra de Giorgio Agamben, com base sobretudo na
obra O reino e a glória. Uma genealogia
teológica da economia e do governo (São Paulo: Boitempo, 2011. Tradução de:
Il regno e la gloria. Per una
genealogia teológica dell’ecconomia e del governo. Publicado originalmente por
Neri Pozza, 2007). Saiba mais http://www.unisinos.br/eventos/vi-coloquio-internacional-ihu-politica-economia-teologia-contribuic-ex122766-00001. Em
2017 a revista IHU On-Line publicou a edição Giorgio Agamben e a impossibilidade de salvação da modernidade e da
política moderna, nº 505.
[8] Michel Foucault
(1926-1984): filósofo francês. Suas obras, desde a História da Loucura até a História
da sexualidade (a qual não pôde completar devido a sua morte), situam-se
dentro de uma filosofia do conhecimento.
Foucault trata principalmente do tema do
poder, rompendo com as concepções clássicas do termo. Em várias edições, a
IHU On-Line dedicou matéria de capa a Foucault: edição 119, de 18-10-2004;
edição 203, de 6-11-2006; edição 364, de 6-6-2011, intitulada “História da loucura” e o discurso racional
em debate; edição 343, O (des)governo
biopolítico da vida humana, de 13-9-2010, e edição 344, Biopolítica, estado de exceção e vida nua.
Um debate. Confira ainda a edição nº 13 dos Cadernos IHU em formação, Michel Foucault – Sua Contribuição para a
Educação, a Política e a Ética.
[9] Adolf Otto Eichmann
(1906-1962): oficial do alto escalão na Alemanha Nazista e membro da SS
(Schutzstaffel). Foi largamente
responsável pela logística do extermínio de milhões de pessoas durante o
Holocausto, em particular pelos judeus, na chamada Solução Final. Organizou
a identificação e o transporte de pessoas para os diferentes campos de
concentração, sendo por isso conhecido frequentemente como o executor chefe do
Terceiro Reich.
[10] Terceira Crítica ou Terceira fórmula de Kant: Refere-se a crítica
da faculdade do juízo (Crítica da
faculdade do juízo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1993).
[11] Jürgen Habermas
(1929): filósofo alemão, principal estudioso da segunda geração da Escola de
Frankfurt. Herdando as discussões da Escola de Frankfurt, Habermas aponta a ação comunicativa como superação
da razão iluminista transformada num novo mito, o qual encobre a dominação
burguesa (razão instrumental). Para ele, o
logos deve construir-se pela troca de ideias, opiniões e informações entre os
sujeitos históricos, estabelecendo-se o diálogo. Seus estudos se voltam
para o conhecimento e a ética.
[12] Gilles Deleuze (1925-1995):
filósofo francês. Assim como Foucault, foi um dos estudiosos de Kant, mas tem
em Bergson, Nietzsche e Espinosa poderosas interseções. Professor da
Universidade de Paris VIII, Vincennes, Deleuze
atualizou ideias como as de devir, acontecimentos, singularidades, conceitos
que nos impelem a transformar a nós mesmos, incitando-nos a produzir
espaços de criação e de produção de acontecimentos-outros.
[13] Georg Wilhelm Friedrich Hegel
(1770-1831): filósofo alemão idealista. Como Aristóteles e Santo Tomás de
Aquino, desenvolveu um sistema filosófico no qual estivessem integradas todas
as contribuições de seus principais predecessores. Sobre Hegel, confira a
edição 217 da IHU On-Line, de 30-4-2007, intitulada Fenomenologia do espírito, de Georg Wilhelm Friedrich Hegel 1807-2007,
em comemoração aos 200 anos de lançamento dessa obra. Veja ainda a edição 261,
de 9-6-2008, Carlos Roberto Velho Cirne-Lima. Um novo modo de ler Hegel; Hegel.
A tradução da história pela razão, edição 430, disponível em Hegel. Lógica e Metafísica, edição 482.
(Nota da IHU On-Line)
[14] Revolução Francesa: nome
dado ao conjunto de acontecimentos que, entre 5 de maio de 1789 e 9 de novembro
de 1799, alterou o quadro político e
social da França. Começa com a convocação dos Estados Gerais e a Queda da
Bastilha e se encerra com o golpe de estado do 18 Brumário, de Napoleão
Bonaparte. Em causa estavam o Antigo
Regime (Ancien Régime) e a
autoridade do clero e da nobreza. Foi influenciada pelos ideais do Iluminismo e
da independência estadunidense (1776). Está entre as maiores revoluções da
história da humanidade. A Revolução
Francesa é considerada como o acontecimento que deu início à Idade
Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os
princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté, Egalité, Fraternité),
lema de autoria de Jean-Jacques Rousseau.
[15] Karl Marx
(1818-1883): filósofo, cientista social, economista, historiador e
revolucionário alemão, um dos pensadores que exerceram maior influência sobre o
pensamento social e sobre os destinos da humanidade no século 20. A edição 41
dos Cadernos IHU ideias, de autoria de Leda Maria Paulani, tem como título A (anti)filosofia de Karl Marx. Também
sobre o autor, a edição número 278 da revista IHU On-Line, de 20-10-2008, é
intitulada A financeirização do mundo e
sua crise. Uma leitura a partir de
Marx. A entrevista Marx: os homens
não são o que pensam e desejam, mas o que fazem, concedida por Pedro de
Alcântara Figueira, foi publicada na edição 327 da IHU On-Line, de 3-5-2010. A
IHU On-Line preparou uma edição especial sobre desigualdade inspirada no livro
de Thomas Piketty O Capital no Século XXI,
que retoma o argumento central de O
Capital, obra de Marx. A revista IHU On-Line, edição 525, intitulada Karl Marx, 200 anos - Entre o ambiente
fabril e o mundo neural de redes e conexões, em celebração aos 200 anos do
nascimento do pensador.
[16] Carl Schmitt
(1888-1985): jurista, filósofo político e professor universitário alemão. É
considerado um dos mais significativos (e também um dos mais controversos)
especialistas em direito constitucional e internacional da Alemanha do século
XX. A sua carreira foi maculada pela sua proximidade com o regime
nacional-socialista. Entre outros, é autor de Teologia política (Politische Theologie, tradução de Elisete
Antoniuk, Belo Horizonte: Ed. Del Rey, 2006) e “O Leviatã na Teoria do Estado
de Thomas Hobbes”. Trad. Cristiana Filizola e João C. Galvão Junior. In GALVÃO
JR. J.C. “Leviathan cibernetico” Rio de Janeiro: NPL, 2008.
[17] Auschwitz-Birkenau: nome
de um grupo de campos de concentração
localizados no sul da Polônia,
símbolos do Holocausto perpetrado pelo nazismo. A partir de 1940 o governo
alemão comandado por Hitler construiu vários campos de concentração e um campo
de extermínio nesta área, então na Polônia ocupada. Houve três campos principais e 39 campos auxiliares. Como todos os
outros campos de concentração, os campos de Auschwitz eram dirigidos pela SS
comandada por Heinrich Himmler.
[18] Gulag (em português, Administração Geral dos Campos de Trabalho
Correcional e Colônias): era um sistema de campos de trabalhos forçados
para criminosos, presos políticos e qualquer cidadão em geral que se opusesse
ao regime da União Soviética. Todavia, a grande maioria era de presos
políticos. No campo Gulag de Kengir, em junho de 1954, existiam 650 presos
comuns e 5200 presos políticos. Antes da
Revolução, o Gulag chamava-se Katorga, e aplicava exatamente a mesma coisa:
pena privativa de liberdade, pena de trabalhos forçados e pena de morte.
[19] Guantánamo: capital
da província de Guantánamo, situada no sudeste
de Cuba. A 15km da cidade, foi implantada a base naval dos Estados Unidos da América de Guantánamo. É no
interior desta base que se encontra a prisão
de Guantánamo, medindo 117,6 km² e alugada pelo governo norte-americano por
4 085 dólares por ano. Desde janeiro de 2002 estão encarcerados nesta base
prisioneiros afegãos e iraquianos acusados de ligação com os grupos Taleban e
Al-Qaeda, em uma área excluída do controle internacional. Segundo a Cruz Vermelha internacional, esses prisioneiros seriam
vítimas de tortura.
[20] Karl-Otto Apel
(1922): filósofo alemão que combina as tradições filosófica, analítica e
continental. Professor emérito da Universidade de Frankfurt am Main.
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