Urgente...
A valorização do professor
Editorial
Jornal «O Estado de S. Paulo»
Pensar
na educação como a chave para o progresso do País
significa
pensar na valorização dos professores,
seja
nas salas de aula, seja fora delas
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PROFESSOR CHINÊS É o mais valorizado no mundo, atualmente! |
O progresso do Brasil passa por um novo olhar sobre a educação. O País
permanecerá em estado de atraso crônico até que uma política educacional
moderna e assertiva seja vista como o impulso para o salto de desenvolvimento
cultural, político, econômico e social há muito ansiado pela sociedade.
Pensar na educação como a chave
para o progresso do País significa pensar na valorização dos professores, seja
nas salas de aula, seja fora delas.
Segundo o relatório Global Teacher Status 2018, elaborado
pela Varkey Foundation, ONG voltada
a estudos na área de educação, o
prestígio da profissão de professor no Brasil é o pior entre os 35 países
avaliados. A escala de avaliação vai de 1, a nota mais baixa, a 100, a mais
alta. O Brasil obteve apenas um mísero ponto. A China foi a única nação que obteve a pontuação máxima, seguida por
Malásia (93,3) e Taiwan (70,2).
A pontuação do Brasil no Global Teacher Status 2018 é menor do
que a obtida na pesquisa anterior, realizada em 2013. Naquele ano, o País
obteve 2,4 pontos e só não foi pior do que Israel, com 2 pontos. Neste
quinquênio que separa uma avaliação e outra, o Brasil perdeu 1,4 ponto e tomou
a posição inglória de Israel, que conseguiu subir 4,6 pontos.
Um dado interessante da avaliação
feita pela Varkey Foundation é que o
prestígio do professor nada tem a ver com a remuneração média da profissão nos
países pesquisados. Evidente que é fator de prestígio pagar ao professor um
salário que o permita viver com dignidade e desenvolver cada vez mais
conhecimentos e habilidades para aplicar em sala de aula. Contudo, uma boa remuneração, por si só, não
basta para o professor se sentir prestigiado.
Na China, líder do ranking de prestígio, o salário médio anual de um
professor é de US$ 12.210. É menos do que recebe um professor no Brasil (US$ 12.993 por ano). A Suíça é o país onde se paga o maior
salário médio anual ao professor (US$ 77.491), mas o país é apenas o oitavo no
ranking de prestígio dos professores.
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PROFESSOR BRASILEIRO É o menos prestigiado no mundo! |
Outra informação relevante trazida
pelo relatório é a correlação entre o
prestígio dos professores e o desempenho dos alunos no Programa Internacional
de Avaliação de Estudantes (Pisa,
na sigla em inglês). O Brasil obteve 28
pontos no Pisa 2015, uma das piores pontuações entre os 58 países avaliados.
A escala vai de 1 a 35, sendo esta última a pior nota que um país pode obter na
avaliação.
O que organizações internacionais
aferem em provas e pesquisas como as que foram feitas pela Varkey Foundation e
a OCDE, à qual o Pisa está vinculado, traduz-se também em avaliações feitas
aqui no País. São poucas as famílias
brasileiras que não se sentem angustiadas quando os filhos manifestam a
intenção de se tornar professores. Pesquisa feita pelo movimento Todos Pela Educação no ano passado
mostrou que quase a metade dos docentes
do País – 49% – não indicaria a carreira para um jovem. Entre as razões que
foram apuradas estão os baixos salários e a desvalorização da profissão.
O Todos Pela Educação ouviu 2.160 professores que atuam na educação
básica em todo o País. É desalentador
constatar que justamente os mais experientes – que têm de 11 a 30 anos de
carreira – são os mais céticos ao recomendar a profissão de professor para os
jovens.
Que país seremos, não num
futuro remoto, mas já, em poucos anos,
se nada for feito para
reverter esta triste percepção?
A desvalorização da carreira e o
desprestígio do professor se manifestam ainda dentro das próprias salas de
aula. São assustadores os relatos de
violência física e moral contra os docentes praticada pelos próprios alunos ou
por seus pais e responsáveis. Professores da rede pública de educação em
muitos Estados e municípios engrossam a lista de servidores afastados por
problemas de saúde a cada ano. A força
do vínculo entre professores e alunos é indicativa do estágio civilizatório de
determinada sociedade.
Ser professor no Brasil é um ato de
abnegação. Não deveria ser apenas isso.
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