Alerta!
Vozes pró-Palestina estão sob censura no Brasil e nos Estados Unidos
Glenn Greenwald
Jornalista, advogado constitucionalista e fundador do The
Intercept Policiais em frente à Universidade Columbia, em Nova York, ocupada por manifestantes pró-Palestina - Charly Triballeau - 22.abr.24/AFP
Definição expandida
de antissemitismo silencia opositores à guerra de Israel em Gaza
A primeira
razão para defender a liberdade de expressão é por princípio: todos devem ter o
direito de expressar suas opiniões sem o risco de punição criminal. Mas essa
não é a única razão. A segunda é mais egoísta: é do interesse de cada um se
levantar contra a censura porque invariavelmente a próxima opinião censurada
pode ser uma com a qual você concorda.
No Brasil,
assim como nos Estados Unidos (EUA) e em todo o Ocidente, os opositores à
guerra de Israel em Gaza estão sendo silenciados. Após os ataques de 7 de outubro, as
leis mais extremas e autoritárias foram aprovadas com o objetivo de defender
Israel de críticas, acusando ativistas pró-Palestina de incitar ódio contra
judeus.
No início do
mês, vimos o exemplo mais flagrante disso: a Câmara dos EUA adotou uma
definição radicalmente expandida de antissemitismo, a ser incorporada ao
arcabouço das leis federais antidiscriminação. Essa nova definição inclui
diversos exemplos de opiniões sobre Israel e indivíduos judeus que, ainda que
errôneas, são claramente válidas e devem ser permitidas.
Entre as
opiniões proibidas: comparar os crimes de Israel aos crimes nazistas, criticar
Israel aplicando uma "dualidade de critérios" frente a críticas
feitas a outros países, expressar a ideia de que os judeus foram responsáveis
pela morte de Jesus, alegar que um indivíduo judeu tem maior lealdade a Israel
que a seu próprio país. É totalmente razoável achar algumas dessas opiniões
erradas ou até ofensivas, mas é extremamente repressivo e perigoso que elas
sejam criminalizadas.
É importante
notar que é admissível criticar qualquer outro país —até o Brasil ou os EUA—
usando dois pesos e duas medidas; só é proibido fazê-lo sobre Israel. Também
é perfeitamente aceitável acusar os evangélicos, por exemplo, de ter uma
lealdade suprema a Israel —só estamos proibidos de dizer isso sobre judeus.
Em um
desenvolvimento alarmante, o estado do Rio de Janeiro, sob a liderança do
governador Cláudio Castro (PL), copiou os EUA e adotou essa definição
expandida, que já fora adotada oficialmente por São Paulo sob Tarcísio de
Freitas (Republicanos).Livro publicado, neste ano, pela Alameda - leitura imprescindível para compreender o que se passa entre Israel e os palestinos desde sempre
As ameaças não
são apenas hipotéticas: o jornalista judeu Breno Altman, reiteradamente
perseguido e censurado por suas críticas a Israel, é um exemplo eloquente.
O mesmo vale para as ameaças levantadas contra o PCO por "discurso de
ódio" que se seguiram às duras críticas feitas pelo partido a Israel.
Nos EUA, as
ameaças são ainda mais extremas. O governador republicano da Flórida, Ron
DeSantis, baniu das
universidades todos os grupos de uma organização pró-Palestina. O
governador do Texas, Greg Abbott, aprovou uma lei para "proibir
o antissemitismo" e criar um "ambiente seguro nas universidades",
em uma tentativa de criminalizar protestos estudantis tão chocante que até
setores da direita dos EUA se opuseram. Isso sem contar as inúmeras pessoas
que perderam seus empregos em veículos de mídia e em faculdades por criticar
Israel.
Nas últimas
décadas, aqueles que defendem os palestinos sempre estiveram entre os alvos
mais frequentes da censura nos EUA. Alguns dos exemplos mais marcantes são o
acadêmico judeu Norman Finkelstein, filho de sobreviventes do
Holocausto, que teve sua carreira destruída pelo lobby pró-Israel; o professor
Steven Salaita, que, apesar de qualificado e
recomendado pelas instâncias relevantes, teve sua contratação pela
Universidade de Illinois cancelada devido a críticas aos bombardeios
israelenses em Gaza em 2014; e o grupo Estudantes
por Justiça na Palestina, que teve
seu reconhecimento negado pela Universidade de Fordham por sua posição política.
Todos esses
exemplos são derivados da mesma mentalidade por trás da campanha de censura
contra a direita populista: é preciso coibir "discurso de ódio", não
se pode "incitar ódio" contra israelenses e judeus, não se pode
defender genocídio (esse argumento, mais versátil, é igualmente brandido contra
manifestantes pró-Israel e pró-Palestina) e algumas opiniões políticas
ultrapassam a linha do razoável.
É importante
lembrar que a censura é a arma dos poderosos, nunca dos marginalizados. Aqueles que seguram a espada da
censura não se importam se as opiniões são de esquerda ou de direita.
As opiniões
censuradas são aquelas que ameaçam o establishment, independentemente de onde
se originam. É por isso
que todos aqueles que se opõe aos Poderes constituídos, sejam eles de esquerda
ou de direita, têm um interesse em comum: defender a liberdade de expressão.
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