O futuro da educação

 Escolas do futuro são escolas “low tech”

 José Ruy Lozano

Sociólogo e educador, é autor de livros didáticos e membro da Comunidade Reinventando a Educação (Core) 

Materiais físicos impulsionam habilidades motoras, criatividade e imaginação

Chamou a atenção da imprensa, no ano passado, o fato de que o sistema público de educação da Suécia decidiu voltar a usar livros e cadernos físicos como material didático obrigatório no lugar de tablets e lap tops. As razões apresentadas pelos suecos são várias, mas passam pela aprendizagem da leitura e pela manutenção da capacidade de concentração dos estudantes. Em ambos os casos, os materiais físicos apresentam resultados muito melhores

Os escandinavos não estão sozinhos. Já forma uma longa fileira a lista de países desenvolvidos que vêm progressivamente abandonando equipamentos digitais e retornando ao papel e à caneta. As autoridades educacionais desses países baseiam-se em pesquisas científicas recorrentes, que apontam:

* não só a melhoria do rendimento acadêmico

* como também o desenvolvimento mais adequado de habilidades motoras e

* o impulso à criatividade e à imaginação, sempre melhor estimuladas pelo uso de materiais físicos nas escolas. 

Não há que se imaginar a escola contemporânea totalmente desconectada do mundo digital. Evidentemente, salas de aulas com computador e conexão à internet, que permitam a exibição de materiais visuais diversos, além de espaços com equipamentos digitais para pesquisa online mostram-se indispensáveis no mundo de hoje. A tecnologia digital, no entanto, não é fetiche ou panaceia. Ela não só não é capaz de solucioná-los, como por vezes termina por ampliá-los.

Este livro será publicado no Brasil, no dia 5 de agosto de 2024, pela Companhia das Letras

Jonathan Haidt, professor da Universidade de Nova York, publicou dados alarmantes em seu novo livro, “The Anxious Generation” (tradução: “A Geração Ansiosa”), que aborda a deterioração da saúde mental de crianças e adolescentes a partir de 2010:

* Quadros de depressão,

* ansiedade,

* automutilação e

* suicídio têm aumentando dramaticamente desde então.

Imagens do livro infantil: "Larga esse celular", texto de Bui Phuong Tam e ilustrações de Hoang Giang, Editora Caminho Suave, publicado em fevereiro de 2024

Não à toa, é justamente a partir de 2010 que se dá a generalização do uso das redes sociais, notadamente o Instagram, difundindo-se entre os mais jovens. 

Ao largo das pressões negativas do mundo virtual, que captura a atenção dos mais jovens, corrói sua capacidade de concentração e os transforma em objetos manipulados por algoritmos, educadores têm reiterado a necessidade da redescoberta das relações de proximidade e do mundo físico. Nas mais renomadas escolas do Vale do Silício, na Califórnia, onde estudam os filhos dos executivos das grandes corporações mundiais de tecnologia, há poucas telas de LED e muitas ferramentas. No lugar do computador, lápis e canetas, mas também martelos, chave de fenda, pincéis. A educação “mão na massa”, com objetos e materiais físicos, predomina em relação a dispositivos eletrônicos. 

Imagens do livro infantil: "Larga esse celular"

Diante da revolução representada pelo Big Data e pelas inteligências artificiais, devemos nos manter firmes como educadores que visam produzir conhecimento, não apenas reproduzir o que está armazenado nas bases de dados de governos e empresas.

Afinal, a educação não é apenas dar acesso a informações, mas principalmente fazer refletir e questionar a partir das informações que acessamos.

Fonte: Folha de S. Paulo – Tendências/Debate – Sexta-feira, 03 de maio de 2024 – Pág. A3 – Internet: clique aqui (Acesso em: 03/05/2024).

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