Ser mãe, hoje

 Filhos não merecem mães exaustas

 Becky S. Korich

Advogada e escritora, é colunista da Folha, autora de “Caos e Amor” (Editora Faria e Silva) e mãe de três meninos (14, 17 e 19 anos) 

Só as desnaturadas se dedicam exclusivamente a eles

Você se sente culpada quando sai para se divertir e deixa seus filhos em casa? Sente-se uma mãe desnaturada quando viaja com o marido e "abandona" os menores-impúberes-desprotegidos na casa da sogra?

Sinta-se culpada se você não faz isso. Só mães desnaturadas se dedicam exclusivamente aos filhos e vivem se sacrificando por eles. Só mães irresponsáveis são tão responsáveis e zelosas com os filhos a ponto de renunciar ao direito de descanso e diversão.

Uma boa mãe deixa o filho esperar, se frustrar, descobrir que consegue se defender com suas próprias forças.

Ser uma boa mãe significa se permitir não ser uma ótima mãe. Significa cuidar bem dos filhos, mas não se esquecer de cuidar de si. A boa mãe não normaliza o estresse e a carga de trabalho que os filhos impõem.

Ela tem a coragem de pedir ajuda, de fechar a porta do quarto e dizer: "Agora é a minha vez, virem-se sem mim (para eu poder voltar melhor a vocês)".

Filhos precisam dessa mãe imperfeita e limitada. Nem que seja para aprenderem a aceitar as suas próprias imperfeições.

Filhos pedem. Mas não querem tudo que pedem. A boa mãe sabe deixar um espaço vazio sem sentir culpa. Não compra o último modelo do iPhone. Mesmo que o amigo tenha. Mesmo com chiliques e choros. Pois sabe que é justamente da falta que nascem os desejos. Melhor do que dar, é fazê-lo conquistar.

Eu sei, não é fácil. Erramos com os filhos de tanto que queremos acertar.

Mas nenhum filho merece o sufoco de uma mãe tão dedicada, que acorda e dorme por ele, que não tem seus próprios sonhos, que tem medo de desapontá-lo. Nenhuma mãe merece ser isso.

Filhos precisam de uma mãe para admirar, uma mãe ligada em outros canais, que traga novidades, que tenha outras identidades além da de ser mãe. O autorrespeito é o maior amor que uma mãe pode dar aos filhos.

 

Mães não são responsáveis pela felicidade dos filhos —embora às vezes o sejam pela infelicidade. Não são super-heroínas que dão conta de todas as tarefas —essas são, no máximo, narcisistas disfarçadas. Uma boa mãe não depende do filho para se sentir útil e, principalmente, não o faz depender dela.

Deixem que as "supermães" te chamem de egoísta, pão-dura, egocêntrica, desencanada. Isso é um bom sinal. Namore, tenha momentos privados. Filhos sentem, filhos esperam por isso.

A boa mãe valoriza o seu tempo. Não perde tempo descascando banana para o filho, tirando suas roupas do chão, resolvendo problemas que ele consegue resolver. Encurtar os caminhos do filho só vai levar mais tempo para ele chegar lá. O tempo das mães é precioso. O tempo certo dos filhos é necessário.

Mãe que é uma "ótima boa mãe" não poupa carinho e atenção; leva, prepara e educa. Mas sabe também receber carinho, cobrar responsabilidades; faz o filho lavar louça e arrumar o quarto. Ela não deixa o filho esquecer que ele faz parte e, por isso, não pode ficar à parte.

Filhos não merecem mães exaustas, não precisam de mães devotadas para se sentirem amados. Filhos percebem tudo. É por eles que devemos fazer alguma coisa por nós.

Só no amor é possível dar e receber ao mesmo tempo.

Feliz Dia das Mães!

 

Fonte: Folha de S. Paulo – Tendências/Debates – Domingo,12 de maio de 2024 – Pág. A3 – Internet: clique aqui (Acesso em: 13/05/2024).

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