Solenidade da Ascensão do Senhor – Ano B – Homilia
Evangelho: Marcos 16,15-20
Frei
Alberto Maggi *
Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas)
Jesus não deixa órfã a sua
comunidade, mas a acompanha e fortalece na ação
O evangelho mais antigo é o de Marcos, tão antigo que termina no capítulo 16, no versículo 8 com o anúncio da ressurreição de Jesus, mas sem os encontros, sem a aparição com o Ressuscitado. Este fato criou alguns problemas, alguns constrangimentos na comunidade cristã primitiva, por esse motivo, nas décadas seguintes, foram escritos três finais para este evangelho. Os finais não dependem do estilo, da cultura, da teologia e da espiritualidade do evangelista e destes três o menos pior é aquele que aparece atualmente no Evangelho e que a liturgia escolheu hoje para a festa da Ascensão. Não é, portanto, a pena do evangelista, mas faz parte da experiência cristã primitiva, é o que receberam da mensagem de Jesus.
Marcos 16,15-18:** «Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos, e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”.»
Encontramos escritas, no versículo 15, as palavras de Jesus: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura”. Compreenderam que a Boa Notícia não está reservada ao povo de Israel, mas é para cada criatura, para toda a humanidade, porque todos têm necessidade dessa palavra, como resposta de Deus à necessidade de plenitude de vida que cada pessoa carrega dentro de si. Há o convite ao batismo, que significa conversão. Depois, encontramos a experiência da comunidade destes evangelizadores que se depara com pessoas refratárias ao Evangelho: “Quem não crer será condenado”, por isso, recebem a morte. No entanto, essa comunidade responde com uma oferta contínua de vida e, sobretudo, atenção aos enfermos para fazê-los sentir-se bem.
Marcos
16,19a: «Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi
levado ao céu...»
E continua, este acréscimo escrito pela comunidade primitiva, afirmando que o “Senhor Jesus foi elevado ao céu”. Para compreender este escrito devemos referir-nos à cultura da época, à cosmologia, à concepção do mundo: Deus estava acima, então, dizia-se que tudo o que vinha de Deus descia, como é o caso do Espírito que descia do alto. E tudo o que ia em direção a Deus, estava indo para o alto. Portanto, esta expressão de que Jesus foi elevado ao céu não significa uma separação de Jesus dos seus seguidores, mas significa que ele manifestou a plenitude da condição divina.
Marcos
16,19b-20a: «... e sentou-se à direita de Deus. Os discípulos então
saíram e pregaram por toda parte.»
E o autor continua dizendo: “ele sentou-se à direita de Deus”. Jesus havia dito que colocariam o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso (Mc 14,62), que é uma referência ao Salmo 110,1, onde o rei está sentado à direita de Deus. Isso significa ter igualdade, ter a mesma capacidade. Então o que escrevem os autores deste acréscimo é: aquele homem que vocês, autoridades religiosas, condenaram como herege, como blasfemador, era na realidade Deus, ele tinha a condição divina. É importante esta expressão do evangelista, entendida precisamente na cultura cosmológica da época: com a sua ascensão, Jesus não se separa, não se distancia dos seus seguidores, mas, na plenitude da condição divina, colabora na atividade deles. E, de fato, logo depois está escrito: “Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava”. Portanto, não é um afastamento, mas uma proximidade, não é uma ausência, mas uma presença! Porque a morte, e isto deve ser estendido também aos nossos entes queridos, não os distancia de nós, mas os torna ainda mais próximos.
Marcos
16,20b: «... e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam.»
E até Jesus “confirmava a palavra deles”! Que palavra é essa? É a boa nova do Evangelho, “por meio dos sinais que a acompanhavam”. Por isso, Jesus não deixa os seus discípulos e discípulas órfãos, mas acompanha-os e fortalece a sua ação. O que significa potencializar sua ação? Aqueles que com Jesus e como Jesus vão para comunicar vida, verão o efeito deste anúncio fortalecido pela plenitude da sua bênção. Portanto, por ascensão de Jesus não se compreende uma separação de Jesus do resto da comunidade, mas uma presença ainda mais intensa. Mateus escreverá, mais tarde no final do seu evangelho, as palavras de Jesus que confirmam o que estamos dizendo: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20b).
* Traduzido e editado do italiano por Pe.
Telmo José Amaral de Figueiredo.
** Os textos bíblicos citados foram extraídos do: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994.
Reflexão Pessoal
Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo
«[Eu]
Pensava que nós seguíamos caminhos já feitos, mas parece que não os há. O nosso
ir faz o caminho.»
(Clive Staples Lewis: 1898-1963 ― escritor irlandês)
Se há algo que o Evangelho deste domingo deixa claro é que: Onde há Evangelho, há transformação; onde há Evangelho há vida plena! A solenidade da Ascensão de Cristo é a oportunidade encontrada por ele para transmitir a sua missão aos seus seguidores. Doravante, são seus discípulos e discípulas que tomarão a peito a missão de anunciar a Boa Nova, que será confirmada por sinais concretos, visíveis, prodigiosos! Não se trata de enfatizar o sensacional, o extraordinário! Esses sinais que acompanham e confirmam a evangelização são as mudanças que acontecem na vida de todas as pessoas que abraçam, de verdade, o Evangelho e o Reino de Deus!
A
missão final e principal que Jesus Cristo confiou aos seus
seguidores e continuadores é apresentada da seguinte forma pelos Evangelhos
Sinóticos:
a) Mateus: “Ide, pois, e fazei
discípulos” (28,19) ― pessoas que aprendam a viver como o Cristo lhes
ensinou.
b) Lucas: “Vós sois as testemunhas”
(24,48) ― daquilo que vivenciaram junto ao Cristo.
c) Marcos: “proclamai o Evangelho
a toda criatura” (16,15) ― a boa notícia que Jesus veio nos trazer deve chegar
a todos, ao mundo inteiro.
Devemos
nos perguntar, com toda a sinceridade: aqueles se aproximam de nossas
comunidades, nos dias de hoje, encontram o Evangelho? As pessoas, no
interior de nossas comunidades, têm possibilidades concretas e fáceis de conhecer
o Evangelho e compreendê-lo como se deve? A Palavra de Deus está, de
fato, no centro de tudo aquilo que se faz em nossas comunidades? Afinal,
nos tempos atuais, nada é mais importante na Igreja do que ler, escutar,
compreender e partilhar juntos o Santo Evangelho.
Ou será que as nossas comunidades oferecem, apenas e tão somente, celebrações, devoções e sacramentalização? Passando, assim, uma imagem de uma Igreja envelhecida e em crise!
A primeira e principal tarefa de uma comunidade, que se diz “cristã”, é proporcionar às pessoas a oportunidade de acolher o Evangelho e fazer uma experiência pessoal com o Cristo! Se isso não acontecer, não veremos a realização dos prodígios, das maravilhas que Deus opera mediante as pessoas que anunciam e vivenciam a sua Boa Nova. Jesus “colabora” com aqueles que, de verdade, levam às pessoas o seu Evangelho, como está explícito em Mc 16,20.
Portanto, a solenidade de hoje quer reafirmar que Jesus não abandonou a terra e seus moradores, nem mesmo, os seus seguidores. Mas, a sua Ascensão significa a exaltação da humanidade de Deus em Jesus. Ele, com isso, reconhece que não há nada de mais divino que nossa pobre, simples e modesta humanidade! Por isso, mesmo, o Cristo se comprometeu em “ajudar/cooperar” nas atividades e “confirmar” as palavras de seus verdadeiros discípulos e discípulas (cf. Mc 16,20).
«Senhor Jesus! Aqui estamos prontos para
partir para mais uma vez anunciar ao mundo o teu Evangelho, no qual a tua
misteriosa providência nos colocou para viver! Senhor, ora ao Pai, como
prometeste, para que através de ti nos envie o Espírito Santo, o Espírito da
verdade e da fortaleza, o Espírito da consolação, que torna o nosso testemunho
aberto, bom e eficaz. Está conosco, Senhor, para nos tornarmos todos um em ti e
aptos, pela tua virtude, a transmitir a tua paz e a tua salvação ao mundo. Amém.»
(Fonte: Papa Paulo VI. Orazione finale. In: CILIA,
Anthony O.Carm. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico B.
Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 268)
Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – Ascensione del Signore – 16 maggio 2021 – Internet: clique aqui (Acesso em: 02/05/2024).
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