Solenidade de Pentecostes – Homilia

 Evangelho: João 20,19-23 

Frei Alberto Maggi *

Padre e biblista italiano dos Servos de Maria (Servitas) 

Nossa missão: prolongar o amor recebido de Deus, via Cristo, a toda a humanidade

O mandado de prisão foi emitido não apenas para Jesus, mas para todo o seu grupo de seguidores. Foi Jesus, que em posição de força disse aos guardas: “Se é a mim que procurais, deixai estes irem” (Jo 18,8b). Jesus foi o pastor que deu a vida pelas suas ovelhas. Mas, agora, o pastor vai em busca das suas ovelhas, daquelas que se perderam devido à sua prisão e sobretudo à sua morte ignominiosa.

E Jesus vai em busca deles, para recuperá-los. Embora o anúncio da ressurreição de Jesus já tenha sido feito, os discípulos permanecem escondidos por medo das autoridades. Não basta saber que Jesus ressuscitou, é preciso experimentá-lo

João 20,19:** «Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”.»

É isso que nos diz o evangelista João. Os judeus não são o povo, mas, neste evangelho, representam os líderes, as autoridades religiosas. “Jesus entrou e, pondo-se no meio deles”, no centro, em meio aos seus discípulos, este é o lugar de Jesus na comunidade.

Ele é o ponto de referência. Ele é o fator de unidade de todo o grupo. Seguem-se as primeiras palavras que Jesus pronuncia, uma vez ressuscitado, na plenitude da condição divina, e é um desejo de felicidade completa. O termo “paz”, do hebraico Shalom, indica muito mais que a nossa paz, mas indica tudo o que contribui para a felicidade plena dos seres humanos

João 20,20: «Depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.»

Mas Jesus não se limita a um anúncio verbal, a um simples desejo, ele demonstra porque devem ser plenamente felizes. “Depois destas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado.” São os sinais indeléveis do seu amor. O amor que o levou a dar a vida pelo seu povo não foi a resposta a uma ocasião dramática, mas a atitude normal de Jesus na comunidade.

Jesus não intervém nos momentos de emergência e responde com o seu amor às necessidades da comunidade. Mas Jesus, no meio da comunidade, protege, defende, ajuda e aumenta a capacidade de amor dos seus discípulos que acolhem o seu amor. E, de fato, os discípulos se alegraram. Pois se antes estavam com medo, agora estão alegres. 

João 20,21: «Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”.»

E Jesus disse-lhes novamente: “Paz a vós”. Enquanto a primeira paz, segundo Jesus, foi motivada pelo fato de que o amor que lhe impulsionou a dar a vida por nós continua, a segunda paz é motivada pelo fato de sermos chamados a prolongar a mesma ação de Jesus.

A paz e a felicidade do homem vêm deste amor recebido de Deus, por isso, Jesus mostrou as suas mãos e o seu lado, mas também vêm do amor que deve ser comunicado. Por isso Jesus, na segunda paz, no segundo convite à felicidade, diz: “Como o Pai me enviou”, e o Pai enviou Jesus para ser uma manifestação visível do seu amor, um amor incondicional do qual nenhuma pessoa, qualquer que seja o seu comportamento, a sua conduta, pode sentir-se excluída.

Aqui está a fonte da felicidade. Os discípulos, cada crente, é chamado a prolongar a missão de Jesus que é manifestar visivelmente o amor do Pai. Esta é a fonte da alegria, da felicidade plena. Portanto, existe um amor que nos é comunicado, um amor que é recebido de Deus, o qual deve ser um amor a ser comunicado aos outros

João 20,22: «E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo.»

O evangelista repete as mesmas ações de Deus sobre o primeiro homem, quando lemos no Livro do Gênesis, capítulo 2, versículo 7: “Então o Senhor Deus modelou, do com o pó do solo, o homem e soprou-lhe nas narinas o sopro da vida; e o homem tornou-se um ser vivo”. Da mesma forma, Jesus completa a criação, comunicando o Espírito ao ser humano, ou seja, a mesma capacidade de amor que o Pai lhe comunicou, agora, ele a comunica aos humanos. Mas não a todos, mas a quem acolhe o seu convite para prolongar, com o seu amor, o amor que receberam, aqueles que vão em missão como o Pai enviou Jesus. 

João 20,23: «A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”.»

Aqui ele não usa o verbo “perdoar”, mas “libertar dos pecados”. Por “pecado” o evangelista não compreende a “culpa, erro, falta”, mas uma direção errada de vida. O que o evangelista quer dizer? Aqui, Jesus não está dando poder a alguns, mas uma responsabilidade para toda a comunidade. A comunidade deve ser esta luz da qual brota o amor de Deus. Quem, vivendo na injustiça, se sente atraído por esta luz e se torna parte dela, tem o seu passado (aquilo que era injusto) completamente apagado.

Em vez disso, “a quem não os perdoardes” e, também aqui, não há verbo o “perdoar”, mas sim “manter, reter, imputar”. E prossegue dizendo: “permanecerão acusados”. O que o evangelista quer dizer?

Aqueles que praticam o mal não amam a luz, mas vendo a luz brilhar, recuam ainda mais para a sombra das trevas. Portanto, não é um poder da comunidade, mas uma responsabilidade: fazer brilhar o amor de Deus. Quem se sente atraído por ele tem o seu passado completamente perdoado, enquanto quem vê neste amor uma ameaça aos seus interesses, às suas conveniências, essa pessoa se retrai sob o manto das trevas, sob o manto da morte. 

* Traduzido e editado do italiano por Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo.

** Os textos bíblicos citados foram extraídos de: Sagrada Congregação para o Culto Divino. Trad. CNBB. Palavra do Senhor I: lecionário dominical A-B-C. São Paulo: Paulus, 1994. 

Reflexão Pessoal

Pe. Telmo José Amaral de Figueiredo 

«O amor é o perfume das almas.»

(Dom Hélder Pessoa Câmara: 1909-1999 ― arcebispo católico)

Três gestos, três atitudes e três fundamentos, três missões.

Assim, podemos sintetizar o que o Evangelho dessa festa de Pentecostes quer nos transmitir. Vejamos:

a) Jesus faz questão de mostrar as suas feridas como prova viva de seu amor. E, aqui, se encontra o primeiro fundamento: a Igreja deve ser a memória de Jesus, uma memória subversiva, pois é a de um Cristo crucificado e ressuscitado!

b) Jesus envia seus discípulos, assim como o Pai o enviou. Seus seguidores devem manifestar ao mundo a sua Paz e o seu Amor. Essa é a verdade plena, segundo fundamento de nossa Igreja.

c) Jesus “sopra” o Espírito Santo sobre os seus discípulos e lhes concede a responsabilidade de ser luz que reorienta os caminhos errados que os seres humanos seguem em sua vida. E, aqui, está o terceiro fundamento da Igreja: ser testemunha da vida e dos ensinamentos de Jesus Cristo.

Uma das maiores e mais frequentes tentações que a nossa Igreja experimentou e segue provando é a de achar que, simplesmente, em toda a atuação ministerial e hierárquica de nossa Igreja se faz presente o Espírito Santo! Isso, na prática, é prescindir do Espírito! Ele não é um dom automático, mas fruto do acolhimento profundo e verdadeiro do Evangelho de Cristo!

Como foi mencionado, acima, o Espírito Santo vem da parte de Deus para nos conduzir à verdade plena, a qual, segundo Johan Konings, é sinônimo de: “veracidade, firmeza, fidelidade, confiabilidade, lealdade”. Pois bem, em nosso mundo atual, é urgente suplicarmos ao Espírito de Cristo para:

* libertar-nos do vazio e da confusão interior, pois desistimos da busca da verdade, nos tornamos céticos, pessimistas, ressentidos, invejosos;

* libertar-nos da desorientação, pois vivemos sem raízes e sem metas, sonhos e utopias;

* ensinar-nos a viver, pois queremos ter saúde, viver por muito tempo, porém não sabemos para quê;

* ensinar-nos a amar, pois de tanto queremos ser livres e independentes, estamos, cada dia, mais sozinhos, carentes, confundimos amor com sexo, prazer com felicidade e não sabemos criar autênticas amizades; enfim,

* ensinar-nos a crer, pois não deixamos mais espaço para Deus, não o ouvimos, não o sentimos, estamos repletos, apenas, de desejos e sensações pessoais.

Assim como os discípulos de Jesus tinham medo, nós precisamos vencer o medo e termos esperança, pois o mundo está sedento e faminto de Cristo

Oração após a meditação do Santo Evangelho 

«Obrigado, ó Pai, pela vinda do Consolador, do Advogado; obrigado pelo seu testemunho sobre Jesus no mundo e em mim, na minha vida. Obrigado, porque é Ele quem me torna capaz de receber e carregar o peso glorioso do teu Filho e meu Senhor. Obrigado, porque ele me guia na verdade, me entrega a toda a verdade e me revela as palavras que tu mesmo falas. Obrigado, meu Pai, porque na tua bondade e ternura tu hoje me alcançaste e me atraíste para ti, tu me deixaste entrar na casa do teu coração; tu me mergulhaste no fogo do amor trinitário, onde tu e o Filho Jesus sois um só no beijo infinito do Espírito Santo. Aqui estou eu também e, por isso, minha alegria transborda. Por favor, Pai, deixa-me dar esta alegria a todos, no testemunho amoroso de Jesus Salvador, em todos os dias da minha vida. Amém.»

(Fonte: CUCCA, Maria Anastasia Caterina. O.Carm. Orazione finale. In: CILIA, Anthony O.Carm. Lectio Divina sui vangeli festivi: per l’anno liturgico B. Leumann [TO]: Elledici, 2009, p. 287)

Fonte: Centro Studi Biblici “G. Vannucci”– Videomelie e trascrizioni – Domenica di Pentecoste – 8 giugno 2014 – Internet: clique aqui (Acesso em: 06/05/2024).

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