Celebrar o quê?
Crime no metrô mostra retrocesso no país
que celebra a Lava Jato
Leandro Colon
É assustador como convivemos passivamente com a
violência
e a barbárie no Brasil
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À esquerda, foto do ambulante Luiz Carlos Ruas e à direita a cena em que dois primos acabam de assassiná-lo cruelmente numa estação de metrô de S. Paulo |
Há
sinais de evolução em um país que coloca políticos corruptos na cadeia e de
retrocesso, numa escala muito maior, em episódios como o que matou o ambulante Luiz Carlos Ruas.
Não deixa de impressionar a
forma com que convivemos com a barbárie. Protestamos por um tempo e, de certo modo, a vida
segue.
É tenebrosa a cena da morte
de Ruas, a
mais impactante da última semana de 2016. Caído no chão, ele recebe socos de um
homem. Um primo do agressor pisa em sua cabeça.
O homicídio ocorreu no dia
de Natal numa estação de metrô de São Paulo e foi gravado pelas câmeras do local. Durante o ano que passou, muitos Ruas podem
ter morrido de forma semelhante, provavelmente sem registros de imagens.
A
gravação feita no metrô choca pela crueldade
e também pela ausência de segurança da
estação e de solidariedade dos
que assistiam ao espancamento — o vídeo ao menos facilitou a identificação e a
prisão dos dois suspeitos dias depois.
A
família do ambulante morto não tem o que comemorar na noite deste sábado (31 de
dezembro), assim como os parentes de Jonathan Moreira Ferreira, Cesar Augusto
Gomes Silva, Caíque Henrique Machado Silva, Robson Fernando Donato de Paula e
Jones Ferreira Januário.
Os cinco moradores da
periferia foram encontrados mortos em novembro, vítimas de uma chacina em
Mogi das Cruzes. Só uma pessoa foi denunciada até agora pelo crime.
É
um guarda-civil que confessou ter armado emboscada e negou envolvimento na
morte dos jovens.
Um
ex-governador do Rio, dois ex-ministros da Casa Civil e um ex-presidente da
Câmara, todos figurões acusados na Lava Jato de integrar um esquema de
corrupção, passarão a virada do ano numa cela.
Mas não faz muito sentido
celebrar com efusão a punição de quem desvia verba pública se falhamos em
proteger aqueles que deveriam ser os mais beneficiados por ela.
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